O Ocidente está Importando a Revolução Cultural da China
A milenar cultura tradicional chinesa está repleta de belas filosofias confucionistas, rituais de parentesco, simbolismo artístico, mitologias e genuína devoção aos ancestrais da família. Para ver de perto, in loco, qualquer um desses costumes antigos, no entanto, o lugar certo para o turista visitar é Taiwan, não a China. Quando os comunistas da China continental detonaram a rica herança da China e a "Revolução Cultural" de Mao Tsetung expurgou os "Quatro Velhos", entenda-se aí velhos costumes, velha cultura, velhos hábitos e velhas ideias, da sociedade chinesa, Taiwan tornou-se de fato o último refúgio de uma das mais antigas e grandes civilizações do mundo.
O tradicional modo de vida da China sobreviveu a milhares de anos de intermitentes guerras civis, agressões estrangeiras, surtos de fome e sabotagens do Ocidente. Quando o vírus do comunismo criou raízes em suas terras, no entanto, a vibrante história da China foi apagada em uma geração. Duas décadas e meia atrás, vários acadêmicos fizeram um esforço louvável para calcular os custos do comunismo no Século XX na obra The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression. Embora a obra tenha catalogado com competência de que maneira os governos comunistas assassinaram sistematicamente cem milhões de cidadãos e torturaram muitos mais, ela apenas começa a descrever a imensa força destrutiva que o comunismo teve no povo chinês.
Caso a Civilização Ocidental tivesse sofrido uma "Revolução Cultural" daquela magnitude, seria como se todas as grandes ideias da democracia grega, do republicanismo romano, da teologia judaico cristã, do ilumnismo, da revolução científica e da preservação da liberdade individual tivessem desaparecido da noite para o dia. Imagine excluir da história Aristóteles, Cícero, Agostinho, Aquino, da Vinci, Michelangelo, Shakespeare, Locke, Jefferson e todos os outros pensadores, escritores, artistas, inventores e estadistas entre eles. Esse é o alcance do genocídio cultural que o comunismo perpetrou contra o povo chinês fora as dezenas de milhões de vítimas massacradas e apagadas da memória coletiva.
É estapafúrdio, portanto, hoje ver tantas instituições internacionais olharem para a China em busca de orientação global. A Organização Mundial da Saúde imitou em grande parte as draconianas políticas de lockdown em relação à COVID da China ao promulgar procedimentos de contenção que afetaram todos os aspectos da vida ocidental. O fundador do Fórum Econômico Mundial (WEF), Klaus Schwab, costuma aplaudir o estado de vigilância da China pela sua capacidade de "cutucar" os cidadãos para que ajam em conformidade com suas diretrizes. Enquanto os defensores da China fecham os olhos aos contínuos genocídios do país comunista de partido único contra cristãos, tibetanos, uigures, Falun Gong e demais minorias, eles defendem a máquina do totalitarismo tecnocrático do estado chinês para servir de modelo para o restante do planeta. É profundamente desconcertante ver um destruidor de civilizações ser considerado o futuro para a civilização global.
Isso é, no entanto, exatamente o que "O Grande Reset" do WEF tem em mente. Apesar de toda a sua ênfase na ciência e na tecnologia e apesar de suas deslumbrantes visões para o futuro, o "Grande Reset" segue os passos da desolação cultural da China. A influente organização de Schwab procura recriar um sistema chinês onde um pequeno grupo de elites comandam e os cidadãos comuns obedecem diligentemente. Ela procura uma existência sombria onde o pensamento livre é "perigoso" e o dogma do estado é abraçado como fé. Ela quer construir uma civilização desprovida de cultura viva, onde formas de inteligência artificial constroem o mundo e a inovação humana se esvai. O "Grande Reinício" é uma "Revolução Cultural" do Século XXI cujo propósito é expurgar o Ocidente de seus "velhos costumes".
Se o WEF estivesse realmente interessado em projetar os ideais do Iluminismo, o liberalismo ocidental e as normas democráticas em todo o mundo, essa comunidade de aristocratas estaria fazendo tudo ao seu alcance para convencer os líderes chineses da fundamental importância da liberdade de expressão, liberdade de religião, propriedade privada, o estado de direito e o respeito pela privacidade. O fato deles não se interessarem neste quesito indica que as lealdades do WEF estão mais alinhadas com os mandarins do Partido Comunista Chinês do que os seguidores ideológicos de Schwab estão dispostos a divulgar.
"O regime tecno-totalitário que o PCC está aperfeiçoando na China não vai ficar restrito a China", alertou o deputado americano Michael Gallagher, presidente da Comissão Especial da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês. "Trata-se de um modelo que eles querem exportar cada vez mais para o mundo inteiro." Dada a sincronização do Partido Comunista Chinês com o Fórum Econômico Mundial, ao que tudo indica, Schwab está mais do que disposto a ajudar a China a exportar seu estado policial totalitário para todo o planeta.
Há uma ironia doentia nessa guinada nos acontecimentos. Na época em que O Livro Negro do Comunismo estava mostrando a sua cara revelando o absoluto horror dos crimes contra a humanidade cometidos pela China, os políticos dos Estados Unidos estavam abrindo um caminho de ouro para que o estado policial de partido único se juntasse à Organização Mundial do Comércio e se tornasse uma potência industrial. Uma das principais justificativas para fazer vistas grossas ao longo histórico de abusos dos direitos humanos na China ocorreu quando o então presidente Bill Clinton e o Congresso bipartidário concederam à nação comunista o status de relações comerciais normais permanentes em 2000, a duvidosa asserção de que tal medida tornaria a China mais parecida com os Estados Unidos. "O povo americano apoia este acordo", ressaltou o deputado americano Bill Archer na época, "porque eles sabem que é bom para os empregos nos Estados Unidos e também é bom para os direitos humanos e o desenvolvimento da democracia na China". Duas décadas e meia de perdas de empregos nos Estados Unidos, a contínua perseguição chinesa às minorias étnicas e o crescente poder global do Partido Comunista Chinês tornaram aquela afirmação extraordinariamente ingênua.
Desculpar o totalitarismo da China e entregar à nação comunista as chaves para enriquecer com os lucrativos mercados globais pode muito bem provar ter sido o erro de política externa mais importante durante séculos. Em vez de trazer mais prosperidade para os americanos, conforme o então presidente Clinton e a secretária de Estado Madeleine Albright prometeram na época, a normalização das relações comerciais com a China devastou a outrora robusta autossuficiência industrial e manufatureira dos Estados Unidos, empobreceu os trabalhadores de fábrica em todo o país e deixou os cidadãos comuns americanos dependentes de um inimigo geopolítico muitas vezes hostil quanto às matérias-primas cruciais e produtos acabados.
Enquanto os empregos americanos estão sendo constantemente transferidos para o outro lado do mundo e os contracheques americanos são gastos com importações chinesas, a riqueza está sendo drenada dos Estados Unidos e depositada como capital sob o controle do Partido Comunista Chinês e seus rugidos militares. A China continua contornando quaisquer regras ou normas internacionais que possam restringir seu poder de expansão ou seus resultados econômicos. Ela também utilizou suas rotas comerciais para contrabandear fentanil e outros narcóticos letais para os Estados Unidos. Igualmente alarmante, o PCC também vem infiltrando grupos de homens em idade militar "em contingentes jamais vistos", aparentemente com ordens de sabotar a infraestrutura americana caso os EUA tentem impedir a China de se apoderar de Taiwan. Um enorme salto no número de imigrantes ilegais provenientes da China com laços confirmados com o Exército Popular de Libertação da China levou o deputado americano Mark Green a concluir o seguinte: "trata-se de um esforço concentrado dos chineses para desestabilizar os Estados Unidos, prejudicar nossa sociedade e facilitar a execução básica de sua versão da ordem mundial global."
Apesar do comportamento bem documentado da China de manipulador de moeda e ladrão de propriedade intelectual, o Fundo Monetário Internacional praticamente confirmou que em breve irá aceitar o yuan chinês para amortização de dívidas. Em vez de disponibilizar um mecanismo para "democratizar" um estado comunista fechado, trazer a economia mundial para as portas da China só endureceu o autoritarismo punho de ferro, encorajou a bravata regional, expandiu a capacidade de causar danos aos cidadãos comuns americanos e alicerçou a sua influência geopolítica. No fundo os EUA estão bancando a barbárie do Partido Comunista Chinês, conclui Tony Perkins, ex-presidente da Comissão bipartidária de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA: "a China é realmente mais repressiva hoje do que há duas décadas, e a razão disto é que eles podem se dar a este luxo já que os consumidores americanos financiam a sua repressão."
Políticos e representantes comerciais em Washington, DC, podem até ter acreditado que poderiam pegar o dragão chinês pelo rabo, mas não há dúvida de que, um quarto de século depois, a besta que cospe fogo se tornou ainda mais perigosa. A Senadora Marsha Blackburn descreve sem papas na língua a tendência da Administração Biden de ignorar a má conduta da China como esforços delirantes "de passar a mão na cabeça de uma ditadura que comete abusos generalizados dos direitos humanos e que oprime seu próprio povo". Já se passaram mais de 80 anos desde a morte do primeiro-ministro do Reino Unido, Neville Chamberlain, e mais uma vez o apaziguamento de brutais regimes totalitários voltou à tona, tudo a serviço daquela frequentemente ardilosa promessa da paz mundial.
Além dos destruidores de sua própria civilização milenar, que tipo de gente comanda a China comunista hoje? Bem, são precisamente do tipo de autoritário que a elite de Davos paradoxalmente condena quando exalta as virtudes da "democracia". A China envia espiões por todo o mundo para assediar e intimidar os dissidentes que falam e escrevem contra o regime comunista. Ela tem colocado recompensas de milhões de dólares na caça dos que se opuseram à tomada de Hong Kong por Pequim. O deputado americano Carlos Gimenez alertou: se "você de alguma forma representa uma ameaça para o Partido Comunista Chinês ", "você será perseguido, irá para a prisão e, quem sabe, até perder a vida".
Muitos defensores da normalização das relações comerciais com a China imaginaram apenas e tão somente os melhores resultados, ignorando a possibilidade de fortalecer ainda mais um ator que não é digno de confiança. Um ano depois de Clinton ter ajudado a trazer a China para o clube do "livre comércio", o então presidente George W. Bush também argumentou que "o comércio aberto é uma força para a liberdade na China, uma força para a estabilidade na Ásia e uma força para a prosperidade nos Estados Unidos." Ignorar as repercussões de alimentar uma fera perigosa, ele continuou: "quando abrimos o comércio, abrimos as mentes. Comercializamos com a China porque o comércio é uma boa política para nossa economia, porque o comércio é uma boa política para a democracia e porque o comércio é uma boa política para nossa segurança nacional."
Todos esses objetivos eram louváveis, mas as boas intenções frequentemente trazem resultados desastrosos. Se Bush soubesse em 2001 que a força de trabalho dos Estados Unidos estaria definhando hoje, que a China estaria matando dezenas de milhares de americanos a cada ano com fentanil ao mesmo tempo em que roubaria tecnologia patenteada de empresas americanas, e que instituições globais como a Organização Mundial da Saúde e o Fórum Econômico Mundial estariam promovendo ativamente o estado de vigilância tecnocrata do Partido Comunista Chinês, talvez ele não estivesse tão ansioso em capacitar a China via comércio irrestrito. Talvez ele estivesse mais disposto a considerar se a democracia, a estabilidade, a prosperidade e a segurança nacional poderiam se degradar. Talvez ele reconhecesse que a China poderia muito bem exportar sua filosofia autoritária ao redor do mundo de forma ainda mais eficiente do que os Estados Unidos exportam a liberdade.
Como muitos estudiosos que analisam movimentos radicais têm atestado: "grande parte do ativismo que atualmente dilacera a civilização ocidental é impulsionado por ideias que podem ser rastreadas ao maoísmo." A "Revolução Cultural" da China já destruiu uma grande civilização; talvez o Ocidente devesse rejeitar importar uma revolução cultural por conta própria antes que seja tarde demais.
JB Shurk escreve sobre política e sociedade e é Senior Fellow do Gatestone Institute.
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