MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

HFA na UTI - Por Félix Maier

HFA na UTI

Félix Maier (*)

05/09/2003

Inaugurado em 1972, durante o saudoso Governo Médici, o Hospital das Forças Armadas (HFA) já chegou a ser o melhor hospital militar da América Latina. Contudo, com o correr dos anos, o Hospital foi perdendo sua finalidade inicial, que era atender exclusivamente militares e seus dependentes, e passou a fazer convênios a torto e direito com várias entidades, ao mesmo tempo em que foi perdendo sua qualidade.

Segundo afirmou um antigo Vice-Diretor do HFA, a antiga excelência de atendimento do HFA devia-se a bons salários pagos a médicos civis, em média recebendo o dobro do que recebiam os colegas em instituições similares. Como se sabe, a alta rotatividade de médicos militares, transferidos continuamente a outros hospitais, a trabalho, ou saindo para fazer os cursos necessários à ascensão profissional, impedem que se crie uma equipe médica de alto nível em qualquer hospital militar. Para evitar que isso ocorresse com o HFA, foram contratados médicos civis de qualidade, muito menos propensos a afastamentos da cidade do que os militares. Assim, foi-se criando um corpo médico de primeira linha, colocando o Hospital entre os melhores do País.

Com o passar do tempo, as coisas foram se modificando, sempre para pior, dentro da política de “socializar” cada vez mais o HFA. Ao mesmo tempo em que começou a diminuir a verba para a manutenção do Hospital, durante os vários governos civis que foram se sucedendo, começou-se a fazer convênios com muitas entidades, militares e civis: Polícia, Corpo de Bombeiros, corpo diplomático, autarquias, bancos etc. Os salários dos médicos civis foram diminuindo, não oferecendo mais o antigo atrativo para os profissionais de alto nível, que passaram a trabalhar em empregos mais rentáveis ou abrir seu próprio negócio. Como resultado, os bons médicos civis de antigamente foram sendo substituídos por médicos novos, em sua maioria recém-formados, normalmente aspirantes-a-oficial da reserva, com experiência mínima, para não dizer nenhuma. Sem dinheiro para custear um hospital que cresce assustadoramente em despesas, é muito mais barato pagar o salário de um tenente das Forças Armadas do que um médico civil já consagrado. E o resultado aí está, não podia ser diferente, por mais que o atual Diretor faça das tripas coração para dar um mínimo de qualidade no atendimento ao público.

Por falar em coração, o Incor deverá ter uma “filial” no HFA. Para isso, está sendo construído um prédio que já está no sétimo andar, nos fundos do terreno do Hospital, próximo ao centro odontológico. Inicialmente, o Incor deveria se estabelecer em dois ou três andares do prédio principal do HFA. Obras foram iniciadas para esta finalidade, porém suspensas quando se decidiu construir um prédio novo. Com tanta falta de verba que se observa nos dias de hoje, é um crime começar uma obra para depois deixar de lado, por absoluta falta de planejamento. Um retrato típico do Brasil, que aplica muito mal seu orçamento, jogando sistematicamente dinheiro no ralo.

Há dinheiro para construir um novo prédio. Mas não há dinheiro para reativar, por exemplo, os centros cirúrgicos fechados ou consertar o equipamento para tirar raio-x do tórax. Dos 12 centros cirúrgicos, me informaram no HFA que há apenas 2 funcionando (No Hospital Geral de Brasília, do Exército, me informaram que há 5 no HFA). Nessa guerra de números, esconde-se não apenas a vergonha de um Hospital que já foi referência nacional, escondem-se também os pacientes que são internados e precisam aguardar longo tempo para serem submetidos à cirurgia, muitos até com fraturas expostas. E não é apenas a arraia miúda que passa por este tipo de constrangimento, os soldados, os taifeiros, os cabos, os sargentos. Em junho, quando lá peregrinei com minha mãe para que ela fosse submetida a uma cirurgia, que só foi realizada no Hospital Santa Helena, mediante convênio do Fundo de Saúde do Exército, fiquei sabendo que há inclusive coronéis na fila de espera, atirados nos leitos do Hospital por longo tempo, à espera de atendimento cirúrgico.

Com tudo isso, não é de espantar que haja muita reclamação por parte dos usuários que procuram atendimento médico e precisam, muitas vezes, esperar semanas ou até meses para realizar determinado exame. Se alguém precisar realizar uma cirurgia, p. ex. um implante de prótese na perna, a espera pode demorar um, dois anos. Deve ser por isso que em muitos guichês dos ambulatórios do HFA está transcrito o Art. 331 do Código Penal, uma ameaça mais do que explícita: “Desacato ou agressão a servidor público no exercício de sua função ou em razão dela é crime, previsto no Art. 331 do Código Penal Brasileiro, com pena prevista de 6 meses a 2 anos de detenção”. Os funcionários não podem se estressar ouvindo reclamações aqui e ali. Porém, o que dizer dos pacientes, que são maltratados sistematicamente, que voltam semanas e semanas seguidas ao Hospital, e não conseguem ser atendidos? Não deveriam eles também ter algum amparo legal para que fossem cumpridos seus direitos mais elementares?

Mas, nem tudo é desolação no HFA. Há ainda ótimos profissionais, disputados quase “a tapa”. É o caso do Dr. Noronha, “cobra” da oftalmologia. E de uma “japonesinha” da dermatologia, também muito procurada. Um dos médicos mais requisitados é o Dr. Messias, ortopedista de nome consagrado em todo o Distrito Federal, que faz expediente no Hospital toda quinta-feira. Foi ele que operou minha mãe no Santa Helena, para colocação de uma prótese na perna, para correção de uma artrose grave. Era impressionante ver o enxame de médicos novos em torno do Dr. Messias, quando ele finalmente descia do centro cirúrgico do HFA para atendimento no ambulatório. Uma piada do sempre bem-disposto Dr. Messias provocava riso e gargalhadas em dobro do corpo médico, para onde ele se dirigia seguia a revoada de médicos, como tietes em volta do último ídolo de rock. Uma figura ímpar o Dr. Messias...

Para que minha mãe fosse atendida no HFA, foi preciso abrir um prontuário, o que é norma rotineira, ocasião em que é fornecido um cartão de atendimento. Porém, quando ela foi fazer a primeira consulta, o prontuário que apareceu na mesa do médico foi de uma outra pessoa, com o mesmo número de prontuário conferido à minha mãe. Tive que refazer o cartão de atendimento e até hoje minha mulher não engoliu direito a mancada do Hospital, desconfiando que havia uma “filial” nessa história... Isso prova que o sistema de implantação e controle dos usuários é precário, necessitando urgentemente de um choque de informática em todo o HFA.

No HFA, há um tratamento diferenciado para os oficiais superiores (major a coronel), oficiais-generais e diplomatas, que são atendidos em dependências especiais. Tratamento “vip” teve também Fernandinho Beira-Mar, quando, em 2001, foi escoltado por um aparato de guerra para realizar uma cirurgia no ombro, estraçalhado por tiro de fuzil. Não precisou esperar mais do que o tempo de descer do avião que o trouxe da Colômbia, onde fazia negócios com as FARC...

Há um auditório no Hospital que leva o nome do sargento do Exército Silvio Hollenbach, autêntico herói nacional. Hollenbach foi quem, anos atrás, salvou um menino que havia caído junto a ariranhas no Jardim Zoológico de Brasília. Com muitas mordidas pelo corpo, houve infecção generalizada e o sargento veio a falecer. Hoje, o Jardim Zoológico local também leva o nome do abnegado sargento.

Mas, enquanto a verba é pequena, enquanto os centros cirúrgicos não são reativados, enquanto o Incor não é inaugurado, o HFA realiza outros tipos de eventos, incitando, p. ex., nossa juventude a cultivar a “última flor do Lácio, inculta e bela”. Em junho do ano corrente, o Hospital promoveu um concurso de redação na Belacap. Tema: “Modelo de Responsabilização em Saúde”, para alunos do Ensino Fundamental e Médio das Escolas Públicas e Particulares do DF. “O melhor trabalho de cada série será premiado com um microcomputador” – dizia a norma do concurso. Nada mal que se incentive a prática da redação em nossas escolas, hoje uma tragédia nacional sempre relembrada por ocasião dos vestibulares. Nada mal que se presenteie um micro para os vencedores, bem melhor do que distribuir, p. ex., camisinhas para jovens a partir de 15 anos, como pretende fazer o Ministério da Saúde, incentivando a promiscuidade sexual e a pedofilia. Só fica uma questão no ar: se não há dinheiro para a manutenção de equipamentos essenciais, como o HFA conseguiu verba para a compra de microcomputadores? Teria sido a doação de algum empresário anônimo? Ou a alienação de alguns dinossauros XT?

Falta muita coisa no HFA. Porém, religiosidade e fé é o que não falta. Nem deve faltar aos pacientes que lá procuram os dedicados seguidores de Hipócatres. No prédio da Administração do HFA, que fica na entrada, no lado direito, lê-se: “O Altíssimo deu-lhes a ciência da Medicina para ser honrado em suas maravilhas (Eclesiástico, 38-6)”. Que o Altíssimo se compadeça do HFA e o tire com urgência da UTI. Mas que volte a ter a vida saudável de outrora, não vá parar na fria laje do IML.


P.S.:

Carta recebida no dia 23/09/2003, do Presidente da Associação dos Amigos do HFA (ASAHFA):


“Ao Sr. Félix Maier

Prezado Senhor,

Como Presidente da Associação dos Amigos do Hospital das Forças Armadas, desejo inicialmente parabenizá-lo pelo artigo ‘Hospital das Forças Armadas na UTI’.

Percebe-se que o artigo foi escrito com a intenção construtiva de chamar a atenção das autoridades para a situação do HFA. Nele foram ditas muitas verdades que a sociedade brasileira e, principalmente, nossas autoridades precisavam conhecer. É como V. Sª bem acentuou, não basta o Diretor do Hospital ‘fazer das tripas coração’ para melhorar o atendimento hospitalar. Manter uma organização do porte do HFA em nível adequado de assistência aos usuários, além de custar muito dinheiro, necessitaria de profissionais estáveis e competentes, principalmente médicos e enfermeiros. Em seu artigo V. Sª aponta algumas das causas que contribuíram para a situação atual do hospital. Acerta também ao analisar a pretendida inserção do INCOR na rede de atendimento médico de Brasília usando para tanto as instalações do HFA. O INCOR – tradicional organização hospitalar, é bem vindo. Quanto mais opções de atendimento de qualidade existirem em Brasília, melhor. O que cabe discutir, aí sim – creio que foi essa a sua intenção – é a maneira como está sendo feita a instalação doINCOR no HFA.

O HFA, já carente de recursos e pessoal experiente, se vê agora limitado dentro de suas próprias instalações com os dois andares cedidos para o INCOR, e que se encontram há vários anos ‘em obras’. Com esses dois andares, foram-se boa parte dos centros cirúrgicos, das salas de atendimento e dos leitos que o HFA possuía. Não só isso, começaram um novo prédio sem restabelecer, pelo menos, as condições iniciais que existiam nesses dois andares. Tudo isso sem falar nos transtornos que uma obra de grande vulto traz a qualquer instituição, principalmente a um hospital, onde a higiene e a limpeza do ambiente são condições mais que indispensáveis.

O contrato para o estabelecimento do INCOR em Brasília não é da responsabilidade da Direção do Hospital, mas do Ministério da Defesa, órgão ao qual o Hospital está subordinado. Ao Ministério da Defesa cabe, portanto, explicar porque as coisas chegaram a esse ponto.

V. Sª abordou também em seu artigo o problema da escassez de recursos. Faltou dizer apenas que a convivência de bom atendimento em um hospital com escassez de recursos não é possível apenas com boa administração. Os custos são sempre crescentes e o número de usuários também. Assim, qualquer decisão de diminuir recursos para um hospital deveria implicar também a responsabilidade de diminuir seus usuários, ou diminuir sua própria qualidade.

É sabido que, em matéria de saúde, a diminuição de qualidade menospreza e irrita os usuários, além de, no pior dos casos, resultar em perda de vidas humanas. Por outro lado, o número de usuários é sempre crescente, problema que se tornou quase incontrolável a partir do estabelecimento de novas regras que permitiram a assinatura de convênios com organizações estranhas ao meio castrense.

Assim, a situação do HFA, como de outras instituições do gênero, só se resolverá quando houver a conscientização das autoridades de que a qualidade do atendimento médico é diretamente proporcional aos recursos financeiros disponíveis. Mas o é também de Recursos Humanos, embora as duas coisas não sejam independentes. Uma instituição como o HFA necessita de leis flexíveis que permitam dispensar funcionários incompetentes e contratar gente de qualidade. V. Sª também observou, porém sem se aprofundar, essa questão em seu artigo, que como falei incidentemente, ajuda mais do que prejudica. É necessário que mais vozes como a sua sejam escutadas para que as pessoas que podem ajudar possam ouvir.

Seu artigo merece, entretanto, um importante reparo: os recursos para a compra dos micro-computadores dados a cada aluno vencedor do concurso de redação, em “Reponsabilidade em Saúde” não saíram, e nem poderiam sair, dos cofres do HFA. Portanto, não poderiam ser usados para a manutenção dos equipamentos atualmente fora de serviço. O Concurso de Redação a respeito do Modelo de Responsabilidade em Saúde, idealizado e implantado pelo Dr. Gabriel, atual Diretor do HFA, foi um sucesso. Ao promover esse concurso, pretendeu o diretor do HFA motivar as crianças para a responsabilização em saúde, a partir do entendimento de que saúde é, antes de tudo, uma questão de prática permanente de atitude. Sua realização, entretanto, não teria sido possível sem a colaboração de diversas instituições Públicas e Privadas entre as quais a Secretaria de Estado da Educação, Caixa Econômica Federal, Poupex, Infraero, Autotrac e tantas outras.

À Associação dos Amigos do HFA, organização composta de voluntários cujo objetivo é apenas ajudar o HFA, coube viabilizar as iniciativas do Dr. Gabriel, arrecadando os recursos, contatando as autoridades e as escolas, motivando as crianças enfim, transformando a idéia no bem precioso da realização.

Agradeço sinceramente as observações externadas no seu artigo sobre a situação do HFA. Sei que elas não tiveram o objetivo de formular uma crítica destrutiva. Oxalá muitas pessoas tivesses a consciência de que, num país carente como o nosso, onde tudo é difícil construir, não se pode destruir, muito menos o que já foi feito.

Nossa esperança é que ainda um dia possamos ver o HFA renascer e voltar a ser a organização de excelência do passado e de que tanto nossa sociedade necessita.

Atenciosamente,

Brasília, 15 de setembro de 2003-09-25

(Assinado)
Brig. do Ar R/R Emanuel Augusto de Oliveira Serrano
Presidente da ASAHFA”


P.P.S.:

Amém, digo eu, agradecendo a gentileza do Brigadeiro Serrano em me escrever sua gentil carta.

As minhas críticas foram, sim, construtivas, embora tenha por vezes utilizado um tom humorístico, pois tenho plena consciência de que a penúria por que passa o HFA não deve ser creditada aos membros de sua administração, que se dedicam ao máximo, mas à politicagem que se instalou no setor nos últimos anos, acarretando um incremento considerável de usuários estranhos ao meio militar, ao mesmo tempo em que o orçamento minguava. Que sejam atendidos Adidos Militares de outras nacionalidades no HFA, desde que haja reciprocidade com nossos Adidos no estrangeiro, é perfeitamente plausível, porém colocar o HFA à disposição de diplomatas estrangeiros, é uma aberração. Todos sabemos que essa classe é bem paga, recebe em dólares, e tem condições de utilizar os melhores hospitais civis de Brasília pagando do próprio bolso. A ordem para essa demagogia vem do alto, do Ministro da Defesa, e ao pobre Diretor do Hospital cabe apenas obedecer.

Obviamente, o problema dos transtornos da construção das instalações do INCOR foi criado pelo Ministério da Defesa, a quem o HFA está diretamente subordinado. Mais especificamente, pela Secretaria de Organização Institucional (SEORI), onde trabalhei de 14 Nov de 1999 a 28 Fev 2002. Por isso mesmo, o meu texto acima escrito foi enviado, via e-mail, a um Assessor da SEORI, para o devido encaminhamento no Ministério. Até hoje, não obtive qualquer tipo de resposta, como costuma ocorrer nos casos em que nada há para explicar. Seria mesmo esperar muito, que o Ministro perdesse seu precioso tempo com a impertinência de um “pica-fumo”.

Quanto ao “reparo” sobre o Concurso de Redação a que me referi, em momento algum afirmei que a verba tinha saído dos cofres do HFA. Houve uma pergunta retórica, apenas isso. A interrogação foi claramente elucidada pelo Presidente da ASAHFA, em sua carta.

Só falta agora Geraldo Magela, do PT, assumir o Governo do Distrito Federal e colocar o HFA à disposição de toda a comunidade local – como prometeu em sua campanha eleitoral, em 2002. Não sei como ele iria cumprir a promessa, pois se trata de um órgão federal, não distrital. Mas, em se tratando de Brasil, tudo é possível. Seria a total favelização da outrora magna instituição de Saúde.


(*) O autor é capitão da reserva (Exército), paga pensão militar, embora aposentado (os servidores civis aposentados não contribuem com a Previdência), paga o Fundo de Saúde do Exército, que cobre 80% dos custos médico-hospitalares - 20% dos custos cabe ao militar pagar -, e tem muita gente por aí, desinformada, garantindo que militar é um “privilegiado”.

Brasília, 25 de setembro de 2003.

Félix Maier

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“Saúde militar à míngua

Jornal “O Dia’
http://odia.ig.com.br/odia/capas/economia.html

Falta de remédios e problemas na manutenção de aparelhos obrigam hospitais das Forças Armadas a adiar atendimento.

Os hospitais militares precisam de socorro.

Profissionais de saúde que se orgulham do trabalho nos quartéis estão sendo castigados pelo aperto no orçamento das Forças Armadas imposto pela União nos últimos três meses. Faltam medicamentos de uso interno e material de assepsia, é precária a manutenção dos aparelhos para exames, e o desabastecimento das farmácias dos hospitais se tornou um drama. O resultado é a interrupção de tratamentos e o adiamento das consultas. A situação ainda pode piorar.
Médicos do Hospital Central do Exército (HCE), centro de excelência na área de saúde militar, pediram emprestado material de assepsia para seguir o cronograma de operações e batizaram de “janeiro negro” o primeiro mês em que ficarão sem os colegas cooperativados. Segundo eles, o fim do contrato, mês que vem, deixará o hospital com carência de pessoal para dar conta dos atendimentos. Só na Emergência, são 250 pacientes por dia.

A crise da saúde não é exclusividade das três forças. Hospitais estaduais agonizam. Mas os militares esperavam outro tratamento, devido ao desconto mensal no contracheque de até 3,5%, especialmente para garantir assistência médica, e da contrapartida de 20% do custo do atendimento médico-hospitalar. Os esforços, no entanto, não têm sido suficientes para compensar a falta de verbas da União.

Verba da saúde paga dívida com o FMI

Segundo o DIA revelou mês passado, pelo menos metade do dinheiro do fundo de saúde dos militares fica retida no Tesouro Nacional para ajudar no pagamento de dívidas, pelo acordo com o Fundo Monetário Internacional. “A União não pode ficar com dinheiro da saúde dos militares para pagar juros”, critica o deputado federal e capitão da reserva Jair Bolsonaro (PTB-RJ).

As reclamações sobre o atendimento, contadas por pacientes ou seus parentes, atingem desde o fornecimento de material de higiene até a falta de aparelhagem especializada para exames, mas não recaem sobre os militares que prestam serviços. Marlene Pereira, 51 anos, esteve no HCE para acompanhar a filha grávida no pré-natal. Reclama que a farmácia do hospital, que deveria fornecer medicamentos a baixo custo, não funciona. “Como dar prosseguimento a um tratamento sem remédios?”, lamenta.

A marcação de exames também é atingida pela crise. Um funcionário administrativo do HCE revela que os pedidos para raio X só poderão ser atendidos em fevereiro, e exames de mamografia ou tomografia, em março.

Era FH

Embora o treinamento dos militares seja justamente para lidar com as adversidades, a baixa estima voltou a tomar conta dos quartéis nos últimos meses. O trauma deixado pela Era Fernando Henrique ainda perturba. O orgulho militar foi atingido pela falta de repasse de verbas no segundo mandato de FH. A cota de sacrifícios resultou na dispensa antecipada de mais de 40 mil recrutas do Exército, ano passado. Os que ficaram nos quartéis trabalhavam pelos outros, cumprindo as suas tarefas e as dos que foram dispensados, às vezes dobrando a jornada de trabalho. Conforme série de reportagens do DIA, ao longo de 2001 e 2002, o Exército brasileiro padeceu.

Quem pode recorre à rede particular

O Ministério da Defesa está empenhado em conseguir recursos suplementares para resolver os problemas das Forças Armadas causados pela falta de dinheiro. Enquanto não há injeção de verba, militares que podem recorrer ao atendimento médico particular se afastam dos hospitais que utilizavam em outros tempos. O reservista do Exército José Pires, 66 anos, se convenceu de que, dependendo do problema, é mais garantido apelar para o serviço privado. “Em casos especiais, não é possível esperar meses pela consulta. O jeito é pagar por fora para cuidar da saúde”, admite.

A diretora política do Sindicato dos Servidores Civis das Forças Armadas (Sinfa), Marina Costa Bernardes, já foi testemunha de inúmeras situações em que o pessoal do Exército foi prejudicado. “Pacientes com diabetes que precisavam de uma orientação médica urgente tiveram que voltar para casa sem atendimento”, lamenta.

Nos hospitais da Aeronáutica e da Marinha, a situação é a mesma. “Uma pensionista sofreu um tombo e quase quebrou a coluna. Mas a operação foi adiada por um mês no Marcílio Dias. Os médicos ficaram desesperados. O problema é a falta de dinheiro”, explica o reservista da Marinha Jorge Fernandes.

Há três meses, a situação piorou, e os quartéis sentiram a contenção de mais de R$ 1 bilhão no orçamento da Defesa.Conforme a Coluna do Servidor informou sexta-feira, este ano a permanência de recrutas nos quartéis do Exército foi reduzida para período inferior a 10 meses. O Comando do Exército, no entanto, rejeita paralelo com a dispensa “atípica” do ano passando, quando 40 mil recrutas deixaram os quartéis.”

Fonte: Usina de Letras - Ensaios-->HFA na UTI -- 05/09/2003 - 16:24 (Félix Maier) - https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=62740&cat=Ensaios



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Correio Braziliense - 24/3/2009

Opinião

Ari Cunha Com Circe Cunha

Hospital das Forças Armadas

Poucas vezes se viu as Forças Armadas deverem tanto à saúde no Distrito Federal. O Hospital das Forças Armadas foi instado a ajudar o Incor de Brasília. O esquema montado previa o apoio da Câmara dos Deputados, Senado Federal e aval do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Pior é que, com o insucesso da operação, já se fala na incorporação ao problema de uma instituição do sul. Conversando com o brigadeiro Gabriel, ex-diretor do HFA, soubemos que o hospital praticava cirurgias cardíacas, cateterismos e dispunha de ginásio de recuperação, tudo em excelentes condições. Nos dias atuais, nada mais dessa comodidade existe. O setor jurídico do Ministério da Defesa impediu que fosse licitada mais uma vez a Cooperativa de Anestesistas do DF, deixando o hospital sem condições de cirurgia cardíaca e de atividades afins. Foi dessa maneira que hospital de equilíbrio administrativo se transformou na dificuldade para atender aos clientes. É de notar que o serviço era dos mais perfeitos e sérios. Abandonado e depois de consumir muito dinheiro, o que restou para o HFA foi a sobra de dívidas que são pagas pelas instituições que assumiram a responsabilidade e esqueceram do fracasso. Ocorre que o Hospital das Forças Armadas caiu de gabarito. Sua equipe luta com desvelo para manter o respeito que sempre mereceu das comunidades militar e civil.

Fonte: 

https://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=20854&cat=Cr%F4nicas&vinda=S

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