MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Frei Betto: o elo dominicano com o terrorismo

O elo dominicano
Reprodução
O guerrilheiro Carlos Marighella (1912 -1969), líder da ALN (Aliança Libertadora Nacional), 1964


Frei Betto conta como os dominicanos se envolveram com o maior grupo de luta armada e contesta versões sobre a morte de Marighella



da Redação

A história dos frades dominicanos no envolvimento com a ALN (Ação Libertadora Nacional) ainda está longe de ser completamente esclarecida. No que diz respeito à morte do líder guerrilheiro Carlos Marighella, a situação piora ainda mais.
Basicamente, há duas versões sobre o episódio: uma (do pesquisador Jacob Gorender, no livro "Combate nas Trevas", relançado no mês passado), diz que os dominicanos, depois de torturados, acabaram entregando aos policiais um encontro (com dia, hora e local) com Marighella que acabou provocando a morte do guerrilheiro. A outra (de Frei Betto, em "Batismo de Sangue") ameniza o caso, sem tirar a responsabilidade dos dominicanos, e diz que houve participação da CIA na captura de Marighella.
No mês passado, outro livro colocou mais tempero na discussão: o jornalista Emiliano José lançou o livro "Carlos Marighella - O Inimigo Número Um da Ditadura Militar". Nele, há um dado novo: teria sido o hoje economista Paulo de Tarso Venceslau quem delatou os dominicanos, os quais, por sua vez, entregaram um encontro com Marighella.
Venceslau nega veementemente o episódio (leia nesta página) e diz que vai processar José -também autor de "Lamarca - o Capitão da Guerrilha".
Na entrevista a seguir, frei Betto, um dos dominicanos presos em 69, explica por que alguns membros da ordem se aliaram à ALN e conta sua versão dos fatos. (LE)
Folha - Nos anos 60, os frades dominicanos eram tidos como uma vanguarda dentro da igreja. Por que isso ocorria?
Frei Betto -
 Naquele período que precedeu o golpe de 64, os dominicanos trabalhavam mais especificamente com o movimento estudantil -secundaristas e universitários- , por meio da JEC (Juventude Estudantil Católica) e da JUC (Juventude Universitária Católica). Muitos dirigentes dos movimentos católicos se tornaram depois militantes de oposição ao regime militar. Então, os conventos dos dominicanos, sobretudo os de Belo Horizonte e São Paulo, eram frequentados por esses estudantes. Depois que começou o processo de perseguição das lideranças, muitas vezes elas se abrigaram aqui, como José Dirceu e Vladimir Palmeira. Todos eles passaram pelo convento, e aqui se esconderam e tiveram convivência.
Ao mesmo tempo, nós sempre tivemos uma atitude progressista, e as missas aos domingos eram uma espécie de respiradouro da época do regime, especialmente a missa das 11h, que lotava a igreja São Domingos, aqui nas Perdizes, em São Paulo. As pessoas podiam ouvir algo, à luz do Evangelho, que oferecesse a elas esperança naquele tempo de escuridão.
Isso levou posteriormente ao apoio aos movimentos nos quais esses estudantes se engajavam, os movimentos guerrilheiros. Nunca pegamos em armas, nunca participamos de operações militares. Porém, apoiamos no sentido de acolher, de dar fuga, de abrigar, de arrumar papéis para poderem sair do país. Eu, especificamente, montei um esquema no Rio Grande do Sul para ajudá-los a sair do Brasil clandestinamente pela fronteira com o Uruguai e com a Argentina, inclusive tirei do país vários que participaram do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Então, foi tudo isso que levou a uma brutal repressão contra os conventos de Belo Horizonte e São Paulo. Alguns de nós, inclusive, ficamos presos até quatro anos.
Folha - O que atraía tanto nos sermões dominicanos?
Frei Betto - 
Eles atraíam muita gente porque nós tínhamos certa isenção como igreja. Por exemplo, o regime militar poderia nomear coronéis e generais para todas as instituições nacionais, menos para a igreja. Não dava para nomear um general da reserva para ser presidente da CNBB. Portanto, isso nos abria um certo espaço de liberdade, de contestação. O discurso era uma forma de incentivar as pessoas que estavam na luta contra a ditadura, de mostrar que a ditadura era incompatível com os valores do Evangelho, que o povo tinha direito à liberdade, à democracia. Era nessa linha. Usavam-se muitas metáforas, parábolas...
Folha - Como se deu a aproximação dos dominicanos com a ALN?
Frei Betto - 
Nós nos aproximamos porque éramos estudantes da USP. Eu era jornalista. Embora frade, todos os dias trabalhava na "Folha da Tarde" (da empresa Folha da Manhã S/A). Isso nos aproximou daqueles envolvidos na luta armada, especificamente o Carlos Marighella (líder da ALN).
Folha - O sr. teve contato direto com o Marighella...
Frei Betto - 
Eu conheci o Marighella. O primeiro contato dele com os frades foi comigo e com o frei Osvaldo Resende. Depois, várias vezes estive com ele no Rio de Janeiro, mas nunca foram atividades guerrilheiras, eram conversas e formas de apoio.
Folha - Qual era o posicionamento da Igreja Católica na época?
Frei Betto - 
A igreja era dividida na época. Havia setores que nos apoiavam e outros que eram avessos ao nosso tipo de engajamento.
Folha - A Igreja Católica não sabia, por exemplo, que vocês apoiavam o chileno Salvador Allende?
Frei Betto - 
Não, isso não. Não sabiam. Nossos superiores no Brasil sabiam que estávamos envolvidos no apoio ao movimento estudantil de resistência aos militares.
Folha - As prisões, como foram?
Frei Betto - 
Fomos presos em períodos diferentes. Dois foram presos no Rio no dia 2 de novembro de 69 (frei Fernando e frei Ivo); depois, o frei Roberto, frei Georgio, frei Maurício e frei Tito foram presos no dia 3 ou 4, em São Paulo. Eu iria ser preso no dia 2, mas consegui escapar. Só fui preso no dia 9, na Grande Porto Alegre.
Folha - Por que os dominicanos foram presos? Alguém os delatou?
Frei Betto - 
Os dominicanos foram presos porque se desencadeou uma repressão brutal à ALN a partir da queda dos sequestradores do embaixador norte-americano Charles Elbrick e então a polícia chegou até nós. E a polícia sabia havia tempos de nosso envolvimento. Agora, se houve alguém que delatou, eu não sei. Há várias versões. Eu coloquei a minha no "Batismo de Sangue".
Folha - No livro de Emiliano José, "Carlos Marighella - O Inimigo Número Um da Ditadura Militar", o autor diz que foi Paulo de Tarso Venceslau quem entregou os dominicanos. O que o sr. acha?
Frei Betto - 
Eu ainda não li este livro. Eu não atribuo a responsabilidade ao Paulo de Tarso. Nós achamos que nossa prisão foi resultado de um processo.
Folha - O livro de Jacob Gorender, "Combate nas Trevas" apresenta uma versão diferente da sua sobre a morte de Marighella. Segundo ele, frei Ivo e frei Fernando foram presos, torturados e acabaram entregando Marighella. Diz ainda que frei Fernando foi, sob pressão dos policiais, à Livraria Duas Cidades para confirmar um encontro com o líder da ALN. A sua versão é diferente.
Frei Betto - 
Eu contesto frontalmente essa versão. O Gorender não me responde às seguintes perguntas: primeiro, como é que eu, no Rio Grande do Sul, a não sei quantos quilômetros de São Paulo, fiquei sabendo da prisão de Ivo e Fernando no Rio, antes de eles virem para São Paulo? Como fiquei sabendo disso e fugi? E como o Marighella não ficou sabendo?
Eles foram presos no dia 2. A morte de Marighella foi no dia 4. Para quem está preso e sendo torturado, é muito tempo.
Segunda pergunta: o Gorender, que pertenceu ao Partidão (PCB), sabe que um dirigente da experiência e responsabilidade do Marighella não diz para você assim: "Olha, eu vou te encontrar no dia tal, você pode me chamar pelo telefone tal ou eu moro na rua tal...". Não existe isso. O Fernando e o Ivo eram procurados pelo Marighella. Como o Fernando trabalhava na Livraria Duas Cidades, o Marighella poderia ligar para lá no dia 2, 3, ou 9. Então, por que a polícia leva o Fernando à livraria exatamente naquele momento pré-marcado?
Folha - Mas, segundo Gorender, havia um horário marcado.
Frei Betto -
 Eu contesto isso. Não existia horário marcado. O Fernando falou para a polícia: "Olha, o Marighella me liga, eu não sei como encontrar o Marighella". Aí de repente o Fleury (delegado Sérgio Paranhos Fleury) pega o Fernando e o leva para a livraria. Até hoje não se sabe bem quem ligou para ele. É uma coisa meio no ar até hoje.
Outra coisa: por que o Henry Kissinger libera a ALN para fazer o sequestro do vôo da Cruzeiro do Sul para Buenos Aires, rumo a Cuba, já que a CIA tinha todo o controle do sequestro, sabia de tudo e pediu autorização ao Conselho de Segurança dos EUA para intervir no sequestro? O Kissinger falou: "Não, nós estamos chegando ao "cabeça'. Se vocês fizeram isso, vamos perder o grande líder". O "cabeça" era Marighella.
Folha - Mas por que impedir o sequestro poderia ser uma ameaça para pegar Marighella?
Frei Betto - 
Seria um sinal claro de que a CIA estava de tal maneira cercando a luta armada, que até impediram um sequestro. O impedimento espantaria a operação. Eu acho que havia infiltração de pessoas que dominavam esses contatos que o Marighella tinha... Mas veja só, eu tenho essa versão, mas em nenhum momento eu eximo a cota de responsabilidade que o Fernando e o Ivo tiveram na captura do Marighella. O que eu discordo do Gorender é que ele culpabiliza o Fernando e o Ivo e coloca os dois no pelourinho.
Folha - Antes da prisão, a Igreja Católica não sabia do envolvimento que vocês tinham com a ALN, só das lutas ao lado dos movimentos estudantis. Só esse aspecto -a ligação com os estudantes de esquerda- não foi suficiente para a instituição fazer algum tipo de pressão contra os dominicanos?
Frei Betto - 
Veja bem, a igreja tem uma tradição de apoio a resistências de regimes ditatoriais. Na França, a igreja participou da Resistência, movimento contra o nazismo. Na Itália, a igreja foi contra Benito Mussolini... Então, dentro da cultura eclesiástica, a igreja tem tradição de solidariedade àqueles que lutam contra esses regimes.
Folha - E depois das prisões?
Frei Betto - 
Depois, o apoio da igreja cresceu cada vez mais. Recebemos um monte de correspondências, vários setores da igreja nos apoiaram.

Fonte: 
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs07069808.htm

ENTREVISTA

Frei Betto fala sobre a sua participação contra o regime militar

Preso duas vezes, Carlos Alberto Libânio Christo, 70, escreveu sua experiência no período negro da Ditadura em livros como Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), O que a vida me ensinou (Saraiva), Cartas da Prisão (Agir), e Batismo de Sangue (Rocco); mineiro de Belo Horizonte, atualmente mora em São Paulo, no convento dos dominicanos do bairro das Perdizes

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Frei Betto
Frei Betto foi um dos freis que participaram da resistência contra ditadura militar
PUBLICADO EM 29/03/14 - 22h33
O TEMPO: No período em que ficou preso, durante o regime militar, o senhor foi torturado? Como foi presenciar e ouvir relatos de torturas a seus companheiros?
FREI BETTO: Fui torturado fisicamente na primeira prisão, em junho de 1964. Na segunda, em novembro de 1969, livrei-me da tortura física graças à intervenção do general Campos Christo, irmão de meu pai. Porém, assisti a torturas de outros presos e sofri torturas psicológicas.
OT: Onde o senhor ficou preso?
FB: Em várias prisões. Em novembro de 1969, no DOPS de Porto Alegre. Em dezembro do mesmo ano, no DEOPS e no Presídio Tiradentes, em São Paulo. Em 1970, no Presídio Tiradentes. Em 1971, passei pelo quartel Tobias de Aguiar, da ROTA de SP, e pelo Comando da PM. Fui em seguida transferido para o meio de presos comuns: estive na Penitenciária do Estado e no Carandiru, em São Paulo, e fiquei até ser solto na Penitenciária de Presidente Venceslau (SP).
OT: O filme "Batismo de Sangue" é baseado em um livro seu. Ficou satisfeito com a adaptação?
FB: O filme é excelente! Helvécio Ratton foi muito fiel ao livro. Fiz questão de não interferir no roteiro e nas filmagens. Tudo foi muito bem retratado. É o mais realista dos filmes brasileiros sobre a ditadura militar.
OT: Como você entendeu o suicídio do Frei Tito? O Fleury era mesmo daquela forma como foi retratado no cinema? Cruel, sádico e assustador? O que a presença dele (e de outros ditadores e torturadores) causavam aos freis?
FB: Conheci o Fleury quando esteve no DOPS de Porto Alegre para me interrogar. Foi ele que, por descuido, deixou escapar que eu não seria torturado fisicamente. Ao entrar na sala do delegado Firmino, diretor do DOPS, indagou se já me tinham dado “uns tabefes”. E antes que o delegado respondesse, acrescentou: “Cuidado, ele tem costas quentes.”
O suicídio de frei Tito, aos 28 anos, me abalou muito. Do grupo de frades preso pela ditadura, ele foi o mais torturado. Jamais falou. Um dos torturadores disse: “Não vai falar, mas jamais esquecerá o preço de seu silêncio”. De fato, Tito ficou psicologicamente desequilibrado. E pôs fim à vida após sair da prisão graças ao sequestro do embaixador suiço. Foi em agosto de 1974. Faz 40 anos agora. Em 8 e 9 de agosto faremos uma grande comemoração em nosso convento das Perdizes, em São Paulo. De fato, Tito não cometeu suicídio. Como disse Dom Paulo Evaristo Arns ao receber o corpo dele em São Paulo, em 1983, “frei Tito buscou do outro lado da vida a unidade perdida deste lado”.
OT: Você se considera um comunista? Se considerava, naquela época? Como era, na época, ser um comunista, enquanto para o senso comum, os comunistas eram ateus ou anticristãos, e você era da Igreja Católica? Como o "esquerdismo" chegou ao convento?
FB: Todo verdadeiro cristão é um comunista sem o saber; todo verdadeiro comunista é um cristão sem o crer. Sou socialista em decorrência de minha fé cristã. Todo cristão é discípulo de um prisioneiro político: Jesus de Nazaré, condenado por dois poderes políticos. As mesmas convicções que tinha nos anos 60 tenho ainda hoje, graças a Deus. A diferença são os meios. Como já não temos uma ditadura repressiva, não vejo razão para a violência revolucionária.
Como você diz, “o esquerdismo chegou ao convento” por uma longa história. Os dominicanos brasileiros são filhos de dominicanos franceses e italianos que lutaram junto com os comunistas contra os nazistas na Europa, durante a Segunda Guerra. A Ação Católica, na qual ingressei em 1959, tinha uma linha de esquerda. A Juventude Estudantil Católica (JEC) de BH, da qual fui militante e dirigente, fazia aliança com os comunistas para derrubar os pelegos direitistas que comandavam as entidades estudantis.
OT: A fé, de alguma forma, foi um alento para você sobreviver àquele período, à repressão, à prisão?
FB: Um incomensurável alento. O contrário do medo não é a coragem, é a fé. A prisão foi, para mim, um longo retiro espiritual.
OT: Você sente que você e os outros freis conseguiram transmitir esse alento e, de alguma forma, essa fé, aos colegas de prisão?
FB: Sem dúvida, pois a maioria era comunista ateia e quando um de nossos companheiros era assassinado na tortura ou em confronto com a repressão, os companheiros ateus vinham nos pedir para fazer uma celebração na cela.
OT: No tempo em que esteve preso, você teve contato com membros do PCC?
FB: Isso é um mito criado por setores direitistas da mídia, para tentar encobrir a incompetência da polícia. Vivi dois anos – dos quatro que fiquei preso – na condição e em companhia de presos comuns. Graças a isso, muitos comuns se recuperaram. O PCC foi criado nos anos de 1990.
OT: Qual era a sua relação com o Marighella? O que ele representava para os resistentes como você ao regime militar?
FB: Nós dominicanos formamos um grupo de apoio aos militantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) comandada por Marighella. Estive várias vezes com ele. É um herói da história de nosso país, conforme retrata Mário Magalhães na biografia que escreveu sobre ele. Wagner Moura agora prepara um filme sobre Marighella.
OT: Por que decidiram dar cobertura ao grupo de guerrilha? Vocês tinham ciência sobre o que essa decisão poderia acarretar mais tarde, principalmente, para vocês?
FB: Tínhamos plena consciência das possíveis consequências. Tínhamos 20 anos na década de 1960, éramos uma geração viciada em utopia. Quanto mais utopia, menos drogas. Quanto menos utopia, mais drogas... O que não dá é viver sem sonhos.
OT: A leitura da época, entre os militantes contra a ditadura, era a revista Veja. Hoje, a publicação é considerada de direita e conservadora. Qual a importância que tinha a mídia naquela época? Aliás, com toda a censura vigente na época, vocês confiavam na mídia?
FB: Jamais confiamos na mídia. Havia exceção, como o jornal Folha da Tarde, do qual fui repórter e chefe de redação. Também Opinião, Movimento e outros tablóides, como Pasquim. A Veja era dúbia, uma no cravo, outra na ferradura. É vergonhosa a cobertura que deu da prisão dos frades dominicanos.
OT: Você notou algo de semelhante na postura da polícia durante as manifestações que ocorreram aqui (e em todo o país) no meio do ano passado, e na repressão da época da ditadura? Qual a sua opinião sobre a desmilitarização da PM?
FB: Após 50 anos do golpe militar, o Brasil ainda está marcado por sequelas da ditadura, como a PM, a estrutura política, a falta de reforma agrária. Sou contra a existência da PM. Deveria haver apenas polícia civil qualificada. Nas manifestações de 2013 a polícia agiu como nos tempos da ditadura, inclusive se infiltrando entre os manifestantes e provocando arruaças, para tentar jogar a opinião pública contra os manifestantes.
OT: Muita gente que lutou com você na Ditadura chegou ao poder. Como você vê a participação deles no cenário político e social?
FB: Com orgulho. E cadê os torturadores, os generais assassinos, os mandantes de crimes e desaparecimentos? Têm vergonha e medo de mostrar a cara.

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O PAPO CABEÇA DA REVISTA VEJA


Contar a história recente do Brasil só pela metade, enaltecendo terroristas e demonizando os militares, é criar uma mentira por inteiro.

Por FÉLIX MAIER

A Veja é a mais importante revista do Brasil, não só pelo número de exemplares vendidos semanalmente, seja em papel ou em mídia eletrônica (tablets e similares), como por seu conteúdo, marcadamente liberal - no sentido clássico do termo. Ou seja, Veja defende, desde sua primeira edição, em 1968, o livre mercado, o empreendedorismo, a livre circulação de ideias (exceto os radicalismos), a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa, enfim, todos os valores inerentes a uma democracia de verdade.
Na edição de 8/1/2014, há um texto de Daniel Pereira, “É um papo muito cabeça”, com o subtítulo “Dilma fala em ‘guerra psicológica’, um conceito da ditadura”. O autor discorre sobre falas recentes da presidente Dilma Rousseff, que, em briga aberta contra os números, classifica os maus indicadores econômicos de seu governo como sendo uma “guerra psicológica” propalada pela imprensa e por organismos econométricos. Não consegui entender por que “guerra psicológica”, para o autor, é um conceito do governo dos militares, pois se trata de um tema tão antigo como a formação das primeiras comunidades de hominídeos. Josué, o sucessor do profeta Moisés, p. ex., já sabia o que significava “guerra psicológica” quando marchou com seus soldados em volta de Jericó, até que as muralhas caíssem.
Como a revista Veja sofreu censura no tempo dos governos dos militares, entende-se que tenha um ranço contra o movimento militar de 1964, que a quase totalidade dos jornalistas continua a chamar de “golpe”. Na verdade, tratou-se de um contragolpe, que colocou para correr os comunistas que já “estão no governo embora ainda não no poder”, como relatou o quinta-coluna Luís Carlos Prestes a seu chefe em Moscou, Nikita Krushev, em janeiro de 1964.
Lá pelas tantas, o articulista de Veja (que os esquerdistas apelidam de Óia) disserta sobre a junta militar que assumiu o poder após a morte de Costa e Silva, dizendo que eram “apelidados pelo povo de Os Três Patetas”. Bobagem. O povo nem sabia que existia uma junta militar, um governo tampão antes de Médici. Quem falava em “Três Patetas” eram políticos como Ulisses Guimarães e os jornalistas apenas propagavam a molecagem, em caixas de ressonância nas empresas em que trabalhavam.
O ideal seria que o Brasil nunca tivesse tido uma ditadura militar. Mas, quais eram as opções, na época, para as Forças Armadas, especialmente o Exército? Assistir passivamente a corrosão da autoridade de Jango, que se unia a cabos e soldados amotinados na Presidente Vargas, no Rio, incitados pelo carbonário Leonel Brizola, tentando implodir os pilares que sustentam as instituições militares, ou seja, a hierarquia e a disciplina? Não atender aos anseios da população, que foi às ruas em passeatas gigantescas, exigindo que o Exército acabasse com a baderna, a carestia e as greves sem fim provocadas por agitadores comunistas a serviço de Cuba e de Moscou?
Se as Forças Armadas não tivessem entrado em ação, o Brasil poderia ter-se transformado em uma gigantesca Cuba. Nesse caso, a revista dos Civita não teria sofrido apenas censura, mas seria tirada de circulação. Outra hipótese seria o Brasil entrar em guerra civil, com a criação de movimentos guerrilheiros que até hoje poderiam estar infernizando o País, como ocorre na Colômbia das FARC. Em ambos os casos, o Brasil se tornaria um imenso Vietnã, porque é certo que os EUA não ficariam inertes e tomariam partido contra os comunistas.
O Grupo Abril, do qual Veja faz parte, também esteve infiltrado por esquerdistas durante o governo dos militares. Não sei se é devido a isso que existe esse eterno ranço contra os militares, se ainda hoje há infiltrados canhotos na revista Veja, que apenas veem censura e tortura, nada mais, fazendo coro à vil campanha do governo petista contra as Forças Armadas, que é a vergonhosa Comissão Nacional da Verdade. Contar a história recente do Brasil só pela metade, enaltecendo terroristas e demonizando os militares, é criar uma mentira por inteiro. Será que nem Veja consegue enxergar algo de positivo em 1964, que colocou o Brasil na modernidade (Embratel, Banco Central, sistema Telebrás), investiu pesado na infraestrutura (rodovias, sistema Eletrobrás e as hidrelétricas de Itaipu, Sobradinho, Tucuruí, Ilha Solteira etc., metrôs, Ponte Rio-Niterói), criou a Embrapa e a Embraer, só para citar alguns feitos extraordinários, transformando uma nação insignificante, que saiu da 46ª posição no PIB para ser a 8ª potência econômica do planeta em apenas uma década?
Frei Betto, o “Vítor” ou “Ronaldo”, ligado ao Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP), que depois se transformaria na Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, ficou encarregado do sistema de imprensa e também dos contatos com Joaquim Câmara Ferreira, que coordenava as atividades do AC/SP, e se infiltrou na Editora Abril e no jornal Folha da Tarde, do Grupo Folha. Na Folha da Tarde, Frei Beto recrutou os jornalistas Jorge Miranda Jordão (diretor), Luiz Roberto Clauset, Rose Nogueira e Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel. Clauset e Penafiel cuidavam da preparação de “documentos”, e Rose, do encaminhamento de pessoas para o exterior. Na Editora Abril, a base de apoio era de aproximadamente 20 pessoas, comandadas pelo jornalista Roger Karman, e composta por Karman, Raymond Cohen, Yara Forte, Paulo Viana, George Duque Estrada, Milton Severiano, Sérgio Capozzi e outros, que elaboraram um arquivo secreto sobre as organizações armadas (servia também como fonte de informações para organizações subversivas). O AC/SP tinha assistência jurídica, composta de 3 advogados: Nina Carvalho, Modesto Souza Barros Carvalhosa e Raimundo Paschoal Barbosa.
Sempre que se estuda o movimento de 1964, deve-se observar com rigor o contexto da época, em que corações e mentes eram influenciados pela Guerra Fria: ou se era a favor do comunismo, ou se era a favor do capitalismo. Sem essa premissa elementar, discorrer sobre 1964 não passa de embuste. Assim, como entender a revista Veja, que não reconhece nenhuma ação positiva dos militares, se o que ela defende é essencialmente o mesmo que os militares defenderam e, para isso, tiveram que interferir politicamente no País até derrotar os movimentos revolucionários que pretendiam transformar o Brasil numa ditadura comunista?
Em 2014, ocorrerá o 50º aniversário do movimento de 1964. Vamos aguardar o que a revista Veja escreverá sobre o acontecido, se será uma avaliação equilibrada do governo dos militares, com prós e contras, como ocorre com a quase totalidade dos governos, ou apenas um “papo cabeça” como o do escrevinhador acima citado.
E olha que o “papo cabeça” não foi elaborado em Montevidéu, onde existe a livre circulação da marijuana. Imagina se fosse...

Fonte: MÍDIA SEM MÁSCARA

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Frades dominicanos

Félix Maier

No início de 1968, houve várias reuniões no Convento dos Dominicanos do Bairro das Perdizes, em São Paulo, liderado por Frei Osvaldo Augusto de Rezende Júnior, congregando frades para tomada de posição política, que culminaria com a adesão ao Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP) - que teve, ainda naquele ano, mudado seu nome para Ação Libertadora Nacional (ALN). 

Participaram das reuniões Frei Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto), Frei Fernando de Brito (Frei Timóteo Martins), Frei João Antônio Caldas Valença (Frei Maurício), Frei Tito de Alencar Ramos, Frei Luiz Ratton, Frei Magno José Vilela e Frei Francisco Pereira Araújo (Frei Chico). 

Frei Osvaldo, apresentando Marighella a Frei Beto, conseguiu a adesão ao AC/SP de todos os dominicanos que participaram das reuniões. 

Frei Beto também entrou em contato com a VPR por intermédio de Dulce de Souza Maia, nos meios teatrais, onde Frei Beto atuava como repórter da Folha da Tarde

A primeira tarefa que os dominicanos receberam de Marighella foi fazer um levantamento de áreas ao longo da Rodovia Belém-Brasília, para implantação de uma guerrilha rural. A área de Conceição do Araguaia, onde a ordem dominicana possuía um convento, foi assinalada no mapa como área prioritária, pois teria importante apoio logístico. Nesse convento, durante certo tempo, os subversivos instalaram um sistema de rádio para difusão de mensagens a Tirana, Albânia. 

O levantamento sócio-econômico da região foi feito com base no “Guia Quatro Rodas”, da Editora Abril. Esse trabalho passou a ser compartimentado, para aumentar a segurança, e os frades passaram a utilizar codinomes: Frei Ivo, o Pedro; Frei Osvaldo, o Sérgio ou Gaspar I, nos contatos que este tinha com Marighella; Frei Magno, o Leonardo ou Gaspar, era quem mantinha contato com Joaquim Câmara Ferreira; Frei Beto, o Vítor ou Ronaldo, ficou encarregado do sistema de imprensa e também dos contatos com Joaquim Câmara Ferreira, que coordenava as atividades do Agrupamento em São Paulo (o AC/SP se infiltrou na Editora Abril e no jornal Folha da Tarde, do Grupo Folha). 

Na Folha da Tarde, Frei Beto recrutou os jornalistas Jorge Miranda Jordão (Diretor), Luiz Roberto Clauset, Rose Nogueira e Carlos Guilherme de Mendonça Penafiel. Clauset e Penafiel cuidavam da preparação de “documentos”, e Rose, do encaminhamento de pessoas para o exterior. Na Editora Abril, a base de apoio era de aproximadamente 20 pessoas, comandadas pelo jornalista Roger Karman, e composta por Karman, Raymond Cohen, Yara Forte, Paulo Viana, George Duque Estrada, Milton Severiano, Sérgio Capozzi e outros, que elaboraram um arquivo secreto sobre as organizações armadas (servia também como fonte de informações para organizações subversivas). 

O AC/SP tinha assistência jurídica, composta de 3 advogados: Nina Carvalho, Modesto Souza Barros Carvalhosa e Raimundo Paschoal Barbosa. Quando procurado pela polícia, em São Paulo, Frei Betto, que havia ingressado no convento dos dominicanos, em São Paulo, em 1966, foi acobertado pelo Provincial da Ordem, Frei Domingos Maia Leite, e transferido para o seminário dominicano Christo Rei, em São Leopoldo, RS. Frei Betto foi preso no RS, onde atuava junto com a ALN para fuga de terroristas ao Uruguai.

Fonte: "A Língua de Pau - Uma história da intolerância e da desinformação", de Félix Maier, obra virtual ainda não publicada, confeccionada em verbetes.


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