MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Armação de Maia com PCdoB deixa caducar MP da carteirinha estudantil gratuita

Armação de Maia com PCdoB deixa caducar MP da carteirinha estudantil gratuita


Os interessados na identidade estudantil digital têm até este domingo (16) para tentar garantir o documento que é gratuito. É que a medida provisória editada pelo presidente Jair Bolsonaro em setembro vai perder a validade na segunda-feira (17). Tudo isso graças à curiosa aliança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) com o PCdoB, partido que controla as entidades estudantis (UNE, Ubes) que faturam cerca de r$17 milhões por ano cobrando pela emissão de carteiras estudantis físicas.
Até as 12h30 deste sábado mais de 320 mil identidades estudantis gratuitas tinham sido emitidas pelo Ministério da Educação, cada uma a um custo de R$ 0,15 para o governo. As IDs emitidas pelas entidades controladas pelo PCdoB custam ao menos R$35 para o estudante.
O documento dá ao estudante direito a pagar meia-entrada em espetáculos artístico-culturais e esportivos e fica disponível no celular. Segundo o MEC, o objetivo é oferecer uma alternativa à carteirinha de plástico usada como instrumento de exploração de estudantes para engordar os cofres de entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
A sabotagem à MP começou tão logo ela foi editada. O presidente da Câmara nem sequer permitiu que chegasse ao plenário, para votar, a pedido do seu parceiro Orlando Silva (PCdoB-SP), político que se notabilizou quando, ministro do Esporte do governo Lula, pagava até tapioca com cartão corporativo do governo.

ID gratuita não perde validade

Diferentemente das carteirinhas tradicionais, que valem até março do ano seguinte, segundo o MEC, a ID estudantil poderá ser utilizada enquanto a matrícula do aluno em uma instituição de ensino estiver ativa no Sistema Educacional Brasileiro (SEB), que é um banco de dados nacional dos estudantes.
Mais de 6 milhões foram cadastrados na plataforma por 7,1 mil instituições de educação básica e superior. O SEB permite o acompanhamento, por exemplo, da regularidade escolar do estudante. O projeto foi pensado para que as políticas públicas sejam, cada vez mais, aperfeiçoadas e usado como base para emitir as identidades estudantis.
Como emitir o documento:
– Baixe o aplicativo “ID Estudantil” disponível, gratuitamente, no Google Play ou na Apple Store;
– Faça um cadastro pelo login do gov.br, usando o CPF e uma senha para acesso ao sistema do governo federal;
– Clique na opção para inserir uma nova ID Estudantil e aceite os termos e condições;
– Caso o estudante tenha CNH, será feito um cruzamento com a fotografia tirada no aplicativo com dados do Denatran para reconhecimento facial. Caso o estudante não tenha esse documento, serão solicitadas uma foto do rosto e uma do RG (frente e verso);
– Pronto. A ID Estudantil foi criada e ficará disponível no aplicativo.
Também é possível que o responsável emita o documento para menores de 18 anos. Neste caso, selecione a opção “ID Estudantil – dependente”.

POR QUE ANOS DE CHUMBO?

EXPLICAÇÃO QUE ESGOTA O ASSUNTO POR QUE "ANOS DE CHUMBO"
Themistocles de Castro e Silva
Jornalista do jornal O Povo - CEARÁ

Muita gente, particularmente os jovens, já ouviu ou leu a expressão "anos de chumbo", com a qual as esquerdas procuram identificar o governo dos generais, particularmente o presidente Médici, que se viu no dever de desbaratar a guerrilha e o terrorismo. Ao general Médici, ao contrário, o Brasil deve o maior programa de distribuição de renda da América latina, dentro de um fase de desenvolvimento econômico que ficou conhecida como o "milagre brasileiro".

Mas por que "anos de chumbo", se foi um Presidente profundamente humano voltado extraordinariamente para o social? Os trabalhadores rurais (quarenta milhões atualmente) e o empregados domésticos têm amparo da Previdência Social graças ao seu governo. Mas vamos aos "anos de chumbo".
Estão lembrados do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burle Elbrick? Para liberta-lo, os sequestradores exigiram, primeiro, a leitura de um "Manifesto" em todas as emissoras de rádio e televisão, e depois, avião para deixar quinze comunistas no exterior (Argélia, Chile e México).
Para salvar a vida do embaixador, o governo concordou com a exigência dos marginais. Tudo bem.
Eu pediria a atenção dos leitores para a redação do "Manifesto dos Terroristas", com esse mesmo título publicado na edição do O POVO de 6 de setembro de 1969 (o presidente Costa e Silva já estava hospitalizado com grave distúrbio circulatório). O redator do "Manifesto" foi o jornalista Franklin Martins, aquele que comenta política no "Jornal da Globo". Por ironia do destino, é filho de Mário Martins, jornalista, deputado e senador pela UDN de Carlos Lacerda. Era excelente cidadão, muito bem relacionado com seus colegas do Comitê de Imprensa da Câmara, entre os quais eu me incluía.
Mais uma vez, peço a atenção para a redação do "Manifesto". Alias, para justificar os "anos de chumbo basta o primeiro período, que é o seguinte:
"Ao povo brasileiro. Grupos revolucionários detiveram hoje, o senhor Burle Elbrick, Embaixador dos Estados Unidos, levando-o para algum ponto do país, onde o mantém preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a efeito: assaltos à bancos, onde se arrecadam fundos para a revolução; tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados; tomada de quartéis e delegacias, onde se consegue armas e munições para a luta pela derrubada da ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários para devolve-los à luta do povo; as explosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores. Na verdade o rapto do embaixador é apenas mais um ato de guerra revolucionária que avança a cada dia e que este ano ainda iniciará sua etapa na guerrilha rural".
Que tal? Qual o governo que sem chumbo enfrentaria tal situação? Observem que eles próprios, os criminosos, sem ninguém pedir, confessaram assalto a bancos, tomada de quartéis e delegacias, invasão de presídios, explosão de prédios e "justiçamento". Depois de tudo isso, na área urbana, informavam que, ainda naquele ano (1969), iriam iniciar outra etapa de guerra revolucionária: a guerrilha rural.
Leram com cuidado ? Se possível, repitam a leitura. Então já sabem por nasceram os "anos de chumbo"? E agora me respondam: qual o governo responsável que, diante de tais crimes e tais promessas, todas já em prática, não se disporia a agir com mão de ferro? A situação permitia panos mornos? Não evidentemente. Eram criminosos travestidos de políticos.
A guerra estava declarada e o sequestro do embaixador, como afirmam os próprios terroristas, não era " um episódio isolado".
Governo nenhum tem noção exata de um movimento clandestino. Pode ser inexpressivo, como pode ser amplo e profundo. Ou o governo entrava para valer ou poderia levar a pior. Felizmente, Araguaia não era lá essas coisas e com poucas horas de chumbo estava tudo desbaratado. O Partido Comunista covarde como sempre, quis promover guerrilha com estudantes do Congresso de Ibiúna (aquele cujo local conseguiram com prestígio de Frei Beto).
Estão aí, portanto as razões dos "anos de chumbo", que garantiram a paz da família brasileira, dando ao Presidente condições de trabalhar e realizar uma obra pela qual recebeu aplausos num Maracanã lotado. Nessa fase, dez aviões e quatro diplomatas foram sequestrados.
Dos cinco militares da Presidência, o general Médici foi o mais sensível aos problemas sociais. Só pela ampliação do Funrural (criado pelo general Costa e Silva) seu nome jamais será esquecido dos brasileiros. Já com o general Figueiredo os professores viram garantida a volta da sua aposentadoria aos 25 anos, que FHC acabou. O Brasil teve duas fases de amplo desenvolvimento social: com o Estado Novo de Getúlio e com os militares de 64. A esquerda morre de raiva com isso, mas é a História quem o diz.
NOTA – como estaria o Brasil sem as hidroelétricas de Itaipu, Tucurui e outras construídas pelos governo dos generais?

Operação Brother Sam, Uma Operação Fantasma

Operação Brother Sam, Uma Operação Fantasma


Félix Maier


Entra ano e sai ano, e as esquerdas repetem, ad nauseam, que o “golpe” de 1964 no Brasil foi realizado pela CIA, através da "Operação Thomas Mann" - uma referência ao nome do Secretário-Assistente de Estado para Negócios Interamericanos do Governo Lyndon Johnson.



Ocorre que é mentirosa a versão da participação dos norte-americanos na Contrarrevolução brasileira de 1964. Os documentos da inexistente “Operação Thomas Mann” foram forjados pela espionagem tcheca que, em 1964, atuava no Brasil via KGB. Essa mentira foi montada por Ladislav Bittman, que chefiava o serviço de desinformação da Tchecoslováquia. Em seu livro The KGB And Soviet Disinformation, publicado em Washington, Bittman declara: “Queríamos criar a impressão que os Estados Unidos estavam forçando a Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomar uma posição mais anticomunista, enquanto a CIA planejava golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba (...) A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas”. Veja outros dados sobre a “Operação Thomas Mann” no endereço http://www.ternuma.com.br/esquerda.htm.

No texto do Ternuma, lemos o seguinte trecho:

"Embora as revelações de Ladislav Bittman tenham sido tornadas públicas no ano de 1985, a imprensa brasileira nada publicou a respeito, talvez por ignorância ou, quem sabe, por não querer que a opinião pública viesse a tomar conhecimento da mentira que durante anos enganou o povo brasileiro.
A Revista Veja na sua edição nº 1777, de 13/11/02, publica a matéria ‘O Fator Jango’ de autoria de João Gabriel de Lima, onde este mesmo assunto é abordado. Para maior entendimento transcrevemos a seguir a sua parte principal:
'O básico desse enredo foi escrito nos anos setenta pela historiadora americana Phyllis Parker, na obra de referência 1964: O Papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de Março. Phyllis entrevistou os principais personagens do episódio e teve acesso à maior parte da correspondência secreta. Chegou à conclusão de que o golpe de 1964 foi dado mesmo por brasileiros, não por americanos. Hoje isso soa óbvio, mas na época, até por falta de bons livros em português sobre o assunto, imperava a versão esquerdista de que a tomada de poder pelos militares havia sido planejada em Washington e incluiria até uma invasão do Brasil por marines americanos. Phyllis mostra que os Estados Unidos realmente acompanhavam a situação de perto, faziam seus lobbies e sua política com a costumeira agressividade, e tinham um plano B para o caso de o País entrar em guerra civil. Entretanto, nas palavras da historiadora, não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do golpe de 1964. O resto é teoria conspiratória' ”.

O livro 1964: O Papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de Março (Civilização Brasileira, Rio, 1977), da historiadora norte-americana Phyllis R. Parker, com tradução de Carlos Nayfeld, diz textualmente, nas "Conclusões", à pg. 128:

"Não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do golpe de 1964. Cada uma dessas funções parece ter competido a Castelo Branco e seus companheiros de farda. A mesmo tempo, há sugestivas evidências de que os Estados Unidos aprovaram e apoiaram a deposição militar de Goulart quase que desde o princípio. Os Estados Unidos reforçaram o seu apoio ao elaborar planos militares preventivos que poderiam ter sido úteis para os conspiradores, se houvesse surgido a necessidade".

E que planos militares preventivos foram esses?

Algumas transcrições do livro da Sra. Parker podem elucidar o leitor o que veio a ser o referido “Plano B” a que se refere o articulista de Veja, a quase desconhecida “Operação Brother Sam”, uma operação que teve início, sim, mas que foi abortada ainda em seu início, porque não houve necessidade de ser desencadeada (pg. 99 a 116):


"Atividades dos Estados Unidos

Aceleração das Comunicações

Quando o desenrolar dos acontecimentos no Brasil atingiu um ponto crítico, os norte-americanos aceleraram a eficiência de suas comunicações. Um teletipo, instalado na Embaixada durante a semana que se sucedeu ao regresso de Gordon de Washington, permaneceu em funcionamento durante parte da primeira semana de abril, com trocas de mensagens entre o Departamento de Estado e a Embaixada no Rio, geralmente programadas duas vezes por dia. Na tarde de 30 de março, o Secretário de Estado Dean Rusk instruiu a Embaixada no Brasil a intensificar a disseminação de informações, incluindo a Casa Branca, o Gabinete do Secretário de Defesa, os Chefes Conjuntos do Estado-Maior, o Comandante-Chefe do Comando Sul e a CIA como destinatários `de todos os telegramas importantes tratando de questões substanciais`. Washington deu um passo mais adiante. Um cabograma enviado naquela noite pelo Secretário de Estado Rusk (redigido por Burton e aprovado por Mann) instruía todos os consulados norte-americanos no Brasil a ficarem vigilantes 24 horas por dia e a comunicarem diretamente a Washington `qualquer ocorrência significativa envolvendo a resistência militar ou política ao regime de Goulart`. O Embaixador Gordon cancelou uma viagem a Alagoas, por sugestão de Vernon Walters, que estava convencido de que o golpe começaria no dia 31.
Na noite de 30 de março, Niles Bond, cônsul-geral em São Paulo, cabografou a Washington que `duas fontes ativas do movimento contra Goulart dizem que o golpe contra o GOB [Governo do Brasil] deve ocorrer dentro de quarenta e oito horas`. Bond não acreditava naquele prazo de quarenta e oito horas, mas não tinha dúvidas de que a oposição a Goulart estava tomando a ofensiva. O cônsul acrescentava uma mensagem importante: esses dois eminentes conspiradores haviam indagado pela primeira vez `se a frota norte-americana poderia alcançar rapidamente o Sul do Brasil`" (pg. 99 e 100)

"Às 11,30 da manhã de 31 de março, realizou-se uma reunião em Washington da qual participaram o Secretário Dean Rusk e outros representantes do Departamento de Estado; o Secretário de Defesa Robert McNamara; o Chefe do Estado-Maior General Maxwell Taylor; o Comandante-Chefe das Forças do Sul (USCINCSO) Tenente-General Andrew P. O’Meara; o Diretor da CIA John McCone; e outros funcionários. Na reunião, houve relatórios sobre a situação militar do Brasil. O grupo considerou que ações políticas deviam ser tomadas (tais como consulta a outros países latino-americanos, declarações públicas, etc.) e discutiu as disposições organizacionais para lidar com a crise brasileira, inclusive a criação de um grupo de trabalho interdepartamental e a consideração de `relações e comunicações entre a Embaixada [dos Estados Unidos] no Rio, os consulados e as forças militares norte-americanas.
Nessa reunião, ou numa outra realizada antes, considerou-se e aprovou-se um plano militar preventivo que ia mais longe do que as duas sugestões da Embaixada no Rio de que se deviam enviar petróleo e uma frota de porta-aviões ao Brasil. Esse terceiro plano compreendia providências que incluíam o envio de armas e munições ao Brasil, como apoio preventivo aos conspiradores" (pg. 101).


"Planos em Ação

Na tarde de 31 de março, os Estados Unidos começaram a transformar os planos preventivos em ação. O primeiro plano executado enviou um porta-aviões de ataque pesado, o Forrestal, e destróieres de apoio (inclusive um destróier equipado com mísseis teleguiados) em direção das águas brasileiras. A finalidade dessa força-tarefa era ‘firmar a presença dos Estados Unidos nessa área e estar preparada para executar as tarefas que lhe fossem designadas’. Os navios deviam partir de Norfolk, Virgínia, às 7 da manhã, hora local (9 da manhã no Rio de Janeiro), a 1º de abril, e deviam chegar a Santos, porto de São Paulo, por volta do dia 11. O apoio adicional dos navios compreendia petroleiros bélicos, navios de munição e navios de mantimentos.
Entrementes, o General-de-Divisão George S. Brown era nomeado Comandante de Missão para o projeto ‘Brother Sam’ (Irmão Sam). Essa operação combinava a força-tarefa do porta-aviões e o apoio de POL, planejados pela Embaixada no Rio, com a operação preventiva originada em Washington, a fim de fornecer armas e munição para os conspiradores militares do Brasil.
Os JCS (Chefes Conjuntos do Estado-Maior) instruíram o Comandante-Chefe do Sul, General Andrew O’Meara, para transportar por avião 250 espingardas de caça, calibre .12, marcadas ‘Brother Sam’ para a Base Aérea de Ramey, em Porto Rico, às 3 da manhã, hora do Rio de Janeiro, a 1º de abril. Além disso, 110 toneladas de armas portáteis e munição marcadas ‘Brother Sam’ deveriam chegar o mais tardar ao meio-dia, hora oficial do Leste americano, à Força Aérea McGuirre, New Jersey, para serem transportadas por avião para o Brasil. Os aviões destinados a essa missão compreendiam: sete aviões de transporte C135, oito aviões de caça, até oito aviões-tanque (para apoio do socorro aéreo), um avião de comunicações e um posto de comando transportado pelo ar.
Os JCS enfatizaram o caráter sigiloso das instruções ‘Brother Sam’ de que quatro navios-tanques fossem carregados com um total de 136.000 barris de gasolina comum, 272.000 barris de combustível para jatos, 87.000 barris de gasolina de aviação, 35.000 barris de óleo diesel e 20.000 barris de querosene. Os navios eram esperados em Aruba às 7 da noite, hora do Rio de Janeiro, de 31 de março, onde o POL seria carregado" (pg. 103 e 104).


"A Trilha dos Estados Unidos

A 31 de março, o ex-Presidente Juscelino Kubitschek distribuiu uma declaração ambígua à imprensa e ao rádio, durante o dia, na qual dizia: `Ainda é tempo de salvar a paz e a legalidade, restabelecendo a disciplina e a hierarquia militar por amor ao País, aos brasileiros e a Deus`. Gordon considerou isso um sinal otimista e comunicou a Washington que, se conseguisse ver Juscelino naquela noite, procuraria `naturalmente sondá-lo sobre as razões de seu otimismo`. Gordon, de fato, encontrou-se com Juscelino na residência do ex-Presidente por volta das 9 horas da noite. Gordon queria que Juscelino assumisse uma posição mais forte contra Goulart e que usasse sua enorme influência para `reunir um grande grupo parlamentar e assim influir na questão da legitimidade`. Juscelino achava que o problema da legitimidade que tanto preocupava Gordon seria prontamente resolvido pelo Congresso, se houvesse lastro militar favorável. O ex-Presidente estava furioso com a falta de notícias de São Paulo (o General Kruel ainda não iniciara a sua marcha) e continuava a mudar de estações de rádio. Juscelino explicou que o apoio de São Paulo era muito importante porque, se a revolta de Mourão fosse sufocada, `Goulart estaria no caminho direto da ditadura`. Quando Gordon saiu da casa de Juscelino, Kruel ainda não se manifestara.
Às 11 horas da noite de 31 de março, o Coronel Walters foi ao apartamento do General Floriano de Lima Brayner. Walters explicou que o Embaixador Lincoln Gordon queria saber como estava a situação no Brasil. Brayner informou que Kruel lançara seu manifesto.
- Graças a Deus - respondeu o coronel norte-americano.
Às 7 horas da manhã do dia 1º de abril, na Base Aérea no Panamá (9 horas no Rio de Janeiro), uma força-tarefa conjunta do Exército, Marinha, Força Aérea e CIA, `ultra-secreta`, entrou em ação sob o comando do General-de-Divisão Breitweiser, da Força Aérea. A finalidade dessa força-tarefa parece que era a de acompanhar e coordenar a logística de `Brother Sam` " (pg. 104 a 106).


"Solicitações do Brasil

Um grupo naval chefiado pelo Almirante Levi Reis estabeleceu um posto de comando na praia de Copacabana na manhã de 1º de abril. Ele estava tentando providenciar para que três destróieres operassem ao largo do Rio de Janeiro e um submarino operasse ao largo de Santos como parte da coordenação contra Goulart. Levi Reis perguntou ao chefe da Missão Naval americana ‘se e quando os Estados Unidos estariam em condições de fornecer combustível para submarinos’.
Ás 10 horas da manhã de 1º de abril, altos funcionários norte-americanos em Washington consideravam os efeitos políticos do apoio aberto dos Estados Unidos ao golpe e perguntavam à Embaixada do Brasil se ‘o impulso continuaria do lado anti-Goulart sem incentivo oculto ou ostensivo de nossa parte’. A preocupação dos estrategistas norte-americanos parece que não era o cabimento do envolvimento dos Estados Unidos nos assuntos internos do Brasil, mas se a indicação aberta do apoio americano ‘poderia favorecer Goulart neste momento’. Gordon respondeu: ‘O impulso claramente pegou e nestas horas não precisa de incentivo especial de nossa parte... Neste momento, a indicação aberta de nosso apoio seria um erro político que iria favorecer Goulart` " (pg. 106).


"As informações dos Estados Unidos

As decisões dos Estados Unidos se baseavam em informações preciosas e oportunas fornecidas por fontes excelentes. Uma fonte não-revelada na agência telegráfica informou à Embaixada no Rio quando as tropas do Segundo Exército atravessaram a fronteira São Paulo/Rio na manhã de 1º de abril. Houve duas manifestações naquela tarde no centro do Rio, e observadores faziam o circuito entre essas aglomerações e a Embaixada, mantendo a equipe informada. Vernon Walters procurou encontar-se com Castelo Branco ou alguém de sua equipe às 2 horas de 1º de abril e outra vez na manhã de 2 de abril.
O apoio a Goulart foi desorganizado e ineficaz. Greves foram convocadas, mas não consumadas. A resistência careceu de planejamento coerente e liderança forte. À 1 hora da tarde de 1º de abril, o Presidente Goulart partiu de avião do Rio para Brasília. Em vez de assumir uma posição planejada em Brasília, Goulart prosseguiu viagem para o Rio Grande do Sul naquela noite" (pg. 107).


"Os Estados Unidos Preparam-se para Fornecer Resistência

Ás 5,30 da tarde, Gordon manda um teletipo para o Departamento de Estado: `Acreditamos que está tudo terminado, com a rebelião democrática 95% vitoriosa`. Ele frisou que poderia ainda haver alguma contenda civil e que `começamos o trabalho de equipe para as possíveis necessidades de ajuda à segurança interna, estabilização financeira, etc.` Washington respondeu: `Tivemos um grupo de trabalho especial aqui ocupando-se durante vários dias de assistência econômica e financeira, auxílio de emergência, etc., e estamos preparados para agir prontamente de acordo com as suas recomendações`. Depois dessa conferência pelo teletipo, o Subsecretário Ball encontrou-se com o Presidente Johnson para transmitir-lhe as boas novas.
O apoio militar ostensivo dos Estados Unidos para a derrubada de Goulart logo se tornou desnecessário. Gordon cabografou a Washington, enviando um extenso relato da situação à 1 hora da manhã do dia 2 de abril, no qual descreveu as forças dos aparentes vencedores e os poucos focos de resistência restantes. Ao considerar as possíveis reações dos Estados Unidos, ele frisou que `enquanto não for assegurado o controle democrático das refinarias, não se pode excluir a possível necessidade de produtos petrolíferos`. Isso significava que os navios-tanques carregados de POL deviam continuar a caminho do Brasil. Gordon não cancelou de imediato o embarque pendente de 100 toneltadas de armas e munições dos Estados Unidos, porque, explicou ele, `enquanto a situação do Terceiro Exército não estiver claramente sob controle,... não podemos excluir por completo um possível pedido de material bélico`. Gordon focalizou as prováveis repercussões econômicas do golpe e comunicou a Washington que acreditava que a situação podia `requerer alguns fornecimentos de emergência, tais como alimentação, material de segurança pública, POL`
(...)
A 2 de abril, às 4 horas da tarde, Gordon comunicou a Washington que ‘acabara de receber confirmação de Castelo Branco de que cessara toda a resistência em Porto Alegre, e as forças democráticas agora controlavam inteiramente o Rio Grande do Sul. Isso elimina o último foco de resistência militar’.
Na mesma tarde, 200.000 pessoas reuniram-se no centro do Rio para a passeata da vitória do grupo ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’. Gordon descreveu a euforia da multidão agitando bandeiras brasileiras e cartazes anticomunistas, cantando o hino nacional e atirando confete. Acrescentou pesarosamente que `a única nota triste era a participação obviamente limitada das classes baixas na marcha`.
(...)
Na noite de 2 de abril, o Secretário-Assistente Mann descreveu para Gordon o pensamento predominante no Departamento de Estado com respeito à assistência dos EUA ao Brasil, a qual, de acordo com Mann, teria dois objetivos: 1) ajudar e apoiar o novo regime, e 2) incentivar `um programa razoável de desenvolvimento e estabilização, apoiado pelos recursos totais do mundo livre, inclusive os Estados Unidos`. Mann explicou que, a fim de conseguir o apoio do Congresso dos Estados Unidos ou de agências internacionais, `será necessário induzir as autoridades brasileiras a elaborar um programa de desenvolvimento econômico e estabilidade financeira`.
(...)
A 2 de abril, Lincoln Gordon enviou um cabograma, através do Departamento de Estado e da Casa Branca, a Carl Hayden, Presidente interino do Senado e membro da Comissão de Concessão de Verbas daquela Casa do Congresso, recomendando que `a maior consideração possível fosse dada a qualquer pedido (por parte do Governo brasileiro) de assistência econômica de emergência`. Gordon descreveu a `deposição de facto` de Goulart como `uma grande vitória para o mundo livre`, sem a qual o resultado poderia ter sido uma `perda total para o Ocidente de todas as repúblicas sul-americanas`. Afirmou que a mudança de Governo deveria `criar um clima muito mais favorável aos investimentos privados` e à Aliança para o Progresso. Frisando que a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) fora importante para a vida econômica e política do Brasil, por `ter fortalecido o apoio aos ideais democráticos`, Gordon concluiu: `Acredito ser do interesse dos Estados Unidos apoiar e fortalecer tanto quanto possível o atual regime` " (pg. 108 a 111).

"Encerrando os Planos Preventivos Militares

Ao meio-dia de 2 de abril, o Embaixador Lincoln Gordon cogitava o cancelamento do envio da força-tarefa de porta-aviões para o Brasil. Na tarde seguinte, por ordens do Almirante Smith, essa operação foi cancelada com instruções para se `preservar o disfarce de treinamento Quick Kick (Rebate Rápido) com que se encobria toda a operação`. Smith sugeriu que, a 8 de abril, a força do porta-aviões realizasse um exercício de treinamento `ao largo de MHC`, retornando as unidades em seguida às operações normais. Na tarde de 3 de abril, o General O`Meara, no Panamá, sob cujo comando a Força-Tarefa Conjunta havia acompanhado todas as operações militares preventivas para o Brasil, recomendou que o `pacote de 110 toneladas de armas e munições continuasse guardado em McGuire, dependendo da determinação do Embaixador Lincoln Gordon quanto a se as forças militares brasileiras ou as forças policiais estaduais precisariam de auxílio inicial dos Estados Unidos`, e que o Comando Tático Aéreo, o Comando Estratégico Aéreo e as seções do Serviço de Transporte Aéreo Militar da operação `Brother Sam` fossem liberadas, mantendo-se `apenas a parte do movimento POL que o Embaixador considerar essencial para a situação atual`.
Os requisitos POL da operação `Brother Sam` continuaram em trânsito até sexta-feira ou sábado, 4 ou 5 de abril, quando o Embaixador Gordon entrou em contato com funcionários da Petrobrás para saber se o Brasil tinha necessidade de produtos petrolíferos extras. Os funcionários brasileiros agradeceram ao Embaixador, mas declinaram a oferta. Gordon comunicou a Washington que o POL não seria necessário, e esses suprimentos foram desviados para outro lugar.
Na noite de 3 de abril, uma ordem dos Chefes Conjuntos do Estado-Maior cancelou o transporte aéreo e o apoio de aviões de caça e petroleiros para o projeto de armas e munições da operação `Brother Sam`. O material bélico ficou armazenado até segunda-feira, 7 de abril, quando os Chefes Conjuntos do Estado-Maior mandaram que o pedido de armamentos aguardando embarque para o Brasil fosse cancelado e que as armas fossem devolvidas para o depósito normal.
Assim, a operação militar preventiva `Brother Sam` teve início e fim, sem que os Estados Unidos se tivessem envolvido fisicamente na derrubada de Goulart" (pg. 115 e 116).


Conclusão

Depois de ler algumas transcrições do livro da historiadora Parker, pode-se concordar com a autora que os EUA não tiveram participação física nos acontecimentos de 1964, embora tivessem dado início a uma operação fantasma, a “Brother Sam”, nunca efetivada, que seria de total apoio aos militares conspiradores, caso o Brasil entrasse em guerra civil. Na verdade – e isto não está escrito no livro da Sra. Parker -, o IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contra-revolução de 31 de março de 1964. O mais que se diz por aí é mitologia propalada pelas esquerdas, especialmente as radicais, de sentimento antiamericano, amarguradas até hoje por não terem transformado o Brasil numa Cuba de dimensões continentais.


Notas:

POL significa petróleo, óleo e lubrificantes. O general Vernon Walters era o Adido de Defesa à Embaixada norte-americana no Brasil, e havia participado com Castelo Branco da campanha na Itália durante a II Guerra Mundial. Lincoln Gordon era o Embaixador americano no Brasil. Thomas Mann era o Secretário-Assistente de Estado para Negócios Interamericanos ("Johnson delegou publicamente a Mann autoridade excepcional sobre a política norte-americana para a América Latina, afirmando que Mann seria seu `único porta-voz` " (pg. 78).

CAMDE - A Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) foi criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’ por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in “Interest, Conflict and Political Change in Brazil”, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no dia 19 de março de 1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31 Mar 1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: “Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”.

As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castelo Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam” (O Estado de S. Paulo, 12/04/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE, foram: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.

IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática: era uma organização anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o IPES.

IPES - Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais: fundado em 1961 no Rio de Janeiro pelo coronel Golbery e um grupo de empresários anticomunistas, dispostos a readequar e a reformular o Estado brasileiro, hoje está extinto. Tinha por objetivo criar barreiras intelectuais contra a propagação das idéias marxistas durante o Governo de João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os Governos Militares pós-1964. O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contra-revolução de 31 de março de 1964, contra Jango, em sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil. O IPES passou a existir oficialmente no dia 29 Nov 1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa, como o Jornal do Brasil, O Globo, O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centos menores. O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES (assim como do IBAD e do CONCLAP) foram lançadas no final do Governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças. O IPES produziu em torno de 8 filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Um escritor de peso do IPES foi José Rubem Fonseca, autor de “Feliz Ano Novo”; segundo Fonseca, o “IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos” (Del Nero, op. cit.). O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em Ago 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do “Complexo IPES/IBAD”: 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos – CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas – IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales – CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social – CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales – CERES; 5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales – IPIES; 6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos – SEI; Fundação Aliança para o Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres. “Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos” (Sebastião Nery, in Os filhos de 64, Jornal Popular, Belém, PA, 6 Out 1995).

Autor: Félix Maier


Fonte: http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_4429/artigo_sobre_operacao-brother-sam--uma-operacao-fantasma

terça-feira, 26 de maio de 2020

Resumo do que penso sobre 1964, por Olavo de Carvalho


domingo, 6 de abril de 2014

1964: ainda uma opinião a respeito - Olavo de Carvalho

Creio que a constatação se impõe, de fato: temos uma versão mistificada de 1964 pelo lado da esquerda, que é absolutamente dominante, e uma versão ingênua, defensiva, do lado dos militares, que não são de direita, não são reacionários, não são sequer liberais: são apenas equivocados quanto aos métodos, assim como foram corretos na montagem de uma máquina de crescimento, mas que depois veio a tropeçar, pois eles também se equivocaram em várias decisões econômicas (para as quais não estavam preparados, e não quiseram ouvir economistas sensatos, como Mário Henrique Simonsen).
Aqui abaixo uma opinião de quem conhece um pouco mais. Como ele, eu fiquei contra o regime militar durante bastante tempo, aliás durante toda a sua existência, mas sempre soube reconhecer as realizações econômicas e tecnológicas.
E também conheço suficientemente bem a esquerda para saber que ela mente sobre o golpe militar de 1964, como mente sobre tudo o que veio depois.
Não estou negando ou desculpando os militares pela repressão, pelas torturas, pelos excessos havidos durante o regime. Mas sei reconhecer que quem começou a "brincadeira" foram as esquerdas, que começaram as ações militares muito tempo antes que o regime militar se convertesse numa ditadura temporária e numa máquina de repressão. Os culpados por essa situação -- e não se desculpa aqui os militares e policiais que cometeram torturas e assassinatos, crimes de Estado -- foram as esquerdas: se elas não tivesse começado (aliás como em 1935), o Estado brasileiro seria apenas autoritário e transitório, não o regime militar de 21 anos.
Paulo Roberto de Almeida

Resumo do que penso sobre 1964

Olavo de Carvalho

Bah! (jornal universitário gaúcho), maio de 2004

Como repercussão da matéria de capa da edição anterior, "40 anos da ditadura", o filósofo, jornalista e escritor Olavo de Carvalho gentilmente escreveu-nos um texto exclusivo com sua opinião sobre esse turbulento período de nossa história.
* * *
Tudo o que tenho lido sobre o movimento de 1964 divide-se nas seguintes categorias: (a) falsificação esquerdista, camuflada ou não sob aparência acadêmica respeitável; (b) apologia tosca e sem critério, geralmente empreendida por militares que estiveram de algum modo ligados ao movimento e que têm dele uma visão idealizada.
Toda essa bibliografia, somada, não tem valor intelectual nenhum. Serve apenas de matéria-prima, muito rudimentar, para um trabalho de compreensão em profundidade que ainda nem começou.
Para esse trabalho, a exigência preliminar, até hoje negligenciada, é distinguir entre o golpe que derrubou João Goulart e o regime que acabou por prevalecer nos vinte anos seguintes.
Contra o primeiro, nada se pode alegar de sério. João Goulart acobertava a intervenção armada de Cuba no Brasil desde 1961, estimulava a divisão nas Forças Armadas para provocar uma guerra civil, desrespeitava cinicamente a Constituição e elevava os gastos públicos até as nuvens, provocando uma inflação que reduzia o povo à miséria, da qual prometia tirá-lo pelo expediente enganoso de dar aumentos salariais que a própria inflação tornava fictícios. A derrubada do presidente foi um ato legítimo, apoiado pelo Congresso e por toda a opinião pública, expressa na maior manifestação de massas de toda a história nacional (sim, a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” foi bem maior do que todas as passeatas subseqüentes contra a ditadura). É só ler os jornais da época – os mesmos que hoje falsificam sua própria história – e você tirará isso a limpo.
O clamor geral pela derrubada do presidente chegou ao auge em dois editoriais do Correio da Manhã que serviram de incitação direta ao golpe. Sob os títulos “Basta!” e “Fora!”, ambos foram escritos por Otto Maria Carpeaux, um escritor notável que depois se tornou o principal crítico do novo regime. Por esse detalhe você percebe o quanto era vasta e disseminada a revolta contra o governo.
O golpe não produziu diretamente o regime militar. Este foi nascendo de uma seqüência de transformações – quase “golpes internos” – cujas conseqüências ninguém poderia prever em março de 1964. Na verdade, não houve um “regime militar”. Houve quatro regimes, muito diferentes entre si: (1) o regime saneador e modernizador de Castelo Branco; (2) o período de confusão e opressão que começa com Costa e Silva, prossegue na Junta Militar e culmina no meio do governo Médici: (3) o período Médici propriamente dito; e (4) a dissolução do regime, com Geisel e Figueiredo.
Quem disser que no primeiro desses períodos houve restrição séria à liberdade estará mentindo. Castelo demoliu o esquema político comunista sem sufocar as liberdades públicas. Muito menos houve, nessa época, qualquer violência física, exceto da parte dos comunistas, que praticaram 82 atentados antes que, no período seguinte, viessem a ditadura em sentido pleno, as repressões sangrentas, o abuso generalizado da autoridade. O governo Médici é marcado pela vitória contra a guerrilha, por uma tentativa fracassada de retorno à democracia e por um sucesso econômico estrondoso (o Brasil era a 46ª. economia do mundo, subiu para o 8º. lugar na era Médici, caindo para o 16º. de Sarney a Lula). Geisel adota uma política econômica socializante da qual pagamos o prejuízo até hoje, tolera a corrupção, inscreve o Brasil no eixo terceiro-mundista anti-americano e ajuda Cuba a invadir Angola, um genocídio que não fez menos de 100 mil vítimas (o maior dos crimes da ditadura e o único autenticamente hediondo -- contra o qual ninguém diz uma palavra, porque foi a favor da esquerda). Figueiredo prossegue na linha de Geisel e nada lhe acrescenta – mas não se pode negar-lhe o mérito de entregar a rapadura quando já não tinha dentes para roê-la.
É uma estupidez acreditar que esses quatro regimes formem unidade entre si, podendo ser julgados em bloco. Na minha opinião pessoal, Castelo foi um homem justo e um grande presidente; Médici foi o melhor administrador que já tivemos, apesar de mau político. Minha opinião sobre Costa, a Junta Militar, Geisel e Figueiredo não pode ser dita em público sem ferir a decência.
Em 1964 eu estava na esquerda. Por vinte anos odiei e combati o regime, mas nunca pensei em negar suas realizações mais óbvias, como hoje se faz sem nenhum respeito pela realidade histórica, nem em ocultar por baixo de suas misérias os crimes incomparavelmente mais graves praticados por comunistas que agora falseiam a memória nacional para posar de anjinhos.

A crise de 31/3/64 foi resolvida em Porto Alegre

sábado, 29 de março de 2014

1964: um outro depoimento sobre como as coisas se passaram, realmente

A crise de 31/3/64 foi resolvida em Porto Alegre
Luiz Ernani Caminha Giorgis (*)
Em 13/03/1964, no Comício da Central do Brasil, Goulart promete “revisar a Constituição”, com claro objetivo esquerdizante. A 19 ocorre em S. Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, contra Jango. A 22 os militares da reserva se manifestam contra as ações ilegais do Executivo. Em 25 ocorre o motim dos marinheiros e fuzileiros navais, apoiando Jango. Punidos, são anistiados pelo governo.
A 30, em reunião no Automóvel Clube, Goulart promete “reformas na lei ou na marra”. Fica claro o objetivo golpista (fechamento do Congresso). No mesmo dia, em Minas Gerais, o governador Magalhães Pinto decide-se pela contrarrevolução, apoiado pelos generais da área, e lança o “Manifesto de Minas”.
A 31, o General Olympio Mourão Filho decide movimentar suas tropas em direção ao Rio a partir de 1230 h. Por ordens de Jango, o General Âncora (I Exército) lança suas forças pela Via Dutra contra as tropas do General Amaury Kruel (II Exército), que já havia conferenciado e rompido com Jango, e optado pela contrarrevolução. À noite, o General Benjamin Galhardo é exonerado do III Exército, substituído pelo janguista Gen Ladário Telles. A 1º de abril, os comandantes do I Exército e do II Exército reúnem-se com o General Médici na AMAN, em Resende, e concordam pela união das tropas. O único apoio que restava a Jango era o do III Exército. Ele foi para Brasília e depois Porto Alegre.
Na capital gaúcha, Ladário havia exigido que a BMRS passasse ao seu comando, recebendo a negativa do governador Meneghetti. À 1 h de 2/4, com Goulart em pleno voo para Porto Alegre, Auro de Moura Andrade declara vago o cargo de Presidente e assume Ranieri Mazzilli. Goulart foi deposto pelo Congresso antes que os militares o fizessem.
Para que o Legislativo usasse um subterfúgio desses era necessário que a situação estivesse muito grave. Não foram as Reformas de Base que derrubaram Jango, e sim a sanha golpista. Chegando às 03:58hs, Jango vai para a residência oficial do Comandante do III Exército, na Av. Cristóvão Colombo, e vai dormir. Às 7 h, reúne-se com Brizola e com os Generais Ladário, Ottomar e Floriano da Silva Machado, Comandante da 3ª Região Militar. Ouve deste que não há condições de contar com a tropa a favor de um governo “desmoralizado” e mais o seguinte: “Presidente, por favor! Isso é uma loucura! Loucura, Ladário! O que vocês estão propondo é uma loucura! Militarmente a situação é muito grave. Faço um apelo a ti, Ladário, não podemos pensar de maneira nenhuma em guerra!”
Possesso, Brizola quase se atraca com Floriano e pede a Jango que o nomeie Ministro da Guerra. Queria incendiar Porto Alegre. Jango conversa a sós com Floriano. Depois desta conversa vai para o aeroporto. Antes, teria repreendido e rompido com Brizola. Este sai enraivecido e é vaiado por populares na rua, tendo investido contra uma pessoa mas contido pela guarda da residência.
Goulart decola para São Borja às 1130 h onde fica até o dia 4, seguindo para o Uruguai. Dias depois é seguido por Brizola, fardado de  brigadiano. Luiz Carlos Prestes já tinha fugido. Estava resolvida a crise e o Brasil ficou livre do trio do mal comuno-socialista.
Deus é grande!
(*) Coronel reformado do Exército

Sonhos e frustrações de um tenente de 64 - Onde foi que erramos?

31 de Março, 2015 - 11:40 ( Brasília )

Pensamento

Sonhos e frustrações de um tenente de 64 - Onde foi que erramos?


Carros M41 posicionados na parte fronteira do então Ministério do Exército, atual sede do Comando Militar do Leste.
Nota DefesaNet

Texto publicado originalmente em 05 Abril 2014.
Republicado agora nos 51 Anos da Revoilução de 1964

O editor



Cel R1 Péricles da Cunha

Uma república dominada por sindicalistas pelegos somente não foi instalada em 1964 por duas razões: falta de um líder carismático  e a pronta reação das Forças Armadas.
Passados 50 anos constatamos que uma república dominada por sindicalistas já foi instalada no país por duas razões: a existência de um líder carismático (único gerado pelo regime militar) e a omissão dos militares. A mesma república sindicalista, porém com uma corrupção muito mais refinada, suportada por uma sólida aliança com o grande capital e garantida por uma base eleitoral mantida pelos cofres públicos.
 
Onde foi que erramos, a ponto de termos transformado em frustrações os sonhos de um jovem tenente que chegava à tropa, juntamente com 356 companheiros, pensando em ajudar a construir um Brasil melhor?
 
Uma visão retrospectiva mostra que a intervenção que os militares fizeram em 64 foi para garantir que os interesses superiores da nação não fossem sobrepostos pelos interesses escusos de governantes que estavam na iminência de assumir graves compromissos à revelia da nação, pretendendo interpretar despoticamente o interesse nacional que, no contexto de uma democracia, deve corresponder essencialmente ao interesse real da população, e não aos interesses de grupos dominantes, que não atenda necessariamente às aspirações e interesses legítimos dos diferentes estratos da sociedade.
 
E o interesse dos grupos governantes apontava para a instalação de uma república sindicalista que, como um câncer, espalharia metástases por todo o Estado e a sociedade, para controlar aquele e subjugar esta. O rumo desta república sindicalista seria dado pela resultante da conjugação de forças que transformariam o Brasil em algo parecido com a república bolivariana em que Chávez transformou a Venezuela.
 
Reconhecemos que o interesse nacional não pode ser definido como construção intelectual de um grupo, mas, também, que na conjuntura que vivíamos nos anos 60, o Brasil era dividido (como ainda é hoje) em uma maioria desorganizada e uma minoria organizada, onde se conjugam grupos de interesse, entre os quais as Forças Armadas, o grupo que, reconhecidamente, não só é o que mais reflete o perfil da nação como o que tem a consciência mais nítida do que corresponde aos interesses permanentes da nação, aqueles que constituem o núcleo irredutível do conceito de interesse nacional: a sobrevivência nacional, a integridade territorial, a independência, a autodeterminação e a segurança nacionais,o bem-estar da população, a defesa da identidade cultural, a preservação dos valores nacionais, etc.
 
Óbvio que erramos, mas onde foi que erramos, a ponto de transformar sonhos em frustrações?
 
Erramos porque não tivemos a coragem de fazer a intervenção que a situação exigia e que a sociedade imaginava que fizéssemos. É nossa a responsabilidade porque a sociedade nos deu a oportunidade de corrigir o rumo e desperdiçamos quem sabe, a melhor oportunidade para que nos transformássemos na grande nação com que sonhávamos.
 
Não vislumbramos a complexidade do problema. Preocupamo-nos somente com o que víamos do iceberg, a Guerra Fria e seus reflexos internos. E não nos preparamos para enfrentar a sua parte submersa, imensamente maior. Não preparamos lideranças à altura dos desafios, gente capaz de praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações. Contemporizamos com uma política cheia de vícios simplesmente para manter uma caricatura de democracia. Deixamos hibernando uma corrupção que agora ameaça a própria existência do Estado com escândalos e roubalheiras por todos os lados.
 
Em vez da necessária cirurgia, uma envergonhada intervenção que se traduziu na entrega da Economia para o liberalismo econômico de economistas liderados por Eugênio Gudin, a Política para os velhos caciques políticos, inclusos os mais retrógrados e corruptos coronéis políticos do Norte e Nordeste, reservando para os militares a tarefa de garantir, através do autoritarismo, que estas áreas operassem sem qualquer contestação e a missão de enfrentar a subversão. Não fomos capazes de visualizar a trajetória da sociedade brasileira para preparar o seu futuro.
 
A criação daquela nação que todos sonhávamos passava obrigatoriamente pela definição de um projeto nacional forjado pela participação organizada de todos os brasileiros, o que somente seria alcançado através de uma profunda reforma estrutural que permitisse, no longo prazo, a criação de um potencial cívico capaz de gerar um projeto de nação forjado por todos os brasileiros, ou seja, a consolidação de um pleno e autossustentado estado democrático.
 
Para que não fossem mais necessárias intervenções como a de 64 era necessário sermos duros para mudar o rumo de variáveis importantes para o desenvolvimento social. Nosso erro foi usar mal a força que nos autorizaram empregar que se resumiu a um autoritarismo político que foi mais usado para manter um arremedo de democracia –que hoje todos chamam de ditadura- e que faltou para as reformas estruturais que estão atrasando o nosso desenvolvimento.
 
Autoritarismo político que serviu para a construção de um bolo que acabou sendo servido somente às elites, mas que não foi usado para ocupar de forma ordenada a Amazônia, para impor o projeto Calha Norte como prioritário para a segurança nacional o que teria edificado a nossa tranquilidade naquela imensa fronteira amazônica e para estabelecer uma política para a população indígena norteada por Rondon e não por antropólogos comandados por interesses estrangeiros. Omissões que provocam sérias ameaças à integridade nacional.
 
Autoritarismo político que não foi usado para criar uma política do cidadão que começasse com um planejamento familiar baseado na paternidade responsável - essencial para a interrupção no curto prazo do processo de geração de miséria- e que continuasse com a criação de um sistema nacional de saúde pública e de educação, para transformar, em uma geração, o brasileiro em um cidadão, capaz de forjar o tão necessário projeto nacional.
 
Autoritarismo político que faltou para enfrentar a oligarquia dominante e dar mais ousadia na implementação do excelente Estatuto da Terra que certamente transformaria o Brasil no celeiro do mundo e teria desarmado essa bomba chamada MST que mais prejuízos e frustrações causou do que encaminhar uma moderna reforma agrária. Faltou ousadia para decretar índices de produção para as terras agricultáveis, sobre os quais seriam cobrados os tributos, o imposto da terra, fixo, de acordo com o potencial estabelecido, o que premiaria os produtivos e inviabilizaria a posse de terras improdutivas. As terras privadas seriam respeitadas sendo, ao longo do tempo e sem conflitos, consolidadas as produtivas e sendo dilapidadas, pelos impostos, as improdutivas. As terras públicas continuariam públicas e arrendadas pelo pagamento do Imposto da Terra. O Estado ficaria com o papel de indutor da produção primária. Teríamos feito uma inédita revolução agrícola com uma revisão fundiária que, sem violência, corrigiria injustiças do passado. Teríamos tirado, daqueles que só visam à agitação social, a sua maior bandeira, Teríamos dado um exemplo para o mundo e nos tornado o celeiro do planeta, mas fomos incapazes de dobrar os latifundiários que dominavam a ARENA dos grotões, de onde vinham os votos para suplantar os que os grandes centros despejavam no MDB. Teríamos reduzido os efeitos do desordenado êxodo rural e a criação de bolsões de miséria nos grandes centros, origem de uma série de problemas dos quais, o maior, foi a sua transformação em cidadelas do tráfico que se transformaram em um pesadelo para a sociedade.
 
Faltaram autoritarismo e grandeza política para quebrar a espinha dorsal da corrupção e criar as bases do verdadeiro federalismo, invertendo o fluxo dos recursos públicos e declarando o município como o único arrecadador de impostos e centro da geração da cidadania e da administração das coisas públicas. O município como único arrecadador de tributos e pagador de um tributo federal e outro estadual, para custear os respectivos orçamentos. Esta inversão feriria de morte a corrupção endêmica que desvia uma parcela razoável dos orçamentos público e criaria as bases para o domínio público da respública, sonho desde os tempos da Ágora de Atenas.
 
Faltaram autoritarismo e grandeza política, também, para facilitar o surgimento de uma geração de líderes, capaz de dirigir essa grande nação. Ao contrário, forjaram um bando de eunucos que navegam pela bússola dos interesses daqueles que os financiam ou que os garantem no poder. Faltam-nos líderes em todas as áreas. Este, um dos maiores erros estratégicos dos militares.
 
Faltou autoritarismo político para fazer uma profunda reforma na máquina estatal, para extirpar dela o vírus da corrupção, para criar um Estado moderno, operado por agentes públicos capacitados e preocupados unicamente com o bem público. Para demonstrar “austeridade democrática”, cortamos na própria carne e deixamos correr solto o resto, permitindo que se criassem e se enraizassem as distorções absurdas em todos os níveis na administração pública que inviabilizam uma reforma séria na máquina estatal. A tal “cota de sacrifício” que nos impusemos, nos condenou a ser os primos pobres da República com a agravante de não podermos reclamar, pois fomos nós mesmos os autores. Em vez de criar, logo no início, uma política única de remuneração para os servidores públicos com um escalonamento vertical único para todos os três poderes, autarquias e estatais, executando as “cirurgias necessárias” nos direitos adquiridos, permitiram que se consolidasse um absurdo desalinhamento que acabou sendo sacramentado com a CF/1988.
Faltou autoritarismo e a visão de estadista para fazer uma revolução na saúde pública e na educação de base, sabidamente áreas básicas para qualquer projeto de nação e cuja implementação exige muita energia e determinação. Perdemos tempo com MOBRAL e batendo boca com estudante universitário enquanto devíamos ter focado nosso esforço para interromper o processo de geração de miséria.
 
Passados cinquenta anos reconhecemos que cicatrizes ficaram, mas também reconhecemos que sem 64 o Brasil seria, hoje, mais do que uma grande Cuba, seria uma União Soviética porque contagiaria toda a América Latina. Basta ver os amores daqueles que foram por nós contidos em 64 e que hoje nos governam.
 
O que aconteceu no regime militar foi uma guerra suja que, se descontextualizada, nada mais é do que uma sucessão de atrocidades, como toda guerra. Omissões -e mesmo fraquezas- dos chefes militares permitiram que aqueles duros tempos fossem reduzidos a um golpe de militares insuflados pelos Estados Unidos para reprimir inocentes patriotas que só queriam implantar no Brasil uma democracia quando a realidade é bem outra, pois tratava-se de gente treinada e suportada pela União Soviética e seus satélites -que cometeram os mesmos ou até mais desatinos que agora acusam os militares- com um objetivo bem claro: transformar o Brasil em uma grande Cuba.
 
Esta a visão retrospectiva de um tenente de 64 que sonhou, se frustrou, mas que nunca perdeu a esperança de ver a nação pacificada para que juntos construamos um Brasil melhor.