MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

"Queridíssimo Fidel": Carta de Dom Paulo Evaristo Arns para Fidel Castro

Dom Evaristo Arns: o que a VEJA não disse
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Na Veja desta semana (21/12/2016) a revista dedica algumas páginas à morte do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. A matéria, cujo título é “Adeus ao Gigante”, resume a trajetória deste homem que, apesar de tudo, foi uma figura marcante na história contemporânea do Brasil. A reportagem, assinada por Pedro Dias Leite, tenta ser neutra, mas não parece, e o vocabulário empregado não difere muito da mídia “progressista”. Feita a introdução, vamos ao que de fato interessa.
Dom Evaristo Arns foi um religioso muito próximo de Dom Hélder Câmara, o “arcebispo vermelho”, e do frei Leonardo Boff, católicos da Teologia da Libertação, doutrina que une o cristianismo ao marxismo. Ademais, de acordo com a própria Veja, além de denunciar as torturas e desaparecimentos que realmente ocorriam naquele momento, Dom Evaristo Arns “Apoiou o movimento grevista no ABC (e seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva)”. Com isso, o texto também alude ao fato de que “Se fosse hoje, dom Paulo provavelmente teria no papa Francisco, também ele um franciscano, um aliado”. Afinal de contas, no período de maior atuação de Dom Evaristo, o papa era um polonês que conheceu de perto as mazelas causadas pelo comunismo e pelas ideias chamadas “progressistas”, quer dizer, o papa era João Paulo II.
Mas afinal, o que é que a Veja não disse?
Se a matéria a qual me refiro abordou temas como tortura, censura, violência, repressão, etc., mas sempre com suas críticas – legítimas, vale dizer – voltadas a ditadura militar, deveria também explorar o outro lado da moeda, mas não o fez. O porquê eu não sei…>
A Veja cita um discurso feito pelo cardeal no dia 31 de outubro de 1975 no qual ele diz: “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor. Não matarás. Quem mata entrega a si próprio nas mãos do Senhor da história e não será apenas maldito na memória dos homens, mas também no julgamento de Deus.” Até aí tudo bem, já que este é um discurso que se espera de um cristão, porém, existe uma contradição nisso tudo.
Não haveria problema algum no discurso se o cardeal não tivesse, em 1969, ajudado dominicanos comunistas que entraram para a ALN (Ação Libertadora Nacional), um grupo terrorista chefiado por Carlos Marighella. (Se o leitor acredita que Marighella não foi um terrorista, recomendo o texto que trata sobre o livro Manual do Guerrilheiro Urbano, escrito pelo líder da ALN). Curioso é que no mesmo ano do discurso, um panfleto escrito por militantes da ALN declarava: “Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução.”  Um pouco disso pode ser encontrado no livro e no filme Batismo de Sangue que, embora tenha sido escrito por alguém não insuspeito como Frei Betto, dá uma dimensão do envolvimento dos religiosos dominicanos na luta armada e em ações extremistas. Se Dom Evaristo foi a favor dos direitos humanos, de uma forma ou de outra também foi a favor do terrorismo.
No discurso citado acima o cardeal defende a vida, relembra o quinto mandamento cristão, entretanto, defendeu guerrilheiros que, em suma, a partir de 1967, iniciaram seus assaltos a bancos, sequestros, entre outras ações criminosas. O próprio autor do Manual do Guerrilheiro Urbano, isto é, Marighella, logo no início de seu texto, aponta que um dos objetivos essenciais do guerrilheiro urbano é “A exterminação física dos chefes e assistentes das forças armadas e da polícia.” Também aponta que “todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais e todos àqueles dedicados à repressão.
E tem mais. Marighella, um comunista obcecado e que aos olhos de muitos apaixonados é visto como alguém que lutava pela democracia, assinala que “matar um espião norte-americano, um agente da ditadura” deve ser uma ação realizada por um atirador “operando absolutamente secreto e a sangue-frio.” Enfim, dentre tantas instruções bizarras, Marighella afirma que “o terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.” Dentre os quatro sequestros de diplomatas realizados no Brasil, a ALN tomou parte na ação de dois. Foram eles: o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick e do alemão Ehrefried Von Holleben.
Nas palavras de Stédile – o comandante do “exército” do PT, ou seja, do MST -, “Arns impulsionou o surgimento dos movimentos populares rurais que surgiram no país nas últimas décadas.” Ele complementa: “A maioria dos movimentos do campo que hoje existem – MST, MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], Movimento dos Pequenos Agricultores, Comissão Pastoral da Terra, Cimi [Conselho Indigenista Missionário] -, nascemos orientados por vossa sabedoria, que pregava: Deus só ajuda quem se organiza.” Sabemos que Stédile não é alguém muito simpático a democracia. E não para por aí, mas creio que por ora seja o suficiente.
Durante um longo tempo Dom Evaristo celebrou missas nos dias de finados e que tinham como homenageados aqueles que foram mortos sob a repressão dos militares. Resta saber se o religioso também rezou missas por aqueles que foram assassinados pelos guerrilheiros comunistas em seus “justiçamentos” – nome dado às execuções – ou pelos que foram afetados por suas explosões.
Mesmo assim não acho ético comemorar a morte de alguém. Não que eu seja defenda o politicamente correto, no entanto, creio que não seja necessário – como fizeram alguns católicos mais conservadores – comemorar a morte do cardeal. Conforme já apontou Rodrigo Constantino em vídeo, embora não devamos “canonizá-lo” pelo seu engajamento político à esquerda, como a grande mídia fez, celebrar sua morte é algo descabido. Quando Fidel Castro faleceu, por exemplo, preferi comemorar a possível libertação futura do povo cubano em vez de focar no cadáver de seu algoz.
E por falar em Fidel Castro, como se não bastasse tudo que citei acima, vale dizer que Dom Evaristo Arns chegou foi um admirador declarado do ditador cubano. Em uma carta enviada pelo cardeal a Fidel Castro e posteriormente publicada no jornal cubano Granma, Dom Evaristo Arns escreveu:
Queridíssimo Fidel,
Paz e bem
Aproveito a viagem de Frei Betto para lhe enviar um abraço e saudar o povo cubano pela ocasião desde 30º aniversário da Revolução. […] A Fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor. […] Infelizmente ainda não se deram as condições favoráveis para que se efetue o nosso encontro. Tenho-o presente diariamente em minhas orações e peço ao pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir os destinos da pátria. […] Receba meu fraternal abraço nos festejos pelo XXX Aniversário da Revolução cubana e os votos de um ano novo promissor para o seu país.
Fraternalmente,
Paulo Evaristo Cardeal Arns.”
Perceba que a carta foi escrita em 1988, isto é, quando Fidel Castro somava trinta anos no poder. Democracia? Em 1988 já era tempo de o cardeal perceber que os comunistas cubanos que mandavam na ilha há três décadas não estavam nem um pouco preocupados com democracia. Aliás, era essa a “democracia” que defendiam os dominicanos guerrilheiros os quais Dom Evaristo Arns defendeu com tanta veemência.
A Veja também poderia ter levado em consideração esse outro lado daquele que chamou de “gigante”, não é mesmo?
Viva la Revolución! Descansa en paz, cardenal!




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Plinio Corrêa de Oliveira


Cuba: afinal posso falar






"Catolicismo", nº 463, julho de 1989 - Matéria também distribuída pelo Serviço de Imprensa da TFP com data de 20-6-1989
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Causou geral desconcerto em nosso País a carta que S.E. o Cardeal Arns, Arcebispo de São Paulo, enviou ao "comandante" Fidel Castro por ocasião do trigésimo aniversário da vitória da revolução comunista em Cuba.
Com efeito, não se compreende como a implantação de um regime político e sócio-econômico escancaradamente comunista, que se mantém até hoje sem nenhuma das astutas maquilagens gorbachevianas, e que, portanto, está em contradição frontal com a tradicional doutrina católica, possa ser saudada pelo príncipe da Igreja com as felicitações e os elogios de que é pródiga a missiva do Purpurado ao "comandante".
E igualmente incompreensível é que S.E. haja apresentado a realidade dos fatos em Cuba com cores tão dissonantes do que a opinião mundial tem por verídicas no tocante a pontos essenciais como a liberdade religiosa, a miséria popular e o caráter policialesco da já vetusta ditadura cubana.
Entretanto, enquanto se erguia um concerto de protestos contra a referida carta, preferi calar-me. Pois a voz dos fatos é, em matérias como esta, de importância evidente. E esta voz, só a pessoas que visitaram de modo imparcial a Ilha-presídio, ou que tenham acesso próximo, vivo e contínuo com o que lá se passa, cabia levantá-la pelas tubas da grande publicidade.
Ora, com desconcerto ainda maior para mim, até aqui não me haviam chegado os ecos dessas vozes. E sobre elas se mantinham mudas - tanto quanto eu saiba - as agências noticiosas internacionais.
Essa omissão dos maiores interessados na matéria, isto é, os próprios cubanos, me reduziu ao silêncio. Pois o que fazer em benefício de irmãos na fé que não se defendem a si próprios? Também em relação a eles eu me reportava em espírito à frase de Santo Agostinho que, relativamente aos brasileiros indolentes, mencionei em recente artigo: "Qui creavit te sine te, non salvabit te sine te", ou seja, Deus que te criou sem teu concurso, não te salvará sem teu concurso ("Aviso aos indolentes", "Folha de S. Paulo", 8-5-89).
Mas, enfim, cessou meu doloroso desconcerto. Com efeito, recebi do sempre bem informado e dinâmico TFP Washington Bureau, dirigido pelo meu querido Amigo Mário Navarro da Costa, autorizados e abundantes pronunciamentos de origem cubana, próprios a esclarecer o público brasileiro acerca da triste realidade existente na Ilha abençoada que teve no século XIX por Pastor máximo o grande Santo Antônio Maria Claret, e cuja formosura risonha nosso século celebrou durante décadas designando-a com a alcunha de "Pérola das Antilhas".
Miami, a metrópole da península da Flórida, fica situada à distancia de 125 km de Cuba, e é assim o ponto do território norte-americano mais próximo dessa ilha.
Por isso mesmo, tornou-se ela o ponto de atração de todos os infelizes cubanos que conseguiram escapar à vigilância castrista. E têm eles sido tão numerosos que, com o tempo, transformaram Miami em uma cidade bilíngüe, onde se fala igualmente o espanhol e o inglês, e na qual bilíngües são até os letreiros dos ônibus. Como bilíngües são os meios de comunicação social, pois utilizam uns o idioma inglês e outros o espanhol. Entre esses últimos ressalta, por sua importância jornalística, o "Diario las Américas". Pois foi nas páginas desse cotidiano, em 11 de maio p.p., que deparamos com um documento de alta importância.
Trata-se de uma carta aberta dirigida ao Sr. Cardeal Arns por três Bispos cubanos residentes no exílio, e como tais capacitados para falar com uma liberdade de que os Bispos autenticamente católicos, residentes em países comunistas, não gozam.
Nessa carta, desenvolvem eles de modo respeitoso, mas também evangelicamente franco, toda uma argumentação própria a esclarecer o público sobre quanto dista da realidade dos fatos a descrição que o Purpurado brasileiro faz da liberdade religiosa e civil, bem como da situação econômica em que se acha o povo da Ilha.
Trata-se de um documento que nenhum brasileiro pode ignorar.
Por falta de espaço, deixo de publicar outro documento altamente elucidativo distribuído em folha avulsa à população de Miami. E ele assinado por mais de cem notabilidades cubanas no exílio, e contém uma comedida mas franca manifestação de desacordo em relação à carta enviada pelo Sr. Cardeal Arns ao "comandante".
É este o texto da carta aberta dos três Bispos cubanos (a divisão em subtítulos, bem como os grifos, são de minha responsabilidade):
1 - Por que esta carta pública. - "Dirigimo-nos de público a V.E. por duas razões principais: primeiro porque o motivo que nos leva a escrever esta carta é de ordem pública, tendo sido veiculado na imprensa nacional e internacional; e segundo porque, tendo escrito a V.E. primeiramente em forma privada, não recebemos resposta, depois de haver esperado um prazo de tempo razoável. Nossas anteriores cartas a V.E. foram datadas de 16 de janeiro (Mons. Boza Masvidal) e 23 de fevereiro (Mons. Román e Mons. San Pedro) do corrente ano.
2 - O "Sr. Castro, ditador vitalício de Cuba" por trinta anos. - "O objetivo da presente é sua mensagem de Natal ao Sr. Castro, ditador vitalício de Cuba, por ocasião do trigésimo aniversário de sua tomada do poder. Não vamos repetir o que dissemos em nossa correspondência privada, embora nos permitamos fazer um resumo dos principais pontos que abordamos na mesma.
3 - Êxitos "muito relativos" e "por demais onerosos". - "Dizíamos a V.E. que seria muito longo expor toda a situação do país no que se refere à discriminação, falta de liberdade religiosa etc., e mostrávamos o caráter discutível das conquistas e dos êxitos, porque se fazem, de um lado, com um custo ético e espiritual muito elevado, e, de outro lado, porque são muito relativos (carta de Mons. Boza Masvidal).
4 - Ditadura militar cruel, repressiva e policialesca. - "Também recordamos a V.E. que Cuba sofre, há 30 anos, sob uma cruel e repressiva ditadura militar, num estado policialesco que viola ou suprime continua e institucionalmente os direitos fundamentais da pessoa humana. E entre outras provas desta situação mencionamos as aventuras militares do castrismo que custaram milhões de dólares ao povo cubano e milhares de vítimas a sua juventude (carta de Mons. Román e Mons. San Pedro).
5 - Contestada a assertiva do Cardeal Arns sobre a dívida externa cubana. - "Seria muito longo comentar ponto por ponto todas as assertivas de V.E. na mencionada mensagem, mas consideramos necessário apontar algumas das mais impressionantes. Afirma V.E que "hoje em dia Cuba pode sentir-se orgulhosa de ser, em nosso continente tão empobrecido pela dívida externa, um exemplo de justiça social". Não queremos atribuir a V.E. o que não disse, mas lendo-se esta frase poder-se-ia pensar que Cuba não está, como o restante do continente, empobrecida pela dívida externa. Estamos certos de que V.E. sabe que Cuba tem uma enorme dívida externa não só com os países ocidentais, como também com os países comunistas: segundo os últimos dados disponíveis, esta dívida ascende aproximadamente à cifra de 5,5 bilhões de dólares.
6 - Mordomias opulentas para pequeno grupo de privilegiados - o povo na miséria. - "Quanto à justiça social, da qual V.E. afirma ser Cuba um exemplo em nosso continente, desejamos lembrar que enquanto um número bastante reduzido de altas autoridades do governo desfrutam de todas as comodidades da vida, o povo se vê reduzido ao nível de sobrevivência. Eminência, alguns de nós estivemos, em passado recente, em Cuba, não para discutir como cozinhar camarões e lagostas com o comandante, (ver "Fidel e a Religião. Conversas com frei Betto" pp. 28-29, 33-34), mas para conviver com nosso povo e compartilhar sua angústia e sua dor.
7 - População reduzida à sujeição total equivalente à minoridade. - "Estamos certos de que V.E. não deseja para seu querido Brasil uma situação na qual um número reduzidíssimo retenha irreversivelmente todo o poder político e econômico, dele abusando para seu próprio proveito e para perpetuar-se no poder, enquanto a população em geral é mantida numa situação de sujeição total, equivalente à minoridade. Pergunte, por favor, Sr. Cardeal, a seus amigos que visitam Cuba e freqüentam as personalidades da ditadura, se viram alguma vez qualquer um deles esperando pacientemente com um cartão de racionamento na mão para poder comprar meio quilo de carne a cada nove dias ou duas camisas por ano, como o restante da população.
8 - Uma lição de Paulo VI. - "Diz em seguida V.E. que a fé cristã descobre nas conquistas da revolução os sinais do reino de Deus que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor". Não sabemos por que, ao ler estas frases, nos vêm à mente aquelas outras de Paulo VI nas quais afirma que "a Igreja... rejeita a substituição do anúncio do reino pela proclamação das libertações humanas, e proclama também que sua contribuição para a libertação não seria completa se descuidasse de anunciar a salvação em Jesus Cristo. (Ela)... não identifica nunca a libertação humana com a salvação em Jesus Cristo, porque sabe... que não é suficiente instaurar a libertação, criar o bem-estar e o desenvolvimento para que chegue o reino de Deus" (Evangelii Nuntiandi, nºs 34 e 35).
9 - "Obra de amor" cristão, da qual um milhão de cubanos fugiu espavorida. - "De outro lado, afirmar que as estruturas vigentes em Cuba permitem fazer da convivência política uma obra de amor, é desconhecer totalmente a realidade cubana. Se fosse como diz V.E., por que se deve considerar delituoso tentar escapar dessa convivência política, que se qualifica aqui como "obra de amor"? Por que um país como Cuba, que quase não tinha emigrantes, viu nos últimos 30 anos da ditadura castrista, um milhão de cidadãos abandonarem o país? Por que, no breve espaço de cinco meses, em 1980, 125 mil pessoas se lançaram às costas da Flórida, num êxodo incontrolável? Que deveríamos pensar, Sr. Cardeal, se, em cinco meses, 1 milhão e 100 mil brasileiros procurassem refúgio no Chile?
10 - Rejeitadas pelo Sr. Cardeal Arns informações oferecidas pelos três Srs. Bispos cubanos. - "Cremos, Sr. Cardeal, que V.E. é vítima de sua bondade e bom coração. V.E. não conhece Cuba senão através do testemunho de outras pessoas de sua confiança. Não nos cabe exprimir aqui uma opinião sobre a intenção dessas pessoas ou o conhecimento que elas possam ter da estranheza em face do silêncio de V.E. ante nosso oferecimento fraternal, como irmãos no Episcopado, de pôr à sua disposição outros aspectos da situação em Cuba, que pelo visto V.E. ignora.
11 - A falta de liberdade religiosa "diminui em números absolutos" as vocações sacerdotais e religiosas, e a "assistência à Missa dominical". - "Um desses aspectos que poderia preocupar a V.E. é a falta de liberdade religiosa em Cuba, a qual afeta especialmente os católicos. Esta falta de liberdade, cujos detalhes poderíamos oferecer a V.E. quando o desejasse, se reflete tragicamente nas estatísticas religiosas: Cuba é o único país entre seus irmãos do Caribe, e provavelmente da América Latina em geral, que nos últimos 30 anos viu diminuir em números absolutos a quantidade de católicos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, bem como a assistência à Missa dominical.
12 - Uma informação que não corresponde aos fatos. - "A recente polêmica suscitada por sua carta natalina é uma prova evidente do que estamos dizendo. V.E. pôde responder e fazer todas as declarações públicas que acreditou oportuno fazer, tanto em sua pátria como no Exterior. Que saibamos, os Bispos de Cuba, por seu lado, mantiveram seu costumeiro silêncio. A imprensa atribuiu a V.E. a afirmação de que a mensagem, que pretendia ser confidencial e privada, se tornou pública somente depois que o Sr. Arcebispo de Havana deu seu assentimento. Consta-nos o testemunho de pessoas inteiramente fidedignas de que essa afirmação não corresponde aos fatos. Eminência, não duvidamos de sua veracidade, mas pensamos que uma vez mais V.E. foi vítima de sua confiança e credulidade, confiando em terceiros.
13 - Tomando por base a exortação apostólica "Evangelii Nuntiandi". - "A propósito desta liberdade religiosa nos atrevemos mais uma vez a citar a exortação apostólica Evangelii Nuntiandi: 'Desta justa libertação, vinculada à evangelização, que tenta implantar estruturas que salvaguardem a liberdade humana, não se pode separar a necessidade de garantir todos os direitos fundamentais do homem, entre os quais a liberdade religiosa ocupa um posto de primeira importância' (Evangelii Nuntiandi, nº 39).
14 - Deus afaste do Brasil a trágica experiência cubana. - "Queremos concluir reiterando a V.E. o desejo que exprimimos em nossa correspondência privada: 'Deus queira que seu país nunca tenha que passar pela trágica experiência pela qual nós estamos atravessando'.
"Senhor Cardeal, Paz e Bem. - Mons. Eduardo Boza Masvidal, Bispo em Los Teques; Mons. Agustin Román, Bispo Auxiliar de Miami; Mons. Enrique San Pedro SI, Bispo Auxiliar de Galveston-Houston".


Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/MAN%20-%201989-06-20_Cuba-Afinalpossofalar.htm

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