O nome dele era Vasili Arkhipov.
E em 27 de outubro de 1962, ele tomou a decisão mais importante da história da humanidade.
Quase ninguém ouviu falar dele. Nunca buscou fama. Viveu em silêncio. Morreu em silêncio. E por quarenta anos, o mundo não soube que uma única palavra dita por ele — “não” — impediu a Terceira Guerra Mundial.
Esta é a história do dia em que um homem salvou oito bilhões de vidas.
Outubro de 1962.
Crise dos Mísseis de Cuba.
Durante treze dias, Estados Unidos e União Soviética ficaram à beira do aniquilamento nuclear. Nikita Khrushchev havia instalado secretamente mísseis nucleares em Cuba, a apenas 150 quilômetros da Flórida. John F. Kennedy respondeu com um bloqueio naval. O mundo prendeu a respiração.
Mas enquanto diplomatas negociavam em Washington e Moscou, o perigo real não estava nas salas de conferência.
Estava na escuridão esmagadora do Mar do Caribe, a bordo de um submarino soviético chamado B-59.
Quatro submarinos da classe Foxtrot haviam sido enviados secretamente para Cuba. Cada um carregava vinte e dois torpedos convencionais — e um torpedo nuclear, com poder destrutivo semelhante ao da bomba de Hiroshima.
O B-59 era comandado pelo capitão Valentin Savitsky. A bordo, como comandante da flotilha e segundo no comando, estava Vasili Arkhipov — um oficial calmo, metódico, marcado por uma experiência que poucos homens sobreviveram.
Dezesseis meses antes, Arkhipov servira no submarino K-19, quando o sistema de resfriamento do reator nuclear falhou. Sem comunicação com Moscou, a tripulação enfrentou uma escolha impossível: deixar o reator derreter ou improvisar um sistema de emergência sob exposição direta à radiação letal.
Sete engenheiros se voluntariaram. Trabalharam sabendo que estavam assinando sua sentença de morte. Salvaram o navio. Morreram semanas depois. Outros quinze tripulantes faleceriam nos anos seguintes.
Arkhipov também foi exposto. A radiação já corria em seu corpo — uma condenação lenta que levaria trinta e sete anos para se cumprir.
Mas em outubro de 1962, ele estava vivo.
E prestes a salvar o mundo.
Quando Kennedy anunciou o bloqueio, a Marinha dos EUA iniciou a caçada aos submarinos soviéticos usando a tática de “caçar até a exaustão”. O B-59 foi forçado a permanecer submerso por dias.
O inferno começou.
Sem poder subir para recarregar baterias ou ventilar, o submarino virou uma fornalha. A temperatura ultrapassou os 50°C, chegando a 60°C em alguns compartimentos. O ar tornou-se espesso de dióxido de carbono. Homens desmaiavam. Respirar doía.
Sem contato com Moscou, a tripulação não sabia se a guerra já havia começado.
Então veio 27 de outubro — o dia mais perigoso da Guerra Fria.
Onze destróieres americanos e o porta-aviões USS Randolph localizaram o B-59. Começaram a lançar cargas de profundidade de advertência — explosivos de sinalização, não letais.
Mas o B-59 nunca recebeu essa informação.
Dentro do submarino, as explosões pareciam um ataque real. O casco tremia. O metal gritava. Muitos acreditaram que aquele era o fim.
O capitão Savitsky concluiu que a guerra havia começado.
— “Vamos disparar agora!” — gritou.
— “Morreremos, mas afundaremos todos eles!”
Ordenou que o torpedo nuclear fosse armado.
Se fosse lançado, destruiria vários navios americanos. Os EUA responderiam com armas nucleares. Moscou seria atacada. Washington também. Em poucas horas, bilhões morreriam. O mundo entraria num inverno nuclear. A civilização acabaria.
Mas o protocolo soviético exigia três autorizações para o disparo nuclear.
Savitsky disse sim.
O comissário político, Ivan Maslennikov, disse sim.
Todos olharam para o terceiro homem.
Vasili Arkhipov.
O calor era insuportável. O ar era veneno. As explosões não paravam. Tudo indicava guerra.
Arkhipov disse:
— Não.
— “Isso não é guerra. São sinais. Se fosse um ataque real, eles já teriam usado armas de verdade.”
Houve gritos. Discussões. O torpedo estava pronto. O tempo parecia inexistir.
Arkhipov permaneceu firme.
— “Precisamos subir. Precisamos falar com Moscou. Não disparamos sem ordens.”
Minutos passaram como eternidades.
Por fim, Savitsky cedeu.
O B-59 emergiu.
À superfície, holofotes os cegaram. Navios americanos os cercavam. Helicópteros sobrevoavam. Mas ninguém disparou.
O submarino soviético foi autorizado a se retirar.
O mundo nunca soube o quão perto esteve do fim.
No dia seguinte, Kennedy e Khrushchev chegaram a um acordo. A crise terminou.
Por quarenta anos, ninguém soube da verdade.
Arkhipov continuou sua carreira. Tornou-se vice-almirante. Viveu modestamente com a família. Nunca contou o que fez. Era segredo de Estado.
Em 1998, morreu de câncer nos rins — consequência direta da radiação do K-19.
O mundo não percebeu.
Em 2002, a história veio à tona. Um oficial presente revelou que o B-59 carregava armas nucleares.
Um historiador resumiu:
— “Um homem chamado Vasili Arkhipov salvou o mundo.”
Pense nisso.
Cada pessoa viva hoje existe porque ele disse não.
Cada cidade que não virou cinzas.
Cada criança nascida depois de 1962.
Cada livro, cada música, cada abraço.
Tudo dependeu de uma palavra, dita num tubo de aço, sob bombas, calor e terror.
Um não.
Isso é coragem moral.
Isso é liderança.
Quando o mundo gritava “agora”, ele disse “esperem”.
Vasili Arkhipov não queria ser herói.
Mas quando a história colocou o fim do mundo em suas mãos, ele escolheu a vida.
Lembre-se disso quando disserem que uma pessoa não faz diferença.
Lembre-se do homem que disse não.
Lembre-se do homem que salvou o mundo.
Fonte: Estudos Históricos https://www.facebook.com/SBdeHolanda/posts/o-nome-dele-era-vasili-arkhipove-em-27-de-outubro-de-1962-ele-tomou-a-decis%C3%A3o-ma/933520025668940/
***
Leia mais sobre o assunto:
Quem foi Vasili Arkhipov, homem que 'salvou' o mundo de guerra nuclear
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn374lnyzdeo
Quem foi Vasili Arkhipov, homem que salvou o mundo de
guerra nuclear
Comandante soviético fazia parte de uma frota de submarinos
nucleares envolvida na crise dos mísseis de 1962.
https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2023/09/5122433-quem-foi-vasili-arkhipov-homem-que-salvou-o-mundo-de-guerra-nuclear.html
Há 59 anos, Vasily Arkhipov interrompia um torpedo
nuclear e evitava uma guerra
Em 1962, durante a Crise dos Mísseis de Cuba, o oficial
russo conseguiu conter o início de um conflito com os norte-americanos
https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/ha-57-anos-oficial-russo-vasily-arkhipov-evitava-uma-guerra-nuclear.phtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário