Textos anteriores de Félix Maier podem ser lidos em PIRACEMA - Nadando contra a corrente
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Vitória de Pirro
Félix Maier
21/11/2014
De 1999 a 2002, eu servi no Ministério
da Defesa (MD), na Secretaria de Organização Institucional (Seori), que
era chefiada pelo Dr. Varanda. Lá descobri que todo mundo era "doutor",
desde que ocupasse um DAS, mesmo tendo só o 2º grau. Um nome bem
apropriado, "varanda", já que o doutor "estava por fora" de muita coisa
que ocorria em sua seara - como diziam as más línguas no "rádio
corredor". Funcionário público de carreira e oriundo da Casa Civil, o
que ele entendia mesmo era sobre cavalos, já que era proprietário de um
haras.
Durante quase todo o ano de 2000, eu
acompanhei a "malhação" que a imprensa fazia contra as Forças Armadas,
por conta do estudo da nova Lei da Remuneração dos Militares, que estava
sendo feito no Depad, Departamento da Seori que trata sobre legislação,
entre outros assuntos. Esse acompanhamento era facilitado tendo em
vista que na Secretaria recebíamos a resenha dos jornais e revistas
feitas no MD.
Como disse, a malhação contra os
militares era quase diária: para os jornalistas, éramos todos marajás,
com um monte de regalias que não eram concedidas aos mortais comuns,
como posto acima quando da ida para a reserva, quinquênios, auxílio
moradia, pensão para filhas etc.
Quando finalmente saiu a nova
Remuneração, eu não pude esconder um grande desapontamento. Afinal,
durante mais de trinta anos eu tinha ouvido falar sobre um tal de
"soldão" que estava em estudos, e, quando finalmente foi aprovado o tal
"soldão", observei que tinha sido uma vitória de pirro, um grande
engodo.
Revoltado, mandei uma carta, por e-mail, a vários jornais. O Jornal da Comunidade, um semanal de Brasília com distribuição gratuita aos sábados, publicou meu texto na íntegra. A Folha de S. Paulo
publicou a última parte, que é um resumo da "vitória de Pirro", com uma
charge em que aparece um capitão com maus bofes, com uma pata de porco
em cima e umas moedas caindo, sendo pegadas por uma unha de gato. Não
sei se descobriram que eu era capitão. Cópia desses textos podem ser
conferidos nas imagens abaixo.
O secretário Varanda, ao ler a resenha
da Folha de S. Paulo, chamou seu chefe de Gabinete, Dr. Paulo Roberto,
perguntando "esse Félix Maier é o nosso capitão?" O Dr. Paulo Roberto
respondeu "não sei, mas vou perguntar a ele".
Foi um bafafá e tanto no Ministério da
Defesa. Como pode um pica-fumo criticar o trabalho da Secretaria onde
trabalhava? Que sujeito abusado!
Já me via preso no 32º Grupo de
Artilharia de Campanha, para onde são levados os oficiais do Exército em
Brasília que dão alteração grave. Cadeia. Mas, depois de algumas
discussões no MD, suponho, onde havia com certeza os falcões que queriam
minha cabeça e a turma do "deixa pra lá", recebi apenas uma repreensão
verbal, que não consta em meus assentamentos. O capitão-de-mar-e-guerra,
gerente de Recursos Humanos, foi quem me chamou para dar a punição, ou
seja, para dizer que eu estava repreendido. O comandante da Marinha, no
entanto, fez questão de dizer que eu estava certo, que tínhamos sido
enganados. E lembrou que havia lido o texto completo no Jornal da Comunidade.
Uma vitória de Pirro, que fez um
estrago considerável no meio das Forças Armadas, pois, além de dar com
uma mão e apanhar de volta com outra, não houve cálculo de transição
(x/30), onde "x" eram os anos de serviço prestados, apenas uma regra:
quem já tinha 30 anos de serviço mantinha os "privilégios", como posto
acima e pensão para as filhas. O restante se danou. Não é preciso dizer
que os generais todos, à época, já tinham mais de 30 anos de serviço. O
deles estava garantido. O restante da tropa que se estrepasse. Teve
militar que passou a receber menos no contracheque (líquido), por ter
passado para outra alíquota do imposto de renda.
Essa
sem-vergonhice instituída por uma Medida Provisória até hoje não foi
votada pelo Parlamento. É uma medida exata do que pensam os deputados e
senadores sobre os militares das Forças Armadas: que se fodam!
Mas
nem tudo foi pro buraco. Sobrou o R$ 0,16 de salário família por
dependente, essa fortuna toda (!), que ainda é paga até os dias de hoje
aos militares. Não cobre a tinta de impressão do contracheque. Três filhos dão direito a R$ 0,48...
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