Preâmbulo:
Textos anteriores de Félix Maier podem ser acessados no blog PIRACEMA - Nadando contra a corrente - link http://felixmaier.blogspot.com/
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Pensando o século XX – uma resenha
Félix Maier
O livro Pensando o século XX
(1) foi escrito a quatro mãos pelos historiadores e especialistas em
Leste europeu Tony Judt (britânico) e Timothy Snyder (norte-americano),
mais por Judt do que por Snyder. O livro é fruto de transcrição de
gravações feitas quando Judt já sofria de doença degenerativa, a
esclerose lateral amiotrófica, que o levou à morte em 2010. No livro, em
letra redonda, é apresentado o pensamento político e filosófico de
Judt, enquanto que em itálico aparecem as intervenções de Snyder, um
provocador nato. [E, entre colchetes, nesta resenha, minhas divagações.]
Descendente
de judeus (assim como Snyder), Judt foi criado em uma família
comunista. Daí sua nostalgia por um socialismo imaginário, que ele nunca
viu se concretizar em país algum. Ele preza mais o liberalismo no
sentido britânico/americano do que o liberalismo clássico. Lembra até
uma frase solta, atribuída a Shakespeare, totalmente fora de propósito:
“matar todos os economistas”. [Resta saber quem iria substituir os
economistas que, segundo a língua ferina em geral, só sabem diagnosticar
o óbvio, depois dos fatos consumados.] Enfim, o sonho maior de Judt era
os EUA se tornarem uma nação de bem-estar social. Não houve tempo para
dar os cumprimentos a Obama... Judt enaltece John Maynard Keynes e não
poupa críticas a Friedrich Hayek, chamando-o de “autista político”. No
entanto, reconhece que a intervenção do Estado na economia eleva gastos
públicos, produzindo inflação: “Os
keynesianos do pós-guerra eram na maior parte desinteressados na
inflação ou no risco relacionado a uma dívida estatal sempre crescente.
Tinham aceitado que o pleno emprego era o objetivo o gasto do governo
era o meio – sem entender que a política contracíclica atua nos dois
sentidos: nos bons tempos, você dever cortar gastos. Mas é muito difícil
diminuir gastos de governo. E assim se teve uma inflação maior” (pg. 372-3).
Criado
num ambiente esquerdista, Judt não podia deixar de falar sobre o
“historiador” comunista Eric Hobsbawn, refugiado em Londres, fugindo da
Alemanha nazista, que chegou a ser eleito secretário dos “Apóstolos” (2)
e fez parte do Grupo de Historiadores do Partido Comunista. Também não
podia deixar de falar dos “Cinco de Cambridge”, espiões britânicos
contratados pelos soviéticos: Kim Philby, Guy Burgess, Anthony Blunt, Donald Duart MacLean e John Cairncross. Philby foi até agraciado com um selo comemorativo soviético, em 1990.
[Espiões
na academia: constrangimento entre a intelectualidade? Nada disso! Na
época, a traição aos interesses britânicos foi até considerado um ato
heróico, como ocorre também em nossa Terra da Jabuticaba. Em nome do
socialismo/comunismo, vale tudo! Londres, durante muito tempo, foi uma
verdadeira incubadora de terroristas, tanto de esquerda, quanto
islâmicos (3). Em 1864, foi fundada em Londres a Associação
Internacional de Trabalhadores (AIT), posteriormente denominada “I
Internacional”; foi integrada por marxistas e anarquistas do movimento
operário europeu que se opunha ao capitalismo, entre eles Marx, Proudhom
e Bakunin. Lá foi criada em 1884 a Fabian Society, agremiação
socialista de tendência marxista; deriva-se do nome de Fabius Cuntactor
(Fábio, o Contemporizador), que substituiu a doutrina da “mais-valia”
pela da renda socialmente criada que o Estado deveria devolver ao povo
na forma de realizações de interesse público; Bernard Shaw e H. G. Wells
pertenceram a essa variante langue de bois
socialista. Lá existia (ainda existe?) o onagro a serviço da URSS
chamado Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos, com centenas de
milhares de membros em 51 países. Lá existia (ainda existe?) o
Movimento Revolucionário Internacionalista(MRI), que apoia movimentos
maoístas no mundo todo, como o Sendero Luminoso, no Peru, e o PKK, na
Turquia. Lá existia (ainda existe?) o Peru Support Group,
um grupo de apoio ao Sendero Luminoso, grupo terrorista do Peru; faziam
parte do grupo o Presidente da Comissão de Direitos Humanos do
Parlamento e religiosos jesuítas britânicos. Em Londres foi constituído,
em 1966, o I Tribunal
Bertrand Russell, que criticava as ditaduras latino-americanas, mas
nada falava das ditaduras comunistas. Lá foi criada a Anistia
Internacional, ONG esquerdista por excelência, que defendeu
“prisioneiros de consciência” como Abimael Guzmán, líder do Sendero
Luminoso. Lá é publicado o jornal Al-Quds al-Arabi (editor: Abdul-Bari
Atwan, ligado à Al-Qaeda); em editorial na véspera do atentado do voo
800 da TWA, o jornal afirmou que “existe uma onda de ódio contra os americanos no cenário árabe” e que “foi Washington, suas políticas e seus aliados na região que criaram esse fenômeno e o alimentaram”, concluindo: “o que aconteceu no Cairo, em Riad e em Khobar é apenas o começo” (Cfr. BODANSKY, 2002: 238) (4). Lá existe o Comitê de Defesa dos Direitos Legítimos (CDDL), que é “o
maior e mais bem-organizado grupo de oposição islamita saudita e
desfruta de acesso à elite saudita no Ocidente e em sua pátria”
(BODANSKY, 2002: 194); no início dos anos de 1990, mostrava-se um
movimento islamita “modernista”, para criar uma imagem de “moderado” no
Ocidente; porém, após a divulgação da palestra do xeque Salman bin Fahd
al-Udah (“A Arte da Morte” - teve a importância de uma fatwa, convocando ao sacrifício da vida humana), este foi
preso na Arábia Saudita em setembro de 1994 e o CDDL passou a defender a
derrubada do governo em Riad através da luta armada. Os países ditos
democráticos sempre foram um porto seguro para terroristas de toda a
espécie, tanto comunistas como islâmicos. Não é à toa que em Londres
fica o túmulo de Karl Marx - além de bancos, jornais e organizações
islâmicas que apoiam o terrorismo. Enfim, após tantos anos da mais pura
leniência, os políticos britânicos só abriram os olhos depois dos ataques terroristas
ocorridos em estações de metrô e contra vários ônibus, em 2005, quando o
brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto por engano. Também tiveram
seus dias de Terceiro Mundo durante os tumultos
de 2011, quando jovens islâmicos queimaram prédios e carros, promoveram
saques e atacaram a polícia. Durante décadas, houve tempo de semeadura.
Até que veio a colheita.]
Quando
jovem, Judt passou algum tempo em Israel, onde ajudou a colher laranja e
banana. Estrangeiros admiradores do sionismo trabalhavam de graça nos
primeiros kibutzim, para auxiliar na efetiva ocupação do recém-criado país. Durante a Guerra dos Seis Dias, “organizações
sionistas, kibutzim e fábricas em Israel haviam emitido um pedido de
voluntários para trabalhar lá, substituindo os reservistas que haviam
sido convocados antes da batalha” (pg. 133). [Me faz lembrar a leva
de latino-americanos, incluindo brasileiros, cortando cana de graça em
Cuba, em prol da “revolução”. Tanto sacrifício por nada!]
Como
judeu, Judt afirma que sente facilidade em fazer críticas a Israel sem
passar a ser visto como antissemita. Suas posições são fortes: “Mas
Israel só nasce depois da Segunda Guerra Mundial. Como consequência,
ele se destaca por sua cultura política nacional um pouco paranóica e se
tornou doentiamente dependente do Holocausto – sua muleta moral e sua
arma preferida para se defender de todas as críticas” (pg. 139). Segue
Judt: “Se você pode vir para um país [EUA] em que – com o tempo – as
pessoas não vão saber que você é judeu a menos que você deseje que eles
saibam, então realizamos uma das grandes ambições dos assimilacionistas.
Nesse caso, por que precisamos de Israel?” (pg. 147-8). [Nas
entrelinhas, observa-se que Judt julga que a criação do Estado de Israel
foi uma decisão equivocada da ONU, e não haveria o conflito
israelo-palestino que perdura por décadas. De fato, não haveria o
conflito com judeus, mas o cada vez mais sangrento conflito
sunita-xiita. Se levarmos adiante esse raciocínio, também devemos
defender a não existência do Curdistão e de outras minorias étnicas que
estão sendo dizimadas no norte do Iraque pelos integristas do EIIL,
como curdos, cristãos e yazidis. E, por extensão, a não-existência de
ciganos, gays, negros, feministas, de modo que o mundo todo fique na
santa paz dos cemitérios.]
Sobre a Revolução Industrial, Judt começa mal, mas termina bem: “Ela pode ter tido terríveis resultados humanos no curto prazo,
mas foi necessária e benéfica. A transformação foi necessária porque sem
industrialização não teria sido gerada a riqueza fundamental para
superar os obstáculos malthusianos em sociedades agrárias; e foi
benéfica porque a longo prazo o padrão de vida de todos aumentou”
(pg. 119). [Judt termina bem seu raciocínio, mas por que começou mal?
Porque é um equívoco dizer que a Revolução Industrial, em seu primórdio,
trouxe miséria para a população, como o exposto em romances como Oliver
Twist. Qual era a outra opção para a classe trabalhadora do meio rural,
que migrou em massa para as cidades? Era morrer de fome. Então, era
melhor trabalhar 12, 15 horas por dia, em condições sub-humanas, do que
não ter o que comer. Em poucas décadas, a população britânica dobrou de
tamanho, graças à Revolução Industrial.]
Independente
em suas opiniões e alérgico a receber rótulos, Judt faz severas
críticas aos intelectuais franceses de esquerda, como Jean-Paul Sartre,
ao mesmo tempo em que tece elogios a Albert Camus e Raymond Aron. Também
escreveu textos sobre Kostler (autor de Darkness at noon
– Escuridão do meio-dia, sobre o terror na URSS), Kolakowski, Primo
Levi (o maior memorialista do Holocausto), Manès Sperber, Karol Woytyla
(depois Papa João Paulo II). “O
que sempre me incomodou em Sartre foi sua incapacidade continuada de
pensar direito, muito depois de as ambiguidades das décadas de 1930 e
1940 terem se dissipado. Por que, afinal, ele se recusa tão
insistentemente a discutir os crimes do comunismo, até mesmo ao ponto de
permanecer conspicuamente em silêncio sobre o antissemitismo dos
últimos anos de Stálin?” (pg. 53).
Por que, hoje, a esquerda internacional automaticamente é a favor dos palestinos e se volta contra Israel? Diz Judt: “Não
foi tanto na Guerra dos Seis Dias, de 1967, mas sim no período entre
essa guerra e a Guerra do Yom Kippur, em 1973, que a esquerda
internacional abandonou Israel. Isso, eu creio, teve mais a ver com o
tratamento de Israel aos árabes do que com as suas políticas internas,
que pouco mudaram nesses anos” (pg. 151). [Propaganda, Judt,
propaganda! Como os terroristas palestinos e até “O Chacal” estavam
intimamente ligados aos regimes comunistas de Moscou, Cuba e China, a
mídia, majoritariamente esquerdista, começou a atacar Israel,
considerado um apêndice maléfico dos EUA em pleno coração do Oriente
Médio. Nada mais do que antiamericanismo e antissemitismo, cada vez mais
exacerbado.]
Judt
apoiou a intervenção da ONU nos Bálcãs, no início dos anos de 1990. A
palavra mágica era “genocídio”. Não se deu conta de que tudo foi apoiado
em intensa propaganda, em que a mídia serviu apenas de caixa de
ressonância (“falar do que se fala”, “apoiar o que se apoia”), de modo a
sacramentar a intervenção. Por que não houve consternação semelhante a
respeito do genocídio em Ruanda, em 1994, quando 800 mil tutsis foram
mortos pela etnia rival, os hutus? O mesmo tipo de propaganda serviu
para Bush Filho bombardear e invadir o Iraque, em 2003: Saddam Hussein
estava construindo bomba atômica e tinha em seu poder grande número de
armas de destruição em massa, como agentes químicos e biológicos – além
de promover a tortura. A respeito das armas de destruição em massa,
segundo Judt, revelou-se que a fonte dessa informação foi Ahmad Chalabi,
“alguém que não só tinha um interesse pessoal óbvio na mudança
de regime no Iraque, mas que acabou se revelando um agente dos serviços
secretos iranianos” (pg. 332). [Olavo de Carvalho, em Os iluminados,
dá uma relação completa de tal material, que realmente existia. O
problema que se coloca é outro: por que os EUA atacaram o Iraque em
2003? Havia mísseis balísticos com ogivas químicas prestes a serem
lançadas no território americano? Não havia. Então, por que atacaram?
Para “promover a democracia”? Para mim, as duas guerras promovidas
contra o Iraque (1991 e 2003), destruindo toda a infraestrutura do país e
matando mais de 1 milhão de pessoas – aí incluídos os mortos por
inanição, leucemia provocada por urânio depletado e falta de remédio durante o entreguerras (1991 a 2003), devido às sanções da ONU
– configuram um crime colossal contra a humanidade. E tem gente que se
surpreende com os ataques islâmicos contra Nova Iorque (2001) e Boston
(2013). Os ataques contra o Iraque só atenderam aos interesses dos
senhores da guerra: os fabricantes de armas. Da mesma forma, amanhã, se
algum cacique proclamar a República Ianomâmi (muito provável de ocorrer,
em função da Declaração da ONU sobre os direitos
dos povos indígenas, que o Brasil assinou), e o País enviar forças
federais a Roraima para debelar o movimento, a ONU (leia-se EUA) poderá
apoiar uma intervenção no Brasil, atacando, não as tropas em Roraima,
mas incinerando toda a infraestrutura brasileira: refinarias e
plataformas de petróleo, São José dos Campos (Embraer, ITA), estações de
hidrelétricas etc. Foi, mal ou bem comparando, o que fizeram no Iraque.
Foi o que fizeram contra a Sérvia na questão do Kosovo, bombardeando
Belgrado e afundando pontes no Rio Danúbio.]
Judt
fala rapidamente sobre o Brasil em duas ocasiões: sobre os jogadores de
futebol brasileiros que jogam na Inglaterra e sobre a vergonhosa
disparidade de renda que existe em nosso País.
Sobre o marxismo, diz Judt: “Uma
coisa é eu dizer que estou disposto a sofrer agora por um futuro
desconhecido, mas possivelmente melhor. Outra coisa é eu autorizar o
sofrimento de outros em nome dessa mesma hipótese inverificável. Este,
em minha opinião, é o pecado intelectual do século: fazer um julgamento
sobre o destino dos outros em nome do futuro deles como você o vê, um
futuro em que você não pode ter nenhum investimento, mas em relação ao
qual você reivindica informação exclusiva e perfeita” (pg. 109).
E
sobre a pretensão do marxismo atual querer se perpetuar como opção
política, depois da queda do Muro de Berlim e do colapso da URSS,
deixando um rastro de 100 milhões de mortos, como prova o Livro Negro do Comunismo? “O
que acontece, afinal, quando o proletariado deixa de funcionar como um
motor da história? Nas mãos de praticantes dos estudos culturais e
sociais da década de 1970, a máquina ainda pode ser posta para
funcionar: você simplesmente substituía ‘trabalhadores’ por ‘mulheres’;
ou estudantes, ou camponeses, ou negros, ou – no fim – gays, ou na
verdade qualquer grupo que tivesse uma boa razão para estar insatisfeito
com a presente disposição de poder e autoridade” (pg. 173).
E
como foi feito essa “superação do marxismo”? Identificando-se com o
“jovem Marx”: o Marx filósofo, o Marx hegeliano, o Marx teórico da
alienação. “Os textos de Marx até o começo de 1845, principalmente os
‘Manuscritos econômico-filosóficos’, de 1844, agora se deslocaram para o
centro do cânone” (pg. 242). “Estar
do lado vencedor da história foi um trunfo soviético de 1917 a 1956:
depois disso, os perdedores começaram a parecer bons” (pg. 241). E
quem são esses perdedores? Trotsky, Rosa Luxemburgo, entre outros. É a
redescoberta dos “dissidentes comunistas”, como Karl Korsch, György
Lukács, Lucien Goldmann, Antonio Gramsci. Com isso, “o
marxismo se torna uma linguagem útil para novas categorias
revolucionárias substitutas – mulheres, gays, os próprios estudantes e
assim por diante. Essas pessoas podem agora ser prontamente inseridas na
narrativa, apesar de não terem nenhuma ligação orgânica com o
proletariado industrial” (pg. 242).
Um
assunto importante abordado por Judt é a Frente Popular, que atuou
durante a Guerra Civil Espanhola (1935-39, com apoio de Moscou. “Na
esquerda, a exemplificação política do antifascismo é a Frente Popular,
que reduz a Europa a fascistas e antifascista e que, em última
instância, se destina a proteger a pátria da revolução, a União
Soviética. E, como você [Judt]
observou em relação à Espanha, a maneira como os soviéticos
estabeleceram governos na Europa Oriental em primeiro lugar foi
precisamente baseada no modelo da Frente Popular” (Timothy Snyder, pg. 231). “E
assim, você produziu um grande partido guarda-chuva, ou frente, ou
coalizão, que estava em condições de justificar medidas repressivas
contra os partidos que não podia absorver. Pode-se argumentar que é isso
o que a Espanha era em miniatura, particularmente em Barcelona, em
1938” (Judt, pg. 232). [O atual governo petista dispõe hoje de um
amplo “guarda-chuva”, de uma frente populista, que são os partidos da
base aliada, também chamados como sendo da “base alugada”. Com
princípios gramscistas e de feição fascista,
sem que haja uma oposição política efetiva, o governo petista coopta
amplos setores da sociedade em volta de um objetivo comum, que é o de
comunizar o Brasil. Daí sua íntima ligação com ditadores comunistas
assasinos (desculpe o neoplasmo) – ou pretendentes a -, como Fidel
Castro, Nicolás Maduro, Evo Cocales, Cristina Kirchner, Daniel Ortega,
Rafael Correa. Daí sua ansiedade em propor um “plebiscito constituinte”,
que é apresentado para realizar uma reforma política, porém tem por
objetivo cubanizar mais rapidamente o Brasil, repetindo o que deu certo
na Venezuela de Chávez-Maduro. Daí sua persistência em controlar a mídia
sob o eufemismo de “democratização dos meios de comunicações”. Daí a
última patifaria totalitária assinada por Dilma Rousseff, que é o
decreto 8243, com vistas a dar um golpe final na democracia, com a criação de conselhos (sovietes) em todos os órgãos públicos.]
Sobre o ensino de História, Judt afirma que “em
nossa infância..., a história era um monte de informações. Você
aprendia de uma maneira aorganizada, em série – muitas vezes ao longo de
uma linha cronológica do tempo. O objetivo desse exercício era fornecer
às crianças um mapa mental – entendido para trás ao longo do tempo – do
mundo em que habitavam. Aqueles que insistiam em que essa abordagem era
acrítica não estavam errados. Mas revelou-se um grave erro substituir a
história carregada de dados pela intuição de que o passado foi um
conjunto de mentiras e preconceitos que precisam ser corrigidos:
preconceitos em favor de povos e homens brancos, mentiras sobre o
capitalismo ou o colonialismo, ou o que quer que seja” (pg. 284).
Continua Judt: “Fraudar
o passado é a mais antiga forma de controle do conhecimento: se você
tem poder sobre a interpretação do que aconteceu antes (ou pode
simplesmente mentir sobre isso), o presente e o futuro estão à sua
disposição. Portanto, é simples prudência democrática assegurar que
os cidadãos sejam historicamente informados” (pg. 284). [Não é preciso
muita imaginação para concluir que vários projetos dos governos tucano e
petista têm exatamente esse propósito: modificar a história recente do
Brasil, de modo que fique idêntica à cara da esquerda. Como exemplo,
podemos citar o Memórias Reveladas, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), já em terceira versão, onde se insere a funesta Comissão Nacional da Verdade,
por considerar apenas um lado da questão, diabolizando os militares e
enaltecendo os terroristas de esquerda. Da mesma forma, o PNDH pretende
modificar nomes em logradouros públicos, de modo a extirpar para sempre
da vida nacional nomes de “agentes da repressão”. Coisa típica de
bolchevique, que o PT é. Ponte Rio-Niterói virou Ponte Betinho. E a
Rodovia Castelo Branco, mudaria para Rodovia Carlos Lamarca? Sugiro
rebatizar Marginal Tietê para Marginal Lula da Silva.]
Um aspecto importante é abordado por Judt: a questão da história e da memória. “São filhas de mães diferentes, mas do mesmo pai – portanto se
odeiam e ao mesmo tempo têm em comum apenas o suficiente para ser
inseparáveis. Além disso, são obrigadas a disputar uma herança que não
podem abandonar, nem dividir. A memória é mais jovem e mais atraente,
muito mais disposta a seduzir e ser seduzida – e portanto faz muito mais
amigos. A história é a irmã mais velha: um pouco emaciada, simples e
séria, disposta a se retirar em vez de se envolver em conversa fiada.
Desta forma, ela é uma solitária política – um livro deixado na
prateleira” (pg. 295).
Judt
lembra que na França foi criado um Historial por um comitê
internacional de historiadores, em Péronne, e um Memorial, em Caen, para
lembrar a II Guerra Mundial. Ele afirma que o “Historial é pedagógico”, enquanto que o “Memorial é todo sentimento” (pg. 297). Continua: “O
Memorial se dedica a truques, artifícios e tecnologias para ajuda o
visitante a recordar o que ele acha que já sabe sobre a Segunda Guerra
Mundial. (...) Se de fato deve haver Memoriais, então as pessoas devem
pelo menos ser incentivadas a visitar primeiro os Historiais” (pg.
298). [No Brasil, já temos o Memorial da América Latina, em São Paulo, o
Monumento Tortura Nunca Mais, em Recife, o Memorial dos Povos
Indígenas, em Brasília – além de vários memoriais virtuais. Planeja-se
transformar “centros de tortura”, da época dos governos militares
pós-1964, em memoriais. Não me oporia a isso, desde que, juntamente com
esses memoriais fossem construídos, também, historiais, cujo acervo
fosse coletado por historiadores independentes, de acordo com a verdade
histórica, não obedecendo aos espúrios critérios ideológicos da
esquerda.]
Afinal, o que foi o século XX para Judt? “O
século XX é o século dos intelectuais, com todas as traições,
acomodações e compromissos que os acompanham. O problema é que hoje
vivemos em uma época em que ilusões, desilusões e ódios ocupam a posição
de destaque. Portanto, é preciso um esforço consciente tanto para
identificar como para salvar o núcleo do que foi bom na vida intelectual
do século XX” (pg. 303). [E ódio é o que não falta no Brasil,
principalmente nestes tempos petralhas, que opõem brancos contra negros,
índios contra agricultores, gays contra héteros. Assim, não deveria
causar surpresa os xingamentos
impublicáveis que Dilma Rousseff ouviu no encerramento da Copa da Fifa.
Houve um tempo de plantação do ódio. Hoje é tempo de colheita.]
O
livro da dupla de historiadores é bastante instigante. Ambos demonstram
ter uma grande consciência política, na busca insistente da verdade.
Por isso, embora tenham crescido num ambiente marxista, eles não têm
receio em renegar a antiga “verdade” que eles professavam, ainda que
isso possa, em alguns aspectos, ter prejudicado suas vidas acadêmicas. É
prova de integridade moral e ética acima de tudo.
O
socialismo é, antes de tudo, uma ilusão, por querer impor uma igualdade
linear a todos os humanos, que só é possível ocorrer em colônias de
insetos, como num formigueiro ou numa colmeia. “Uma ilusão é mais difícil de desfazer do que uma mentira”, afirma Frederick R. Karl no livro Geoge Eliot – A voz de um século, pg. 390 (5). Por isso, a busca do socialismo/comunismo é uma busca eterna.
No
entanto, Judt tem uma persistente nostalgia do socialismo, de um
socialismo de suas ilusões juvenis. Faz lembrar uma paixão antiga, uma
amante ou uma ex-esposa que nunca deixou de amar e ainda come de vez em
quando...
Notas:
(1) JUDT, Tony; SNYDER, Timothy. Pensando o século XX. Objetiva, Rio de Janeiro, 2014 (Trad. De Otacílio Nunes).
(2)
Apóstolos - Grupo de intelectuais, fundado em 1920, em Cambridge,
Inglaterra, influenciados por Hobson (imperialismo) e Lênin, entre os
quais se destacavam: Keynes, Bertrand Russell, Roger Fry, Ludwig
Wittgenstein, Leonard Woolf, Alfred Tennyson (que logo deixou o grupo),
Strachey, Wordsworth e Coleridge. “Ele (Bertrand Russel) foi sozinho para a Rússia, em 1920,
encontrou-se com Lênin e denunciou o seu regime como ‘uma burocracia
tirânica fechada, com um sistema de espionagem mais sofisticado e
terrível do que o do Czar e com uma aristocracia tão insolente e
insensível quanto’. (...) Embora (Russell) compartilhasse de seu (o dos
“Apóstolos”) pacifismo, ateísmo, anti-imperialismo e das ideias gerais
progressistas, desprezava a sua apatia pegajosa; o Grupo, por sua vez, o
rejeitou” (JOHNSON, 1994: 140-1) (6). Lyton Strachey escreveu o quarteto de ensaios biográficos, Eminent Victorians, publicado em 1918, expondo ao ridículo e ao desprezo Thomas Arnold, Florence Nightingale, o cardeal Manning e o general Gordon.
“Nos anos 30, os Apóstolos deixaram de ser o centro do ceticismo
político e se tornaram um centro ativo de recrutamento para a espionagem
soviética. Enquanto alguns Apóstolos, como Anthony Blunt, Guy Burgens e
Leo Long foram encorajados a se infiltrar nas agências britânicas a fim
de transmitir informações para Moscou, a totalidade da esquerda,
conduzida pelos comunistas, tentou manter a Grã-Bretanha desarmada -
política sustentada por Stálin até que Hitler o atacasse em junho de
1941. Na década de 20, o Partido Comunista britânico era composto pela
classe operária e se apresentava inovador e independente. No princípio
da década de 30, chegaram os intelectuais da classe média e o PC
rapidamente se tornou aviltadamente servil aos interesses da política
externa da União Soviética” (idem, pg. 290-1).
(3)
Vejamos, p. ex., as organizações atuantes na Inglaterra, a incubadora
por excelência do terrorismo internacional (Cfr. HUTTON, 1975: 227-8):
(7)
1) Pró-URSS: Artistas para a Paz; Conselho de Autores pela Paz Mundial; Associação de Amizade Inglaterra-China; Liga de Amizade Inglaterra Tcheco-Eslováquia; Sociedade de Amizade Inglaterra-Hungria; Comitê Britânico para a Paz; Sociedade de Amizade Inglaterra-Polônia; Associação de Amizade Inglaterra-Romênia; Sociedade de Amizade Inglaterra-Sovietes; Sociedade Inglaterra-Sovietes; Comitê Inglaterra-Vietnã; Associação Conolly; Movimento para a Paz dos Antigos Soldados; Dia da Mulher Internacional; Departamento de Pesquisas Trabalhistas; Liga pela Democracia na Grécia; Comitê de Ligação para a Defesa dos Sindicatos; Marx House – Centro de Educação do Partido Comunista; Organização dos Músicos para a Paz; Assembleia Nacional das Mulheres; Associação Nacional das Mulheres; Associação Nacional de Inquilinos e Residentes; Congresso do Povo para a Paz; Cientistas para a Paz; Sociedade de Relações Culturais com a URSS; Sociedade de Amizade com a Bulgária; Federação Trabalhista de Estudantes; Professores para a Paz; Conselho de Paz Gaulês; Federação de Paz de West Yorkshire; Parlamento das Mulheres; Comitê de Campanha de 1960;
2) Pró Pequim: A Sociedade Albanesa; Sociedade de Amizade Inglaterra-Albânia; Frente de Solidariedade Inglaterra-Vietnã; Movimento Comunista de Camden; Grupo Marxista-Leninista de Camden; Comitê Caribe-América Latina, Afro-Asiático; Jovens Comunistas de Chelsea; Comitê contra o Revisionismo pela Unidade Comunista; Partido Comunista da Inglaterra (Marxista-Leninista); Associação Comunista de Finsbury; Amigos da China; Os Internacionalistas; Comitê dos Trabalhadores de Londres; Fórum Marxista-Leninista; Organização Marxista-Leninista da Inglaterra; Sociedade para Compreensão Anglo-Chinesa; Partido dos Trabalhadores da Inglaterra; Partido dos Trabalhadores da Escócia;
3) Pró-Cuba: Comitê Tricontinental.
(4) BODANSKY, Yossef. Bin Laden - O Homem que Declarou Guerra à América. Ediouro, São Paulo, 2002.
(5) KARL, Frederick R. George Eliot - A voz de um século. Record, Rio e São Paulo, 1995 (Tradução de Laís Lira).
(6) JOHNSON, Paul. Tempos Modernos - O mundo dos anos 20 aos 80. Bibliex e Instituto Liberal, Rio, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).
(7) HUTTON, J. Bernard. Os Subversivos - A primeira revelação mundial do plano comunista de conquista do mundo ocidental. Bibliex, coedição com Editora Artenova S. A., Rio, 1975 (Tradução de Luiz Corção).
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