| 15 JANEIRO 2016 - MÍDIA SEM MÁSCARA
ARTIGOS - CULTURA
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O Brasil precisa de um novo IPES, congregando amplos setores da vida nacional em volta de um objetivo comum: a recuperação da sociedade brasileira, em todos seus aspectos, não só econômicos.
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) foi fundado em 1961 no Rio de Janeiro pelo coronel Golbery do Couto e Silva e um grupo de empresários anticomunistas, dispostos a readequar e a reformular o Estado brasileiro. Tinha por objetivo criar barreiras intelectuais contra a propagação das ideias marxistas durante o governo João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os governos militares pós-1964.
“No setor privado, destaca-se o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), fundado em 1961. O Ipes é geralmente associado à conspiração para depor o presidente João Goulart, mas a sua contribuição foi relevante para as reformas. Na verdade, o Ipes apoiou uma série de estudos sobre problemas estruturais da economia de que participaram muitos especialistas, entre os quais Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto” (Maílson da Nóbrega, in “Há esperança”, Veja no. 2459, 6/1/2016).
O IPES, o IBAD (1), a CAMDE (2) e as Forças Armadas formaram a base quadrangular decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964, contra Jango e sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil. O IPES passou a existir oficialmente no dia 29/11/1961 (Jânio Quadros havia renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido favoravelmente por diversos órgãos da imprensa, como o Jornal do Brasil, O Globo, O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara.
Além do Rio e de São Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus e outros centros menores. O IPES foi formado pelo trabalho do empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva, como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais famosas conferencistas do IPES.
As sementes do IPES (assim como do IBAD e do CONCLAP) (3) foram lançadas no final do governo JK, cujos excessos inflacionários geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e durante a presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram grandes esperanças. O IPES produziu em torno de oito filmes, para alertar os desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean Mazon e Carlos Niemeyer. Escritores de peso do IPES foram Nélida Piñon, Rachel de Queiroz e José Rubem Fonseca, autor de Feliz Ano Novo. Segundo Fonseca, o “IPES buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores democráticos” (AUGUSTO, 2001). (4)
“Somente nas ações contra o regime, despendeu o equivalente a 100 milhões de dólares, fortuna bancada com doações de centenas de grandes e megaempresários brasileiros e estrangeiros. O número de corporações americanas que apoiaram financeiramente a entidade chegou a 297” (FIGUEIREDO, 2005: 107-8). (5)
Futuros ministros dos governos militares também foram membros do IPES: Antonio Delfim Netto, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Otávio Gouveia de Bulhões, Hélio Beltrão. O IPES teve o apoio também de Paulo Malta (Diário de Pernambuco), Pedro Dantas (pseudônimo de Prudente de Morais Neto), embaixador José Sette Câmara, embaixador e poeta Augusto Frederico Schmidt. Com apoio do IPES foi lançado o livro UNE - instrumento de subversão, em que “a estudante Sônia Seganfredo expunha a infiltração comunista no meio universitário” (ORVIL, pg. 158).
O IPES participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em agosto de 1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do “Complexo IPES/IBAD”:
1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos - CEMLA; Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones Sociales y Económicas - IISE;
2) Guatemala: Centro de Estudios Económico-Sociales - CEES;
3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social - CEAS;
4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales - CERES;
5) Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales - IPIES;
6) Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos - SEI; Fundação Aliança para o Progresso;
7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las Instituciones Empresariales Libres.
“Em 64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery e Roberto Campos” (Sebastião Nery, in “Os filhos de 64”, Jornal Popular, Belém, PA, 6/10/1995).
Hoje, é urgente que surja um novo IPES e entidades congêneres no Brasil. Depois de 13 anos de governo do PT, que arrasou completamente a economia brasileira, não se vê nenhum movimento semelhante ao IPES para tirar o Brasil dessa encalacrada. Os grandes empresários foram cooptados pelo governo, a exemplo dos “campeões nacionais”, como Eike Batista, o dono da Friboi e os grandes empreiteiros (muitos dos quais passam uma temporada no “Hotel Moro”, em Curitiba), às custas de endividamento público trilionário, via BNDES. As instituições estão aparelhadas pela esquerda, como a CNBB (“braço religioso” do PT ateu), a CUT (braço sindical do PT), a UNE (braço estudantil do PT), o MST (as falanges do PT, junto com MTST e black blocs de várias tendências radicais – além dos agentes cubanos fantasiados de médicos do programa Mais Médicos). A classe intelectual, jornalística e artística, em sua maioria, apoia incondicionalmente o PT, por mais escândalos que surjam todos os dias. Assim, com a cooptação desses setores em torno da ideologia esquerdista, como será possível surgir um novo IPES?
Apesar desse sistema fascista instalado pelo PT no Brasil, de cooptação de todos os setores da sociedade, uma tênue luz está aparecendo no final do túnel sombrio. Lentamente, vão surgindo alguns focos de resistência na academia, como visto na Universidade de Brasília, onde um grupo que se apresenta como de direita (alvíssaras!) tomou posse do Centro Acadêmico, antiga capitania hereditária do PCdoB, PSol e assemelhados. As redes sociais também estão balançando este status quo que persiste há anos no País, de endeusamento da esquerda e satanização dos militares pós-1964 – para desespero do marxista professor de História, que louva Cuba e vai fazer compras em Miami.
Mas isso é muito pouco. Não adianta só realizar manifestações nas ruas e nas praças, porque não é isso que vai derrubar o governo, que está totalmente comprometido com a bandidagem em seus três níveis, Executivo, Legislativo e Judiciário, onde todos estão defendendo uns aos outros para não serem cassados. Não adianta, também, só tirar o PT do poder, porque o problema está em todo o sistema estrutural da sociedade, em seus aspectos políticos, sociais, econômicos e, principalmente, morais. Após dezenas de anos sendo educados pelas novelas da TV Globo, a sociedade brasileira atingiu o nível supremo da esbórnia, da desagregação das famílias e da destruição dos valores cristãos.
Uma boa nova surgida em 2004 é o projeto Escola Sem Partido, organizado pelo advogado e procurador Miguel Nagib, que coordena um site para difundir sua ideia (www.escolasempartido.org). Consiste na máxima de que a escola é lugar do aluno auferir conhecimentos, não ser doutrinado na ideologia marxista, como vem ocorrendo há décadas. Por isso, a máxima desse projeto é “Educação Sem Doutrinação”, apresentando os deveres do professor, que deveriam ser afixados em todos os murais das escolas e faculdades. E cumpridos pelos educadores. Como era de se esperar, a reação da esquerda foi imediata, principalmente por parte dos sindicatos de professores, dirigidos pelos vermelhos desde sempre.
Esse projeto do Dr. Miguel já foi aprovado em muitas prefeituras e há um projeto de lei apresentado no Congresso Nacional, em 2015, pelo deputado Izalci Lucas, do PSDB/DF. Seria importante a aprovação desse PL, para que a juventude brasileira deixasse de ser doutrinada numa ideologia que fez mais de 100 milhões de vítimas no século XX. Afinal, temos que depositar a esperança nos jovens, porque os adultos estão desanimados e os velhos apenas revoltados, todos sem poder de reação num sistema apodrecido.
Enfim, como afirmado acima, o Brasil precisa de um novo IPES, congregando amplos setores da vida nacional em volta de um objetivo comum: a recuperação da sociedade brasileira, em todos seus aspectos, não só econômicos.
Esse IPES deveria também ser estendido a todas as nações latino-americanas - como foi feito no passado -, para a reconstrução dos países arrasados pelo bolivarianismo. Na Argentina foi dado o primeiro passo, com a eleição do presidente Mauricio Macri. Na Venezuela, apesar do aumento da violência do regime de Maduro, a oposição venceu as últimas eleições parlamentares, dando um ânimo novo ao país. São sinais auspiciosos, de que o “socialismo do século XXI” está desmoronando na região, num efeito dominó.
Se o Foro de São Paulo estendeu seus tentáculos em toda a região, para criar a União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL), por que não criar o anti-Foro, o novo IPES, para combater esse projeto demoníaco?
Notas:
(1) IBAD - Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD era uma organização anticomunista fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens empresários fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Entre eles, Gilbert Huber Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana, Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para a criação do Instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil. A ação do IBAD era baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD, foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas Promotion. Esta era subsidiária daquele Instituto, financiada por capital norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação do american way of life. Os métodos utilizados pela agência foram herdados do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). O IBAD criou e incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições legislativas e para o governo de 11 estados. O IBAD e o IPES financiaram, produziram e difundiram uma grande quantidade de programas radiofônicos, de televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista. As duas entidades contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição ao governo João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito do contragolpe militar de 1964. Muitas das radionovelas, filmes de cinema e programas de televisão da época tinham mensagens explícitas e implícitas a favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média brasileira a expressão “anos dourados”. Em Minas, articularem-se com o IBAD o Pe. jesuíta João Cândido de Castro e o deputado Bonifácio de Andrada, líder do governo Magalhães Pinto na Assembleia Legislativa, onde organizou a ADEP. O IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. O deputado Rubens Paiva (PTB) era um dos integrantes dessa CPI e teve seu mandato cassado no dia 10/4/1964. Membros do IBAD queimaram alguns documentos comprometedores visando dificultar as investigações, porém foram comprovados investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20/12/1963, o IBAD foi dissolvido pelo Poder Judiciário. No dia 20/1/1971, Rubens Paiva foi sequestrado em sua residência do Rio e, desde então, foi dado como desaparecido. Documentos em posse do antigo comandante do DOI-CODI/Rio, coronel Júlio Miguel Molinas Dias, executado no dia 4/11/2012 com 15 tiros em Porto Alegre em situação não esclarecida pela polícia, comprovam que Rubens Paiva ficou preso no DOI-CODI. A documentação, que inclui uma relação de itens particulares do preso, foi entregue por Tarso Genro, governador do RS, à Comissão Nacional da Verdade em 27/11/2012.
(2)CAMDE - Campanha da Mulher pela Democracia: criada pouco antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do Couto e Silva. “Eles convincentemente argumentavam que o Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só mudaria se ‘legitimado’ por alguma força civil, e que as mulheres da classe média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de civis” (P. Schmitter, in Interest, Conflict and Political Change in Brazil, Stanford, California University Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista, promoveu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no dia 19/3/1964, em São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo 500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31/3/1964. No dia 2 de abril, a CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina Bastos encerrou seu discurso dizendo: “Nós louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”. As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional, “já conspurcada pelos maus presidentes que o precederam” (O Estado de S. Paulo, 12/4/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos atuantes em 1964, além da CAMDE: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG); União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954, foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho, proprietário de “O Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade, dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC); Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo; Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto Alegre, RS.
(3) CONCLAP - Conselho Superior das Classes Produtoras: junto com o IPES e outros órgãos, ajudou a promover o Movimento de 1964, que evitou a comunização do Brasil.
(4) AUGUSTO, Agnaldo Del Nero. A Grande Mentira. Bibliex, Rio, 2001.
(5) FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do Silêncio - A história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís a Lula - 1927-2005. Editora Record, Rio de Janeiro e São Paulo, 2005.
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