MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964

MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964
Avião que passou no dia 31 de março de 2014 pela orla carioca, com a seguinte mensagem: "PARABÉNS MILITARES: 31/MARÇO/64. GRAÇAS A VOCÊS, O BRASIL NÃO É CUBA." Clique na imagem para abrir MEMORIAL 31 DE MARÇO DE 1964.

segunda-feira, 15 de março de 2021

HOUVE INFLUÊNCIA DIRETA DOS EUA NO MOVIMENTO DE 1964? - Por Félix Maier


HOUVE INFLUÊNCIA DIRETA DOS EUA NO MOVIMENTO DE 1964?

Félix Maier

Os EUA não participaram diretamente do Movimento Cívico-Militar de 1964, mas acompanharam com enorme interesse os desdobramentos da crise política, econômica e social provocada pela dupla carbonária Jango-Brizola, e, especialmente, a insurreição militar que estava em marcha para enfrentar a ameaça comunista.

Se necessário fosse, os EUA desembarcariam armas e munições no Porto de Vitória, ES, para os militares insurgentes, como chegou a ser cogitado, para fazer frente ao dito "Esquema Militar" de Jango.

Felizmente, não houve guerra civil e os EUA não tiveram a oportunidade de meter as botas no Brasil, como fizeram no Vietnã.

Sobre o assunto, leia o que dizem os entrevistados da "História Oral do Exército - 31 Março 1964", com pitacos de minha autoria.


***

HOUVE INFLUÊNCIA DIRETA DOS EUA NO MOVIMENTO DE 1964?

Os terroristas, que foram derrotados pelo Movimento de 1964, falam que os revolucionários (militares e civis) obtiveram apoio direto dos EUA. Mesmo que isso fosse verdade, qual o problema, se eles faziam cursos de guerrilha no exterior e recebiam vultosas somas de dinheiro (“ouro de Moscou”) para comunizar o Brasil desde a Intentona Comunista, em 1935, desencadeada por Moscou com a ajuda de mercenários alemães e Luis Carlos Prestes?

“As esquerdas tiveram auxílio externo de toda ordem – auxílio financeiro, formação de ativistas e outros – de países comunistas, principalmente de Cuba. Essa é uma verdade que está, intencionalmente, esquecida. Havia setores de esquerda que até possuíam listas de líderes e de administradores cubanos que viriam para o Brasil, logo que a subversão fosse vitoriosa, para aqui assumirem postos na administração pública. Vi tais listas em mãos de ativistas de esquerda” (Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 261).

“Sabe-se que os detratores da Revolução gostam de explorar essa tese, dizendo que houve ajuda dos Estados Unidos e apresentam, como comprovação, uma ordem recebida pela esquadra americana para aproximar-se do Brasil. Isso é de uma ignorância muito grande. Uma país, cuja estratégia é mundial, como os Estados Unidos, normalmente desloca uma de suas esquadras para os lugares de crise.
É comum lermos que tal Esquadra deslocou-se para o Mediterrâneo, próximo do Oriente Médio, outra Esquadra deslocou-se para o Mar Vermelho ou para as proximidades de Formosa. Toda vez que há uma crise, por medida de precaução, uma Esquadra é deslocada para as proximidades do local. É um procedimento de rotina. As pessoas que lêem os jornais diariamente sabem que isso acontece toda vez que se esboça uma crise, seja em que região for. Agora, o deslocamento de uma esquadra americana para a costa brasileira, na época do Movimento de 31 de março, tem sido considerado comprometimento dos revolucionários com o governo de Washington, o que nunca houve. Embora, sem dúvida nenhuma, os americanos tenham acompanhado tudo.
Fala-se muito no General Wernon Walters, adido militar americano na época. Ele sabia de tudo o que estava acontecendo, porque conhecia a todos, pois esteve conosco na FEB. Tornou-se amigo do General Mascarenhas de Moraes, do General Castello Branco e de todos os oficiais da FEB. Qualquer um que acompanhasse os jornais com atenção observaria, de maneira clara e objetiva, o que estava acontecendo.
De modo que, rejeito completamente essa hipótese, essa acusação de que a conspiração foi feita em entendimento com os militares ou governo norte-americanos. Deslocar a Esquadra para áreas de conflito é rotina estratégica dos Estados Unidos” (General-de-Exército Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 229-230).

“Esse episódio começa porque vem à baila o General Vernon Walters, que fora intérprete junto à Força Expedicionária Brasileira na Itália, e se tornou amigo íntimo do Presidente Castello Branco. Quando o Sr. John Kennedy percebeu que as crises tomavam rumo perigoso, convocou o Vernon Walters, que estava, nessa época, servindo na Itália, e o deslocou para Adido junto à Embaixada Americana no Brasil, dirigida pelo Sr. Lincoln Gordon. Thomas Skidmore, baseado no levantamento que fez nos Estados Unidos, afirma que não houve, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista político, nenhuma ingerência dos Estados Unidos na Revolução de 1964. Foi um movimento genuinamente nacional” (General-de-Brigada Danilo Venturini, Tomo 15, pg. 164-165).

“Existe um número da revista Reader’s Digest, dessa época, que publica um artigo muito bonito, intitulado: ‘A Nação que se salvou a si mesma’, onde estão estampadas fotos do espetáculo proporcionado pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
Há um outro documento, que possuo, este publicado pela Editora Civita, de São Paulo, não sei se hoje ainda existe, estudo muito bonito, com o título: ‘Do comunismo de Karl Marx ao Muro de Berlim.’ No final, aborda os antecedentes do Movimento de 1964 e a assunção da Presidência da República do Marechal Castello Branco” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 62).
“Tivemos conhecimento de que o ex-embaixador soviético no Rio de Janeiro, em conversa com o nosso embaixador em Moscou, lhe confidenciara ter recebido uma visita de Luís Carlos Prestes, depois de muita insistência. Prestes afirmara que a revolução no Brasil já estava ‘madura’ e que bastava mais ajuda financeira e material da União Soviética para que eles dominassem o País, porque já estariam no governo. Esse ex-embaixador soviético contara também ao nosso embaixador – o falecido Celso Souza e Silva – que, na oportunidade, dissera a Prestes o seguinte:
- Não, que o Prestes ficasse onde estava, agitasse, mas não pretendesse tomar o Governo, porque Cuba já custava para a União Soviética alguns milhões de dólares, diariamente; que o Brasil, em relação ao tamanho de Cuba, evidentemente, para ser mantido como um país comunista, ia estourar o tesouro soviético; que esquecesse essa ideia” (Coronal Luiz Paulo Macedo Carvalho, Tomo 1, pg. 288).

“Comenta-se muito a esse respeito, mas não tenho conhecimento de algum apoio externo, embora no plano inicial do Estado-Maior revolucionário, que já comentei anteriormente, admitíssimos a possibilidade de enfrentar muitas dificuldades, inclusive não conseguir descer das Alterosas, constasse, além da defesa de Minas, a conquista do Porto de Vitória, com o objetivo claro de receber apoio estrangeiro.
No caso de uma guerra interna, não há dúvida de que os Estados Unidos iriam apoiar os anticomunistas. Daí a nossa previsão de dominar um porto para poder receber o necessário reforço em armamento, munição etc.
Aliás, como imprevidência dos integrantes do Governo Goulart, mesmo depois de iniciada a Revolução, os caminhões transportadores de combustível continuaram trafegando normalmente, do Rio para Juiz de Fora, quando a primeira providência sensata, em termos de operações militares, seria cortar de Minas esse suprimento vital” (General-de-Bvrigada José Antônio Barbosa de Moraes, Tomo 2, pg. 204-2015).

“É evidente que as embaixadas e os adidos militares, sobretudo dos Estados Unidos, estavam acompanhando aquele desacerto crescente, de crise sobre crise, aguardando um desfecho, como efetivamente ocorreu. Eles não poderiam deixar de acompanhar a evolução daquela conjuntura. O que se pode discutir, dessa questão, é se eles estariam interferindo. Até onde sei, também havia preocupação de outras representações diplomáticas, como as da União Soviética e da China.
Eu mesmo posso dar um testemunho. Quando o avião, que me conduzia de Uruguaiana ao Rio de Janeiro, fez escala em Porto Alegre, em 25 de abril de 1964, ao descer no Aeroporto Salgado Filho, com minha família, encontrei o Adido Militar dos Estados Unidos, Coronel Vernon Walters. Conheci-o da FEB, quando ele ainda era capitão e intérprete junto ao V Exército. Aproximou-se de mim e falou, demonstrando surpresa:
- Puxa! Você está aqui?
- O que você está fazendo aqui? – perguntei-lhe do mesmo modo, também surpreso, por encontra-lo em Porto Alegre.
- Estou indo para a 3ª. DC, em Bagé. Ouvi dizer que houve problemas naquela região e quero observar os acontecimentos.
- Você está bem informado! – eu gostava de brincar e, também, dizer o que queria.
- Olha, já sei de tudo o que aconteceu, em Uruguaiana, com a 2ª. DC – completou o, então, Coronel Walters.
Vejo isso de uma maneira quase natural, porque eles deviam estar acompanhando a evolução do movimento” (Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 280).

“A bipolaridade existente no mundo de então, entre a Rússia e os Estados Unidos, fez com que surgissem movimentos, em todos os países, com o objetivo de sustentar a democracia, pois aqueles que não a mantiveram, como Cuba, cederam ao comunismo.
Quanto à influência externa, gostaria de fazer um relato. Vernon Walters, general americano que foi Adido Militar dos Estados Unidos no Brasil, em seu livro Missões Silenciosas, diz que não houve movimentação alguma por parte dos americanos. Ele diz que, com base em informações que vinham do Brasil, havia uma ‘contingência’. Esse é o termo usado por ele. Segundo Walters, os Estados Unidos tomaram uma posição de resguardo, preparação e planejamento. Mas não sabia da existência de movimento de tropas para isso. No entanto, em 1965, levei provas do exame de habilitação à Escola de Comando e Estado-Maior, para Juiz de Fora. Lá, o General D’Ávila Mello, que comandava a 4ª. RM, convidou-me para almoçar. Nesse almoço, apareceu, de repente, o General Vernon Walters. Foi uma surpresa agradável, porque ele era querido por nós dois. Começamos a conversar e ele disse que havia uma força-tarefa ao longo da costa brasileira pronta para atuar em defesa da Revolução. Se ele me desmentir, está desmentido” (Coronel Mário Dias, Tomo 2, pg. 300).

“Não houve qualquer ação externa, nem mesmo americana. O Embaixador Lincoln Gordon manteve o seu governo informado de tudo acerca da Revolução, como era de sua obrigação, mas, ao eclodir o Movimento, foi tão surpreendido como o foram os comunistas.
O Embaixador Lincoln Gordon pediu, através do General Vernon Walters, adido militar, que era coronel à época, muito amigo de todos nós – tinha sido oficial de ligação da FEB com o V Exército americano, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial – uma audiência com o Ministro Costa e Silva, que era o Comandante Supremo da Revolução. Marcada a data, o Embaixador, que falava português, chegou e disse o seguinte:
- Vim aqui pedir para os senhores assegurarem a liberdade de imprensa e os direitos humanos, e saber o motivo da invasão da Associated Press.
- Olha, Embaixador – falou o Ministro Costa e Silva, surpreso, olhando para ele – pensei que o senhor não tivesse dúvidas sobre isso. Claro que vamos cumprir a lei. Quanto à Associated Press, não é uma empresa do governo americano, nem ligado à sua embaixada. É uma empresa particular.
E prosseguiu:
- Pensei que o senhor viesse aqui cumprimentar-nos pelo êxito da Revolução, que evitou a comunização do Brasil, o que acarretaria real prejuízo para os Estados Unidos.
Essa foi a resposta do General Costa e Silva. O Sr. Lincoln ficou meio ‘sem graça’ e saiu.
Além disso, convenhamos, o General Mourão surpreendeu a todo mundo, inclusive o próprio General Castello Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército, que só soube do movimento de Minas Gerais depois que ele já estava na rua, que dirá o Sr. Lincoln Gordon” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 333-334).

“A única coisa que ocorreu e isso está no livro do meu pai [Carlos Luis Guedes] – cujo exemplar, que tenho aqui, é do meu irmão – foi uma conversa sigilosa de meu pai com o Vice-Cônsul dos Estados Unidos, o Sr. Lawrence Laser, que o procurou, oferecendo apoio em pessoa. Meu pai recusou, dizendo que, se fosse o caso, pediria ajuda material – blindados, armamento leve e pesado, munição, combustível e material de comunicações. Foi-lhe imposta a condição de que não seria desembarcado em solo brasileiro nenhum só homem, para que não fosse desvirtuado o caráter da Revolução. Também, nada lhe foi oferecido em troca, bastando-lhe a consideração dos riscos para a segurança norte-americana que um Brasil comunista representaria.
Em seu livro, diz meu pai: ‘Meu interlocutor (Lawrence Laser), por sua vez, mostrava-se impressionado com a receptividade do Movimento revolucionário no dia 31 de março e o entusiasmo da população em Belo Horizonte. As filas extensas nos postos de apresentação de reservistas e voluntários; a mobilização incalculável dos meios de transportes – caminhões de todos os tipos, jamantas, carros de passeio; a ordem, a organização, tudo concorrendo para que, no seu espírito, se firmasse a ideia da sanidade e do vulto do Movimento, finalmente desencadeado por uma nação que não queria perecer’.
Entretanto, a incrível derrocada do famoso e ameaçador dispositivo militar de Jango e de sua pretensa popularidade, que, afinal, se revelara um mito, tornou desnecessária qualquer ajuda material’.
(...)
No dia 31 de março, pela manhã, um avião leou o Dr. Oswaldo Pieruccetti para Vitória como emissário do Governo de Minas. Naquela capital, ajustaram-se todos os pontos de vista, integrando-se, no Movimento, todo o Estado do Espírito Santo – Governo, força policial, bem como a guarnição federal, por seu comandante Coronel Newton Fontoura de Oliveira Reis. Assim, ficou assegurado o porto para entrada de suprimentos a serem transportados pela E. F. Vale do Rio Doce, cujo tráfego seria garantido pelo 6º. Batalhão de Infantaria de Governador Valadares. O auxílio material americano deveria entrar pelo Porto Vitória, o que, também, foi dito pelo meu pai ao Sr. Laser. Mas, felizmente, como disse, as tratativas não precisaram prosseguir, com a queda do Governo, sem luta, o que foi, para o País, a melhor solução“ (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 260).

“Consegui recentemente um documento, publicado na coluna do Elio Gaspari – saiu no Estado de Minas, bem como no O Globo, em 19 de setembro de 1999. Neste artigo ele fala sobre Lincoln Gordon, mas o importante não é o artigo em si, que é irrelevante; e sim esse cabograma – naquele tempo, o meio de comunicação, sem Internet, era através de cabograma – que aparece aqui.
Esse cabograma é do dia 30 de março, de uma informação gerada nos Estados Unidos no dia 30 de março de 1964, para o então Presidente, alertando de que o Movimento no Brasil – não fala em Minas Gerais, fala no Brasil – já estava em andamento para a destituição do Presidente da República. Só que não tinham a menor ideia de como tudo iria se processar, que a destituição seria muito mais rápida do que se imaginava, do que eles pensavam.
Outro fato inventado, o que chega a ser ridículo, é que o Movimento foi insuflado pela CIA (Central de Inteligência norte-americana), foi orientado pela CIA, quando absolutamente não houve nada disso. Mais uma insensatez dos revanchistas!
O Movimento deu certo, até porque foi feito, como dizemos mineiramente, com aquela velha história de que mineiro trabalha em silêncio, foi sendo germinado lá em Minas, sem que houvesse interferência de potência nenhuma.
Voltando ao cabograma, por que aquele texto veio em um cabograma do dia 30? É porque, no dia 30, de manhã, meu pai se reuniu com o Vice-Cônsul dos Estados Unidos, em Belo Horizonte, num apartamento de um primo meu, Adalberto, já falecido, e deu ciência de que nós estávamos começando um movimento revolucionário, para deposição do Presidente João Goulart.
Esse enfoque, essa comunicação ao Vice-Cônsul, cujo nome era Laser, gerou essa informação, através da embaixada, para os Estados Unidos. E ainda cito mais o seguinte: nessa conversa, o meu pai disse-lhe que, dependendo do desenrolar da situação, talvez se precisasse de um apoio dos Estados Unidos, sobretudo de natureza logística, porque, com certeza, como já vinha acontecendo, as forças de esquerda teriam o apoio daqueles que queriam transformar o Brasil numa grande Cuba. Essa é que é a realidade
(...)
Ainda tem uma coisa que meu pai disse para esse Laser: ‘A única coisa que não aceitamos, em hipótese alguma, era algum desembarque de tropa em nosso País; frisou, portanto, que não se admitiria nenhuma tropa americana desembarcando em qualquer parte do território nacional, em apoio ao Movimento de ‘964’.
Esse apoio poderia vir através de armas, de verbas, de mídia, em propaganda mundial a favor do Movimento em si, mas sem desembarque de tropa. Essa comunicação foi feita no dia 30; qualquer coisa que se fale de CIA, de envolvimento norte-americano, é um despropósito, não corresponde à realidade, em nosso Movimento que foi preparado em Minas, que é onde tudo começou.
Dentro das preocupações, houve um outro detalhe quando se resolver fazer o Movimento revolucionário, Minas, por ser um Estado continental, sem saída para o mar, ficaria dependente de ligações aéreas e, em determinadas ocasiões, marítimas, que se fariam muitas vezes, em apoio ao desembarque de armamento, de equipamento etc.
Para isso, o Governador do Espírito Santo, que estava solidário ao Movimento contra a comunização do País, colocou o seu Estado à disposição de Minas, cedendo os portos para qualquer operação que se fizesse necessária.
Nessa parte, cito a grande colaboração que deu ao Movimento o Marechal Denys. Ele estava em Juiz de Fora, e acompanhou as tropas; quando houve a primeira parada, ele foi quem fez o primeiro contato com a tropa que vinha do Rio.
Quem comandava o Destacamento vindo do Rio – composto pelo 1º. RI – Regimento Sampaio e por um Grupo do Regimento Floriano, era o Coronel Raimundo, Comandante do Sampaio, muito ligado ao Marechal Denys, e este, quando o Destacamento chegou a Três Rios, fez um contato com o Coronel Raimundo, destacando as razões do Movimento e solicitando a adesão do seu amigo e antigo subordinado. O Coronel comunicou-se imediatamente com quem o mandara contra a tropa de Minas, informando-lhe que as suas tropas estariam, a partir daquele momento, ao lado das tropas mineiras” (Coronel Carlos Alberto Guedes, Tomo 9, pg. 254-255).

Afinal, qual foi a posição dos EUA?

Achei estranho que nenhum dos entrevistados tenha falado sobre a famigerada “Operação Thomas Mann”. Então, vamos a ela.

É mentirosa a versão da participação dos norte-americanos na Contrarrevolução brasileira de 1964. Os documentos da inexistente "Operação Thomas Mann" foram forjados pela espionagem tcheca que, em 1964, atuava no Brasil via KGB. Essa mentira foi montada por Ladislav Bittman, que chefiava o serviço de desinformação da Tchecoslováquia. Em seu livro The KGB And Soviet Disinformation, publicado em Washington, Bittman declara: "Queríamos criar a impressão que os Estados Unidos estavam forçando a Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomar uma posição mais anticomunista, enquanto a CIA planejava golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba (...) A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória perpetradora de intrigas antidemocráticas" (site Ternuma).

O livro "1964: O Papel dos Estados Unidos no Golpe de Estado de 31 de Março" (Civilização Brasileira, Rio, 1977), da historiadora norte-americana Phyllis R. Parker, com tradução de Carlos Nayfeld, diz textualmente, nas "Conclusões", à pg. 128: "Não há provas de que os Estados Unidos instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do golpe de 1964. Cada uma dessas funções parece ter competido a Castelo Branco e seus companheiros de farda. Ao mesmo tempo, há sugestivas evidências de que os Estados Unidos aprovaram e apoiaram a deposição militar de Goulart quase que desde o princípio. Os Estados Unidos reforçaram o seu apoio ao elaborar planos militares preventivos que poderiam ter sido úteis para os conspiradores, se houvesse surgido a necessidade".

Leia, de minha autoria, Operação Brother Sam, uma operação fantasma, disponível na Internet - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/05/operacao-brother-sam-uma-operacao.html.

Obs.
Abraham Lincoln Gordon foi o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, entre 1961 e 1967.
O Marechal Odílio Denys havia sido Ministro da Guerra, no posto de General-de-Exército. O Coronel Raimundo havia sido assistente-secretário do Marechal Denys durante muito tempo.
Naquela época, um quatro estrelas, quando era transferido para a reserva, era promovido automaticamente a Marechal, como o foram também Castello Branco e Costa e Silva, dentre outros.
Castello Branco acabou com essa promoção automática, em todos os postos e graduações, quando assumiu a Presidência da República. Também limitou em 12 anos o tempo de permanência dos generais na Ativa.
F. Maier

A única ingerência dos EUA não obteve sucesso

“O General Médici, que era então o Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), veio almoçar comigo e conversamos muito. Eu lhe disse: ‘General, gosto muito do Brasil, acompanhei brasileiros quando estavam morrendo pela liberdade na guerra [na Itália]; estou preocupado de estar falando da cassação do Presidente Juscelino, mas se ela for consumada, vai dar rolo no mundo inteiro’. Ele me disse: ‘Infelizmente, já está assinada’. Foi a única ingerência que eu confesso e não obtive êxito.
Além do mais, nós, nos Estados Unidos, temos uma lei da liberdade de informação que, depois de 12 anos, não há mais segredos. Todos que pensam que tive alguma participação nisso, podem pedir ao Pentágono os telegramas que mandei durante aquela época. Eu era bem informado, mas entre informado e participante há um mundo de distância.
O senhor conhece os militares brasileiros e, por isso, sabe como teria sido a reação deles com relação a um estrangeiro que dissesse: ‘Vocês devem fazer isso ou não devem fazer aquilo’. Por isso, fui muito cuidadoso falando com o General Médici sobre a cassação do Juscelino.
(...)
Acho que quem pensa que a Revolução foi um golpe fascista dos militares precisa ver as fotografias que foram tiradas, diante deste edifício, do Comício – se não me engano, no dia 13 de março – das bandeiras vermelhas, das palavras de ordem, dos cartazes expostos, tudo publicado também nos jornais e nas revistas da época. Só isso bastaria para saber se havia perigo dos comunistas tomarem o Poder. O povo sentiu isso, foi para as ruas, estimulou os militares, que viam os acontecimentos com preocupação, impacientes...
Mas me lembro, uma vez, em que eu estava no pátio aqui assistindo ao 7 de Setembro ao lado do embaixador soviético e ele disse: ‘Vocês, americanos, não têm dom para línguas estrangeiras; vocês sempre exigem que a gente fale inglês com vocês’. Embora pudesse haver um pouco de verdade nisso, eu lhe disse: ‘Embaixador, estranho muito – falei em russo – estranho muito que um homem como o senhor, que tem vivido tanto tempo fora da União Soviética, ainda acredita nesses contos de fada da propaganda comunista’. Aí, ele me disse: ‘Walters, você pode ser um bom soldado, mas diplomata você não o é’.
A verdade é que qualquer bom ou mau diplomata percebe claramente que não há o menor nexo achar possível que brasileiros estivessem dispostos a ouvir estrangeiros, americanos, a dar palpite aqui dentro sobre revolução. Acresce que os americanos não têm nada a opinar e muito menos a ensinar para brasileiros em termos de revolução! Há, aí, uma ignorância enorme a respeito do Brasil para pensar que estrangeiros pudessem fazer isso, mesmo que nada entendessem de diplomacia!” (Tenente-General Vernon Anthony Walters, dos EUA, Tomo 9, pg. 76-77).

Obs.
O General Walters “foi ajudante-de-ordens do General Mark Clark, quando Comandante do V Exército norte-americano, ao qual a Força Expedicionária Brasileira (FEB) ficou subordinada no Teatro de Operações da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi designado, em agosto de 1944, Oficial-de-Ligação do V Exército junto à FEB. De 1964 a 1967, desempenhou as funções de Adido Militar junto à Embaixada americana no Brasil, período em que foi promovido a General” (Tomo 9, pg. 67).
F. Maier

Auxílio americano ao Brasil:

Auxílio financeiro ao IBAD, distribuição de viaturas e compartilhamento de informações sobre movimentação de comunistas brasileiros (além da Aliança Para o Progresso e The Cooperative League of the USA - CLUSA)

“Nos dez anos em que passei mergulhado no processo revolucionário, só ouvi falar de assuntos que envolviam americanos, duas vezes. Uma sobre um tal de IBAD – que receberia recursos através da Agência Central de Informações (CIA), para financiar a eleição de parlamentares anticomunistas. Também fiquei sabendo que havia um negócio de viaturas, que compravam e distribuíam etc. Nada mais, nunca mais ouvi nada. Tempos depois, já em Brasília, na D2 [embrião do CIE] do Gabinete do Ministro Costa e Silva, recebíamos a colaboração que acreditávamos, na época, ser proveniente de agentes da CIA. Entretanto, tinha origem na Embaixada, cujo pessoal atuava no controle da movimentação de comunistas para a China, URSS, Tchecoslováquia, Cuba etc. Eles nos forneciam os nomes, as datas e locais onde fossem plotados, até mesmo seus destinos.
Brasileiros? [entrevistador]
Os brasileiros. Lembro que um dos pontos de controle ficava em Karachi, no Paquistão. Recebíamos a informação e vigiávamos o regresso, bem como os itinerários. Regressavam pela Guiana, por Mato Grosso, e outros pela Argentina mesmo.
Estas foram as participações americanas de que tomei conhecimento; devo esclarecer que era ligado, cerradamente, a escalões que deveriam saber de alguma coisa. Ouvi falar sobre uma força-tarefa, mas sem comprovação, que os americanos imaginaram mandar para cá para atuar, em caso de insucesso da Revolução” (Coronel José Campedelli, Tomo 15, pg. 288-289).

BIBLIOGRAFIA:

MOTTA, Aricildes de Moraes (Coordenador Geral). História Oral do Exército - 1964 - 31 de Março - O Movimento Revolucionário e sua História. Tomos 1 a 15. Bibliex, Rio, 2003.

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