MOVIMENTOS DE GRUPOS CIVIS E MILITARES SÃO CRIADOS EM TODO O BRASIL, PARA COMBATER O DESGOVERNO DE JOÃO GOULART E A AMEAÇA COMUNISTA
Fichamento da "História Oral do Exército - 31 Março 1964"
por Félix Maier
Devido
à baderna Jango-Brizola nos campos econômico e social, e seu aparato militar a
serviço da indisciplina e insubordinação de militares nas Forças Armadas, desde
1961 houve criação de inúmeros órgãos de combate às pretensões de Jango se
tornar um novo Getúlio – na verdade um novo Kerensky, pois estava alimentando o
dragão vermelho, vale dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a CAMDE, a Arca
de Noé, o MED etc., além de grupos de conspiração formada por militares.
Empresários, militares, escritores e artistas se empenharam em realizar
palestras, lançar livros e filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo
comunista que cada dia era mais forte e evidente. Causou-me surpresa saber que
poucos oficiais-generais, entre os entrevistados, fizeram menção a essas
organizações civis anti-Jango.
Félix Maier
INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS SOCIAIS (IPES)
“Gostaria também de relatar
sobre uma atividade que participei com três dirigentes do Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). O IPES foi um Instituto civil que atuou
muito com o fito de difundir os princípios da livre iniciativa, da propriedade
privada e, também, condenando as reformas de base do Governo de João Goulart.
Junto
com três diretores membros do IPES, o Paulo Ayres Filho, o João Baptista
Leopoldo Figueiredo e o Paulo Reis de Magalhães, formamos uma caixa única com o
objetivo de traduzir quatro livros favoráveis à livre iniciativa. Um deles
chama-se ‘O Caminho da Servidão’, principal livro de Hayek, fundador da Escola
Neoliberal.
Traduzimos
e publicamos esse livro; fizemos uma edição de cinco mil exemplares.
Procedemos, ainda, a tradução e a publicação de mais três livros, tudo à nossa
custa, e distribuímos gratuitamente os quatro livros por todos os quartéis
brasileiros, por todas as universidades brasileiras, por todos os seminários
brasileiros e para todos os jornalistas que tratavam de assuntos políticos.
Quer dizer, eles podiam ser contra, mas não podiam dizer que eram ignorantes.
Esses quatro livros já mostravam o que seria a economia de mercado, que veio
triunfar nos dias de hoje” (Doutor Adolpho Lindenberg, História Oral do Exército – 1964, Tomo 7, pg.
300).
“Atribuo
o início das atividades de defesa da democracia à fundação do IPES (Instituto
de Pesquisa e Estudo Social) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática)
duas instituições que foram criadas por civis com a participação de militares.
Não tive a oportunidade de tomar parte, mas alguns militares foram convocados e
participaram, tentando vender a ideia de que alguma coisa tinha que ser feita.
O ritmo dos acontecimentos estavam se desenvolvendo, principalmente, a partir
da posse de João Goulart, com a renúncia do Jânio, começou a estabelecer uma
enorme preocupação. Havia mesmo civis que estavam pensando em se retirar do
País, achando que não havia mais solução. Um companheiro nosso, contemporâneo,
que chegou aos mais altos postos do Exército, chegou a considerar que estava tudo
perdido, tirou um ano de licença sem vencimentos e foi trabalhar numa empresa
civil. Acreditava que já estava tudo perdido!
Outros
militares, que eram mais politizados, começaram a fazer oposição ao Governo
Goulart que tinha assumido e foram afastados, mandados para as chamadas
Circunscrições de Recrutamento (CR), que passaram a ser, depois, as
Circunscrições do Serviço Militar, as CSM. Por que os mandaram para as CSM?
Porque eram administrativas relativas a Serviço Militar e Mobilização, contando
com um efetivo muito reduzido. Eram oficiais muito politizados, como os irmãos
Serpa. Para Bauru, foi o Golbery, se não me engano, e o Couto e Silva. O Serpa
‘louro’ foi para Sorocaba, o Serpa ‘preto’, que era o irmão mais velho, foi
para o Piauí, o Serpinha – Luiz Gonzaga de Andrada Serpa -, o mais moço e o
mais politizado, foi para Manaus. Esses oficiais merecem todo o meu respeito e
minha admiração. Eles tiveram a antevisão, que eu mesmo admito que não tinha.
Estava voltado para a minhas atividades castrenses, como já disse, para o meu
esporte... Às vezes, achava que eles exageravam, que eles estavam vendo, como
se diz normalmente, ‘chifre em cabeça de cavalo’ ” (General-de-Brigada Celso
dos Santos Meyer, Tomo 10, pg. 128-129).
“Telefona-me
do Rio de Janeiro um senhor chamado Gilberto Huber Filho, responsável pela
impressão das listas telefônicas amarelas, naquela época. Numa reunião social
no Rio de Janeiro ele fazia parte de um grupo que conversava sobre as ameaças
de esquerdização do Brasil: socialização, comunização, a possibilidade de se
chegar a choques, conflitos violentos, guerra civil; era um negócio muito
aterrorizante, na época. Nesse grupo carioca estava o Trajano Pupo Neto, outro
grande amigo meu, que disse a eles: ‘Olhem, não façam nada sem conversar com um
grande amigo lá em São Paulo que é um ‘tarado’ em matéria de liberdade
econômica.’
(...)
E
esse Senhor Huber, como disse, tornou-se um ‘amigão’, chegou no meu escritório
mais ou menos umas 16h e só saiu da minha casa depois da meia-noite. Então, nesse
primeiro encontro, creio que o Huber concorda comigo, nasceu o que veio a se
chamar Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), porque resolvemos que
faríamos alguma coisa nesse sentido: ele com o grupo do Rio e eu com os amigos
de São Paulo.
(...)
Assim,
outras entidades surgiram, também, mas Rio e São Paulo criaram o IPES e o seu
presidente foi o João Baptista [João Baptista Leopoldo Figueiredo]. Em São
Paulo, além do próprio João, contávamos, também, com gente como Paulo Reis de
Magalhães, que foi um grande companheiro, Roberto Pinto e Sousa, enfim, são
tantos que vou fazer a injustiça de nem tentar relacioná-los. No Rio de
Janeiro, junto com o Huber tinha muitos outros companheiros como Harold
Polland, presidente do grupo carioca, Augusto Trajano de Azevedo Antunes,
enfim, muitas pessoas sérias, de nível alto e, sobretudo, de um patriotismo
estupendo.
O
IPES deu início, então, ao seu trabalho e hoje estou tendo o prazer de entregar
aqui, ao Exército, os arquivos do IPES. O do Rio de Janeiro foi doado para a
Biblioteca Municipal, o que achei um erro grave. Aqui não, eles vão ficar
guardados no Exército e vão ser consultados por quem, sem ideia preconcebida,
queira estudar o que foto aquele movimento.
(...)
Por
que o IPES parou? Porque assim que houve a Revolução de 1964, das 440 empresas
que contribuíam para ele – para defendermos as próprias empresas, defendermos o
País, defendermos o interesse brasileiro – foram deixando de fazê-lo. Era uma
tragédia: em cada reunião, dez, vinte, trinta paravam.
Em
1965 e 1966 já se pensava em fechar o IPES. Em São Paulo, em 1967, passou a
hibernar, e, finalmente, fechou em 1968. O do Rio de Janeiro durou um pouco
mais, mas também desviou as atividades. Hão havia, por parte dos empresários,
seja brasileiros ou, muito menos, estrangeiros, interesse em apoiá-lo para que
continuasse realizando aquele trabalho de tão bons resultados.
(...)
Institutos Liberais
Anos
atrás estava voltando a ser panfletário e, por isso, me procuraram para formar
um Instituto Liberal. Não pude aceitar, naquela ocasião. Paralelamente, surgiu
um outro no Rio, liderado por um empresário que se dedicou realmente 100%
àquilo, mas morreu há pouco tempo. Era um sujeito extraordinário; reuniu o
pessoal do IPES e outras pessoas que queriam trabalhar e conseguiu fazer um
Instituto Liberal dedicado exclusivamente à doutrinação e à cultura econômica.
Obteve muito sucesso.
Em
São Paulo, foi formado outro Instituto Liberal. Tive o privilégio de ser
convidado para me aliar a eles e acabei presidente do seu Conselho Consultivo.
Doei ao Instituto a minha biblioteca de economia, tudo sobre mercado. Existem
hoje, pelo que sei, oito institutos liberais no Brasil inteiro. Porém, aí vem a
dolorosa informação: todos, sobretudo o de São Paulo, estão passando pelo mesmo
problema que o IPES viveu – queda de arrecadação e elevação dos custos.
Começa-se a perguntar: para ou não para?” (Doutor Paulo Ayres de Almeida
Freitas Filho, Tomo 7, pg. 381-389).
Obs.
O IPES, o Instituto Brasileiro
de Ação Democrática (IBAD), a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) e as
Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da
Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango, em sua política de implantar
a "República Sindicalista" no Brasil.
Em 2002, fui convidado pelo secretário
executivo do Instituto Liberal de Brasília, professor emérito da Universidade
de Brasília, Nelson Lehmann da Silva – autor do livro A Religião Civil do Estado Moderno –, para participar das reuniões
do Instituto, às quintas-feiras, à noite. O presidente era o embaixador,
professor, pensador e escritor José Osvaldo de Meira Penna, autor de mais de
duas dezenas de livros – cfr. em https://www.amazon.com.br/Livros-Jos%C3%A9-Osvaldo-de-Meira-Penna/s?rh=n%3A6740748011%2Cp_27%3AJos%C3%A9+Osvaldo+de+Meira+Penna.
O IL de Brasília fechou em 2004, assim
como muitos outros no País inteiro, por falta de patrocínio. Herdei cerca de 20
livros do IL, versando principalmente sobre Economia e Liberdade, como O Caminho da Servidão, de Friedrich F.
Hayek.
Nelson Lehmann faleceu em 2011.
Meira Penna faleceu em 29 de julho de
2017, aos 100 anos de idade.
F. Maier
ADENDO:
(não consta da “História Oral do
Exército – 31 Março 1964”)
Para tirar o PT do governo,
tiveram importante papel nessas manifestações grupos diversos, como Movimento
Brasil Livre (MBL), Patriotas, #NasRuas etc., que convocavam as pessoas por
meio das redes sociais.
Desde 1961, por ocasião da
renúncia de Jânio Quadros, até o Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de
1964, houve também movimentos diversos que se uniam para combater a subversão
político-social instalada no Brasil pela dupla baderneira Jango-Brizola, como
IPES, IBADE, CAMDE, Cruzada Democrática, Arca de Noé, entre outros, que
ajudaram a derrubar o governo de João Goulart – como visto acima, no presente
fichamento.
Sobre o IPES, IBAD e CAMDE, leia os verbetes
de meu trabalho “Arquivos I – Uma História
da Intolerância”, disponível em http://felixmaier1950.blogspot.com/2020/06/arquivos-i-uma-historia-da-intolerancia_78.html
IPES
-
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais: fundado em 1961 no Rio de Janeiro
pelo coronel Golbery do Couto e Silva e um grupo de empresários anticomunistas,
dispostos a readequar e a reformular o Estado brasileiro. Tinha por objetivo
criar barreiras intelectuais contra a propagação das ideias marxistas durante o
governo João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os
governos militares pós-1964. “No setor privado, destaca-se o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), fundado em 1961. O Ipes é geralmente
associado à conspiração para depor o presidente João Goulart, mas a sua
contribuição foi relevante para as reformas. Na verdade, o Ipes apoiou uma
série de estudos sobre problemas estruturais da economia de que participaram
muitos especialistas, entre os quais Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e
Delfim Netto” (Maílson da Nóbrega, in “Há esperança”, Veja no. 2459, 6/1/2016).
O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva
para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango
e sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil. O IPES passou
a existir oficialmente no dia 29/11/1961 (Jânio Quadros havia renunciado em
agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por
diversos órgãos da imprensa, como o Jornal
do Brasil, O Globo, O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do
Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São
Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte,
Curitiba, Manaus e outros centos menores. O IPES foi formado pelo trabalho do
empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional
Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto
Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva,
como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais
famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES (assim como do IBAD e do
CONCLAP) foram lançadas no final do governo JK, cujos excessos inflacionários
geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e
durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram
grandes esperanças. O IPES produziu em torno de oito filmes, para alertar os
desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean
Mazon e Carlos Niemeyer. Escritores de peso do IPES foram Nélida Piñon, Rachel
de Queiroz e José Rubem Fonseca, autor de Feliz
Ano Novo; segundo Fonseca, o “IPES
buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores
democráticos” (AUGUSTO, op. cit.). “Somente
nas ações contra o regime, despendeu o equivalente a 100 milhões de dólares,
fortuna bancada com doações de centenas de grandes e megaempresários
brasileiros e estrangeiros. O número de corporações americanas que apoiaram
financeiramente a entidade chegou a
IBAD -
Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD era uma organização
anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens
empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o Instituto
de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Entre eles,
Gilbert Huber Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana,
Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para a criação do
Instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e
norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e
possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil. A ação do IBAD era
baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país
através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD,
foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas
Promotion. Esta era subsidiária daquele Instituto, financiada por capital
norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação do american way of life. Os métodos
utilizados pela agência foram herdados do Office
of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). O IBAD criou e
incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital
e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições
legislativas e para o governo de 11 estados. O IBAD e o IPES financiaram,
produziram e difundiram uma grande quantidade de programas radiofônicos, de
televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista. As duas entidades
contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição
ao governo João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito
do contragolpe militar de 1964. Muitas das radionovelas, filmes de cinema e
programas de televisão da época tinham mensagens explícitas e implícitas a
favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de
produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média
brasileira a expressão “anos dourados”. Em Minas, articularem-se com o IBAD o
Pe. jesuíta João Cândido de Castro e o deputado Bonifácio de Andrada, líder do
governo Magalhães Pinto na Assembleia Legislativa, onde organizou a ADEP. O
IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a
participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. O
deputado Rubens Paiva (PTB) era um dos integrantes dessa CPI e teve seu mandato
cassado no dia 10/4/1964. Membros do IBAD queimaram alguns documentos
comprometedores visando dificultar as investigações, porém foram comprovados
investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20/12/1963, o IBAD foi
dissolvido pelo Poder Judiciário. No dia 20/1/1971, Rubens Paiva foi
sequestrado em sua residência do Rio e, desde então, foi dado como
desaparecido. Documentos em posse do antigo comandante do DOI-CODI/Rio, coronel
Júlio Miguel Molinas Dias, executado no dia 4/11/2012 com 15 tiros em Porto
Alegre em situação não esclarecida pela polícia, comprovam que Rubens Paiva
ficou preso no DOI-CODI. A documentação, que inclui uma relação de itens
particulares do preso, foi entregue por Tarso Genro, governador do RS, à
Comissão Nacional da Verdade em 27/11/2012.
CAMDE -
Campanha da Mulher pela Democracia: criada pouco antes das eleições de 1962,
sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de
Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o
Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’
por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam
o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in Interest, Conflict and Political Change
in Brazil, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE
era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com
Deus pela Liberdade”, no dia 19/3/1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São
José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o
fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à
revolução de 31/3/1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de
manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares
nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu
discurso dizendo: “Nós louvamos, nós
bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”. As mulheres do
CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição,
uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o
precederam” (O Estado de S. Paulo,
12/4/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964,
além da CAMDE: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica
Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC);
Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado
por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O
Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria
Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias
Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família
(CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR);
Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.
F. Maier
MOVIMENTO ESTUDANTIL DEMOCRÁTICO (MED)
“Nos idos de 1963, época em que cursava o
2º. Ano do Curso Colegial, no Colégio Dante Alighieri, aqui em São Paulo, foi
organizado por um pugilo de colegas, um movimento chamado Movimento Estudantil
Democrático (MED). Os colegas, de quem me recordo, Rafael Boschesi, filho de um
antigo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e Moacir
Porfírio, orientados por nosso saudoso mestre de Português, à época, Professor
Francisco Sodero, organizaram o movimento. Possuía dois campos de ação, um de
ordem cultural e outro de ordem eminentemente política.
Qual o sentido desse movimento? Por que
foi organizado?
Porque o Brasil caminhava, tudo levava a
crer, para um momento de forte confronto, naqueles tempos de enorme agitação em
nosso País: agitação cultural, agitação política, agitação econômica e, é bom
recordar, também, agitação militar – em 1963, o Presidente João Goulart
compareceu a uma solenidade da Marinha e, praticamente, incitou a tropa contra
seus respectivos comandantes. O confronto viria entre os grupos que,
praticamente, detinham o Poder, homens da extrema esquerda, e os que queriam
evitar que o País caísse totalmente nessa linha política.
Daí a razão desses cursos e conferências,
digamos, preparatórios, para os estudantes que estavam em fase de conclusão de
seus respectivos cursos colegiais e entrando nas faculdades, que, de uma
maneira geral, eram verdadeiros ninhos de subversão sob orientação da União
Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Estadual de Estudantes (UEE).
Tentava-se algum exercício democrático,
um preparo de ideias democráticas para podermos enfrentar os colegas
esquerdistas, estes sim, que já vinham tremendamente preparados pelo pessoal da
extrema esquerda. Em outras palavras, esforçávamo-nos para que os demais estudantes
não caíssem presas fáceis nas mãos das hostes comunistas. Naquela época, se
usava muito essa expressão ‘comunista’, ‘esquerdista’. Aparentemente, hoje,
esses termos estão fora de moda, mas talvez não estejam tão fora de moda assim;
muda-se a forma, mas não se altera o conteúdo.
O MED, movimento de reação democrática,
parecia muito promissor e eram convidadas para falar pessoas ilustres do nosso
meio jurídico. Recordo-me, por exemplo, do Dr. José Carlos Graça Wagner,
advogado de grande renome, excelente conferencista, do Dr. Ives Gandra Martins,
outro advogado de muita respeitabilidade, e que, também, fazia suas
conferências, suas palestras, e do Dr. Francisco Albuquerque, então integrantes
do Partido Liberal, dentre outros.
Lamentavelmente, este movimento encerrou
suas atividades. Assim, chegamos ao 3º. Ano do Curso Colegial, às portas de
entrarmos na faculdade, sem essa preparação.
Nessa ocasião, eu e mais um punhado de
outros colegas, integrantes do antigo movimento, fundamos um novo, nas mesmas
bases, que se chamou Associação Democrática Estudantil de São Paulo (ADESP)”
(Doutor Antônio Carlos Adler, Tomo 7, pg. 318-319).
ASSOCIAÇÃO DOS HOMENS LIVRES
“A AD/6 estava sem General Comandante e o
Coronel Paula Couto a comandava interinamente. Por sua posição anticomunista
claramente definida, estava preocupado com o crescimento dos movimentos de
esquerda. A principal ameaça provinha dos ‘grupos dos onze’ do Brizola que se
organizavam em todo o Estado [RS]. Para contrabater os tais grupos, ele criou a
Associação dos Homens Livres.
Parecia até que, no início de 1963, Cruz Alta tornara-se um reduto de oficiais
ligados a uma conspiração contra o governo. Essas precauções e a atuação
democrática junto à população civil tiveram depois, em março de 1964, efeito
muito positivo. Esse era o quadro da Guarnição” (General-de-Exército Décio
Barbosa Machado, Tomo 13, pg. 91).
LIGA DE DEFESA NACIONAL
“No meio civil, destaco algumas pessoas
que colaboraram conosco. O Dr. Apodyr Almeida de Oliveira, representante da
Liga de Defesa Nacional na cidade. Foi um homem com quem me liguei
permanentemente desde que cheguei em Pelotas. Nunca duvidei do seu sentimento
patriótico. Advogado, não exercia cargo público, coisa rara. Era dedicado à
Liga de Defesa Nacional, onde eu o auxiliava. Também o Dr. Edmar Fetter,
Prefeito municipal, nos deu apoio antes, durante e depois da eclosão do
movimento, e ainda um radioamador que servia de ligação entre a minha pessoa e
o Etchegoyen (Léo Guedes Etchegoyen) – perdi o nome, é uma das minhas mágoas.
Tínhamos uma rede-rádio de radioamadores que, mediante palavras-código,
aparentemente sem importância, estávamos ligados: ‘Como vai o futebol? E o teu
time? Já tens novos reservas?’ Parecia só brincadeira, mas sabíamos do que
estávamos falando. Cito também o repórter Mário Emílio de Menezes, que hoje
mora em Porto Alegre. Trabalhou muito na Liga de Defesa Nacional e tem muito
para contar.
(...)
Entre os militares da Guarnição
destacavam-se: o Major Scarone (Cid Scarone Vieira), meu braço direito na
Revolução; o Major Prates (Paulo Sylvio Prates); o Tenente ou Aspirante Suppa
(Mário Ângelo Suppa Thomaz Pereira), foi um grande auxiliar que tive. Como
Aspirante ele até corria risco, proque eu, se me mandassem embora, iria
promovido com todas as vantagens, mas o pobre do Aspirante.
Destaco, ainda, o Major Lúcio (Lúcio
Madeira Guimarães), que era Assistente na ID/3, trabalhava ligado ao Coronell
Joaquim. A ID não tinha oficial de Estado-Maior. Eram só o Comandante, o
Assistente e dois oficiais do Quadro Auxiliar de Oficiais, por sinal,
excelentes; um deles – o Cavalcanti (Humberto Pessoa Cavalcanti) – faleceu há
pouco tempo.
Convém deixar aqui registrado que houve
unanimidade por parte dos demais oficiais e praças da Unidade em apoiar o Movimento.
Não tivemos defecção. A partir do momento que o Regimento disse que estava a
favor da Revolução, nenhuma voz discordante se apresentou” (General-de-Brigada
José Mattos de Marsillac Motta, Tomo 13, pg. 109-110).
EDUCANDO PARA A DEMOCRACIA
“Uma organização que nos ajudou muito foi
a ‘Educando para a Democracia’, cuja história retrato no artigo ‘O acordar dos
militares’. Cortamos todo o Rio Grande pregando Democracia para os estudantes
do 3º. Grau. Era uma linha intelectual que reunia homens como: o Galeano
Lacerda, desembargador, hoje está aposentado; o Hugo di Primio Paz, professor
da UFRGS; o Clóvis Stenzel, psicólogo e advogado, foi líder da Arena no
Congresso; a Ecilda Haenzel, advogada, cujo marido, o médico José Mariano
Haenzel, já morto, foi quem me possibilitou não embarcar para Ipameri e ficar
resistindo aqui. Um colaborador de peso foi o José Otão, reitor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), que nos possibilitou
organizar a ‘Educando para a Democracia’, que nasceu dentro da PUC” (Coronel
Pedro Américo Leal, Tomo 13, pg. 246).
“Os ‘janguistas’ me anularam, mas me
vigiavam. Sabiam que eu tinha proteção da Junta [Médica], através do seu
presidente e do Mariano Haenzel, que emitiu um atestado para meu filho – na
verdade, ele sempre foi profundamente asmático. Tudo isso era uma articulação e
logo depois que iniciei a Licença para Tratamento de Saúde de Pessoa da Família
(LTSPF), senti que fui esvaziado.
Eu, o Léo Etchegoyen, o Lauro Rieth, o
Sommer de Azambuja e o Comandante do 2º. Regimento de Reconhecimento
Mecanizado, o Admar Borges Fortes da Silva; nós cinco fomos transferidos. O
Sommer de Azambuja e o Lauro Rieth solicitaram transferência para a reserva;
não sei se o Etchegoyen chegou a ir para Santo Ângelo; eu não fui e o Coronel
de Cavalaria, irmão de um jornalista do Correio do Povo, não sei o que se
passou com ele. Fiquei uns dois ou três meses completamente isolado, porque
quem falasse comigo era identificado e ficava marcado” (Coronel Pedro Américo Leal,
Tomo 13, pg. 248).
GRUPO DE AÇÃO PATRIÓTICA (GAP)
“Fiz a Revolução com 19 anos, liderando
um movimento de jovens do Grupo de Ação Patriótica – GAP – que se opunha à
representação da União Nacional dos Estudantes (UNE), dominada por comunistas.
Nossa atuação está registrada em muitos autores e os jornais da época destacam
a presença do GAP em atos públicos de defesa da ordem e dos valores mais
expressivos e conservadores da sociedade brasileira.
O nosso Grupo, que atuava principalmente
no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em São Paulo, era composto, basicamente,
por jovens estudantes, tendo por programa de ação o combate às reformas
comunizantes de Brizola e Goulart; ao sistema de representatividade da classe
estudantil, adotado na União Nacional dos Estudantes e na União dos Estudantes
do Ensino Secundário (UEES); à encampação de refinarias; à ocupação de
postos-chave da administração na Petrobras, no Departamento de Correios e
Telégrafos, na Rede Ferroviária, nos Portos etc. por elementos comunistas; à
influência desmedida dos dirigentes sindicais nos destinos do País; à censura à
palavra de políticos da oposição, como Amaral Neto, Carlos Lacerda, Raimundo
Padilha e muitos outros, no rádio e na televisão; à omissão governamental
diante das greves e das agitações permanentes, de caráter político e
subversivo.
Os jovens tinham como referência maior o
trabalho desenvolvido pelo Almirante Sílvio Heck, Ministro da Marinha no
Governo Jânio Quadros, para fugirem a uma identidade partidária, de vez que
eram muitas as lideranças políticas que se opunham a Goulart, como os
governadores de Minas, Magalhães Pinto, de São Paulo, Adhemar de Barros, e da
Guanabara, Carlos Lacerda, todos candidatos em 1965, e o grupo de JK, do PSD,
onde muita gente se contrapunha ao Presidente.
O GAP se integrou a entidades formadas
por empresários, mulheres, militantes católicos, militares da reserva,
ex-líderes estudantis, para se opor à pregação revolucionária das esquerdas,
que encontravam acolhida no Governo Goulart, bem como ao grevismo político que
fazia parte do cotidiano do País.
(...)
O Brasil é quase todo o continente, e
para onde se inclina, a América Latina tende a seguir, como bem disse o
Presidente Nixon. Os EUA não tolerariam uma Cuba do tamanho do Brasil. Nem do
Chile, salvo por uma das mais impressionantes e completas personalidades
históricas de nosso tempo, o General Augusto Pinochet, um grande amigo do
Brasil, que nos visitou várias vezes como Presidente e, depois, como mero
turista. Este forma com o General Franco, de Espanha, a dupla de grandes
benfeitores do Ocidente, tratados com tanta ingratidão e maior desonestidade no
que tem sido publicado. Foram eles que infringiram as maiores derrotas ao
comunismo no século XX.
A bibliografia é rica em confirmar o
empenho da União Soviética em agitar a situação política e social no Brasil, na
América Latina, insistindo na violência no campo, na dominação da mídia e do
meio intelectual. A Igreja e as Forças Armadas eram prioridades do comunismo
desde a década de 1940. Afinal, as grandes derrotas do comunismo se deram no
final da década de 1930 com a Guerra Civil da Espanha, em meados da década de
1960 com o Brasil e de 1970 com o Chile. Em todos os três casos, a mão
comunista – com base na Rússia principalmente – era visível e os bons
resultados da reação no campo social e do desenvolvimento econômico foram duros
golpes. As bases do progresso da Espanha, do Chile e do Brasil são devidas a
Franco, Pinochet e aos nossos generais-presidentes, especialmente Castello,
Costa e Silva, Médici, e João Figueiredo. A única vitória do comunismo
importante foi a Revolução dos Cravos, em Portugal, que acabou por permitir uma
independência sangrenta em Angola e Moçambique, territórios que estavam
marchando para uma solução de alto nível, com base na lusitanidade, em algo que
se parecesse com a do Brasil que foi proporcionada por um rei de Portugal, na
ocasião príncipe-herdeiro. Mas a cobiça comunista das riquezas de Angola,
principalmente, falou mais alto, não contando apenas com a reação de uma parte
não comunista, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), que
sustentou uma guerra violenta por mais de 25 anos, com grande número de
mutilados. Uma tragédia, em que o Brasil agiu de forma omissa no governo Geisel
e, daí, em diante.
(...)
A partir daí, a prioridade dos soviéticos
foi a infiltração entre militares e religiosos. No Brasil, não poderia ser
diferente. Os militares sofreram de tal maneira a infiltração, que tivemos,
pouco antes da Guerra da Espanha, a Intentona de 1935 e, em 1964, a nossa
Revolução precisou retirar, de forma autoritária de suas fileiras, mais de
quatro mil militares sob suspeição de tolerância com o comunismo, número muito
maior do que o de afastamento no funcionalismo civil, por exemplo. A Igreja, por
sua vez, foi muito usada pelos radicais da luta armada e pela influência que os
temas políticos passaram a ter na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB). O saldo desta militância de esquerda de parte do clero abriu as portas
do Brasil para seitas ditas cristãs, que acabaram se tornando verdadeiros
negócios e comitês eleitorais, a chamada ‘bancada evangélica’.
(...)
Ao ser fundado em junho de 1962, o GAP
firmou convênio com a Aliança Democrática Brasileira e o Centro José Bonifácio,
organizações democráticas de São Paulo, presididas pelos estudantes Waldo
Domingos Claro e Fânio Sandoval, e formou um núcleo em Juiz de Fora, dirigido
pelo universitário Marcos Ventura de Barros.
(...)
Não tendo vinculação com qualquer
partido, o GAP aceitava, de bom grado, a colaboração e a adesão de todos os
verdadeiros patriotas, independente de onde viessem ou estivessem.
De nossa Carta de Princípios, constava a
defesa intransigente do regime democrático, da família, da Igreja, da
propriedade e da iniciativa privada.
(...)
Hélio Silva recorda os Comícios pela
Democracia, realizados pelo Deputado Amaral Neto, com a presença de parlamentares
de todo o País, membros da Ação Democrática Parlamentar, nos quais pregávamos,
em praça pública, a reação ao Governo. Nesses comícios, realizados semanalmente
em várias cidades, coube-me sempre falar em nome dos estudantes democratas como
presidente nacional do GAP.
Lembra o escritor que me cabia, através
da Rede da Democracia – cadeia de emissoras de rádio que se opunha à cadeia da
legalidade, de Leonel Brizola – falar, semanalmente, na qualidade de Presidente
do GAP, recomendando, inclusive, a mobilização armada contra os camponeses de
Francisco Julião e os elementos dos Grupos dos Onze, de Brizola.
A participação da rapaziada do GAP,
relembra o escritor, estava intimamente ligada ao grupo conspirador liderado
pelo Almirante Sílvio Heck. Por algumas
vezes, realizamos transporte de armas de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Chegamos, inclusive, a trazer metralhadoras em malas e em ônibus da viação
Cometa. Este transporte e movimentação de
armamento foi uma vez estourado pela Polícia do Exército, mas eu e mais dois
companheiros conseguimos escapar na própria estação rodoviária.
Em consequência desta ação, a sede da
entidade Ação Vigilante do Brasil, na Rua 1º. de Março, no Rio de Janeiro, foi
invadida e interditada, assim como um sítio em Jacarepaguá, onde o Governo
apreendeu as armas. Por sorte, o Inquérito Policial Militar (IPM) que o
Ministro da Guerra instaurou foi confiado ao General Idálio Sardemberg. Como a
imprensa janguista insistia em citar Heck, além de citar-me juntamente com o
GAP, tomei a iniciativa de procurar pessoalmente o General Sardemberg, em sua
casa, na Rua Souza Lima. Na conversa que mantive com ele, aleguei que o
movimento distribuía livros, combatia a UNE etc. e que o noticiário dos jornais
era maldoso. O General Sardemberg me ouviu e por fim disse-me: ‘Sei que as
coisas não são bem como você diz, mas elogio o seu civismo e peço levar ao
Almirante Heck minhas palavras de tranquilidade. Vocês não serão incomodados’.
(...)
Lembro-me de que, no final de 1962, logo
após o Almirante Sílvio Heck deixar o Quartel Central do Corpo de Fuzileiros
Navais, onde se encontrava preso, formamos um grande cortejo de automóveis
integrado por delegações de diversas entidades, entre as quais a nossa – o
Grupo de Ação Patriótica – e muitas outras, como a Frente da Juventude
Democrática, a Ação Vigilante do Brasil, a União Operária Camponesa do Brasil,
o Movimento Estudantil Católico, o Movimento Estudantil Marítimo, a Aliança
Democrática Popular etc.
(...)
A primeira operação conjunta foi a
distribuição de livros e folhetos em fábricas e colégios da Guanabara, São
Paulo de Minas Gerais. Distribuímos, inicialmente, três livretos: ‘Depoimento
sobre a Rússia’, mais de seis mil exemplares, de Nascimento Brito, Diretor do Jornal do Brasil; ‘Estopim da Fraude’,
de Waldo Domingos Claro, presidente da Aliança Democrática Brasileira; e ‘UNE,
Instrumento da Subversão’.
Numa ação continuada, conseguimos, ainda,
distribuir mais de vinte mil livros de esclarecimento popular, alcançando maior
destaque ‘Um Engenheiro Brasileiro na Rússia’, de John Cotrim; ‘Estudantes
Brasileiros na Tcheco-Eslováquia’, de Ronaldo Pereira Rodrigues, que fora
Secretário da UNE; e ‘Condição Humana da China Comunista’, de Suzanne Labin.
(...)
A Cadeia Radiofônica da Democracia
iniciou suas atividades no final de outubro de 1963, liderada pelas Rádios
Tupi, Globo e Jornal do Brasil, com a
participação no primeiro programa de João Calmon, Roberto Marinho e Nascimento
Brito, diretores das emissoras que encabeçavam a Cadeia” (Jornalista
Aristóteles Drummond, Tomo 9, pg. 144-158).
Obs.:
As grandes derrotas dos comunistas
ocorreram na Espanha, no Brasil e no Chile. Nem por nada que o General
Francisco Franco, o General Emílio Garrastazu Médici e o General Augusto
Pinochet são demonizados por toda a esquerda mundial, que tenta apagar a
história desses heróis nacionais, removendo estátuas, retirando nomes de
logradouros públicos e até exumando o cadáver de Franco, para retirar seus
restos mortais do Valle de los Caídos.
Sobre a Guerra Civil Espanhola, leia
textos em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/09/guerra-civil-espanhola-75-anos-depois.html.
F. Maier
AÇÃO DEMOCRÁTICA PARLAMENTAR (ADEP)
“Dia a dia, eu e meu pai sentíamo-nos na
obrigação de tomar posição favorável ao movimento contra João Goulart. Meu pai,
Deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada me chamou para vir a Brasília e
disse que o Deputado João Mendes tinha organizado uma frente parlamentar
poderosa, a Ação Democrática Parlamentar (ADEP), para defender a democracia
contra qualquer manobra que surgisse. A ADEP realmente reuniu deputados da UDN,
quase todos do PSD, também do PTB e de outros partidos da Câmara dos Deputados.
Conversei com o João Mendes e ele disse: ‘Bonifácio, você podia organizar a
ADEP em Minas. Temos o apoio do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação
Democrática), instituição não ligada a nós diretamente, mas que está muito
preocupada com o avanço da esquerda no Brasil. É um grupo poderoso de
industriais brasileiros dispostos a apoiar financeiramente o combate ao
comunismo’.
Essa foi a informação que recebi sobre o
IBAD. Ele disse mais: ‘Você lá em Minas, além da direção da ADEP na Assembleia,
como também vou me comunicar com os dirigentes do IBAD, poderá fazer contato
com eles.’ O professor Ivan Hassolocher, segundo me disse, era o presidente do
IBAD. Respondi: “Deputado João Mendes, esse negócio de dinheiro do IBAD é algo
com que não gosto de lidar. Nesse caso, lá em Minas, há uma figura muito
interessante, Padre jesuíta José Cândido de Castro, que está também muito
atemorizado com os movimentos de esquerda no País e poderá gerenciar esta área,
com garantia de correção.’ Nesse episódio, preferi que tudo se articulasse com
ele, porque todos ficariam seguros de que não haveria nenhuma hipótese de
desvio de dinheiro. Realmente, não cuidei desse setor. O Padre Castro
articulou-se com o IBAD e passou a ser o responsável por essa área, em Minas. E
mantinha contato comigo. Organizei a ADEP na Assembleia Legislativa, que logo
recebeu o apoio de quase todos os deputados mineiros. Lançamos um manifesto
nesse sentido” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pg. 67).
CRUZADA TIRADENTES
“A determinação era muito grande. Acho
que uma pesquisa, antes que desapareçam os dados, precisa ser mais bem-feita
sobre aquela fase e sobre o ambiente psicossocial de Minas Gerais. Recordo-me
bem da Cruzada Tiradentes, de um Padre interiorano. Não me lembro direito da
figura dele. Esse Movimento andava pelo interior de Minas, em grupos enormes,
organizados para apoiar o Cristianismo contra o Comunismo. Era um movimento
altamente significativo. Estive também com grupos sindicalistas desejosos de
participar. Os meios empresariais, da mesma forma. O movimento feminino era
poderoso, desfilando nas ruas por Deus e pela Pátria. Quer dizer, é preciso
caracterizar bem que esse 31 de Março de 1964, em Minas Gerais, fou uma reação
vigorosa do seu povo para depor o pró-comunista João Goulart. No dia 31 de
março, a vitória das forças mineiras, da maioria do povo de Minas, inegável e
decisivamente contribuíram, até além das Alterosas, para que as Forças Armadas
ocupassem o Poder e iniciassem a institucionalização do movimento
revolucionário” (Deputado Federal Bonifácio de Andrada, Tomo 15, pgl 76-77).
MANIFESTO DOS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS, COM SOBRAL
PINTO
“O ambiente nacional exigia providências
emergenciais. No campo, havia uma violência muito grande. Os brasileiros não
mais se sentiam seguros. E ainda se apresentava a anarquia institucional: os
deputados a fazerem leis apenas compatíveis com a ideologia que cada um
adotava. Em 1963, falava-se abertamente de uma república sindicalista.
No primeiro trimestre de 1964,
quatrocentos ou mais professores universitários, tendo à frente a figura
grandiosa de Sobral Pinto, divulgaram um manifesto, criticando a complacência
do Governo e pedindo soluções. O cardeal do Rio de Janeiro fez um alerta sobre
a eclosão possível de uma revolução popular. À época, eu era juíza de Barbalha
e, ouvindo a Rádio Mayrink Veiga, mesmo como juíza, era difícil entender se o
Governo estava dentro da legalidade ou se o povo estava com a ilegalidade. Com
o manifesto dos professores universitários, pude, então, compreender que o
Governo se posicionava do lado das esquerdas” (Desembargadora Águeda Passos
Rodrigues Martins, Tomo 12, pg. 244).
CRUZADA
DEMOCRÁTICA
“Em 1950, os comunistas
conseguiram infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer
proselitismo da sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas
e democratas para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se
denominou Cruzada Democrática.
Não podendo utilizar as
dependências do Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente,
na Federação de Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos
Oficiais Reformados e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República,
197, no Rio de Janeiro: a Casa de Deodoro.
(...)
Em meados de 1962, nos
reuníamos rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro,
participando das reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos
oficiais da reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves,
Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).
(...)
Fazíamos reuniões com outros
companheiros, no porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila
Militar, em Marechal Hermes, numa academia de judô.
Conseguimos, enfim, realizar
a tão esperada assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença
de quase dois mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua
maioria oficiais, audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se
para falar e abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso
que um companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro,
tomasse o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos
gritos, os expulsassem do recinto.
Nessa assembleia, os irmãos
Torres de Melo (Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo
Filho) falaram de forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da
dignidade da classe militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos:
Artur, no Forte de São João, e o José, no Forte Rio Branco” (Coronel Edgar
Maranhão Ferreira, Tomo 6, pg. 107-108).
“Inicialmente muito tímido,
o Clube Militar, com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à
presença de oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o
Clube Naval e o Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na
preparação do Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada
Democrática’, que reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele
momento nacional. Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur
Torres de Melo, então major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis
Arnizaut de Matos, Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí
confabulávamos sobre a situação do País, sobre o que deveria ser feito e como.
Motivado pela ‘Cruzada Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar
promoveu uma grande reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo
General Magessi da Cunha Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do
IME, compareci a essa reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um
pronunciamento contra o estado de coisas reinante, imputando as
responsabilidades ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Os dois discursos,
por sua veemência, valeram-nos trinta dias de prisão para cada um, dados pelo
Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os oficiais mais
jovens, não arrefecemos e continuamos nessa batalha, sem sabermos qual o
pensamento dos nossos chefes” (Major José Ramos Torres de Melo Filho, Tomo 4,
pg. 236-237).
ARCA
DE NOÉ
“Idealizada pelo então
capitão dos Portos [do Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos
sábados reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca
de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o
contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a
tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais:
estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia,
inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As
reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’
passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união
entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional”
(Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio - Tomo 4, pg. 226).
“Por intermédio da
Associação ‘Arca de Noé’, colaboramos com importante trabalho de
conscientização anticomunista em instituições locais.
No mês de fevereiro de 1964,
fui preso pelo Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente João Goulart) por vinte
dias, no quartel do 23º. BC, e transferido, a bem da disciplina, por ter
determinado a distribuição de folheto, divulgando informações de trabalho
anticomunista em algumas instituições. O fato teve grande repercussão na cidade
e em várias guarnições do Exército. Antes de seguir destino, recebi várias
homenagens de militares e civis, voltando mais tarde para receber os títulos de
cidadão cearense e fortalezenense, qua guardo até hoje” (General-de-Brigada
Helio Duarte Pereira de Lemos, Tomo 1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI,
o general Lemos participou da apuração dos fatos realizados pela PF contra o
governador de Goiás, Mauro Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas
corpus ao político, por unanimidade.
“No Ceará, participamos de
algo muito interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já
morreu – quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o
Coronel Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os
sábados nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava
uns aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias.
O resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado
brasileiro em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam
que o Brasil não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela
ação psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião
pública” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).
“Destaco, também, a Arca de
Noé, cujo significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de
Noé bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que
acolhia, harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas
de diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela
se deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias
anarquistas vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período
vivido, pouco antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964”
(General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).
“Quando o Sr. João Goulart
assumiu a Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não concordarem
com o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir fielmente o
movimento comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes custou prisão e
transferência. No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a totalidade dos
seus componentes não se intimidou diante das ameaças. Eu estava servindo lá,
nessa época. O Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos, antecipou-se aos
acontecimentos, junto com a sociedade, preparando-se materialmente e com
pessoal para combater o governo central. Foi criada, nessa época, uma entidade
civil chamada ‘Arca de Noé’, idealizada pelo então Capitão dos Portos, o
Comandante Fernando Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com pessoas de
todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a
união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento comunista,
que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos
representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados,
juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de
sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram
início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica.
Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o
combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães
Sampaio, Tomo 4, pg. 226).
GRUPO
ÁGUIA BRANCA E “OPERAÇÃO MARIMBONDO”
“Muito pouco contato tive
com o General Mourão; convivi mais com o Bragança – o Coronel Bragança – que
teve um irmão assassinado em 1935. Esse não era anticomunista, ele era mais do
que anticomunista; a coisa era pessoal, era uma declaração integral contra o
comunismo, porque perdera...
Perdera
o irmão em 1935? Era tenente o irmão dele? [entrevistador]
Era tenente, assassinado
pelos comunistas. O Bragança nunca esqueceu esse fato. Ele foi, realmente, um
elemento de ação – foi contra o populismo do Getúlio, foi contra o Juscelino,
foi contra o João Goulart – um anticomunista sistemático. O Bragança, na década
de 1960, uniu-se a uma rapaziada, formada de estudantes de Belo Horizonte, o
grupo dos ‘Águia Branca’, participando de uma série de episódios para calar os
comunistas na base da pancadaria.
O Brizola e seu pessoal
queriam realizar um comício em Belo Horizonte, mas o Governador Magalhães
Pinto, a polícia, não autorizavam comícios. Fizeram, então, uma reunião, uma
famosa assembleia, no auditório da Secretaria de Administração, alguma coisa
assim, lá em Belo Horizonte. Era um auditório muito grande para a época, e o
certo é que o Bragança e seu grupo entraram lá e bateram no Brizola, bateram na
mulher do Brizola, foi um inferno, acabaram com a tal a Assembleia ‘a tapa’.
Depois disso, marcou-se um
comício com presença do Jango – interessante, aqui no Rio, o Comício da Central
do Brasil. Lá, em Belo Horizonte, antes, realizaram um comício na Praça da
Estação. O Jango chegou de trem para o tal comício. E a turma Águia Branca fez
a Operação Marimbondo, que consistiu em levar, em sacos plásticos, marimbondos
que foram soltos na hora do comício, dispersado a turba que viera para
participar do comício. Isso é coisa que entra para o folclore político, mas que
aconteceu realmente.
O Mourão, promovido a
general, foi outro que, em todos os lugares por onde passou, fez uma campanha
sistemática anticomunista. Ele falava diretamente aos seus oficiais, aos seus
subordinados, em todos os lugares onde comandou” (Coronel Luiz Carlos Carneiro
de Paula, Tomo 9, pg. 300).
CLUBES
DE MÃES
“D. Iedda: (...)
Naquela época, visitei
favelas, todo o ABCD; fui a vários lugares. Tínhamos total consciência da
existência de um terreno fértil para aquelas ideias enganosas do comunismo;
conhecíamos perfeitamente a semente e o terreno onde seria semeada. Não tomamos
nenhuma atitude movida por impulso, mas por grande conscientização.
Estávamos muito bem
acompanhadas de pessoas como Carlos Lacerta, que tinha sido comunista e que
havia se desencantado com essa ideologia e punha a público o que eles faziam e
os maus intentos deles; Padre Calazans, Senador, e o Padre Godinho, Deputado
Federal, sempre nos elucidando e ensinando. Insisto que não foi um impulso de
‘patriotada’. Foi um movimento consciente, com maturidade, de dever cívico e
dever de mãe.
D. Maria Lucia: Foi bom você
lembrar que nós trabalhávamos na periferia.
D. Iedda: Você se lembra o
que se fundou em decorrência da camanha política?
D. Maria Lucia: Os Clubes de
Mães e chegamos a ter 15 Clubes de Mães, cada um com trinta mulheres.
Ensinando inclusive a cuidar
do bebê. [entrevistador]
D. Maria Lucia: Não só a
cuidar do bebê, mas também de toda a família.
D. Iedda: Foi algo que deu
resultado. Esses Clubes de Mães começaram em 1965 e existem até hoje. Várias
das atuais professoras foram nossas alunas e ficamos amigas; fazíamos chás em
nossas casas, havia uma comunicação de culturas. O resultado foi excelente não
só para elas, assim como para nós. Recebemos, também, muitíssimo. Aprendi muito
com aquelas senhoras de outra cultura, de comunidades extremamente carentes, e
fico gratificada de pensar que estávamos mais devolvendo do que entregando.
Mas, penso que a Marcha da
Família simboliza a nossa atuação, na Revolução (Doutora Iedda Borges Falzoni e
Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal, Tomo 7, pg. 359).
Obs.:
Em
2003, a Doutora Maria Lucia Whitaker Vidigal era a presidente da Liga das
Senhoras Católicas, onde prestava assistência a mais de 4.500 pessoas.
Trabalhou na TV Cultura como produtora e apresentadora, durante vinte anos.
F.
Maier
RADIOAMADORES:
O WHATSAPP DA ÉPOCA
“D. Iedda: Meu filho tinha
entre 13 e 14 anos; morávamos em frente ao Palácio do Governo e quando saí
disse:
- Henrique, você fica
tomando conta da casa e o revólver está aqui; defenda a sua casa.
O meu marido era radioamador
e o Exército perdera a confiança em alguns graduados, naquele momento. Então
foram convocados os radioamadores para que fossem feitos os contatos; é bom
lembrar que não havia esse boom de
comunicação, como hoje. Os radioamadores, como qualquer empresa de radiofonia,
receberam uma licença para operar. Eles não foram convidados, mas convocados
para ajudar. Muitos, porém, se omitiram, alegando que seu equipamento não
estava bom.
Lembro-me de meu marido até
de madrugada transmitindo mensagens sigilosas, que ele não me deixava ouvir.
Foi uma atuação muito grande. A Revolução levou só dois dias para vencer, mas
devo dizer que foram dois dias de intensa vivência. Definiram um momento
histórico que deve ser lembrado, constantemente” (Doutora Iedda Borges Falzoni,
Tomo 7, pg. 358).
“Tivemos, também, o apoio
dos radioamadores. Durante o deslocamento, o Coronel Faceda montou um PDR de
radioamadores em Juiz de Fora e durante todo o deslocamento uma rede montada
atuou como informante. Tínhamos informações de todo o movimento do Destacamento
Cunha de Melo através dessa rede. Uma série de providências administrativas
foram tomadas através da rede, por exemplo, alguns fogões de campanha não
estavam funcionando a gasolina e sim com botijão de gás e, naquela época,
variava conforme a empresa. E se fez o levantamento do tipo de botijão de gás
etc., através dos radioamadores da rede e, daí, se pedia a subsistência: um
caminhão com tantos botijões de gás de tal tipo para atender ao suprimento de
tais Companhias. É interessante assinalar que isso em combate seria um caos. Se
a linha de suprimento de fogões funcionava a gasolina e o subtenente macetoso
botou o botijão de gás, que realmente era muito mais confortável, mas, em
situação de campanha, qual era o gás? Como é que seria suprido? Isso é um
ensinamento que tem que ser levado sempre em consideração” (Coronel Amaury
Friese Cardoso, Tomo 10, pg. 359).
Obs.
Me ocorre o trabalho feito por jornais
editados por militares aposentados, nas últimas décadas, como Letras em Marcha,
Ombro a Ombro, Inconfidência – além de grupos similares como o Grupo Guararapes,
Grupo Estácio de Sá, Grupo Anhanguera, Quero-Quero, Associação dos Militares da
Reserva e Reformados (ASMIR) etc., que iniciaram um trabalho de conscientização
da população nos tempos revanchistas dos governos FHC, Lula e Dilma, culminando
na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o mérito de enfrentar o
“pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos meios artísticos, na
mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda longe para se chegar
a um mero empate.
A trilogia de Olavo de Carvalho “A Nova
Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci” (1994), “O
Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César” (1995) e “O Imbecil
Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras” (1996), junto com “O Mínimo Que Você Precisa Saber
Para Não Ser Um Idiota” (2013) - 193 artigos de Olavo escritos entre os anos de
1997 e 2013, e organizados pelo jornalista Felipe Moura Brasil - é fundamental
para se entender os últimos 50 anos do Brasil, em termos culturais, de pregação
marxista em todos os setores da sociedade brasileira.
F. Maier
Bibliografia:
MOTTA, Aricildes de Moraes ((coordenador geral). História Oral do Exército - 31 Março 1964. O Movimento Revolucionário e sua História. Em 15 Tomos. Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003.
HISTÓRIA ORAL DO EXÉRCITO - 31 DE MARÇO DE 1964
Em
15 Tomos
Biblioteca
do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003
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Tomo 1
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7104/1/31_Marco_1964-Tomo-1.pdf
Tomo 2
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7105/1/31_Marco_1964-Tomo-2.pdf
Tomo 3
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7339/1/31_Marco_1964-Tomo-3.pdf
Tomo 4
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7340/1/31_Marco_1964-Tomo-4.pdf
Tomo 5
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7341/1/31_Marco_1964-Tomo-5.pdf
Tomo 6
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7342/1/31_Marco_1964-Tomo-6.pdf
Tomo 7
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7343/1/31_Marco_1964-Tomo-7.pdf
Tomo 8
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7344/1/31_Marco_1964-Tomo-8.pdf
Tomo 9
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7345/1/31_Marco_1964-Tomo-9.pdf
Tomo 10
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7346/1/31_Marco_1964-Tomo-10.pdf
Tomo 11
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7347/1/31_Marco_1964-Tomo-11.pdf
Tomo 12
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7348/1/31_Marco_1964-Tomo-12.pdf
Tomo 13
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7349/1/31_Marco_1964-Tomo-13.pdf
Tomo 14
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7350/1/31_Marco_1964-Tomo-14.pdf
Tomo 15
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7351/1/31_Marco_1964-Tomo-15.pdf
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