Cinturão das Milícias
Félix Maier
Nos EUA, existem o Cinturão do Milho (Corn Belt), no meio-oeste, o Cinturão do Sol (Sun Belt), no sul do país, que incrementa o turismo, desde a Califórnia até a Flórida, e até o Cinturão da Ferrugem (Rust Belt), na Região dos Grandes Lagos, que se tornou decadente a partir da década de 1970, devido ao sucateamento da indústria metal-mecânica, com destaque para Detroit, no Michigan, que teve sua população drasticamente reduzida e chegou a decretar falência após a crise financeira de 2008.
No Brasil, também podemos falar em “cinturões de grãos”, especialmente nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul, que abastecem de soja e milho o Brasil e o mundo. Também temos “cinturões verdes” em áreas metropolitanas, como São Paulo, que servem tanto para preservação ambiental, como para a produção de hortifrutis para o consumo local.
Infelizmente, temos também no Brasil os “cinturões de favelas”, que hoje estrangulam todas as regiões metropolitanas do País, os quais são uma herança da época do fim da escravidão no Brasil, quando os negros foram deixados à própria sorte, e que cresceram em progressão geométrica a partir dos anos de 1950, com o êxodo rural em massa. Machado de Assis, o mais importante escritor brasileiro, nasceu e cresceu nas ladeiras do Morro do Livramento, no centro do Rio de Janeiro.
No Rio, as favelas foram se estendendo do centro para a região Oeste e, posteriormente, também para cidades da Baixada Fluminense. Com o advento do Governo de Leonel Brizola, eleito em 1982 e 1990, a cidade do Rio de Janeiro começou a ser tomado maciçamente por grupos de traficantes de armas e drogas, pois o governador proibia a PM de subir o morro. “Briza”, na época, era sinônimo de cocaína. Era atrás de uma trouxinha de “briza”, que então custava uma quina (Cr$ 5,00?), que a filha do governador, Neusinha Brizola, subia o morro e arranjava encrenca com a polícia e o pai.
Nas últimas décadas, traficantes de drogas passaram a competir com milícias paramilitares, de modo a estrangular toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Hoje, essa dupla bandida está se apossando de várias cidades do País, não sendo exagero dizer que já estão também apertando sua pinça em torno de Brasília, a partir do Entorno.
Como exemplo de milícias
paramilitares, podemos citar as Patrulhas Armadas Civis (PAC), da Guatemala;
Patrulhas Cantonais (El Salvador); Rondas Campesinas (Peru); Autodefesas Unidas
da Colômbia (AUC). Esses grupos foram formados, historicamente, para
fazer frente aos movimentos marxistas revolucionários que desgraçaram esses
países, com ou sem apoio do governo constituído. “Fernando Cubides, um dos
maiores especialistas colombianos nessa questão, define os movimentos
paramilitares como ‘grupos armados que, à margem das normas e convenções do
direito de guerra, combatem a insurgência persuadidos de que as armas e os
recursos do Estado não podem fazê-lo com eficácia’ ” (LEONGÓMEZ, 2006: 91).
A tendência desses grupos
armados, que agem fora da lei, é se tornarem ainda mais ferozes e letais do que
os grupos insurgentes que diziam combater.
A mesma expressão - grupos
paramilitares - se aplica às milícias do Rio de Janeiro, compostas por
militares e ex-militares, que inicialmente diziam combater os narcotraficantes
e hoje competem com eles na venda de drogas e armas, e “serviços” às populações
das “comunidades”, como transporte público (vans piratas, mototáxi), monopólio
na entrega de gás, “gatolight” (roubo de energia elétrica), “gatonet” (roubo de
sinal de TV a cabo), venda de água furtada da Cedae, venda de produtos roubados
de carros de transporte, sequestro de torres de comunicações e de celular,
grilagem de terras e construções de prédios que desabam e matam etc. Além do
promissor moto delivery, de entrega de drogas e produtos roubados para o
asfalto e os condomínios.
Em 1995, a cúpula da Polícia
Civil do Rio de Janeiro avaliou que apenas 20% dos policiais da instituição
eram confiáveis; dos 12 mil policiais, 9,6 mil eram suspeitos. Com salários
baixos, sob violenta pressão diária em missões nas favelas, debaixo de forte
tiroteio, aliada à pressão psicológica para se corromper, seja por parte dos
traficantes, seja por parte das milícias, maus policiais são atraídos
facilmente para esses dois tipos de grupos criminosos.
Segundo reportagem do Correio
Braziliense, no município do Rio de Janeiro as milícias já
ocupam território maior do que o dos traficantes - 57,5% do território - em que
2,2 milhões de habitantes estão subjugados por milicianos, enquanto as facções
criminosas dominam um território menor, porém mais populoso: Comando Vermelho
(11,4%), Terceiro Comando (3,7%) e Amigo dos Amigos (0,3%).
Esse aperto de pinça das
milícias, que asfixiam a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, passou a ter
tendência de alta, principalmente depois que o mais militante dos “7 líderes do
PT no STF”, Edson Fachin, proibiu, em 6 de junho de 2020, a PM de realizar
ações nos morros cariocas, durante a pandemia da Covid-19. O STF garantiu que
somente em 2022 definirá as condições para que a Polícia possa novamente realizar
ações nas favelas do Rio.
Apesar dessas restrições do
STF, a Polícia do Rio realizou uma operação no Jacarezinho, em 6 de maio de
2021, para apreensão de bandidos, armas e drogas, quando houve a morte de 27
bandidos e 1 policial. Foi a ação mais letal da polícia carioca em toda sua
história, fato lamentado por políticos e artistas da extrema esquerda, como o
PSol. “Movimentos Sociais” chegaram até a construir um Memorial no Jacarezinho,
em 2022, com o nome dos 28 mortos, verdadeira “apologia ao tráfico”, que foi
destruído a marretadas pela polícia, com auxílio de um “caveirão”.
A segunda ação mais letal da
polícia também ocorreu no Rio durante a pandemia da Peste da China, para
desgosto do pessoal da extrema esquerda e do militante petista do STF. No dia
27 de maio de 2022, uma operação militar, envolvendo a Polícia Militar, a
Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, acarretou a morte de 23
bandidos na Vila Cruzeiro, que entraram em confronto com os agentes públicos
portando armas de guerra.
Como de costume, os “Petistérios
Públicos”, estadual e federal, abriram investigações para apurar as condutas
dos policiais, não dos bandidos mortos. Depois da operação policial na Vila
Cruzeiro, até o ministro do STF, Luiz Fux, disse que a PM “deve satisfações, eu
estou aguardando essas satisfações”.
Luiz Fux quer explicações da PM, sobre a morte de traficantes na Vila Cruzeiro. Taí uma boa: clique aqui.
No Rio de Janeiro, o futuro às milícias pertence.
Nota:
LEONGÓMEZ, Eduardo Pizarro. Uma
democracia sitiada - Balanço e perspectivas do conflito armado na Colômbia.
Bibliex, Rio, 2006 (Tradução de Alfredo Rubinato Rodrigues de Sousa).
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