MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Froica, uma troica de freis - por Félix Maier

Dom Paulo Evaristo Arns e ex-Frei Leonardo Boff

Dom Paulo, Lula e Frei Betto



Froica, uma troica de freis

Félix Maier

11/09/1996

Dom Arns padece do mesmo mal que sofrem Frei Betto e o ex-frei Leonardo Boff: não aceita obedecer as normas emanadas da Igreja de Roma, porém quer que ela se converta às suas convicções marxistas.

Boff agiu corretamente, já que não possuía humildade franciscana para obedecer a doutrina da Igreja: pendurou o hábito que nunca vestiu e hoje profere palestras recheadas de ecologia e "Teologia da Libertação", uma divagação utópica e pastosa, de paladar tutti-frutti, tão ao gosto da atual esquerda latino-americana.

Frei Betto, por outro lado, não perde a oportunidade para criticar o establishment baseado em Roma e provar seu amor eterno ao tirano barbudo de Cuba. Recentemente, distribuiu à imprensa um "manifesto", de valor inferior a um pedaço de papel higiênico usado, onda dava apoio a Fidel Castro pela derrubada de dois teco-tecos da ONG anticastrista Hermanos al Rescate (uma entidade que resgata balseros que fogem, em troncos de bananeiras, do "paraíso" cubano); assinaram ainda aquele pepeleco Chico Buarque e Fernando Moraes - típicos membros do PCI (Patido Comunista de Ipanema), que louvam Havana e passam suas férias em Paris para torrar a "mais-valia" obtida no "capitalismo selvagem" brasileiro. Hoje, Frei Betto faz alquimia, misturando a dialética marxista com lenga-lengas "holísticas" da Nova Era.

Frei Arns não difere nada de Frei Betto e Frei Leonardo. Suas posições sempre foram em defesa de princípios marxistas, como se fosse possível misturar o materialismo ateu de Marx à doutrina de Cristo. Rancoroso, Frei Arns levará ao túmulo seu ódio contra as Forças Armadas, especialmente o Exército, por não terem permitido que em nosso país fosse instalado regime tirânico como aqueles verificados na União Soviética, Cuba e outros. Insidioso, ajudou a publicar "Brasil: Nunca Mais", uma versão marxista da luta do Estado brasileiro contra a guerrilha comunista dos anos 60 e 70, onde os terroristas assassinos são todos colocados como românticos e sonhadores que tocavam violão e faziam poesia. Porém, no livro não se ouvem as explosões de granadas, os gritos lancinantes de inocentes esfacelados, os roubos a bancos, os "justiçamentos" dos próprios camaradas assassinos. No livro, os protegidos de Frei Arns não são outros senão os atuais assassinos das FARC, os terroristas do Sendero Luminoso, os criminosos do EPR mexicano de hoje - todos de linha marxista. "Brasil: Nunca Mais" mostra apenas uma face glamourizada e falsa. E a outra face da moeda, quando será mostrada ao País?

De público, Frei Arns confirmou que dava guarida aos terroristas que infernizavam a São Paulo de duas décadas atrás. Será que D. Arns se lembrou, alguma vez, de rezar uma missa pelas almas do soldado Mário Kozel Filho e do tenente Alberto Mendes Júnior, mortos covardemente pelos guerrilheiros de Carlos Lamarca? Na impossibilidade de penalizar os defensores da democracia de ontem, a Comissão de Desaparecidos Políticos montou uma farsa, o "Nuremberg tupiniquim", com a finalidade de promover os terroristas Carlos Marighella e Carlos Lamarca, assassinos hediondos, em heróis nacionais, em 11 de setembro de 1996 - Dia Nacional da Vergonha e da Traição.

Assim, não causa espanto o veneno destilado, ainda hoje, por Frei Arns contra as Forças Armadas brasileiras. Como já solicitou a libertação dos terroristas que sequestraram Abílio Diniz, não será surpres se também passar a exigir a libertação do capo do Sendero, Abimael Guzmán, por ser um preso de "ideias", como afirmou a sinistra Anistia Internacional, esquecendo que aquele assassino participou da matança de quase 30 mil peruanos.

Vá em paz para Forquilhinha, Frei Arns. Já não é sem tempo. Com uma troica russa dessas - Frei Arns, Frei Betto e Frei Leonardo -, a Igreja Católica não precisa se preocupar com seus inimigos.


P. S.: 

Em memória de meu tio Arno Preis, 

Arno Preis morreu em 15/02/1972

vítima das malfadadas pregações marxistas que assolaram o mundo todo nos anos 60 e 70, que acabaram por levá-lo à guerrilha de Marighella, onde encontrou sua desgraça. Descanse em paz!

Dom Paulo faleceu em 14 de dezembro de 2016. Descanse em paz, também.

F. Maier


Dom Paulo apoiava o MST


******************************


IL Blog 

Dom Evaristo Arns: o que a VEJA não disse

 

Na Veja desta semana (21/12/2016) a revista dedica algumas páginas à morte do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. A matéria, cujo título é “Adeus ao Gigante”, resume a trajetória deste homem que, apesar de tudo, foi uma figura marcante na história contemporânea do Brasil. A reportagem, assinada por Pedro Dias Leite, tenta ser neutra, mas não parece, e o vocabulário empregado não difere muito da mídia “progressista”. Feita a introdução, vamos ao que de fato interessa.

Dom Evaristo Arns foi um religioso muito próximo de Dom Hélder Câmara, o “arcebispo vermelho”, e do frei Leonardo Boff, católicos da Teologia da Libertação, doutrina que une o cristianismo ao marxismo. Ademais, de acordo com a própria Veja, além de denunciar as torturas e desaparecimentos que realmente ocorriam naquele momento, Dom Evaristo Arns “Apoiou o movimento grevista no ABC (e seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva)”. Com isso, o texto também alude ao fato de que “Se fosse hoje, dom Paulo provavelmente teria no papa Francisco, também ele um franciscano, um aliado”. Afinal de contas, no período de maior atuação de Dom Evaristo, o papa era um polonês que conheceu de perto as mazelas causadas pelo comunismo e pelas ideias chamadas “progressistas”, quer dizer, o papa era João Paulo II.

Mas afinal, o que é que a Veja não disse?

Se a matéria a qual me refiro abordou temas como tortura, censura, violência, repressão, etc., mas sempre com suas críticas – legítimas, vale dizer – voltadas a ditadura militar, deveria também explorar o outro lado da moeda, mas não o fez. O porquê eu não sei…>

A Veja cita um discurso feito pelo cardeal no dia 31 de outubro de 1975 no qual ele diz: “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor. Não matarás. Quem mata entrega a si próprio nas mãos do Senhor da história e não será apenas maldito na memória dos homens, mas também no julgamento de Deus.” Até aí tudo bem, já que este é um discurso que se espera de um cristão, porém, existe uma contradição nisso tudo.

Não haveria problema algum no discurso se o cardeal não tivesse, em 1969, ajudado dominicanos comunistas que entraram para a ALN (Ação Libertadora Nacional), um grupo terrorista chefiado por Carlos Marighella. (Se o leitor acredita que Marighella não foi um terrorista, recomendo o texto que trata sobre o livro Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito pelo líder da ALN). Curioso é que no mesmo ano do discurso, um panfleto escrito por militantes da ALN declarava: “Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução.”  Um pouco disso pode ser encontrado no livro e no filme Batismo de Sangue que, embora tenha sido escrito por alguém não insuspeito como Frei Betto, dá uma dimensão do envolvimento dos religiosos dominicanos na luta armada e em ações extremistas. Se Dom Evaristo foi a favor dos direitos humanos, de uma forma ou de outra também foi a favor do terrorismo.

No discurso citado acima o cardeal defende a vida, relembra o quinto mandamento cristão, entretanto, defendeu guerrilheiros que, em suma, a partir de 1967, iniciaram seus assaltos a bancos, sequestros, entre outras ações criminosas. O próprio autor do Manual do Guerrilheiro Urbano, isto é, Marighella, logo no início de seu texto, aponta que um dos objetivos essenciais do guerrilheiro urbano é “A exterminação física dos chefes e assistentes das forças armadas e da polícia.” Também aponta que “todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais e todos àqueles dedicados à repressão.

E tem mais. Marighella, um comunista obcecado e que aos olhos de muitos apaixonados é visto como alguém que lutava pela democracia, assinala que “matar um espião norte-americano, um agente da ditadura” deve ser uma ação realizada por um atirador “operando absolutamente secreto e a sangue-frio.” Enfim, dentre tantas instruções bizarras, Marighella afirma que “o terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.” Dentre os quatro sequestros de diplomatas realizados no Brasil, a ALN tomou parte na ação de dois. Foram eles: o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick e do alemão Ehrefried Von Holleben.

Nas palavras de Stédile – o comandante do “exército” do PT, ou seja, do MST -, “Arns impulsionou o surgimento dos movimentos populares rurais que surgiram no país nas últimas décadas.” Ele complementa: “A maioria dos movimentos do campo que hoje existem – MST, MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], Movimento dos Pequenos Agricultores, Comissão Pastoral da Terra, Cimi [Conselho Indigenista Missionário] -, nascemos orientados por vossa sabedoria, que pregava: Deus só ajuda quem se organiza.” Sabemos que Stédile não é alguém muito simpático a democracia. E não para por aí, mas creio que por ora seja o suficiente.

Durante um longo tempo Dom Evaristo celebrou missas nos dias de finados e que tinham como homenageados aqueles que foram mortos sob a repressão dos militares. Resta saber se o religioso também rezou missas por aqueles que foram assassinados pelos guerrilheiros comunistas em seus “justiçamentos” – nome dado às execuções – ou pelos que foram afetados por suas explosões.

Mesmo assim não acho ético comemorar a morte de alguém. Não que eu seja defenda o politicamente correto, no entanto, creio que não seja necessário – como fizeram alguns católicos mais conservadores – comemorar a morte do cardeal. Conforme já apontou Rodrigo Constantino em vídeo, embora não devamos “canonizá-lo” pelo seu engajamento político à esquerda, como a grande mídia fez, celebrar sua morte é algo descabido. Quando Fidel Castro faleceu, por exemplo, preferi comemorar a possível libertação futura do povo cubano em vez de focar no cadáver de seu algoz.

E por falar em Fidel Castro, como se não bastasse tudo que citei acima, vale dizer que Dom Evaristo Arns chegou foi um admirador declarado do ditador cubano. Em uma carta enviada pelo cardeal a Fidel Castro e posteriormente publicada no jornal cubano Granma, Dom Evaristo Arns escreveu:

Queridíssimo Fidel,

Paz e bem

Aproveito a viagem de Frei Betto para lhe enviar um abraço e saudar o povo cubano pela ocasião desde 30º aniversário da Revolução. […] A Fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor. […] Infelizmente ainda não se deram as condições favoráveis para que se efetue o nosso encontro. Tenho-o presente diariamente em minhas orações e peço ao pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir os destinos da pátria. […] Receba meu fraternal abraço nos festejos pelo XXX Aniversário da Revolução cubana e os votos de um ano novo promissor para o seu país.

Fraternalmente,
Paulo Evaristo Cardeal Arns.”

Perceba que a carta foi escrita em 1988, isto é, quando Fidel Castro somava trinta anos no poder. Democracia? Em 1988 já era tempo de o cardeal perceber que os comunistas cubanos que mandavam na ilha há três décadas não estavam nem um pouco preocupados com democracia. Aliás, era essa a “democracia” que defendiam os dominicanos guerrilheiros os quais Dom Evaristo Arns defendeu com tanta veemência.

A Veja também poderia ter levado em consideração esse outro lado daquele que chamou de “gigante”, não é mesmo?

Viva la Revolución! Descansa en paz, cardenal!

Thiago Kistenmacher é estudante de História na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Tem interesse por História das Ideias, Filosofia, Literatura e tradição dos livros clássicos.

Fonte: https://www.institutoliberal.org.br/blog/dom-evaristo-arns-o-que-a-veja-nao-disse/


Boff e Betto

Frei Betto faz 70 anos e recebe medalha de Cuba

Dom Paulo e Dilma Rousseff

Boff fala sobre Dom Arns
Vale a pena ler a carta de Arns para Fidel, abaixo:


Queridíssimo Fidel,

Paz e bem

Aproveito a viagem de Frei Betto para lhe enviar um abraço e saudar o povo cubano pela ocasião desde 30º aniversário da Revolução. […] A Fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor. […] Infelizmente ainda não se deram as condições favoráveis para que se efetue o nosso encontro. Tenho-o presente diariamente em minhas orações e peço ao pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir os destinos da pátria. […] Receba meu fraternal abraço nos festejos pelo XXX Aniversário da Revolução cubana e os votos de um ano novo promissor para o seu país.

Fraternalmente,
Paulo Evaristo Cardeal Arns.”


***




PROGRESSIVIST DOCUMENT OF THE WEEK


Card. Arns: The Communist Revolution in Cuba
is a Sign of the Kingdom of God


In the exercise of his functions, Cardinal Evaristo Arns, former Archbishop of São Paulo, Brazil, sent a letter of congratulations to Fidel Castro on the 30th anniversary of the Cuban Revolution.

In November 1988 the letter was delivered to Castro by Friar Betto, one of the Brazilian leaders of Liberation Theology. The official organ of the Cuban Communist Party, Granma, published that letter on January 6, 1989. Some days after, the Brazilian press published it as well.

Given the surprising content of the correspondence, doubts arose whether the letter was authentic. Soon afterwards, however, Friar Leonardo Boff, also present in Havana, confirmed that he had witnessed its delivery to Castro. Boff added that the latter sent a copy of the letter to Cardinal Jaime Ortega of Havana before passing it to the Granma. Cardinal Ortega granted his approval for its publication.

The polemic on the authenticity of the document continued until Cardinal Arns himself publicly confirmed that he had written the letter (second clipping below right). He added that he had sent a copy to the Vatican as well.

At right, the clipping of O Estado de São Paulo (Jan. 19, 1989), where the full text of the letter is reproduced; below right, a news report (Jan. 25, 1989) where the Cardinal confirms he wrote the letter; below left, our translation from the Portuguese of the highlighted parts.


São Paulo, Christmas 1988

My dearest Fidel,
Peace and good will.

I take advantage of Friar Betto's trip to send an embrace to you and salute the Cuban people on the occasion of this 30th anniversary of the Revolution. We all know the heroism and sacrifice of the people of your country in resisting internal aggressions and eradicating misery, illiteracy and chronic social problems. Today Cuba can feel proud to be an example of social justice on our continent, so impoverished by external debt.

In the conquest of the [Cuban] Revolution, the Christian Faith discovers the signs of the kingdom of God that manifests itself in our hearts and in the structures that allow us to make our political conviviality a work of love ...

Unfortunately, favorable conditions still do not exist for a meeting to take place between us ... I have you present daily in my prayers, and I ask the Father to grant you the grace always to steer the destinies of your country.

Receive my fraternal embrace at the festivities for the 30th anniversary of the Cuban Revolution ...

Fraternally,

Cardinal Paulo Evaristo Arns


(Top, O Estado de São Paulo, January 19, 1989 - Bottom, O Estado de São Paulo, January 25, 1989)

Fonte: 
https://www.traditioninaction.org/ProgressivistDoc/A_119_Arns-Fidel.html

***


Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Cuba: afinal posso falar

 

"Catolicismo", nº 463, julho de 1989 - Matéria também distribuída pelo Serviço de Imprensa da TFP com data de 20-6-1989


Causou geral desconcerto em nosso País a carta que S.E. o Cardeal Arns, Arcebispo de São Paulo, enviou ao "comandante" Fidel Castro por ocasião do trigésimo aniversário da vitória da revolução comunista em Cuba.

Com efeito, não se compreende como a implantação de um regime político e sócio-econômico escancaradamente comunista, que se mantém até hoje sem nenhuma das astutas maquilagens gorbachevianas, e que, portanto, está em contradição frontal com a tradicional doutrina católica, possa ser saudada pelo príncipe da Igreja com as felicitações e os elogios de que é pródiga a missiva do Purpurado ao "comandante".

E igualmente incompreensível é que S.E. haja apresentado a realidade dos fatos em Cuba com cores tão dissonantes do que a opinião mundial tem por verídicas no tocante a pontos essenciais como a liberdade religiosa, a miséria popular e o caráter policialesco da já vetusta ditadura cubana.

Entretanto, enquanto se erguia um concerto de protestos contra a referida carta, preferi calar-me. Pois a voz dos fatos é, em matérias como esta, de importância evidente. E esta voz, só a pessoas que visitaram de modo imparcial a Ilha-presídio, ou que tenham acesso próximo, vivo e contínuo com o que lá se passa, cabia levantá-la pelas tubas da grande publicidade.

Ora, com desconcerto ainda maior para mim, até aqui não me haviam chegado os ecos dessas vozes. E sobre elas se mantinham mudas - tanto quanto eu saiba - as agências noticiosas internacionais.

Essa omissão dos maiores interessados na matéria, isto é, os próprios cubanos, me reduziu ao silêncio. Pois o que fazer em benefício de irmãos na fé que não se defendem a si próprios? Também em relação a eles eu me reportava em espírito à frase de Santo Agostinho que, relativamente aos brasileiros indolentes, mencionei em recente artigo: "Qui creavit te sine te, non salvabit te sine te", ou seja, Deus que te criou sem teu concurso, não te salvará sem teu concurso ("Aviso aos indolentes", "Folha de S. Paulo", 8-5-89).

Mas, enfim, cessou meu doloroso desconcerto. Com efeito, recebi do sempre bem informado e dinâmico TFP Washington Bureau, dirigido pelo meu querido Amigo Mário Navarro da Costa, autorizados e abundantes pronunciamentos de origem cubana, próprios a esclarecer o público brasileiro acerca da triste realidade existente na Ilha abençoada que teve no século XIX por Pastor máximo o grande Santo Antônio Maria Claret, e cuja formosura risonha nosso século celebrou durante décadas designando-a com a alcunha de "Pérola das Antilhas".

Miami, a metrópole da península da Flórida, fica situada à distancia de 125 km de Cuba, e é assim o ponto do território norte-americano mais próximo dessa ilha.

Por isso mesmo, tornou-se ela o ponto de atração de todos os infelizes cubanos que conseguiram escapar à vigilância castrista. E têm eles sido tão numerosos que, com o tempo, transformaram Miami em uma cidade bilíngüe, onde se fala igualmente o espanhol e o inglês, e na qual bilíngües são até os letreiros dos ônibus. Como bilíngües são os meios de comunicação social, pois utilizam uns o idioma inglês e outros o espanhol. Entre esses últimos ressalta, por sua importância jornalística, o "Diario las Américas". Pois foi nas páginas desse cotidiano, em 11 de maio p.p., que deparamos com um documento de alta importância.

Trata-se de uma carta aberta dirigida ao Sr. Cardeal Arns por três Bispos cubanos residentes no exílio, e como tais capacitados para falar com uma liberdade de que os Bispos autenticamente católicos, residentes em países comunistas, não gozam.

Nessa carta, desenvolvem eles de modo respeitoso, mas também evangelicamente franco, toda uma argumentação própria a esclarecer o público sobre quanto dista da realidade dos fatos a descrição que o Purpurado brasileiro faz da liberdade religiosa e civil, bem como da situação econômica em que se acha o povo da Ilha.

Trata-se de um documento que nenhum brasileiro pode ignorar.

Por falta de espaço, deixo de publicar outro documento altamente elucidativo distribuído em folha avulsa à população de Miami. E ele assinado por mais de cem notabilidades cubanas no exílio, e contém uma comedida mas franca manifestação de desacordo em relação à carta enviada pelo Sr. Cardeal Arns ao "comandante".

É este o texto da carta aberta dos três Bispos cubanos (a divisão em subtítulos, bem como os grifos, são de minha responsabilidade):

1 - Por que esta carta pública. - "Dirigimo-nos de público a V.E. por duas razões principais: primeiro porque o motivo que nos leva a escrever esta carta é de ordem pública, tendo sido veiculado na imprensa nacional e internacional; e segundo porque, tendo escrito a V.E. primeiramente em forma privada, não recebemos resposta, depois de haver esperado um prazo de tempo razoável. Nossas anteriores cartas a V.E. foram datadas de 16 de janeiro (Mons. Boza Masvidal) e 23 de fevereiro (Mons. Román e Mons. San Pedro) do corrente ano.

2 - O "Sr. Castro, ditador vitalício de Cuba" por trinta anos. - "O objetivo da presente é sua mensagem de Natal ao Sr. Castro, ditador vitalício de Cuba, por ocasião do trigésimo aniversário de sua tomada do poder. Não vamos repetir o que dissemos em nossa correspondência privada, embora nos permitamos fazer um resumo dos principais pontos que abordamos na mesma.

3 - Êxitos "muito relativos" e "por demais onerosos". - "Dizíamos a V.E. que seria muito longo expor toda a situação do país no que se refere à discriminação, falta de liberdade religiosa etc., e mostrávamos o caráter discutível das conquistas e dos êxitos, porque se fazem, de um lado, com um custo ético e espiritual muito elevado, e, de outro lado, porque são muito relativos (carta de Mons. Boza Masvidal).

4 - Ditadura militar cruel, repressiva e policialesca. - "Também recordamos a V.E. que Cuba sofre, há 30 anos, sob uma cruel e repressiva ditadura militar, num estado policialesco que viola ou suprime continua e institucionalmente os direitos fundamentais da pessoa humana. E entre outras provas desta situação mencionamos as aventuras militares do castrismo que custaram milhões de dólares ao povo cubano e milhares de vítimas a sua juventude (carta de Mons. Román e Mons. San Pedro).

5 - Contestada a assertiva do Cardeal Arns sobre a dívida externa cubana. - "Seria muito longo comentar ponto por ponto todas as assertivas de V.E. na mencionada mensagem, mas consideramos necessário apontar algumas das mais impressionantes. Afirma V.E que "hoje em dia Cuba pode sentir-se orgulhosa de ser, em nosso continente tão empobrecido pela dívida externa, um exemplo de justiça social". Não queremos atribuir a V.E. o que não disse, mas lendo-se esta frase poder-se-ia pensar que Cuba não está, como o restante do continente, empobrecida pela dívida externa. Estamos certos de que V.E. sabe que Cuba tem uma enorme dívida externa não só com os países ocidentais, como também com os países comunistas: segundo os últimos dados disponíveis, esta dívida ascende aproximadamente à cifra de 5,5 bilhões de dólares.

6 - Mordomias opulentas para pequeno grupo de privilegiados - o povo na miséria. - "Quanto à justiça social, da qual V.E. afirma ser Cuba um exemplo em nosso continente, desejamos lembrar que enquanto um número bastante reduzido de altas autoridades do governo desfrutam de todas as comodidades da vida, o povo se vê reduzido ao nível de sobrevivência. Eminência, alguns de nós estivemos, em passado recente, em Cuba, não para discutir como cozinhar camarões e lagostas com o comandante, (ver "Fidel e a Religião. Conversas com frei Betto" pp. 28-29, 33-34), mas para conviver com nosso povo e compartilhar sua angústia e sua dor.

7 - População reduzida à sujeição total equivalente à minoridade. - "Estamos certos de que V.E. não deseja para seu querido Brasil uma situação na qual um número reduzidíssimo retenha irreversivelmente todo o poder político e econômico, dele abusando para seu próprio proveito e para perpetuar-se no poder, enquanto a população em geral é mantida numa situação de sujeição total, equivalente à minoridade. Pergunte, por favor, Sr. Cardeal, a seus amigos que visitam Cuba e freqüentam as personalidades da ditadura, se viram alguma vez qualquer um deles esperando pacientemente com um cartão de racionamento na mão para poder comprar meio quilo de carne a cada nove dias ou duas camisas por ano, como o restante da população.

8 - Uma lição de Paulo VI. - "Diz em seguida V.E. que a fé cristã descobre nas conquistas da revolução os sinais do reino de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor". Não sabemos por que, ao ler estas frases, nos vêm à mente aquelas outras de Paulo VI nas quais afirma que "a Igreja... rejeita a substituição do anúncio do reino pela proclamação das libertações humanas, e proclama também que sua contribuição para a libertação não seria completa se descuidasse de anunciar a salvação em Jesus Cristo. (Ela)... não identifica nunca a libertação humana com a salvação em Jesus Cristo, porque sabe... que não é suficiente instaurar a libertação, criar o bem-estar e o desenvolvimento para que chegue o reino de Deus" (Evangelii Nuntiandi, nºs 34 e 35).

9 - "Obra de amor" cristão, da qual um milhão de cubanos fugiu espavorida. - "De outro lado, afirmar que as estruturas vigentes em Cuba permitem fazer da convivência política uma obra de amor, é desconhecer totalmente a realidade cubana. Se fosse como diz V.E., por que se deve considerar delituoso tentar escapar dessa convivência política, que se qualifica aqui como "obra de amor"? Por que um país como Cuba, que quase não tinha emigrantes, viu nos últimos 30 anos da ditadura castrista, um milhão de cidadãos abandonarem o país? Por que, no breve espaço de cinco meses, em 1980, 125 mil pessoas se lançaram às costas da Flórida, num êxodo incontrolável? Que deveríamos pensar, Sr. Cardeal, se, em cinco meses, 1 milhão e 100 mil brasileiros procurassem refúgio no Chile?

10 - Rejeitadas pelo Sr. Cardeal Arns informações oferecidas pelos três Srs. Bispos cubanos. - "Cremos, Sr. Cardeal, que V.E. é vítima de sua bondade e bom coração. V.E. não conhece Cuba senão através do testemunho de outras pessoas de sua confiança. Não nos cabe exprimir aqui uma opinião sobre a intenção dessas pessoas ou o conhecimento que elas possam ter da estranheza em face do silêncio de V.E. ante nosso oferecimento fraternal, como irmãos no Episcopado, de pôr à sua disposição outros aspectos da situação em Cuba, que pelo visto V.E. ignora.

11 - A falta de liberdade religiosa "diminui em números absolutos" as vocações sacerdotais e religiosas, e a "assistência à Missa dominical". - "Um desses aspectos que poderia preocupar a V.E. é a falta de liberdade religiosa em Cuba, a qual afeta especialmente os católicos. Esta falta de liberdade, cujos detalhes poderíamos oferecer a V.E. quando o desejasse, se reflete tragicamente nas estatísticas religiosas: Cuba é o único país entre seus irmãos do Caribe, e provavelmente da América Latina em geral, que nos últimos 30 anos viu diminuir em números absolutos a quantidade de católicos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, bem como a assistência à Missa dominical.

12 - Uma informação que não corresponde aos fatos. - "A recente polêmica suscitada por sua carta natalina é uma prova evidente do que estamos dizendo. V.E. pôde responder e fazer todas as declarações públicas que acreditou oportuno fazer, tanto em sua pátria como no Exterior. Que saibamos, os Bispos de Cuba, por seu lado, mantiveram seu costumeiro silêncio. A imprensa atribuiu a V.E. a afirmação de que a mensagem, que pretendia ser confidencial e privada, se tornou pública somente depois que o Sr. Arcebispo de Havana deu seu assentimento. Consta-nos o testemunho de pessoas inteiramente fidedignas de que essa afirmação não corresponde aos fatos. Eminência, não duvidamos de sua veracidade, mas pensamos que uma vez mais V.E. foi vítima de sua confiança e credulidade, confiando em terceiros.

13 - Tomando por base a exortação apostólica "Evangelii Nuntiandi". - "A propósito desta liberdade religiosa nos atrevemos mais uma vez a citar a exortação apostólica Evangelii Nuntiandi: 'Desta justa libertação, vinculada à evangelização, que tenta implantar estruturas que salvaguardem a liberdade humana, não se pode separar a necessidade de garantir todos os direitos fundamentais do homem, entre os quais a liberdade religiosa ocupa um posto de primeira importância' (Evangelii Nuntiandi, nº 39).

14 - Deus afaste do Brasil a trágica experiência cubana. - "Queremos concluir reiterando a V.E. o desejo que exprimimos em nossa correspondência privada: 'Deus queira que seu país nunca tenha que passar pela trágica experiência pela qual nós estamos atravessando'.

"Senhor Cardeal, Paz e Bem. - Mons. Eduardo Boza Masvidal, Bispo em Los Teques; Mons. Agustin Román, Bispo Auxiliar de Miami; Mons. Enrique San Pedro SI, Bispo Auxiliar de Galveston-Houston".

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/MAN%20-%201989-06-20_Cuba-Afinalpossofalar.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário