MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Pé na Cova planeja uma boa morte - Por Félix Maier

 

Pé na Cova planeja uma boa morte

Félix Maier

Pé na Cova acordou mais cedo do que de costume naquela terça-feira. O relógio marcava 5h27, e o galo do vizinho, um animal de vocação suicida, ainda nem tinha se animado a cantar. Sentou-se na beira da cama, estalando os joelhos como quem abre uma gaveta velha, e suspirou com aquele ar de quem está revendo o filme da própria vida — mas um filme de baixo orçamento, com som ruim e sem final feliz.

— Tá chegando a hora, Pé na Cova… — murmurou para si mesmo, enquanto calçava as pantufas. — E olha que nem vai ter reprise.

A morte, em si, não o incomodava. Tinha feito as pazes com a ideia fazia tempo. A questão era outra: e se, no dia do velório, ninguém aparecesse? Nem pra garantir uma foto decente pro Facebook do cemitério?

Esse pensamento o vinha atormentando havia semanas, desde o enterro do amigo Aparício — um sujeito alegre, língua solta, que falava palavrão como quem recita poesia. Aparício fora um daqueles que acreditava firmemente que "quem morre descansa", mas ninguém o avisou que o descanso incluía velório sem plateia.

Naquela tarde fatídica, Pé na Cova chegou à capela mortuária e contou, com a precisão de um auditor da Receita Federal: dez pessoas. Dez! Incluindo o coveiro e o motorista do carro funerário, que estavam ali por força do ofício.

Nenhuma coroa de flores enfeitava o ambiente. A parede ao lado do caixão estava nua, deprimente, como um salão de festa abandonado depois do baile. Pé na Cova, num impulso piedoso e um tanto culpado, saiu correndo até a floricultura da esquina e comprou, do próprio bolso, uma coroa com fita dourada. Pediu que escrevessem: “Do amigo que ainda respira — com respeito e um pouco de ciúme.”

O florista olhou torto, mas escreveu.

Desde então, Pé na Cova vinha matutando. E se com ele acontecesse o mesmo? Morreu, e pronto: meia dúzia de curiosos, dois parentes distraídos, e talvez um cachorro vagando pela capela.

— Ninguém quer morrer anônimo — disse a si mesmo, enquanto preparava o café. — Nem defunto gosta de solidão.

O espelho da cozinha o encarava com franqueza cruel. Rugas novas, olheiras antigas. Olhos de quem já começou o estágio probatório para o além. Ele se olhou e retrucou:

— Pois é, Pé, tua ficha tá quase sendo chamada. E o que é que tu vai deixar pro mundo, hein? Uns boletos, uma coleção de rótulos de cerveja e uma senha de Wi-Fi?

Ele riu, um riso seco, meio soluçado.

Pegou o jornal e foi direto à página dos obituários. Era o seu ritual matinal. Gostava de ver quem “partiu para a glória”, talvez para medir o próprio atraso. Naquele dia, uma nota lhe chamou atenção: “Falecimento de Osmar C. da Luz, 68 anos. Deixou mulher, três filhos, seis netos e 78 seguidores no Twitter.”

Pé na Cova ficou boquiaberto.

— Setenta e oito seguidores? Só isso? Coitado. Morreu cancelado, o homem.

Achou triste morrer com menos de cem seguidores. A morte moderna, pensou ele, não é mais uma questão de alma, e sim de engajamento. Já imaginava o padre dizendo na missa de corpo presente: “Aqui jaz um influencer de pouca importância.”

Esse pensamento o acompanhou o dia inteiro. Decidiu, então, que precisava fazer algo. Talvez criar um perfil novo, postar frases motivacionais do tipo ‘A vida é curta, mas o velório pode ser longo’, só para garantir uns seguidores póstumos.

Mais tarde, sentado na varanda, começou a conversar de novo com seu interlocutor preferido — ele mesmo.

— Pé, meu velho, tu tem medo da morte?

— Medo, não. Só não gosto da ideia de morrer impopular.

— Mas o que é que importa, se tu nem vai estar lá pra ver?

— Importa, sim! Vai que o além tem internet e eu fico vendo tudo pelo Wi-Fi celestial? Imagina: dez pessoas bocejando e uma coroca desafinada cantando “Segura na mão de Deus”.

Olhou para o quintal. O ipê florido parecia zombar dele com suas pétalas amarelas, como confete de enterro festivo.

— Quer saber? — resmungou. — Acho que vou planejar meu próprio velório.

E assim começou o projeto “Operação Despedida Digna”. Comprou um caderno novo e escreveu na capa: “Roteiro do Meu Velório — Versão Final (ou quase)”.

Na primeira página, listou os convidados ideais — mesmo sabendo que alguns já tinham ido antes dele. Depois, anotou detalhes logísticos:

  1. Local: Capela 3 do Campo da Saudade (tem ar-condicionado e bom estacionamento).
  2. Flores: Mínimo de quatro coroas — nada de crisântemos baratos.
  3. Música: Preferência por boleros. Nada de “Vencendo vem Jesus”, da Harpa Cristã — é brega demais.
  4. Discurso: Apenas um amigo autorizado a falar — e, de preferência, que chore com moderação.
  5. Café: Forte, sem açúcar, e acompanhado de cuca com farofa em cima.

No rodapé, acrescentou: “Obs.: Proibido celular com flash. O defunto agradece.”

Enquanto escrevia, sentia um certo orgulho. Afinal, planejar o próprio velório é o auge da autonomia. Quem disse que a morte não pode ser personalizada?

Foi então que lhe ocorreu o detalhe derradeiro: a sepultura. Afinal, de nada adiantaria uma despedida organizada se o pós-evento ficasse pendente. No dia seguinte, marchou até o cemitério municipal e procurou o administrador, um homem de terno puído e voz fúnebre. Pediu uma sepultura simples, mas definitiva — nada de jazigos coletivos ou promoções “leve dois, pague um”. Escolheu um lote ensolarado, com vista para o portão (sempre gostou de observar o movimento).

Mandou gravar a lápide com seu nome, a data de nascimento e, por óbvio, deixou a data final em branco, com um discreto espaço entre os traços.

— É só preencher depois — explicou ao funcionário. — Evita trabalho pro pessoal.

O homem concordou, com a solenidade de quem assina um testamento.

Na semana seguinte, Pé na Cova foi conferir a obra pronta. Achou o granito bonito, bem polido, digno de um homem que sempre pagou suas contas. Passou a mão sobre o espaço vazio e comentou consigo mesmo:

— Agora só falta o detalhe mais caro: o corpo.

Sorriu satisfeito. Afinal, ninguém iria gastar um tostão com ele. Era viúvo há vinte anos, os filhos moravam longe e os sobrinhos só apareciam quando o décimo terceiro caía. Fez as contas e concluiu que, no fundo, morrer sairia mais barato do que continuar vivendo.

À noite, sonhou com Aparício. O amigo aparecia radiante, de terno branco e sorriso debochado. Disse-lhe:

— Tu te preocupa demais, Pé. Aqui em cima ninguém liga pra número de seguidor. O que vale é quem te trouxe café quando tu tava vivo.

Pé na Cova acordou suando. Sentiu um misto de alívio e irritação.

— Fala isso porque teu velório foi vazio, Aparício. Fácil filosofar depois que já tá no além.

No dia seguinte, levantou decidido. Resolveu visitar a floricultura onde havia comprado a coroa do amigo. Pediu ao rapaz do balcão uma coroa nova.

— Pra quem é? — perguntou o vendedor.

— Pra mim mesmo. Quero deixar paga. Assim evito constrangimentos.

O rapaz arregalou os olhos.

— O senhor tá doente?

— Só de realismo, meu filho.

Saiu da loja satisfeito, levando o recibo dobrado no bolso. Pensou em emoldurá-lo. Era como garantir um ingresso de primeira fila para o próprio espetáculo.

Nos dias seguintes, Pé na Cova passou a caminhar pelo cemitério depois do almoço. Dizia ser “para ir se acostumando com a vizinhança”.

Cumprimentava os mortos como velhos conhecidos:

— E aí, Seu Anacleto, o senhor ainda com a mesma cara de tédio?

Os visitantes o olhavam de soslaio, sem saber se deviam rir ou chamar o padre.

Uma tarde, sentado num banco de pedra, Pé na Cova concluiu:

— A morte, no fundo, é uma questão de relações públicas. Se a gente não se promove em vida, o pós-venda fica fraco.

E riu. Riu alto, tanto que um gato preto fugiu assustado.

Naquele riso havia resignação e certo orgulho. Sabia que estava indo, mas iria organizado. Quem sabe até transmitiriam o velório ao vivo? #DespedidaDoPé poderia ser trend topic por algumas horas.

Voltou para casa mais leve, fez café, ligou o rádio e deixou o noticiário correr. Ao ouvir o locutor anunciar a previsão do tempo — “chuvas isoladas à tarde” — murmurou:

— Bom, pelo menos não vai empoeirar minha sepultura.

Deitou-se para o que poderia ser o último cochilo, sorrindo. Mas a mente já passeava pela capela: roteiro do velório pronto, coroa comprada, sepultura marcada, vinte carpideiras com véus ensaiando cada lágrima, pagas com café e cuca, e o padre abençoando com solenidade. Até os mosquitos iriam compor o cenário.

Antes de adormecer, Pé na Cova sorriu divinamente, imaginando como seria gratificante ver a capela cheia no dia do próprio velório — e, com certeza, saborear cada lágrima, cada olhar curioso e cada copo de cachaça que pagassem para assistir. E, melhor de tudo, um death influencer já pago para garantir um luto premium e uma morte monetizada.

Nada mau, pensou. Nada mau mesmo. Morrer sem público jamais seria opção — seria como contar uma última piada e não ouvir nem um risinho.

Durante a madrugada, Pé na Cova acordou sobressaltado. Havia se esquecido de comprar o caixão. No dia seguinte, escolheu um modelo de luxo, muito lustroso e florido, com detalhes de metal, levou para casa e passou a dormir dentro.

Era para ir se acostumando… e, de quebra, garantir que, quando chegasse a hora, a plateia tivesse algo digno para aplaudir.


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O Sistema Toga Petralha - Por Félix Maier

 

Lula se reúne em jantar com ministros do STF, incluindo ...

O Sistema Toga Petralha

Félix Maier

Coitado, não, feliz Tio Pedro! por não ter vivido o bastante para ser testemunha de um golpe vergonhoso do Supremo Togastão Festivo (STF), aplicado no Paraíso do Vira Bosta. Um STF feito de festas, lagostas, vinhos e orçamento bilionário.

Pinar del Río, em Cuba, havia virado a Disneylândia dos charutos, vendendo Cohiba Esplêndido por 70 dólares a unidade, que o Imperador Dom Barba I, conhecido como Ogro de Nove Dedos, fuma como quem saboreia 18 cm de vitória revolucionária. O STF, aparelhado pelo Ogro com juízes esquerdistas (alguns haviam trabalhado como causídicos para ele e o PT), havia se transformado num Togastão (ou, como dizem alguns escribas, no Sistema Toga Petralha), à frente de um novo país, o Brasilistão, país que não pretende ser uno na multiplicidade cultural de seu povo, mas enjaulado em distintos bantustões, como ocorria no Apartheid de triste memória, na África do Sul.

Um criminoso havia sido condenado por unanimidade em três instâncias, por 9 votos a 0, e depois descondenado em 15 de abril de 2021 por togados petistas indicados ao Togastão por... ele mesmo, o Ogro, para voltar à Presidência do Brasilistão pela terceira vez. Com grande chance de voltar à cena do crime pela quarta vez, em 2026, com a força bruta do Togastão que ninguém ousa contestar.

Se tivesse sobrevivido, por certo Tio Pedro teria dito em 2022:

— Pobre do País que tem que escolher entre o Cavalão e o Ladrão!

        Se vivo fosse, Tio Pedro estaria mancando por ter levado alguns coices reais ou virtuais do Presidente Cavalão — que levou uma facada na barriga durante a campanha presidencial, em 2018, e foi perseguido trinta horas por dia durante seu mandato. Que coices o Cavalão deu? Primeiro, foi sua ignorância frente à pandemia da Covid-19, se portando como um palerma, tripudiando sobre vacinas que transformariam pessoas em jacarés. Ridículo foi também o Cavalão criticar as urnas eletrônicas, que o elegeram para deputado federal por sete vezes e até Presidente da República. Por fim, houve ainda uma folclórica minuta do golpe, existente em pastas de ministros, aspones, grupos de WhatsApp, pendrives, e-mails, agendas e nuvem do Google, além de uma reunião secreta sobre o assunto, que foi filmada e vazada — uma comédia pastelão à moda antiga, sem ensaio nem roteiro, mas com muitas bravatas. E que condenou o Cavalão e sua entourage estrelada à cadeia, por um golpe de Estado que nunca ocorreu — para gáudio de seus inimigos políticos.  

        Se o Cavalão tivesse que ser condenado, deveria ser pelo crime de prevaricação, por não ter tomado providências após o funesto golpe do Togastão, em 15 de abril de 2021, para garantia da lei e da ordem — crime de prevaricação também cometido pelo Presidente do Senado.

Por tudo isso, é certo que Tio Pedro teria ficado muito triste com o Cavalão, poderia até ter votado em branco, mas jamais votaria no Ladrão. Se vivo, com certeza teria também perguntado:

— Será que esses idiotas registraram a minuta do golpe em cartório?

No Brasilistão, o Togastão ostenta com orgulho seu mais refinado invento institucional: o Poder Moderador de Toga. Criado não por assembleia constituinte, nem pelo Congresso Nacional, mas por inspiração dos próprios togados, ele se reserva o direito de interpretar, reinterpretar e, quando necessário, reinventar as leis e a Constituição Federal. Seu lema, bordado em ouro nas cortinas do plenário, é simples e reconfortante: Nós decidimos, vocês acatam. Entre canetadas providenciais e interpretações criativas de uma Constituição cada vez mais elástica, esse poder garante que nenhuma decisão do povo, do parlamento ou do executivo permaneça de pé se não passar pelo crivo sagrado da Suprema Caneta. Afinal, no Brasilistão, a democracia é plena, reconhecida por Cuba, Venezuela, Irã e até a ONU — desde que tudo seja aprovado pelo Togastão.

Muita coisa ainda acaba em samba, funk e pizza no Brasilistão, especialmente nos palácios atapetados de Brasília. Porém, nestes tempos de governança fascista-populista que aparelhou a Suprema Corte, os memes — por enquanto! — são tudo o que restam a um povo perseguido, censurado, bloqueado e desmonetizado nas redes sociais, com contas bancárias bloqueadas, exilado ou até preso — além de aplicação de multas milionárias para deixar os condenados e suas famílias na miséria. O que a dupla Jango-Brizola não conseguiu, o Ogro provou como é fácil subjugar um povo inteiro.

Na atualidade, não importa quem seja eleito Presidente do Brasil, de direita ou de esquerda, porque quem de fato governa é o Sistema Toga Petralha. O deboche do Togastão é tão escancarado e cruel que aplicou multa de R$ 22,9 milhões ao Partido Liberal (PL), por litigância de má fé. O PL, por pura coincidência, é o Partido de Jair Messias Bolsonaro e tem o número... 22. E o Ogro ficou muito feliz ao indicar o comunista Flávio Dino para o Togastão, justo no dia 27 de novembro de 2023, data que lembra a malfadada Intentona Comunista de 1935.

Assim, para o atual sistema fascista matar política, social e financeiramente um adversário no Brasilistão de hoje, não é preciso paredón, como foi em Cuba, nem envenenamento, como ocorre na Rússia de Vladimir Putin, ou matar sob tortura, como ocorre na Venezuela de Nicolás Maduro, mas apenas tirar do páreo o inimigo do povo via Tribunal Eleitoral ou Corte Suprema. Em vez de se ater aos autos, só aos autos, os vaidosos togados são mariposas sempre em busca de holofotes. Com as Forças Armadas domesticadas pelo Sistema Toga Petralha, onde o Togastão põe um olho, tem um culpado para ser massacrado. Uma variante das máximas de Lênin e de Beria, já visto neste livro.

Nesse sentido, o Presidente Jair Messias Bolsonaro, condenado a mais de 27 anos de prisão, foi morto e enterrado no dia 11 de setembro de 2025, pois ninguém mais verá sua imagem ou suas falas na mídia, nem seus posts nas redes sociais. Sem direito a auxílio-reclusão, como ocorre a bandidos de estimação deste atual sistema fascistoide em expansão.

Tarcísio Gomes de Freitas, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior, Romeu Zema, Jorginho Mello, Cláudio Castro, Ricardo Nunes, Michelle Bolsonaro, os irmãos Bolsonaro (Flávio, Eduardo, Carlos e Renan), Luciano Hang, Sóstenes Cavalcante, Sérgio Moro, Magno Malta, Damares Alves, Rogério Marinho, Gustavo Gayer, Delegado Zucco, Ricardo Salles, Bia Kicis, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Marcos Pollon, Carlos Jordy, Zé Trovão, Capitão Derrite, Kim Kataguiri, Marcel Van Hattem, Caroline de Toni, Nikolas Ferreira, Tomé Abduch, Marco Feliciano, Lucas Pavanato, Zoe Martinez, Adrilles Reis Jorge, Kim Paim, Janaína Paschoal, Modesto Carvalhosa, Demóstenes Torres, Marco Angeli, Ives Gandra Martins, Karina Kufa, André Marsiglia, Leandro Ruschel, Fernão Lara Mesquita, Luciano Pires, Allan dos Santos, Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Paulo Figueiredo Filho, Sara Winter, Jorge Moreira, Lobão, Digão, Oswaldo Eustáquio Filho, Antônia Fontenelle, Bruno Musa, Alexandre Garcia, Mário Sabino, Paulo Polzonoff, Luís Ernesto Lacombe, Martim Vasques da Cunha, Francisco Razzo, Danilo Gentili, Diogo Mainardi, Caio Copolla, Luiz Felipe d’Ávila, Felipe Moura Brasil, Marcelo Madureira, Jorge Serrão, Tiago Pavinatto, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Paula Schmitt, Jeffrey Chiquini, Cristina Graeml, Alan Ghani, Emílio Surita, Rogério Morgado, Daniel Zukerman, Bruna Torlay, Roberto Motta, Padre Paulo Ricardo, Padre Gílson, Bernardo Kuster, Gusttavo Lima, Eduardo Costa, Sérgio Reis, Amado Batista, Zezé di Camargo, Fernando & Sorocaba, Edson (da dupla Edson & Hudson), Leonardo, Chitãozinho (da dupla Chitãozinho & Xororó), Rick (da dupla Rick & Renner), Bruno (da dupla Bruno & Marrone), Zé Neto (da dupla Zé Neto & Cristiano), Nivaldo Cordeiro, Percival Puggina, Políbio Braga, Leandro Narloch, Luiz Felipe Pondé, Flávio Morgenstern, Bruno Garschagen, Joaquim Teixeira, Pastor Silas Malafaia e quem mais se apresentar como conservador que se cuidem...

Que se cuidem também Revista Oeste, Revista Crusoé, Brasil Paralelo, Jornal da Cidade Online, O Antagonista, Canal Hipócritas (o Porta dos Fundos conservador), Gazeta do Povo, Jovem Pan News. Terça Livre, de Allan dos Santos, e Alerta Total, de Jorge Serrão, estão fora do ar, censurados pura e simplesmente. O jornalista José Roberto Guzzo, o JR Guzzo, crítico mordaz do Togastão festivo, não precisa mais temer represálias: faleceu no dia 2 de agosto de 2025.

Com as instituições federais totalmente aparelhadas pelo PT durante os últimos vinte anos, incluindo a Polícia Federal e o Petistério Público, e observando as inúmeras maracutaias petistas como Mensalão e Petrolão, até o extraordinário chansonnier Moacyr Franco perdeu a paciência, compondo uma canção-protesto: República Federativa do Bandido.

Vivemos, portanto, um momento revolucionário histórico do direito penal brasileiro: a inauguração de mais uma jabuticaba, a cogitação criminosa. Não é mais necessário executar o ato, nem tentar executá-lo. Basta rascunhar, conversar, pensar em voz alta. O Brasil finalmente se alinha à ficção científica, criminalizando não as ações, mas os pensamentos. George Orwell ficaria orgulhoso: estamos aperfeiçoando o Ministério da Verdade, que ganhou toga para impor respeito e imagens na TV Justiça para transformar uma farsa em espetáculo pedagógico.

Um dia, talvez descubramos que a verdadeira abolição do Estado Democrático de Direito não foi aquela atribuída a um punhado de políticos ingênuos e deslumbrados, mas a que se pratica sorrateiramente em nome da sua defesa. O povo do Brasilistão sonha com a volta de algum resquício de normalidade democrática, não esse fudevu fascista, parido no berçário do Togastão, para implantação de um governo social-populista.

Com o Ogro desfilando como imperador tropical Dom Barba I, está provado que 1964 — o ano que se recusa a virar pó — foi apenas mal coado pelos militares: em vez de expurgar o vírus, deixaram a praga incubada, pronta para florescer em hipocrisia, autoritarismo e deboche.

Assim, o Gárgula de Nove Dedos garguleja do alto do frontispício de sua catedral populista, despejando promessas podres sobre os súditos do Brasilistão. Entorpecidos pelo incenso da mentira, os fiéis seguem dançando sob os vitrais rachados, sem perceber que as portas já foram trancadas por fora. As máscaras agora não caem mais: grudaram à pele como cicatrizes. As luzes ardem até o último estalo, como tochas num funeral coletivo, e as paredes do templo começam a ceder sob o peso da ilusão. 

Quando o teto ruir, não haverá mais fuga, apenas o silêncio de um país sepultado sob os escombros de sua própria orgia, ao som do último riso de pedra do Gárgula. 

Mesmo entre os escombros, sempre há quem procure um novo altar. Da poeira das ruínas há de erguer-se, um dia, uma nova catedral — não feita de pedra, mas de consciência, erguida com o suor dos justos e o pranto dos que aprenderam, enfim, o preço da ilusão. Porque, por mais longa que seja a noite, Luzerna e o Brasil ainda guardam, em algum recanto da alma, a chama teimosa de um amanhecer que não se deixa apagar. 

Obs.: Trecho final do livro MEMORIAL DE LUZERNA, A PÉROLA DO RIO DO PEIXE – Uma saga teuto-brasileira, de minha autoria, finalizado em 10/10/2025, que pode ser baixado em https://felixmaier1950.blogspot.com/2025/10/memorial-de-luzerna-perola-do-rio-do.html.


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

MEMORIAL DE LUZERNA, A PÉROLA DO RIO DO PEIXE - Por Félix Maier

Amigos leitores,

Abaixo, link para meu romance-memorialístico sobre Luzerna, uma homenagem aos meus antepassados teuto-brasileiros - avós e pais.

Sugiro baixar no notebook, para facilitar a leitura.

Há inúmeros links no corpo do e-book (vídeos, canções, textos), que não constarão no livro físico a ser impresso.

Se gostou do conteúdo, divulgue à vontade!

Abraços,

Félix Maier

MEMORIAL DE LUZERNA, A PÉROLA DO RIO DO PEIXE

Uma saga teuto-brasileira

Por Félix Maier

https://drive.google.com/file/d/1Py6a1t3tAQZppshia_zphvwor0PkO5YL/view


quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Soneto para Maria Clara - Por Félix Maier

 

Maria Clara com boneca gigante.

Soneto para Maria Clara

Félix Maier

Maria Clara, em riso iluminada,
Tesouro vivo de Nice e Félix amados,
Menina esperta, sapeca e encantada,
Com olhos de sonho e gestos delicados.

Entre massinhas, desenhos, moldes, flores,
Crias mundos inteiros com tua mão pequena.
E a boneca gigante, em teus loucos amores,
Hoje já te olha quase como irmã, serena.

O tempo voa e tece em ti muita beleza,
Nove anos brilham, como aurora em gesta,
E os avós te admiram com tanta grandeza.

Segue crescendo, ó estrela manifesta!
Que em cada passo deixa a singeleza
De quem nasceu para ser luz em festa.

Maria Clara com "cabelo maluco".

No Museu Oscar Niemayer, Curitiba, janeiro 2024.
Maria Clara com perfil de menina tristinha...


Em 02/10/2025, Maria Clara, neta de Félix Maier e Valdenice dos Santos Maier, compeltou 9 anos de idade.




segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Uma piada de Berta Loran, polonesa de origem judaica

Berta Loran: Varsóvia, 23 março 1926 -
Rio de Janeiro, 28 setembro 2025


Uma piada da humorista Berta Loran, polonesa de origem judaica, atriz da TV Globo

O Presidente dos EUA se encontra com o 1º Ministro de Israel

No final da década de 1970, eu assisti a uma reunião do Congresso Mundial da Juventude Judaica, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. A apresentadora do evento foi a atriz e comediante Berta Loran, polonesa de origem judaica. Na ocasião, eu paguei um grande mico. A certa altura, alguém me cutucou, pedindo para me levantar: tinha começado a execução do Hino Nacional israelense e, distraído, eu estava falando com alguém. Pior, eu nem conhecia o hino de Israel.

Berta Loran também contou piadas sobre judeus. Uma delas eu gravei bem: o Presidente dos Estados Unidos se encontrou na Casa Branca com o Primeiro-Ministro de Israel e propôs trocar o General Moshe Dayan, herói da Guerra dos Seis Dias, por vários generais americanos. Os EUA haviam levado fumo na Guerra do Vietnã e o General judeu, com um olho só, via muito mais longe do que todos os generais americanos juntos.

O Primeiro-Ministro de Israel aceitou a proposta, desde que, em troca, os EUA lhe dessem três generais.

Todo faceiro, o Presidente dos States aceitou imediatamente a proposta e disse que iria chamar todos os seus generais, para que seu amigo pudesse fazer a melhor escolha possível.

O israelense respondeu:

- Não precisa. Já tenho o nome dos três generais que eu quero: General Motors, General Electric e General Foods...

@tvglobo
@jornalnacional
@jornalhoje

Félix Maier

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Arno Preis na ALN e no Molipo - Por Félix Maier


Arno Preis na ALN e no Molipo

Por Félix Maier

ALN - Ação Libertadora Nacional: grupo terrorista, cujos fundos eram obtidos por assaltos e dinheiro recebido de Cuba. “Militei na Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização guerrilheira que mantinha excelentes relações com Cuba. Muitos de nossos companheiros receberam treinamento militar na ilha para enfrentar com armas a ditadura militar que havia deposto um governo legitimamente eleito” (Paulo de Tarso Venceslau, “30 Moedas”, site Jornal Contato, acesso em 13/05/2011). O Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP) havia sido criado em 1967 pelo terrorista Carlos Marighella, após este ser expulso do PCB, depois da Conferência da OLAS, em Cuba. Somente a partir de 1969 o AC/SP, também conhecido como Ala Marighella, passaria a utilizar a denominação Ação Libertadora Nacional (ALN). Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella, foi traduzida para vários idiomas e foi o “livro de cabeceira” dos grupos terroristas Brigadas Vermelhas, da Itália, e Baader-Meinhoff, da Alemanha. “... os ‘tiras’ e policiais militares que têm sido mortos em choques sangrentos com os guerrilheiros urbanos, tudo isto atesta que estamos em plena guerra revolucionária e que a guerra só pode ser feita através de meios violentos” (trecho do Minimanual). Entre 1967 e 1970, comunistas ligados a Marighella e à VAR-Palmares atuaram em Brasília e seu entorno, como fazendas de Formosa, GO, e Paracatu, MG, com aliciamento de estudantes da Universidade de Brasília, liderados por José Carlos Vidal (“Juca”), junto com outro líder estudantil, Luís Werneck de Castro Filho. Em 1968, o grupo de Marighella realizou treinamento de guerrilha próximo ao Rio Bartolomeu, em exercícios de tiro com metralhadora INA e revólver .38. No mesmo ano, Edmur Péricles de Camargo foi enviado por Marighella para fazer um levantamento para instalação de guerrilhas nos arredores das cidades de Formosa, Posse, São Romão, Pirapora e São Domingos. No dia 10/08/1968, a ALN assaltou o trem-pagador Santos-Jundiaí, levando NCr$ 108 milhões, ação que consolidou a entrada da ALN na luta armada; nesse assalto, além de meu tio materno Arno Preis e outros, participou o ministro da Justiça do Governo FHC, Aloysio Nunes Ferreira Filho, que fugiu em seguida para Paris com sua esposa Vera Trude de Souza, com documentos falsos. “Na terça-feira de carnaval de 1969, foi realizado um assalto ao posto de identificação da Asa Norte, de onde foram roubadas mais de cem células de identidade, uma máquina de escrever e carimbos. Participaram da ação: Fabiani Cunha, Francisco William de Montenegro Medeiros, Maurício Anísio de Araújo, Adolfo Sales de Carvalho, Gilberto Thelmo Sideney Marques e Ronaldo Dutra Machado” (“Agrupamento Comunista se expande para o Planalto Central”, site A Verdade Sufocada, acesso em 15/04/2011). Junto com o grupo terrorista MR-8, de Fernando Gabeira, a ALN sequestrou o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, no Rio de Janeiro, em 04/09/1969, por cujo resgate foram libertados 15 terroristas (entre os quais estavam Vladimir Palmeira e José Dirceu). Marighella foi morto pela polícia em São Paulo, no dia 04/11/1969. Após o sequestro do embaixador americano, as prisões de terroristas tiveram sequência: no dia 01/10 foi preso em São Sebastião, SP, o coordenador do setor de apoio, Paulo de Tarso; no dia 02/11 foram presos no Rio de Janeiro os freis Fernando e Ivo; no dia 03/11, já em São Paulo, Frei Fernando “abriu” o restante da rede de apoio, sendo presos os freis Tito e Jorge, um ex-repórter da Folha da Tarde, responsável pelas fotos dos documentos falsos, e um casal de ex-diretores do mesmo jornal; Frei Fernando foi quem levou ao “ponto” com Marighella, no dia 04/11, após revelar duas senhas, pois era o responsável pela coordenação das atividades dos dominicanos com Marighella, desde a saída de Frei Osvaldo de São Paulo, em junho daquele ano. Combinado o encontro com Frei Fernando, Marighella resistiu à ordem de prisão quando entrava no carro de Frei Fernando, sacando um revólver, quando foi morto pelos policiais. A morte de Marighella repercutiu no Brasil e no exterior. Com a morte de Marighella, assumiu o comando Joaquim Câmara Ferreira, o “Toledo”, que viajou a Cuba com Zilda Xavier para receber instruções de Fidel Castro, país em que um dos fundadores da ALN, Agonalto Pacheco, estava em choque com as autoridades locais, especialmente o comandante Manuel Piñero, o “Barbarroxa”, acusado de desvirtuar as iniciativas do AC/SP. Câmara Ferreira foi preso no dia 23/10/1970, em São Paulo; cardíaco, sofreu enfarte na viatura policial, vindo a falecer; Carlos Eugênio Paz, em seu livro Viagem à Luta Armada (Editora Civilização Brasileira, 1996), fantasia a história, dizendo que “Toledo” foi torturado até a morte pelo delegado Fleury; essa versão é negada por Luís Mir (A Revolução Impossível, pg. 560). Em um bolso de “Toledo”, foi encontrada carta de Frei Osvaldo Rezende, onde constavam contatos internacionais, projetos políticos e ligações com os governos cubano e argelino. O governo brasileiro denunciou à ONU a ingerência em seus assuntos de países que não respeitavam o direito internacional - o que não teve nenhuma consequência prática. Em 07/09/1970, João Alberto Rodrigues Capiberibe (mais tarde governador do Amapá), “militante” da ALN, foi preso junto com sua mulher Janete e sua cunhada Eliane. Em 23/03/1971, a ALN faz o “justiçamento” de um “quadro”, Márcio Leite de Toledo. Carlos Eugênio Paz, no livro acima citado, afirma que foi coautor desse “justiçamento”. Junto com o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), a ALN assassinou o industrial Henning Albert Boilesen, diretor do Grupo Ultra, no dia 16/04/1971 (Sebastião Camargo, da empresa Camargo Correia, era também alvo para sequestro e “justiçamento”, mas prevaleceu a escolha de Boilesen, porque era considerado “espião da CIA” e patrocinador da OBAN). Terroristas da VAR-Palmares, da ALN e do PCBR assassinaram o marujo da flotilha inglesa em visita ao Rio de Janeiro, David A. Cuthbert, de 19 anos, no dia 08/01/1972; nos panfletos, os terroristas afirmaram que a ação era em solidariedade à luta do IRA contra os ingleses. Em 1971, a ALN dividiu-se em duas facções: o Movimento de Libertação Nacional (MOLIPO), criado pelo serviço secreto cubano (José Dirceu era um dos integrantes), e a Tendência Leninista (TL). Em 1972, a ALN/SP assassinou o gerente da firma F. Monteiro S/A, Valter Cesar Galatti, ferindo ainda o subgerente Maurílio Ramalho e o despachante Rosalino Fernandes. Em 1972, terroristas da ALN/GB, do MOLIPO e da ALN/SP assassinaram o investigador Mário Domingos Pazariello, o soldado da PM/GO, Luzimar Machado de Oliveira (foi morto por meu tio materno, Arno Preis) e o cabo da PM/SP, Sylas Bispo Feche; a ALN/GB assassinou em 1972 Íris do Amaral. No dia 21/02/1973, a ALN formou um grupo de execução, integrada por três terroristas, que assassinaram o proprietário do Restaurante Varela, o português Manoel Henrique de Oliveira, acusado de ter denunciado à polícia, no dia 14/06/1972, a presença de quatro terroristas que almoçavam em seu Restaurante, três dos quais morreram logo após (na verdade, os terroristas mortos estavam sendo seguidos pelo DOI-CODI). No dia 25/02/1973, terroristas da ALN, da VAR-Palmares e do PCBR assassinaram em Copacabana o Delegado Octávio Gonçalves Moreira Júnior. Pelo extenso “currículo” de Marighella, seus familiares receberam mais de 100 mil reais de “indenização”, outorgada pela famigerada “Comissão dos desaparecidos políticos”, criada no primeiro governo FHC. Carlos Eugênio Sarmento da Paz confessou ter praticado em torno de 10 assassinatos. Jessie Jane Vieira de Souza, outra “militante” da ALN, que participou do sequestro de um avião, chegou a ser diretora do Arquivo Público do Rio de Janeiro. Saiba mais sobre as ações dos “honoráveis terroristas” da ALN acessando https://pt.slideshare.net/palmasite/honorveis-terroristas. Com o auxílio do Movimento Comunista Internacional (MCI) e de padres dominicanos, como Frei Beto, a ALN tinha um sistema de propaganda no exterior, a Frente Brasileira de Informações (FBI). Veja FBI

MOLIPO - “Organizado em Cuba pelo chefe do Departamento de América do serviço secreto, Manuel Piñero Losada, o Barbaroja, e comandado por [José] Dirceu e Antonio Bentazzo, o Molipo começou a chegar ao Brasil no final de 1970. O projeto inicial consistia em tomar o controle da ALN. Quando Barbaroja percebeu que não alcançaria o objetivo, por conta de divergências plíticas com líderes daquela organização, decidiu criar o Molipo, que tinha como brasão o Cruzeiro do Sul, símbolo do Exército, dentro de uma alça de mira, com a frase ‘Libertação ou Morte” (CABRAL, 2013: 89-90). O MOLIPO era formado em sua maioria por integrantes do chamado “III Exército da ALN”, ou seja, de militantes com curso de guerrilha em Cuba. “Depois da morte, em 1969, de Carlos Marighella, dirigente máximo da ALN, os cubanos resolveram interferir na condução da luta armada que pretendia desenvolver no Brasil. Para isso, através de José Dirceu, cooptaram uma parte dos militantes da ALN que se encontrava em Cuba e financiaram a formação do MOLIPO - Movimento de Libertação Popular. Na ALN era voz corrente que José Dirceu era um G2, agente ligado ao serviço de informações do governo cubano e um dos raros sobreviventes por uma razão muito simples: refugiou-se no interior do Paraná perdendo contato com os companheiros que chegavam ao Brasil e eram sumariamente executados” (Paulo de Tarso Venceslau, “30 Moedas”, site Jornal Contato, acesso em 13/05/2011). José Dirceu foi nomeado por Fidel Castro para implementar um foco guerrilheiro no Brasil, com base no Grupo Primavera. Fez plástica para não ser reconhecido. “A equipe médica [sob os cuidados de um cirurgião plástico chinês] fez três pequenas incisões: uma bem rente ao bigode, por onde entrou a próteses que modificaria o formato do nariz, e outras duas acima das orelhas, que permitiriam esticar as maçãs do rosto” (CABRAL, 2013: 84). José Dirceu voltou ao Brasil em 1971, com nariz adunco e passaporte argentino, com o nome falso de Carlos Henrique Gouveia de Melo: de Havana viajou para Moscou, depois para Praga, Frankfurt, Bogotá e, finalmente, Manaus. Em junho de 1975, Dirceu foi morar em Cruzeiro do Oeste, PR, onde se casaria com uma dona de butique, Clara Becker, com quem teve um filho, José Carlos Becher Gouveia de Melo, o Zeca Dirceu, atual deputado federal pelo PT, que já foi prefeito de Cruzeiro do Oeste (2004 a 2008). Lá, Dirceu recebeu o apelido de “Pedro Caroço”, personagem do forró Severina Xique-Xique, de Genival Lacerda: “Ele tá de olho na butique dela”. José Dirceu viajava constantemente a São Paulo, para abastecer sua loja, Magazine do Homem, com produtos “como Levi’s, US Top, Lee, Garbo e Casa José Silva” (Idem, pg. 104). Em São Paulo, “retomaria pontos com remanescentes da ALN indicados por Sooma” (Idem, pg. 105). O advogado Ivo Shizuo Sooma era o “contato dos cubanos em Maringá” (Idem, pg. 102). Nessas idas a São Paulo, Dirceu “teve um longo caso com Suzana Lisboa” (Idem, pg. 109), uma das “remanescentes” da ALN, junto com Paulo de Tarso Venceslau, Moacir Maricato, Reinaldo Morano, Carlos Alberto Lobão, Carlos Chneiderman e Frei Betto. Nessa época, segundo o SNI, Dirceu esteve em Buenos Aires com Vladimir Palmeira, “comandando um congresso que pretendia organizar uma entidade estudantil sul-americana e reorganizar o movimento no Brasil” (Idem, pg. 106). “Os amigos Frei Betto, Vannuchi e Paulo de Tarso se encarregaram dos trabalhos do aluno, que nunca se empenhara nos estudos. Em 1983, [José “Daniel” “Hoffmann” “Carlos Henrique” “Pedro Caroço” Dirceu] formou-se advogado” (Idem, pg. 120). “Documentos do II Exército, disponíveis no Arquivo Público do Estado de São Paulo, apontam Dirceu como um dos responsáveis por um caso bem mais grave: a morte de um sargento da Polícia Militar, na rua Colina da Glória, no Cambuci, a 19 de janeiro de 1972. Segundo o depoimento do fiscal de obras Lazro Finelli, dois homens tentaram roubar o Fusca do policial Thomas Paulino de Almeida, que reagiu, dando um soco no rosto de um deles. O outro rapaz, então, atirou na cabeça do PM, que morreria no local. Vendo as fotos de um álbum de ‘terroristas procurados’, Finelli reconheceria Dirceu como o homem que levou o soco e José Carlos Giannini, também do Molipo, como o autor do disparo” (CABRAL, 2013: 88-89). “Nove anos depois da operação, no mesmo hospital do médico chinês, [Dirceu] reverteria a cirurgia plástica que modificara seu rosto. A nova operação precisou apenas de uma anestesia local e de um único corte, para a remoção da plástica do nariz. Ao tirar a prótese, as maçãs do rosto voltaram à posição original” (Idem, pg. 113). No dia 05/01/1972, ao ser montado pelos Órgãos de Segurança uma “campana” junto a um carro roubado num estacionamento de Santa Cecília, centro de São Paulo, um homem de origem japonesa, ao receber ordem de prisão, reagiu e foi morto. Sua identidade era falsa, com o nome de Massahiro Hakamura; após buscas nos arquivos datiloscópicos, a polícia descobriu que era Hiroaki Torigoe, um dos membros do Comando Nacional do MOLIPO. Em janeiro daquele ano foram neutralizados dois pontos de apoio do MOLIPO: em Vanderlândia, GO, e em Santa Maria da Vitória, BA, que estava sendo “trabalhado”. No dia 18 de janeiro, três militantes do MOLIPO, fugindo de uma caçada policial, roubaram outro carro para prosseguir na fuga, matando seu ocupante, o 1º sargento da PM/SP, Thomas Paulino de Almeida. Na cidade de Paraíso do Norte, GO, no dia 15/02/1972, foi morto outro militante do MOLIPO, Arno Preis (meu tio materno), que portava documentos falsos, com o nome de Patrick McBundy Comick, o qual matou, quando convidado a comparecer na Delegacia Policial, o soldado PM/GO, Luzimar Machado de Oliveira, ferindo gravemente outro militar, Gentil Ferreira Mano. No dia 27/02/1972, Lauriberto José R. e Alexandre José I. V. travaram tiroteio com a polícia em Tatuapé, São Paulo, matando o funcionário aposentado Napoleão Felipe Biscalde, sendo mortos pela Polícia. Veja Grupo dos 28 e crimes do MOLIPO em https://www.youtube.com/watch?v=B3BG_n59OMQ (endereço indisponível, os terroristas e seus simpatizantes são ágeis em apagar os rastros criminosos).

Fonte: 

A Língua de Pau - Uma história da intolerância e da desinformação, de Félix Maier: 

https://drive.google.com/file/d/1wDHV0YJFOZSoBwlJSSrHdl68CfJokMmf/view



Meu tio materno Arno Preis

Félix Maier

“Arno Preis e João Leonardo da Silva, presentes!”. Emoção e depoimentos marcantes na homenagem da Faculdade de Direito a ex-alunos assassinados pela Ditadura Militar

14/08/2025 16h22

https://adusp.org.br/memoria/homenagem-fd/

Foi uma homenagem feita em 11/08/2025 a meu tio materno Arno Preis, formado em Direito na USP, integrante dos grupos terroristas Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, e do Movimento de Libertação Popular (Molipo), criado pelo serviço secreto de Cuba - cfr. em https://felixmaier1950.blogspot.com/2025/09/arno-preis-na-aln-e-no-molipo-por-felix.html

O livro "Arno Preis: A demanda da família de Arno Preis pelo direito ao luto, à verdade, à reparação pública e à justiça: contribuição à história dos mortos e desaparecidos políticos da Ditadura", publicado em 2021, foi escrito pelos historiadores Reginaldo Benedito Dias e Elaine Angela Bogo Pavani, disponível para compra em https://www.amazon.com.br/Arno-Preis-repara.../dp/6525006457

A propósito, esses historiadores de araque, verdadeiros "guerrilheiros da pena" a serviço de terroristas que infernizaram o Brasil nas décadas de 1960 e 70, tiveram uma resposta à altura em meu trabalho "Arno Preis e os idos de março de 1964", disponível em https://drive.google.com/file/d/1qlly7cvMHL0ia6NjXBD9Oqq22Z81Xlm9/view

Boa leitura!


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Progressista: nome bonito para velho desastre - Por Félix Maier

 

Holocausto do Camboja

https://www.gettyimages.com.br/search/2/image?phrase=holocausto+do+camboja


Progressista: nome bonito para velho desastre


Félix Maier


Progressista soa chique, parece título de palestra da ONU com cafezinho gourmet no intervalo.  Progressista vem de progresso. Bonito, não? Parece coisa de cartilha escolar com arco-íris e pombinhas. Mas quando você tira o laço colorido, descobre o que sempre esteve por baixo: comunista, socialista, bolivariano, lulopetista — é tudo a mesma árvore genealógica, só mudam os apelidos para enganar os incautos.

Progressista é aquele vendedor que te empurra um caixão de defunto dizendo que é cama box novinha. É a arte de trocar o rótulo: fome vira “justiça social”, censura vira “controle responsável da informação”, ditadura vira “democracia popular”.

No século XX, os tais progressistas entregaram o maior “avanço” da humanidade: mais de 100 milhões de mortos. União Soviética, China de Mao, Coreia do Norte, Cuba de Fidel, Camboja de Pol Pot… cada um contribuindo com sua pilha de ossos. Atualmente, ainda contam as vítimas em Cuba, Coreia do Norte, Vietnã, Camboja, Venezuela e Nicarágua, onde a fome e o autoritarismo são tratados como “justiça social”.

A lógica é simples: matar em nome do futuro. Sempre tem um paraíso prometido na esquina da História, só que nunca chega. Chega mesmo é a fila do pão, o longo encarceramento, o paredón e o passaporte proibido.

E, para disfarçar, adotam o rótulo fofinho de “progressistas”. Assim fica mais palatável vender o atraso como avanço, a censura como liberdade e o carrasco como benfeitor.

No fim, progressismo é isso: a arte de trocar o nome para não mudar a antiga prática criminosa. Como dizia Orwell, basta chamar a escravidão de liberdade e a fome de igualdade.


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O Golpe que Nunca Existiu – e a Justiça que se Supera - Por Félix Maier

 

O STF se transformou em Instituto Lula.

O Golpe que Nunca Existiu – e a Justiça que se Supera

Félix Maier

O Brasil, terra fértil em jabuticabas, agora produz uma novidade digna de exportação: o processo criminal por crimes que não aconteceram. O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e mais sete “conspiradores de bar” respondem por nada menos que cinco crimes que, somados, podem lhes render mais de 40 anos de prisão. Seria um enredo perfeito para uma série de suspense político, não fosse o detalhe incômodo: não houve golpe, não houve armas nas ruas, não houve tanques na Esplanada dos Ministérios, não houve sequer um estagiário fascista correndo com um megafone. Muito menos a execução de um plano sugerido anos atrás por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente: “Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo”.  Houve, sim, “cogitações”, “minutas” e “possibilidades” — e, pelo visto, no Brasil de hoje, isso já basta para uma condenação antecipada.

O Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal, cuja maioria dos ministros foi nomeada por governos petistas (por isso, o antigo STF tem hoje o apelido jocoso de “Instituto Lula”), tratam os acusados como inimigos a serem destruídos, integrantes de um “Núcleo Crucial”, nome que, por si só, soa como banda de rock pesado dos anos 1980. O problema é que, até onde se sabe, esse núcleo crucial não passou de um grupo de políticos e assessores que discutiam decretos, ensaiavam hipóteses de Estado de Sítio e, no máximo, produziam “minutas” que jamais saíram da gaveta. Mas, no Brasil atual, pensar alto virou sinônimo de tentativa de golpe de Estado.

Crimes que se repetem

A lista de acusações é tão criativa que merecia o Prêmio Jabuti de Literatura Jurídica:

  1. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
  2. Tentativa de golpe de Estado.
  3. Participação em organização criminosa armada.
  4. Dano qualificado.
  5. Deterioração de patrimônio tombado.

Os dois primeiros já fazem rir: como diferenciar "tentativa de golpe de Estado" de "tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito"? É como acusar alguém, ao mesmo tempo, de homicídio tentado e tentativa de matar. Redundância pura, mas que garante manchetes mais robustas e penas duplicadas – justamente as de maior duração. 

E "participação em organização criminosa armada", o que isso significa? Que fizeram algum pacto com o PCC?

Já o par “dano qualificado” e “deterioração de patrimônio tombado” é outro espetáculo de duplicidade. Se alguém quebrou uma vidraça da União e, por azar, essa vidraça estava num prédio tombado, o sujeito responderá por dois crimes: um por quebrar e outro por quebrar justamente onde não devia. Seria cômico, se não fosse trágico.

O presidente ausente

Outro detalhe pitoresco: quando houve a famosa depredação dos palácios dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023, Bolsonaro estava em … Orlando. Nem WhatsApp se achou mandando instruções do tipo: “Podem quebrar tudo aí, que eu pago o prejuízo, talquei?” Nada. Nenhuma prova de comando, estímulo ou pagamento de vandalismo. Mas, para os guardiões da democracia tropical, a ausência do acusado é irrelevante — afinal, um verdadeiro conspirador orienta à distância, com poderes telepáticos dignos de filme da Marvel.

O surrealismo jurídico

Tudo isso lembra a seguinte parábola urbana: imaginem um sujeito que abaixa as calças em plena calçada e defeca no passeio público. Pela lógica da acusação que impera no Instituto Lula, esse infeliz responderia a dois crimes distintos: um por “abaixar as calças” e outro por “cagar em público”. Ora, se não tivesse baixado as calças, o cocô teria ficado contido no tecido; se não tivesse defecado, o ato de baixar as calças seria apenas um ato obsceno. O fato punível, no fim das contas, é um só, pois não se consegue cagar em público sem abaixar as calças. Mas não: na versão "criativa” de nosso Ministério Público e de certos ministros do antigo STF, cada movimento muscular merece uma pena separada.

Conclusão

Vivemos, portanto, um momento revolucionário do direito penal brasileiro: a inauguração do crime de “cogitação criminosa”. Não é mais necessário executar o ato, nem tentar executá-lo. Basta rascunhar, conversar, pensar em voz alta. O Brasil finalmente se alinha à ficção científica, criminalizando não as ações, mas os pensamentos. Orwell ficaria orgulhoso: estamos aperfeiçoando o Ministério da Verdade com toga, fardão e diárias em Brasília.

No dia em que esse processo chegar ao fim, talvez descubramos que a verdadeira abolição do Estado Democrático de Direito não foi aquela atribuída a um punhado de políticos ingênuos, mas a que se pratica sorrateiramente em nome da sua defesa.


***

P. S.:

A Primeira Turma do "Instituto Lula" é composta por:

Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin - indicados por Lula

Luiz Fux - indicado por Dilma

Alexandre de Moraes - indicado por Temer


Adivinha qual vai ser o placar contra Bolsonaro e seus assessores, estrelados ou não...




terça-feira, 26 de agosto de 2025

República Federativa do Bandido - Por Félix Maier

 

República Federativa do Bandido

Félix Maier

Dizem que o Brasil é a pátria do futebol, do carnaval e da alegria. Tolice. Nosso verdadeiro esporte nacional é a anulação de provas, praticada com habilidade olímpica por quem deveria zelar pela Justiça.

Na mais recente modalidade, batizada de toffolice aquática, assistimos ao mergulho profundo nas águas turvas da Lava Jato. Ali, documentos, delações, bilhões desviados e até confissões explícitas desapareceram como mágica. Não há cadáver, não há arma do crime, não há crime: apenas um imenso mal-entendido tropical.

Na República Federativa do Bandido, empreiteiro não rouba, político não recebe propina e operador não lava dinheiro. Tudo foi apenas fruto da imaginação fértil de procuradores enlouquecidos e juízes sedentos por manchetes. O “departamento de propinas” da Odebrecht, por exemplo, virou lenda urbana, como mula-sem-cabeça ou lobisomem: todos ouviram falar, mas ninguém conseguiu provar ao togado relator da vez, guardião oficial da inocência dos culpados.

E, assim, com um só despacho, o país se converte em arquipélago da impunidade. Enquanto o cidadão comum se desespera com imposto, fila no hospital sem vacina e sem gaze, e ônibus lotado como sardinha em lata, o andar de cima brinda em taças de cristal a nova era da “justiça garantista”: garante-se a liberdade dos de cima, e apenas deles.

Talvez este seja o nosso destino: não seremos conhecidos pela Amazônia, pelo futebol ou pela bossa nova, mas pelo engenho jurídico de transformar corruptos confessos em vítimas da história. Aqui, a memória é anulada, os crimes evaporam, e a corrupção se recicla em “erro processual”.

Que ninguém se iluda: a República Federativa do Bandido é próspera e generosa com seus súditos privilegiados. E, enquanto isso, nós, os manés, os trouxas contribuintes, seguimos financiando a festa — sem direito a habeas corpus.

Na República Federativa do Bandido, já não se fala mais de futebol, tampouco de novela. O assunto agora é a mágica tropical: transformar ladrão em inocente. No Brasil, basta uma toga, uma caneta e um despacho coreografado para absolver bandido.

A Odebrecht, que inventou até um “departamento de propinas” com organograma e senha de computador, virou lenda urbana — coisa de pescador. Para o antigo advogado do PT e do Ogro de Nove Dedos, o que houve foi apenas o devaneio de procuradores mal-intencionados, como Deltan Dallagnol, e de um juiz em busca de holofote, Sérgio Moro.

O Brasil já não é o país do futebol. É o país da anulação de provas. Aqui, a corrupção não prescreve: apenas se dissolve, elegante, em tinta de caneta. É uma autêntica República Federativa do Bandido, já cantado em versos por  Moacyr Franco.

E olha que nada falei sobre o maior golpe já visto no Brasil: em 15 de abril de 2021, oito togados do Instituto Lula (antigo STF) “descondenaram” um criminoso que havia sido condenado em três instâncias, por unanimidade, para “voltar à cena do crime” pela terceira vez.

Se alguém reclamar, vai ouvir um Supremo Togado dizer, com cara torta de nojo:

— Perdeu, mané, não amola! Derrotamos o bolsonarismo!

 

P.S.

Ouça o hit de Moacyr Franco em https://www.youtube.com/watch?v=6sqk-4NBTD8