HISTÓRIA
ORAL DO EXÉRCITO
31
DE MARÇO DE 1964
O
Movimento Revolucionário e sua História
15
Tomos
Biblioteca
do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2003
FÉLIX MAIER
FÉLIX MAIER
“O Exército nunca foi
intruso na História desse País, o Exército sempre foi um instrumento da vontade
nacional” (General-de-Exército
Leonidas Pires Gonçalves, ex-Ministro do Exército – Tomo 1, pg. 85).
“Estaremos sempre solidários
com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever
de se oporem a agitadores e terroristas, de armas na mão, para que a Nação não
fosse levada à anarquia” (General-de-Exército Walter
Pires de Carvalho e Albuquerque).
A obra, que tem o general
Aricildes de Moraes Motta como coordenador geral, é composta de 15 volumes e abrange
entrevistas concedidas por 247 personalidades, incluindo principalmente
militares do Exército (de general a tenente), almirantes, brigadeiros,
deputados, embaixadores, jornalistas, advogados, engenheiros, juízes,
desembargadores, que foram testemunhas oculares dos históricos Idos de Março de
1964. Méritos pelo lançamento da importante obra devem ser creditados ao então
Comandante do Exército, Francisco Roberto de Albuquerque, e ao Conselho
Editorial da Biblioteca do Exército Editora (Bibliex), tendo o coronel Luiz
Paulo Macedo Carvalho como presidente, e seus membros efetivos e beneméritos,
como o general Carlos de Meira Mattos, embaixador Álvaro da Costa Franco Filho,
general Aricildes de Moraes Motta, general Ulisses Lisboa Perazzo Lannes,
Professor Doutor Arno Wehling e Professor Doutor Ricardo Vélez Rodríguez
(ex-ministro da Educação do governo de Jair Messias Bolsonaro), dentre outros.
Há entrevistas que são
verdadeiras pérolas históricas, por apresentarem fatos desconhecidos do
público, com riqueza de detalhes. Por outro lado, há entrevistas - poucas - que
são lacônicas, quase nada acrescentando a respeito do Movimento Revolucionário
de 1964, como é o caso do General-de-Exército Ivan de Souza Mendes, que foi
Chefe do SNI durante o Governo de José Sarney. O General-de-Divisão Octávio
Pereira da Costa, na entrevista, dá uma aula sobre História do Brasil, desde a
Guerra do Paraguai até a campanha presidencial de Tancredo Neves.
Alguns entrevistados falaram
a respeito de algo específico, como o coronel Lício Maciel, sobre a Guerrilha
do Araguaia; o general Danilo Venturini, sobre o governo Geisel e o programa
nuclear brasileiro; o Coronel Paquali, sobre o Projeto Rondon; o coronel Renato
Brilhante Ustra, irmão do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sobre ordem
do Presidente Goulart e ministros para prender Carlos Lacerda; o general Negrão
Torres, sobre o “Pentateuco” de Elio Gaspari, 5 livros, com base em material
surrupiado pelo general Golbery, em que há muita desinformação
e mentira em estado puro.
Há até o depoimento do
ex-deputado federal, pelo PT, José Genoino Neto que, sobre os “acertos da Revolução de
1964”, saiu-se com esta pérola: “Acho que o que tem que ser frisado – esse é o
destaque que eu faria – é que, nesse período, o Brasil montou uma
infraestrutura razoável” (Tomo 5, pg. 174). Quando perguntado se sofreu
tortura, disse: “Exatamente dentro da ‘comunidade de informações’, as pessoas
eram torturadas, fui torturado. Era uma situação extremamente grave, delicada,
na qual o cidadão ficava negociando a vida” (Tomo 5, pg. 179). E nada mais
disse, sobre onde foi torturado, quem o torturou, em que circunstâncias. Preferiu sair pela tangente ,fazendo elucubrações sobre a tortura.
A maioria dos entrevistados
respondeu a um questionário-padrão, que englobava as seguintes perguntas:
- O senhor poderia precisar
quais foram as raízes do Movimento Revolucionário de 31 de Março de 1964?
- O senhor julga que a
guerra fria teve uma grande influência na Revoluçã0 de 31 de Março?
- Como o senhor situaria o
panorama político brasileiro no período anterior ao Movimento de 31 de Março?
- Na sua opinião, a Igreja
apoiava ou se opunha ao governo deposto?
- O que se passava no meio
militar? Como se encontrava o ambiente nos quartéis, na fase pré-revolucionária?
- Qual a sua avaliação sobre
a atuação das “Ligas Camponesas” e dos “Grupos dos Onze”? Esses movimentos
poderiam ser entendidos como a progressão de uma revolução esquerdista no
Brasil?
- No seu entender, o que se
passava no meio militar? Houve tentativa de criar cisões nos quadros das Forças
Armadas? Como estava o ambiente nos quartéis, nessa fase pré-revolucionária?
- A seu ver, quais os
principais acontecimentos que foram determinantes para o desenvolvimento da
Revolução de 31 de Março?
- Qual o real significado
das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, consideradas pelos opositores,
hoje, como um grande movimento reacionário ao status quo implantado por João Goulart?
- Qual a atitude do
Congresso Nacional, ao eclodir a Revolução?
- Como se portaram os
movimentos sindicais e entidades taxadas de esquerdistas como a UNE, CGT, PUA,
logo após o início da Revolução?
- O senhor nomearia os
principais líderes civis e militares da Revolução de 31 de Março?
- O movimento foi
exclusivamente de preparação interna? Houve alguma intervenção externa, algum
auxílio externo?
- Qual o posicionamento dos
Estados Unidos com relação ao nosso movimento revolucionário?
- A que o senhor atribui o
rápido desmoronamento do tal “esquema militar” que o Jango sempre apregoava
ter?
- Qual a sua opinião sobre a
participação dos cadetes da AMAN na Revolução, tomando parte ativa no
movimento?
- O Movimento trouxe maior
união e robusteceu a coesão das Forças Armadas?
- O Movimento de 31 de Março
baseou-se em alguma ideologia?
- A mídia, na época, apoiou
o Movimento?
- É correto o termo
Revolução? Como denominaria o Movimento de 31 de Março de 1964?
- O senhor entende que houve
erros na Revolução? Caso positivo, quais foram?
- A mídia desta última
década e aqueles que hoje detêm o poder fazem absoluta questão de omitir os
acertos da Revoluçãoo de 1964. Poderia citar alguns desses acertos?
- Quais foram os objetivos
da luta armada, desencadeada no campo e na cidade, e onde buscava orientação e
apoio?
- O AI-5 foi necessário?
- E a criação de órgãos de
informações, como os DOI, bem como o agravamento da Lei de Segurança Nacional?
- Hoje em dia muito se fala
em “ditadura militar”, “anos de chumbo”. O que o senhor pensa a esse respeito?
- Ao tempo dos governos
revolucionários, acha o senhor que as Forças Armadas se aproveitaram da
situação para auferir qualquer tipo de vantagem?
- Existe o chamado
“revanchismo”, por parte de autoridades, da imprensa e outros setores, em
relação aos militares? O que o senhor pensa sobre a Lei da Anistia?
- A chamada “batalha da
comunicação social” foi perdida pelos militares? Caso positivo, qual a razão?
- Com a queda do Muro de
Berlim e o colapso da União Soviética, desapareceu o comunismo?
- A imagem do Exército
Brasileiro vem apresentando elevados índices de aceitação junto à sociedade,
como atestam numerosas pesquisas de opinião. Como o senhor analisa esse fato?
Por
amor ou por temor
“Aí
retorno ao fenômeno do tenentismo. Desde a Proclamação da República com Deodoro
e depois Floriano, houve sempre uma maneira específica de tratar os militares.
Denota uma preocupação da liderança política civil em – creio até como uma
espécie de defesa – manter o militar padrão Duque de Caxias... O político civil
sempre fez uma espécie de restrição as lideranças militares. Aceita a liderança
militar porque percebe o pesa da força das armas. É como se ama a Deus, de duas
maneiras: pelo amor ou pelo temor.
Os
civis temem as Forças Armadas porque sabem que são poderosas. São poderosas
quer em termos organizacionais, quer por seus valores morais e espirituais,
pouco comuns a inúmeros segmentos da sociedade. Nós, militares, vemos isso com
alguma clareza e podemos até ser chamados de sectários, narcisistas, por
admitir esse quadro de condutas, por acha-lo bom, porém, os políticos não
pensam assim” (Coronel José Roberto Eichler, Tomo 5, pg. 270).
ANTECEDENTES DE MARÇO DE 1964
Muitos dos entrevistados
voltam à década de 1920, afirmando ser o Tenentismo (Revolta dos 18 do Forte,
Coluna Prestes etc.) um dos motivos longínquos que redundou no Movimento de
1964, por ser um levante político-militar que criticava a corrupção e o atraso
sócio-econômico do Brasil, ao mesmo tempo em que pregava um desenvolvimento
industrial rápido para o País. Estes analistas afirmam que a força remanescente
ou pelo menos o espírito dos “Jovens Turcos” de outrora prevaleceu no sentido
de o Movimento de 1964 se prolongar por 20 anos. Ou seja, venceu a turma dos
“costistas” (Costa e Silva) – incluindo o presidente Médici, que queria
aproveitar o Movimento para desenvolver econômica e socialmente o Brasil - sobre
a turma dos “castelistas” (Castello Branco) – esses querendo devolver o poder
logo aos civis após a arrumação da ordem pública.
Há aqueles que voltam aos
tempos da Proclamação da República, golpe desferido pelo Exército contra a
Monarquia por militares doutrinados na filosofia do Positivismo de Augusto
Comte, lembrando sua ideologia autoritária, que levou a muitas quarteladas durante
quase um século, e que, inicialmente, pensavam que o Movimento de 1964 fosse
mais uma dessas quarteladas passageiras, logo retornando o poder aos civis.
A maioria dos analistas
prefere focar o dia 24 de agosto de 1961 como antecedente próximo do Movimento
de 1964, data da renúncia do presidente Jânio Quadros. Houve uma fissura muito
forte dentro das Forças Armadas, especialmente no Exército, devido à não
aceitação do vice de Jânio, João Goulart, para assumir o governo. Houve
deslocamento de tropas do Exército do RS para SC, e de SP para o PR, porém não
houve confronto bélico. Há depoimentos detalhados de militares sobre essas manobras
que alcançaram Lajes e Criciúma. Após o arranjo do parlamentarismo, Jango
assumiu o governo, mas logo colocou em campo sua massa de manobra dos tempos em
que era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas – pelegos ligados a sindicatos,
estudantes, comunistas – e reverteu, em plebiscito, novamente para o sistema
presidencialista, com a ajuda de seu cunhado Leonel Brizola e sua “Cadeia da
Legalidade”, pregada em várias rádios, especialmente no Rio Grande do Sul.
Praticamente todos os
entrevistados concordam em dizer que o Brasil, em 1964, sofria a influência
direta da Guerra Fria, com o Movimento Comunista Internacional (MCI) lançando
suas garras sobre o Ocidente democrático, inclusive o Brasil, e os americanos
fazendo a contrapropaganda a essa doutrina que tornava o mapa mundi cada vez mais vermelho.
“Ao
término da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, em inferioridade nuclear
em face dos Estados Unidos, adotou, em relação aos países não comunistas,
política externa defensiva, caracterizada pelo movimento pró-paz – ofensiva
pela paz – e pala promoção da subversão naqueles países – guerra psicológica –
sempre acusando os EUA de intenções agressivas e imperialistas.
A
seguir, logo que conseguiu produzir armas nucleares, a URSS mudou sua política
externa, passando a utilizar a subversão e a guerra revolucionária para a
rápida expansão do comunismo no mundo” (Coronel Helio Mendes, Tomo
1, pg. 255).
“As raízes remotas
encontram-se em 1922. Desde a criação do Partido Comunista, começou a
ininterrupta pressão do Movimento Comunista Internacional (MCI) sobre o Brasil;
é a velha teoria do dominó: se o Brasil caísse, cairia o resto.
Sobreveio a Coluna Prestes
e, depois, a Revolução de 1930. Luís Carlos Prestes, com a dissolução da
Coluna, se exilou na Argentina e se negou a participar da Revolução de 1930,
porque julgou-a burguesa, tendo declarado, pela primeira vez, que tomava a
linha do comunismo.
A essa altura, conta a
história que Oswaldo Aranha já lhe tinha enviado oitenta mil dólares. Da
Argentina, Prestes foi para a Rússia, onde passou bastante tempo; aquele
dinheiro foi um dos recursos que financiaram, mais adiante, a Intentona
Comunista de 1935.
Esses acontecimentos
incorporaram-se às raízes mais longínquas.
Como causa mais próxima,
tenho que me reportar à queda de Jânio Quadros. Emergiram contradições, no
período que vai da renúncia do Presidente Jânio Quadros à posse de João
Goulart, e corremos o risco de uma divisão dentro do Exército” (Coronel Gabriel
Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 80-81).
“Amplos
setores da administração pública, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT),
a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas
(UBES) e a maioria dos sindicatos estavam completamente dominados por
esquerdistas ou notórios comunistas. O Secretariado de Miguel Arraes, em
Pernambuco, também era constituído de elementos vinculados ao esquerdismo.
Leonel Brizola fundara o ‘grupo dos onze’ e criara a Frente de Libertação
Nacional. Francisco Julião, no Nordeste, atuava, vigorosamente, através das
Ligas Camponesas.
As
greves se sucediam em proporções assustadoras, tanto no meio sindical como no
estudantil, surgindo as chamadas greves de solidariedade. Janto tinha, no meio
sindical, o seu grande sustentáculo. A agitação no campo era intensa. Os
sindicatos rurais eram organizados por comunistas, militantes da Ação Popular
trabalhista e sacerdotes católicos, sendo criada a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) que se tornou mais uma integrante da CGT.
Setores da Igreja Católica, considerados progressistas, expandiam o Movimento
de Educação de Base, aplicando o método de alfabetização de Paulo Freire.
O
Plano Trienal de Celso Furtado fracassou e o País mergulhou em impressionante
ritmo inflacionário” (General-de-Exército Sebastião José Ramos de
Castro, Tomo 1, pg. 118-119).
“Seguindo a orientação
nacional, o Sindicato dos Estivadores paralisou o porto de Manaus e mandou
colocar barricadas por toda a cidade, inclusive na entrada do 27º. BC. O
Governador era Gilberto Mestrinho, um oportunista aliado de Jango, que ficou
indiferente àquele estado de coisas. (...) Em situação semelhante estavam os
pilotos da FAB, que não podiam ter acesso aos aviões. Neste caso, alguns
soldados desimpediam o acesso, jogavam as pedras no rio e os pilotos decolavam
com seus aviões. Diariamente se armava uma confusão em Manaus, provocada por
‘pelegos’ e outros, que só prejudicava a população. Fechavam o mercado e
ninguém podia fazer sua feira” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de
Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 95)
“O Porto do Recife era
escolhido pelos agitadores para início de tumultos e de agitação, mesmo porque
existiam verbas fantásticas que eram desviadas para aquele esquema da esquerda
radical. Era um local de muita agitação e contrabando organizado.
(...)
O Porto era dirigido por um
presidente de sindicato, o nome dele era Cícero Targino Dantas.
A força dele era tão grande
que entrava no palácio, abria a porta e não esperava formalidades para falar
com o Governador [Miguel Arraes]; tinha comando total sobre o Estado de
Pernambuco e o Nordeste, em questões sindicais. Vivia como gangster e era muito ligado ao revolucionário esquerdista Gregório
Bezerra. Faziam reuniões no Porto do Recife.
O Cícero Targino Dantas, no
segundo dia da minha gestão no Porto do Recife, apareceu, pediu uma audiência,
disse que era presidente do sindicato e deu a entender que, em consequência, eu
devia obedecer às determinações dele. Respondi:
- Targino, aqui no Porto,
pelo menos durante a minha gestão, só existe um líder; quer dizer, existem
diversos líderes, mas existe um líder maior que é o superintendente do Porto.
Não reconheço a sua liderança da maneira como você está apresentando.
Em função daquilo, ele
começaria uma agitação pesada.
Mas, poucos instantes
depois, já estava indiciado em inquérito: o Coronel Ibiapina o ouviu e ele foi
enviado para Fernando de Noronha, enquanto se fazia o inquérito” (General João
José Cavalcanti de Albuquerque, Tomo 6, pg. 74-75).
Revolução
de cunho comunista – duas fases
“Sem
dúvida, havia uma revolução de cunho comunista, em preparação no País.
Permito-me explicar como isso acontece: os comunistas nunca fizeram ou nunca
iniciaram uma revolução, nem na União Soviética. Eles foram sempre os grandes
aproveitadores das revoluções. A isso chamam de transformação da revolução. A
revolução surge como um movimento determinado e depois se transforma. Lenine
advertia: ‘Não é possível triunfar apenas com a vanguarda’. E o Partido
Comunista é a vanguarda, é a direção.
A
estratégia aplicada no Brasil tinha duas fases distintas. Na primeira, haveria
uma espécie de golpe revolucionário, aplicado pelo próprio Governo João
Goulart, originando um regime de força. O Congresso seria fechado e
promover-se-ia um expurgo, nas Forças Armadas, de todos os elementos
contrários.
Na
segunda fase, esses elementos golpistas seriam postos de lado, e os comunistas
assumiriam o Poder. Esse era o plano para a revolução comunista no Brasil. Eles
não iam iniciar a revolução; quem iria fazê-lo era João Goulart.
Há,
inclusive, uma carta enviada a Miguel Arraes por um jornalista, seu parente,
contendo as conclusões de várias entrevistas de confidentes de João Goulart,
como Samuel Weiner e outros, em que ele diz que o Presidente estava
entusiasmado com a possibilidade de aplicar esse golpe, fechando o Congresso e
estabelecendo uma outra Constituição para o Brasil. Era o que ele chamava de
‘República Sindicalista’, uma república dominada pelos sindicatos.
Mas
os comunistas estavam preparados para a segunda fase, que era assumir o Poder,
eliminando esses que a iniciaram” (General-de-Brigada
Ferdinando de Carvalho, Tomo 2, pg. 152).
Como Tenente-Coronel,
Ferdinando de Carvalho foi encarregado do Inquérito do Partido Comunista, que
durou dois anos, resultando em mais de 150 volumes, que foram transportados num
caminhão até o Superior Tribunal Militar (STM).
Raízes
do Movimento revolucionário
Origem
externa e interna
“Podem
ser considerados como raízes do Movimento revolucionário de 31 de Março de
1964, de origem externa, os seguintes fatos: a expansão do comunismo soviético,
no período pós-1945, na Europa e em outros continentes; a vitória do comunismo
de Mao Tsé-Tung, na China, em 1949, exportando sua ideologia, inclusive para a
América Latina; a divisão da Coréia pelo Paralelo 38, decorrente do comunismo
ali implantado; a introdução do comunismo, por Fidel Castro, em Cuba, e a
expansão de sua ideologia marxista-leninista para a América Latina; a Guerra
dos 30 anos no Vietnã, 1946/1976, culminando na derrota e expulsão dos
franceses e, depois, dos norte-americanos; radicalização da bipolaridade, com
ameaça de conflito nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética, com a
instalação de mísseis.
De
origem interna: antagonismo político-militar, envolvendo parcela das Forças
Armadas, nos anos 1950; o suicídio do Presidente Getúlio Vargas, em agosto de
1954, acentuando a dicotomia entre os denominados ‘golpistas gorilas’, direitistas
e os esquerdistas ‘comunistas populistas’. O antagonismo entre esses grupos
aumenta, radicalizando-se as posições nos anos de 1950 e início dos anos de
1960; reflexo da guerra fria, com poucas opções político-estratégicas e
político-econômicas para o Brasil e cenário interno instável, do ponto de vista
político-ideológico. No período de 1960 a 1964, quatro governos no Brasil de
características contraditórias e antagônicas: Juscelino Kubitschek, final de
Governo, Jânio Quadros, João Goulart e Castello Branco, este a partir de 1964”
(Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 277).
“Nas
raízes do Movimento de 1964 encontram-se os acontecimentos da década de 1950, a
eleição de Getúlio Vargas e, depois, atentado contra o Carlos Lacerda, que
causou a morte do Major da Aeronáutica Rubens Vaz. Em 1953, houve u manifesto
dos coronéis que levou a deposição de Jango, Ministro do Trabalho de Vargas.
Todos esses fatos, no fim, culminaram com o suicídio de Vargas, em 1954”
(General-de-Divisão César Montagna de Souza, Tomo III, pg. 40).
“República de Trombas e Formoso”
Em 1962, recebi uma missão para ir ao
meio-norte de Goiás e produzir um relatório sobre a chamada ‘República de
Trombas’. Havia um elemento complicador, pois a mesma não admitia gente
estranha em seu território.
Estimava-se serem dez mil habitantes a
população de toda a área, em sua maioria posseiros, com maior incidência de
baianos e cearenses. De um modo geral, os que demandavam aquela ‘República’
tinham sempre um passado a esconder, inclusive condenados pela Justiça. O ânimo
de todos era a defesa intransigente de suas ‘posses’. Com a construção de
Brasília e da Rodovia Belém-Brasília, passando próxima ao território da
‘República’, as terras foram valorizadas e novos proprietários, com documentos
legais ou forjados, surgiram na região, atritando com os posseiros.
O líder local era o José Porfírio de
Souza, homem ‘chucro’, mas com sensibilidade e carismático. Começou a montar
uma cidade com aquela gente que precisava de terra, traçando os limites da
área, ou da ‘República’, como eles mesmos diziam. Sei que um limite era o rio
Tocantins, outra a Serra Dourada, mais a oeste a Rodovia Belém-Brasília.
(...)
Lá pude verificar que era uma sociedade
organizada no molde socialista. A produção era entregue à Associação de Lavradores
que se encarregava de vende-la em Anápolis e Goiânia.
A distribuição de terras, convém frisar,
obedecia a alguns fatores. O candidato recebia a quantidade de lotes dependendo
da idade, número de braços para o trato da terra – filhos e dependentes -,
disposição física e, principalmente, tratar ele mesmo da gleba de ser um
‘associado’.
O José Porfírio de Souza era uma pessoa
muito ligada ao Deputado Estadual de Pernambuco Francisco Julião, a quem
considerava ídolo e orientador. (...)
Notei que os homens portavam armas, de
tipos bem variados. Havia desde as rudimentares de caça, do tipo ‘espingarda do
papo-amarelo’, até boas carabinas. Organizações do Terreno (OT) eram
encontradas nas proximidades do povoado. A Associação possuía planos para a sua
defesa; cada ‘grupo’, conforme a hipótese, sabia o que fazer.
Quanto à assistência médica, no caso de
serem insuficientes os recursos locais, os doentes eram levados para Goiânia,
onde três médicos, previamente contratados pela Associação, os atendiam, entre
os quais se incluía um notório comunista.
Os políticos de âmbito estadual e mesmo
federal cortejavam José Porfírio, porque era voto certo. O Vice-Governador já
tinha estabelecido contato com ele.
(...)
Então, a ‘Liga Camponesa’ não estava
mais só no Nordeste, mas procurando atuar no Norte goiano e com probabilidade
de expandir-se para Mato Grosso e outros lugares”
(Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 329-330).
“As
ações criminosas das ligas camponesas se robusteceram e se ampliaram em virtude
do apoio oficial, sob a influência dos comunistas junto à alta administração
federal. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, vou citar o caso do
distrito de Trombas, município de Formoso-GO, com base em documentação oficial
a que tive acesso. Ali existia um cearense, José Porfírio de Sousa, mais
conhecido como Zé Porfírio, que tinha o comando total da área e mantinha
quatrocentos homens em armas. Não se sabe de onde vinha o armamento, mas se
pode imaginar. Quando ocorriam eleições em Formoso, os mil e duzentos votos do
distrito de Trombas iam todos para Zé Porfírio ou para o candidato que ele
apoiasse. Os outros candidatos recebiam ‘zero voto’. Outra área infectada era
Araguaia, famosa, mais tarde, por emprestar esse nome – ‘guerrilha do Araguaia’
– aos focos guerrilheiros que por lá se instalaram. De início, como um núcleo
denominado ‘guerrilha de Xambioá’ ” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira
Diógenes, Tomo 4, pg. 185).
Para
os entrevistados, os antecedentes mediatos e imediatos do Movimento de 1964 foram:
Mediatos
ou indiretos:
- a partir
de 1961, já havia a infiltração de cubanos comunistas no Brasil, para aquisição
de campos de treinamento de guerrilheiros, em PE, GO, MG...; as Ligas
Camponesas de Francisco Julião, o qual havia feito curso de guerrilha em Cuba,
promoviam o terror no meio rural, especialmente em Pernambuco, colocando fogo
nos canaviais e destruindo equipamentos industriais em usinas de cana-de-açúcar
(um MST avant la letre); ao mesmo
tempo, havia cartilhas comunistas sendo distribuídas pelo MEC, contrapondo o “odioso”
usineiro ao “miserável” trabalhador rural – trabalho de massa que os comunistas
sabem fazer como ninguém.
A
título de informação, há um livro ilustrativo do fato histórico, escrito por
Denise Rollemberg, O Apoio de Cuba à Luta
Armada no Brasil – o treinamento guerrilheiro.
É
importante citar a célebre frase do chefe comunista Luis Carlos Prestes, em
janeiro de 1964: “Nós, os comunistas,
estamos no Governo, só nos falta o Poder.” Em viagem a Moscou, Prestes deu
ciência a Krushev sobre a subversão comunista no Brasil e recebeu o sinal verde
para implantar o golpe.
- a
infiltração política dos comunistas dentro dos quartéis, especialmente na
Marinha e na Aeronáutica, pregando a separação de praças e oficiais – várias
vezes, Brizola conclamou os sargentos a prender e matar os oficiais, e se
apoderar dos quartéis
“A
partir de 1960, as forças de esquerda persistiram nas tentativas de infiltração
no meio militar, voltando-se para os quadros subalternos, buscando dividir e
corroer o organismo militar, através da cisão entre oficiais e praças.
Na
Aeronáutica, o Brigadeiro Francisco Teixeira, então Cmt da Zona Aérea, dirigia
essa infiltração. A eleição do Clube de Oficiais, vencida pelas esquerdas,
graças a certas facilidades, foi uma luta de caráter ideológico. O Chefe do EM
da Aeronáutica, Brigadeiro Correia de Melo, por ter dado difusão a uma
publicação anticomunista, foi punido.
Na
Marinha, mantinha-se o mesmo clima de agitação e o Clube de Suboficiais era um
verdadeiro foco de propaganda comunista.
No
Exército, o Gen Osvino, Cmt do I Exército, cercado de elementos ditos
progressistas e nacionalistas, deixava a subversão alastrar-se nos quartéis.
Por
todo o Brasil, nas organizações militares, criou-se um clima de desconfiança
entre oficiais e sargentos. Os comunistas conseguiram êxito nessa primeira
fase, e foi esse clima que ensejou a rebelião de sargentos, de 12 a 13 de
setembro de 1963, em Brasília, sufocada, principalmente, por tropas do
Exército” (General-de-Exército Sebastião José Ramos de Castro,
Tomo 1, pg. 121).
“Cheguei a Brasília, em
janeiro de 1964 e encontrei, no Batalhão da Guarda Presidencial, um ambiente
pior ainda, pois, embora a Revolta tivesse ocorrida em Brasília e, praticamente,
dela não participaram os sargentos do Exército – os praças graduados e soldados
da Marinha e da Aeronáutica foram, realmente, os que fizeram o Movimento –
mesmo assim, persistia uma desconfiança total com relação aos nossos graduados
do Batalhão da Guarda Presidencial, a maior Unidade, na época, em Brasília.
Existiam, também, na guarnição, uma bateria de Artilharia Antiaérea, comandada
pelo Major Stockler, considerado de esquerda; uma Companhia de PE, embrião do
Batalhão da Polícia do Exército de hoje e um Esquadrão, o 3º. Esquadrão C Mec
(Cavalaria Mecanizada), que havia vindo do Rio de Janeiro, de Campinho, para
Brasília, por ocasião da Revolta dos Sargentos.
No ar, o clima de
desconfiança entre oficiais e sargentos. Tínhamos ordem de andar sempre armados
com a pistola engatilhada’ (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5,
pg. 286-287).
“Paralelamente
a esses fatos [infiltração esquerdista no MEC e nas universidades], ocorreu o
problema da inelegibilidade dos sargentos, levando a agitação para a área
militar, o que, em fevereiro [1963], torna-se manifesto. Cerca de seis mil
graduados realizaram uma passeata em São Paulo, em apoio à posse dos
companheiros de farda eleitos. O Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB), dominado por elementos esquerdistas, procurava atrair os subtenentes e
sargentos com palestras e cursos nos círculos e clubes militares. Em 6 de
março, foi realizada uma nova passeata de militares em São Paulo, desta vez com
os integrantes da Força Pública de São Paulo e da Aeronáutica, comparecendo
fardados. Os aniversários dos ‘generais do povo’ passaram a ser comemorados com
a presença maciça de graduados e com extremados discursos nacionalistas.
(...)
Ante
os fatos sinteticamente narrados, não se constitui em grande surpresa a
rebelião dos sargentos, em Brasília, em 12 de setembro de 1963. Tanto assim é
que providências tomadas impediram a participação dos graduados do Exército.
Embora o movimento fosse controlado em poucas horas, foi grande a sua
repercussão no País e no Exterior” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero
Augusto, Tomo 5, pg. 99).
“Em
1958, fui transferido para o Rio de Janeiro para fazer o curso de Defesa
Antiaérea. O ambiente que encontrei na Escola era o mesmo de Santa Maria.
Estávamos divididos entre azuis e vermelhos.
Nos
primeiros dias de aula, fui procurado por um colega de curso, um 1º. Tenente,
oficial muito inteligente, segundo de sua turma de formação e que acabou sendo
o primeiro da turma do curso que íamos fazer. Este oficial, que posteriormente
foi cassado pelo Ato Institucional no. 1 (AI-1), certo dia perguntou-se se
pretendia fazer concurso para a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.
Disse-lhe que sim. Ele então me falou sobre um curso muito bom, gratuito, com
aulas sempre aos sábados. Falou-se também da competência dos seus professores.
Fiquei interessado e passei a frequentar as aulas do ISEB (Instituto Superior
de Estudos Brasileiros). Eu e mais alguns colegas assistimos a umas quatro ou
cinco aulas e quase todos nos retiramos quando sentimos que estávamos sendo
doutrinados para apoiar a política de esquerda que vinham pregando” (Coronel
Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 218).
“Recebo
o Comando da 4ª. Bateria de Canhões de um 1º. Tenente que já conheci pelo seu
passado e sabia que estava comprometido com o pessoal de esquerda. (...) Formei
a Bateria e fiz a chamada. Faltava u sargento. Procurei saber, então, onde é
que estava esse sargento.
Informaram-me
de que ele faltava ao quartel porque, diariamente, ia para a Central do Brasil
– estação ferroviária de passageiros, no centro do Rio de Janeiro -, onde
estacionava uma Kombi do Partido Comunista, junto do qual ele ficava, com o
microfone na mão, fazendo propaganda para o partido. Verifiquei que isso era
verdade, coloquei-o no pernoite e dei parte de ausência. Quando ele estava para
passar a desertor, apresentou-se. Chegou num estado deplorável, com um uniforme
todo sujo, barbudo, uma bota – nem coturno usava – uma bota ‘natal’, com uma
faca, eu me lembro, no cano da bota; mandei que ele fosse arrumar-se, cortar o
cabelo, fazer a barba... Ele saiu e não o vi mais. Soube que ele tinha baixado
ao hospital, naquele mesmo dia, e que, do nosocômio militar, saía todos os dias
para fazer a propaganda junto à Kombi, em frente à Central do Brasil. Esse
sargento foi cassado pelo AI-1.
Da
mesma forma, e logo em seguida, no primeiro ou no segundo dia, fui fazer uma
inspeção para receber a carga do material bélico da Bateria e constatei que
faltava muito armamento e munição. Procurei saber onde ele se encontrava.
Procura daqui, procura dali...
- O
armamento está nessa sala, aqui na frente.
-
Mas, com quem está a chave? Onde ela está?
A
chave e a sala eram utilizadas pelo sargento que estava na Central, fazendo
propaganda do Partido Comunista. Mandei, então, arrombar a dependência, retirar
o armamento e a munição que lá estavam e retoná-los à sala de material bélico
da Bateria, local adequado à guarda desse material” (Coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 220).
“Os
seguintes fatos demonstraram essa realidade: aceleração do processo de
sindicalização do País; tentativas de cisões no seio das Forças Armadas;
criação das ‘Ligas Camponesas’ e dos ‘grupos dos onze’; distribuição velada de
armamento no meio operário.
Em
Juiz de Fora, numa ocasião, foi visto uma viatura passar cheia de metralhadoras
para os operários da época, ali na minha cidade, nas nossas barbas, porque eu
estava em Juiz de Fora.
E
também, manifestações culturais, induzindo à revolta popular. Exemplo foi a
encenação de uma peça teatral chamada ‘Cristo Total’, onde eles mostravam que
Cristo encarnava o povo que estava sendo agredido, morrendo na cruz, com o
intuito de levar o nosso povo a se revoltar, como se o povo do Brasil fosse o
Cristo. Queriam que o povo se rebelasse e adotasse o regime comunista que ia
libertá-lo. Isso é o que eles queriam. Quem não viu isso é porque não quis ver
ou porque não interessava ver!” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3,
pg. 320).
“Mas,
antes de prosseguir enfocando esse Movimento, que salvou o Brasil e seu povo de
uma verdadeira catástrofe, impõe-se caracterizar a índole perversa da mais
perigosa entidade atuante no meio comuno-janguista, que eram os ‘grupos dos
onze’, criados por Leonel Brizola (naquela época, estimava-se em cerca de 1.300
grupos). Um documento de cinco a seis folhas, apreendido pelo Exército logo
após a Revolução, na célula comunista de Niterói, dedica um capítulo ao papel
dos ‘grupos dos onze’ na guarda e julgamento de prisioneiros. Por oportuno,
dele transcrevo o que se segue:
‘Devemos instruir os grupos dos onze
companheiros para missões especiais de prisão, guarda e julgamento sumário de
prisioneiros de guerra. Os reféns deverão ser sumária e imediatamente
fuzilados, a fim de que não denunciem os seus aprisionadores e não lutem
posteriormente para sua condenação. Os grupos dos onze serão como foi a guarda
vermelha da Revolução Socialista de 1917, na União Soviética, da qual seguirão
o vitorioso exemplo” (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4,
pg. 123).
- o
medo generalizado dos oficiais, que desconfiavam dos praças quando tiravam
serviço de oficial-de-dia, devido às incitações de Brizola, e a lembrança do
que havia ocorrido durante a Intentona Comunista de 1935, quando militares
mataram companheiros enquanto dormiam nos alojamentos militares.
“Em
1922, fundou-se o Partido Comunista Brasileiro, cujo chefe maior foi Luís
Carlos Prestes. Daí para frente, os comunistas brasileiros, orientados pela III
Internacional Comunista – Komintern – e apoiados por Moscou, começaram a
articular um movimento para implantar no Brasil o regime comunista. Este
movimento se desencadeou em novembro de 1935, começando em Natal-RN, com a
deposição e prisão de autoridades, com assaltos, sequestros, estupros e todo
tipo de violência. Estendeu-se para o Recife, onde houve confrontos e mortes
entre as forças da ordem e bandos comunistas armados. Tornou-se mais grave no
Rio de Janeiro. Na noite de 27 de novembro de 1935, foram atacados vários
quartéis e mortos 28 militares, enquanto dormiam em seus alojamentos. O mais
brutal desses ataques ocorreu no 3º. RI, na Praia Vermelha. Essa Intentona
Comunista de 1935, por suas características de traição e perversidade,
traumatizou a alma brasileira e vacinou o nosso militar contra essa ideologia
malsã. Foi, portanto, um marco deplorável na vida nacional e o antecedente
preponderante da Revolução de 1964” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar
de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 94).
- a
atuação desestabilizadora das Ligas Camponesas, de Francisco Julião,
principalmente em PE, com apoio de Miguel Arraes, e dos Grupos dos Onze, de
Brizola, principalmente no Sul do Brasil.
“Esse homem, Francisco Julião, inclusive
foi eleito deputado federal, aproveitou a situação existente e veio a criar,
naquela região, as ‘Ligas Camponesas’, espécie de quistos, perigosos e difíceis
de controlar. O Governo do Estado de então, Miguel Arraes, estava de acordo com
isso tudo e, também, o Professor Paulo Freire, organizador de uma cartilha que
ensinava a ler assim: ‘Letra ‘f’ – ‘f’ de fome. O Brasil tem fome”
(General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 60).
- o
sistema de promoções de altas patentes militares eram de acordo com o apoio que
o militar dava ostensivamente ao presidente Goulart; afinal, era ele, e não o
Alto Comando que promovia os coronéis a generais; os que não se enquadravam nessa
ordem de capachos do regime eram “queimados” e transferidos para a fronteira ou
para Unidade sem tropa, como as CR (Central de Recrutamento), atuais CSM
(Circunscrição do Serviço Militar); o próprio general Castello Branco ficou
“queimado” como comandante do IV Exército (Nordeste), e foi transferido para a
Chefia do Estado-Maior do Exército, devido à pressão do governador Miguel
Arraes; essas ações de subjugar militares faziam parte do “Esquema Militar” do
general Assis Brasil, chefe da Casa Militar de Jango, além da dominação de
amplos setores da administração pública, sindicatos dominados por esquerdistas
e comunistas, a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional
dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
-
foi desencadeada a Operação Mata Lacerda, em que tropa paraquedista teve por
missão prender e matar o governador da Guanabara, Carlos Lacerda; a ordem foi
dada pelo próprio presidente João Goulart, num prédio ao lado do Copacabana
Palace, com o aval dos ministros da Guerra e da Justiça; graças ao coronel
comandante do Grupo da Brigada Paraquedista, o ordem criminosa não foi
cumprida, ao mesmo tempo em que Lacerda foi avisado sobre a tentativa de
atentado, antecipando sua visita ao Hospital Miguel Couto, onde seria morto
-
oficiais e praças alinhados com o governo Goulart tinham preferência para
aquisição da casa própria via Caixa, assim como a aquisição de automóvel (o
Fusca e o Gordini eram o sonho de consumo na época); os sargentos levavam
pessoalmente os contratos de compra de casa ou automóvel ao presidente Goulart,
que assinava no ato; imagine, hoje, o presidente Bolsonaro colocando a Bic em
funcionamento, com longa fila de sargentos paraquedistas gritando “Mito, Mito,
Mito”...
“Vivíamos
numa situação financeira muito complicada. Precisávamos de dinheiro para deixar
com a esposa e para sobrevivermos no Rio, e os vencimentos extremamente baixos.
O Presidente João Goulart fazia alguns acenos para captar a simpatia,
principalmente dos para-quedistas, que recebiam financiamento para comprar carro,
normalmente um Gordini, o carro apropriado do momento, o carro se que se podia
ter, desde que se estivesse do lado do governo. Mas vivíamos numa verdadeira
miséria: sábado e domingo, de manhã, à tarde e à noite, íamos para o rancho da
EsAO porque não tínhamos o recurso necessário para fazer um lanche na rua. Era,
de fato, uma situação revoltante. Na Vila, também mantínhamos contatos com
outros oficiais, todos numa angústia muito séria e determinados a fazer alguma
coisa, mas sempre, contidos pelos chefes. Além disso, a EsAO obrigava-nos a uma
dedicação muito grande, pois o curso nos exigia bastante. Mesmo assim, dávamos
umas escapulidas para o Clube Militar, onde a efervescência era grande:
reuniões, debates e tudo mais” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio
Gazzineo, Tomo 4, pg. 34).
Obs.:
Quando
fui promovido a 3º. Sargento do Exército e classificado, como cinegrafista, no
Campo de Provas da Marambaia, em Guaratiba, RJ, em fevereiro de 1972, a
situação financeira dos militares era bem melhor do que nos tempos em que o
General Gazzineo fazia a EsAO. Com meus vencimentos, eu aluguei um quarto em
Campo Grande, RJ, me matriculei numa faculdade de Economia e comecei a pagar a
poupança para a entrega de um apartamento no Engenho Novo, que foi entregue em
1976, passando a pagar, daí em diante, prestações bancárias durante 25 anos. Ao
mesmo tempo, ainda sobrou dinheiro para entrar num consórcio de automóvel, anos
depois, para aquisição de um Fusca. A situação financeira, para os militares,
começou a se degradar novamente, durante o Governo Geisel. Tanto é que tive que
vender um Fusca velho para mobiliar o apartamento.
-
greves frequentes na indústria, no comércio e nos meios de transporte,
provocando o caos nas grandes cidades
“Olha, só vendo o que nós sofremos neste
País, onde imperava o caos. Basta lembrar, aqui, no Rio de Janeiro: a greve do
pessoal do gás, obrigando-nos a ter que comprar ‘fogãozinho’ de querosene para
confeccionar as refeições; a greve dos coveiros do Cemitério São João Batista e
lembro, acerca dessa paralisação, um episódio. Indo ao cemitério, com o General
Castello, para o enterro do pai do General Adhemar Villela dos Santos – o
General Castello era amicíssimo dele, por ligações desde Realengo e do 12º.
Regimento de Infantaria, de Belo Horizonte – vimos os caixões colocados na
entrada do cemitério, pois, em virtude da greve, o sepultamento não era
realizado.
Faltavam feijão, arroz e outros tipos de
suprimentos. Não havia transporte para chegar ao trabalho e sei muito bem disso
porque enfrentei esse problema, num período mais recuado, dentro dos pródromos
da Revolução, quando era major, adjuto da 4ª. Seção da Zona Militar Leste
(posteriormente I Exército e, atualmente, Comando Militar do Leste), e tínhamos
que atualizar o planejamento para assegurar o transporte da cidade, no caso da
greve dos bondes” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo
III, pg. 57-58).
“Sabíamos
que era meia dúzia de líderes sindicais que tumultuavam o País. A grande massa
dos trabalhadores não queria saber disso, o que ficou claro com o
desencadeamento do Movimento revolucionário.
Os
agitadores se valiam da massa. Eram sempre as mesmas pessoas que já conhecíamos
bem. Dentre eles, Dante Pelacani, Clodomith Riani, Oswaldo Pacheco (líder da
CGT), Hércules Correia (Deputado Federal), os Ministros Abelardo Jurema e
Amauri Silva e outros mais, figuras extremamente atuantes no processo de
tumultuar, permanentemente, a vida nacional” (Coronel Everton da Paixão Curado
Fleury, Tomo 3, pg. 230).
“Em
agosto desse ano, 1962, o Comando Geral de Greve transformou-se em Comando
Geral dos Trabalhadores, o famoso CGT. Com a eleição do comunista Clodsmidt
Rianni para a presidência do mesmo, o PCB coroava sua hegemonia sobre os
sindicatos, conquistando um poderoso instrumento de pressão, permanentemente
dom ameaças de greve geral.
Em
novembro desse ano, as Forças Armadas desarticularam vários campos de
treinamento de guerrilha. Em 27 de novembro de 1962, a queda de um Boeing da
Varig, no Peru, proporcionou comprometedoras informações sobre o apoio de Cuba
às ‘Ligas Camponesas’. Esses documentos caíram nas mãos do Governador Carlos
Lacerda que, naturalmente, os difundiu à imprensa e criou uma grande celeuma a
respeito desse apoio direto de Cuba às ‘Ligas Camponesas’ ” (General-de-Divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98).
-
infiltração comunista no meio artístico, no MEC, na Cultura, nos sindicatos
“Em
1963, a subversão, até então conduzida mais ou menos na clandestinidade,
aflorou. Como não havia certeza do seu sucesso e até como uma forma de pressão,
começou a colocar-se à luz do dia. Nesse ano, foi criado o Comando dos
Trabalhadores Intelectuais. Esse Comando, reunindo nomes como Dias Gomes, Jorge
Amado e Ênio Silveira, constituiu-se num baluarte da propaganda esquerdista. A
infiltração comunista se derramou sobre o ensino em todos os níveis, com a
orientação e apoio do próprio Ministério da Educação e Cultura. A UNE criou
centros populares de cultura que submeteram a população a uma intensa
propaganda esquerdista. A UNE, além de receber vultosos subsídios do Ministério
da Educação e Cultura, recebia subsídios financeiros e propaganda da União
Internacional de Estudantes (UIE), uma entidade de fachada do Movimento
Comunista Internacional onde a UNE tinha um representante: um dos
vice-presidentes dessa UIE era da UNE, um brasileiro.
(...)
Atendendo
uma específica orientação da Internacional Comunista, o PCB realizou, em
Niterói – O Governador da Guanabara [Carlos Lacerda] negou a permissão para a
realização do evento em seu Estado – um encontro de solidariedade a Cuba com a
presença de representantes de mais de oitenta países. Apesar das mensagens de
solidariedade enviadas para esse encontro pela União Soviética e pela China, a
vedete do encontro foi Prestes. Este, entre outras pregações revolucionárias,
profetizou que o Brasil teria o privilégio de ser a segunda nação
Latino-Americana, onde o socialismo seria implantado” (General-de-divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 98-99).
“Na
Bahia, senti que estava recrudescendo aquele clima perigoso, à proporção que o
tempo ia passando. Assistíamos, em Salvador, à panfletagem, ao pichamento das
ruas e dos muros das casas, a tal ponto que, na casa do General Comandante,
apesar da vigilância e guarda, ter aparecido escrito: ‘Aqui mora um gorila.
Fora gorila!’ ” (Coronel Dynaldo Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 41).
-
ligação criminosa do apátrida Prestes com Moscou
“Em
março [1964], houve um fato importante. Prestes voltou a Moscou e foi
encontrar-se novamente com Kruschev, com Suslov e, agora, com Brejnev, que
viria a substituir Kruschev e apresentou o que ele tinha feito nesses dois
anos: o trabalho de massa, inclusive a infiltração nas Forças Armadas. Veio de
lá com a aprovação da União Soviética, inclusive com a proposta de
financiamento para a Usina de Itaipu, que já era cogitada, naquela época. Ele
relatou o seu encontro para o Goulart. No dia 13 de março de 1964, realizou-se
o primeiro desses comícios no Rio de Janeiro, na Praça da República, entre o
prédio do Ministério da Guerra e a estação da Central do Brasil. Valendo-se de
transportes oferecidos por órgãos estatais [como a Petrobras] e do natural
afluxo de pessoas no final da trade em direção à estação da Central do Brasil,
o chamado ‘comício da reforma’ reuniu cerca de cem mil pessoas. No comício,
faixas pela organização do Partido Comunista, distribuição de armas ao povo
etc. e tal; e a situação de agitação já criava uma ansiedade, uma instabilidade
na população” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
100-101).
-
desabastecimento geral de gêneros alimentícios; o Exército passou a distribuir
feijão e arroz no Rio de Janeiro
“Ultrapassado
o período da renúncia de Jânio Quadros, passamos a viver momentos difíceis,
sacrificados mesmo. Por exemplo, o GO 155, e outras Unidades, como o Primeiro
Regimento de Obuses 105 (1º. RO 105, sistematicamente ocupavam as estações de
trem, a fim de manter a ordem; a todo instante irrompiam os ‘quebra-quebras’
que as gente chamava de ‘quebra-quebra feijão’. Chegou a ponto de as Forças
Armadas serem incumbidas de comercializar gêneros alimentícios nas ruas.
Saíamos com uma viatura de cinco toneladas, abarrotada de arroz para vender à
população, por força de determinação do governo. Isso acontecia em São João de
Meriti, em Nova Iguaçu, em Nilópolis, sempre enfrentando sérios problemas. O
povo sofrido queria o produto e nós – um 2º. Tenente, um sargento, um cabo
motorista e um soldado – tínhamos que fazer das ‘tripas coração’ para conseguir
controlar a multidão” (Coronel Hahenderson Vieira, Tomo 5, pg. 276).
-
inflação acelerada, aumentando ainda mais a pobreza da população
-
Devido à baderna Jango-Brizola nos campos econômico e social, e seu aparato
militar a serviço da indisciplina e insubordinação de militares nas Forças
Armadas, desde 1961 houve criação de inúmeros órgãos de combate às pretensões
de Jango se tornar um novo Getúlio – na verdade um novo Kerensky, pois estava
alimentando o dragão vermelho, vale dizer o Comunismo -, como o IPES, o IBAD, a
CAMDE etc., além de grupos de conspiração formada por militares. Empresários,
militares, escritores e artistas se empenharam em realizar palestras, lançar
livros e filmes, para alertar a sociedade sobre o perigo comunista que cada dia
era mais forte e evidente. Causou-me surpresa saber que poucos
oficiais-generais, entre os entrevistados, fizeram menção a essas organizações
civis anti-Jango.
[Me
ocorre o trabalho feito por jornais editados por militares aposentados, nas
últimas décadas, como Letras em Marcha, Ombro a Ombro, Inconfidência – além de
grupos similares como o Grupo Guararapes etc., que iniciaram um trabalho de
conscientização da população nos tempos tenebrosos e revanchistas dos governos
FHC, Lula e Dilma, culminando na obra de Olavo de Carvalho, os quais tiveram o
mérito de enfrentar o “pensamento único” das esquerdas nas universidades, nos
meios artísticos, na mídia cada vez mais militante de esquerda – uma luta ainda
longe para se chegar a um mero empate. A trilogia de Olavo de Carvalho “O
Imbecil Coletivo”, “O Jardim das Aflições” e “O Mínimo Que Você Precisa Saber
Para Não Ser Um Idiota” é fundamental para se entender os últimos 50 anos do
Brasil, em termos culturais, de pregação marxista em todos os setores da vida
pública.]
- Em
meados de 1962, implementou-se nas escolas militares o ensino de Guerra
Revolucionária (G Revo), previsto em Nota de Instrução baixada pelo EME, cujo
chefe era o general Castello Branco; um trabalho exemplar sobre G Revo foi
feito na AMAN, cujo comandante era o general Médici. Diz-se que a G Revo era
decorrente da influência americana no Brasil, principalmente por meio da Escola
das Américas.
No entanto:
“A guerra fria influiu poderosamente, e
é preciso ver uma coisa muito importante, que precisa ser caracterizada: as
lições das guerras da Indochina, do Vietnã, de Angola e da Argélia fizeram com
que surgisse toda uma literatura sobre a guerra subversiva, sobre a guerra
insurrecional.
Lembro de um grande autor francês,
Gabriel Bonnet, que escreveu um livro sobre guerras insurrecionais,
interessantíssimas. Também existia um militar português, com grandes obras,
todas desenvolviam essas idéias. Eis que surgiu, então, a doutrina da guerra
revolucionária. Essa doutrina – as pessoas confundem um pouco – pois pensam que
foi trazida da Escola das Américas e dos Estados Unidos. A Escola das Américas
contribuiu muito, ajudou em outros aspectos, sobretudo nos ligados à repressão
e ações policiais, mas esse clima da guerra revolucionária foi importado da
Escola Superior de Guerra de Paris, que passou a desenvolver a teoria da guerra
revolucionária. Recordo-me claramente, estava na Escola de Estado-Maior, como
instrutor, e as conferências da Escola Superior de Guerra versavam sobre guerra
revolucionária. Havia aquelas famosas ‘cinco fases da Guerra Revolucionária” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 59-60).
“As medidas tomadas pelo Estado-Maior do
Exército (EME), a fim de instruir os quadros – oficiais e sargentos – sobre a
doutrina de guerra revolucionária foram oportunas e acertadas. O EME produziu
uma série de documentos que facilitavam o entendimento do assunto. Passamos a
dominá-lo e, como tal, a reconhecer nos fatos que corriam a existência de uma
guerra revolucionária em andamento. A sensibilidade do EME permitiu a inclusão,
nos currículos dos estabelecimentos de ensino militares, o assunto Guerra
Revolucionária.
O próprio General Castello, que era o
chefe do EME, quando proferiu a aula inaugural do ano letivo de 1964, no mês de
fevereiro, na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), teve o ensejo, como
chefe, de deixar uma mensagem para a reflexão dos capitães, sobre o assunto”
(General-de-Divisão César Montagna de Souza, Tomo III, pg. 42).
[Em
1971, quando fiz o curso de sargentos na EsIE (período básico, depois fui para
a Es Com), também havia ensino de G Revo, um calhamaço de mais de 200 páginas.]
“Se
não nos apressássemos, iríamos pegar a revolução deles – comunistas – já
iniciada e em franca evolução. Acredito que todos chegamos à mesma conclusão:
enfrentar uma revolução em que eles tomaram a iniciativa. E, em guerra, tomar a
iniciativa é essencial. Estaríamos limitados, possivelmente, a uma atuação
igual à do Vietnã, em que as duas partes externas tomaram o controle da guerra.
Seríamos a bucha de canhão. Cuba estava, preparada, através da Rússia,
financeira e materialmente, para desembarcar armamento no Brasil, onde já
contava com alguma coisa e com elementos por ela infiltrados. E os Estados
Unidos, tranquilamente, não iam deixar sua retaguarda à mercê dos comunistas. E
numa hora dessas, de desespero, aceitaríamos ajuda. Nunca pedimos, mas
aceitaríamos ajuda dos Estados Unidos ou da Argentina, de alguém que nos
fornecesse armamento. Porque, quando chega o desespero, ninguém pode avaliar.
Foi esse desespero que, felizmente, as Forças Armadas, basicamente, o Exército,
enxergaram antecipadamente. Pelo próprio preparo, talvez pelo exemplo do
Vietnã, anteciparam-se na ação e, com o apoio do povo, conquistaram a vitória,
em menos de vinte e quatro horas” (Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes,
Tomo 4, pg. 181).
“Agora
estou certo de que essa vitória da Revolução, até porque a história é
controversa, no meu entender, foi uma vitória no plano internacional, porque
representou a maior derrota do expansionismo soviético no mundo. Um dia será
reconhecida não só por ter livrado a população brasileira dos horrores do
comunismo, mas também por ter limitado ou atenuado o avanço do comunismo no
mundo. (...)
Não
tenho dúvida de que haveria intervenção, no ambiente da guerra fria em que
vivíamos; haveria intervenção dos Estados Unidos, da União Soviética e iríamos
sofrer as consequências da disputa entre eles pela hegemonia no mundo”
(General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 102-103).
-
havia um golpe de Jango em andamento, que estava previsto para ocorrer no dia 1
de maio de 1964, Dia do Trabalho, com fechamento do Congresso Nacional e do
STF, e decretação do Estado de Sítio; Brizola informou esse fato secretamente
ao governador de São Paulo, Adhemar de Barros, que ficou na moita, concordando
tacitamente com o golpe; assim, São Paulo seria o primeiro Estado a se
sublevar, para a instalação de uma República Sindicalista
“Sabemos
que, dentre os nossos princípios de guerra, está um muito aplicado por
Napoleão: a surpresa. Então a surpresa foi decisiva, aquilo aniquilou qualquer
tentativa de uma reação ordenada. Lembro-me de uma das capas da Revista
Petrobras que continha o desenho camuflado de fuzis e armas de uma possível
revolução comunista, que iria se manifestar em maio de 1964. A Petrobras estava
completamente infiltrada de comunistas a ponto de apresentar em sua revista
oficial um sinal claro do estava por vir” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva
Rocha, Tomo 3, pg. 322).
“O
povo brasileiro, irmanado em três raças fortes, base da sua formação, em
perfeita harmonia com suas Forças Armadas, iria reagir à ideologia comunista
estimulada pelas apátridas declarações do Sr. Luís Carlos Prestes. A primeira
delas foi quando Prestes, numa discussão no Senado com o ex-interventor da
Bahia, Juraci Magalhães, declarou que, em caso de guerra entre o Brasil e a
Rússia, combateria ao lado da Rússia. A segunda declaração, já em março de
1964, foi no Recife, ao fazer o seguinte pronunciamento: ‘Nós, os comunistas,
já estamos no governo, só nos falta o Poder’. Por aí a gente vê e confirma o
grau de infiltração e de comandamento comunista no Governo Jango” (Empresário
Francisco Martins de Lima, Tomo 4, pg. 266).
“Esses
três episódios [dias 13, 26 e 30 de março de 1964] mostravam o avanço das ações
comunistas na direção da tomada do Poder, a ponto de Luís Carlos Prestes, o
chefe maior de todos os comunistas do Brasil, pronunciar, no Recife, a seguinte
frase: ‘Nós, os comunistas, já estamos no Governo, só nos falta o Poder’. Esse
pronunciamento confirma a intenção comunista da tomada do Poder que, aliás,
estava prevista para o dia 1º. De maio de 1964, Dia do Trabalho, conforme
indicava a documentação da cúpula comunista apreendida na época. Então, esses
três eventos, associados ao ‘1º de maio’ e ao estímulo das Marchas da Família
com Deus pela Liberdade, apressaram o desencadeamento da Revolução e
precipitaram o seu eclodir para 31 de março de 1964” (Tenente-Coronel Idalécio
Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 186).
- Ao
mesmo tempo, já cientes do golpe de Jango em marcha, a cúpula militar
conspiratória havia marcado a data do contragolpe para 2 de abril de 1964; mas,
como é do conhecimento de todos, o general Mourão Filho antecipou o levante em
Minas Gerais para o dia 31 de Março de 1964 e o resto é história; a ECEME já se
considerava sublevada desde o dia 27? de Março; houve
movimentação de tropas do Rio para Minas e para São Paulo, de Mato Grosso e de
Minas para Brasília, de São Paulo para o Rio – com a disposição dos cadetes da
AMAN na Via Dutra, além de muita
movimentação no RS; felizmente, não houve enfrentamento bélico, assim como não
houve em 1961.
“No fim do ano de 1963 – setembro de
1963 – o General Castello Branco assume a Chefia do EME e, interessante
registrar, vai encontrar um grande número de oficiais completamente engajados
no processo revolucionário. O EME era tratado como se fosse um ‘depósito de
pessoal’: quem não estivesse concordando com o governo, iria para o
Estado-Maior do Exército” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello,
Tomo III, pg. 55).
Imediatos ou diretos:
A Revelião dos Sargentos da Marinha e
da Aeronáutica em Brasília, em 1963.
“Houve um fato muito importante, em fevereiro de 1964, que foram
as denúncias feitas pelo Governador Adhemar de Barros, que afirmava ter sido
instado pelo Presidente João Goulart a participar de uma reforma política da
Constituição, que transformaria o País em uma república sindicalista. Os
governadores que não estivessem de acordo sofreriam intervenção federal em seus
Estados. Isto preocupou muito as lideranças políticas. Sei disso porque ele
procurou o Marechal Denys em sua residência, em fevereiro de 1964. O Marechal,
na ocasião, pediu-lhe que divulgasse, o mais que pudesse, aquelas denúncias” (General-de-Exército Rubens Bayma Denys, Tomo 1, pg. 161). O
General Bayma Denys é filho do Marechal Denys.
Em 13 de março de 1964, em comício na Central do
Brasil, no Rio de Janeiro, Jango começou a cavar sua cova política.
O
Comício da Central foi realizado estrategicamente no terminal de trens no
centro do Rio de Janeiro; com a paralização dos trens feita pelos sindicatos no
final do dia, a população não pode voltar para casa e se aglomerou no terminal,
próximo ao Ministério da Guerra (Palácio Duque de Caxias); além disso, o
governo Goulart disponibilizou dezenas de ônibus, para trazer manifestantes de
vários bairros e cidades da Baixada Fluminense, com os custos pagos pela
Petrobras. Sempre a Petrobras...
As
medidas anunciadas por Jango, nesse Comício, incluíam a reforma agrária,
estatização das refinarias de petróleo privadas, direito a voto a analfabetos, cabos
e soldados, reforma constitucional, legalização do Partido Comunista.
O que se viu no Comício, entre
outras aberrações, foi o presidente do Brasil estar cercado de militares, desde
o ministro da Guerra, até o mais simples soldado, quebrando os princípios
basilares da hierarquia e da disciplina, coluna dorsal das Forças Armadas. O
general Castello Branco, chefe do EME, também foi convidado para o evento, mas
declinou do vil convite.
Calcula-se que houve cerca de 300
mil pessoas nesse Comício.
Mas, no dia 19 de março de 1964,
de São José, padroeiro da família, houve a resposta da população ordeira, que
promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, com mais de
500 mil pessoas, que pediam a Deus e às Forças Armadas que impedissem que o
Brasil se transformasse em um país comunista.
“No
dia 13 [de março de 1964], deu-se o comício da Central do Brasil, ao lado do
edifício do então Ministério da Guerra e do Comando do I Exército. A turbamulta
foi se formando nas proximidades da Praça da República e se concentrou em
frente à Central do Brasil, protegida pela Polícia do Exército, por
determinação do Comando do I Exército. As provocações prosseguiam sob a batuta
das lideranças comunistas e entidades comprometidas, como UNE, CGT, CNTI e
outras. Ao comício, compareceram o Presidente da República e todos os
ministros, inclusive os militares. Os oradores, que não foram poucos, exigiam
as ‘reformas na lei ou na marra’, a instalação de uma Constituinte, o
fechamento do Congresso Nacional e todo o poder para os sindicatos”
(General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg.
96-97).
-
Nota Reservada, do general Castello Branco, chefe do EME, emitida em 20 de
março de 1964, alertando o País sobre o avanço do comunismo, afirmando que “A
insurreição é um recurso legítimo do povo”.
- a
Revolta dos Marinheiros no Sindicato dos
Metalúrgicos, em Benfica, Rio, onde marinheiros e fuzileiros rebelados, em
passeata, sob liderança do Cabo Anselmo, carregaram nos ombros o Almirante
Cândido Aragão
- a
reunião de sargentos no Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, em 30 março, com a presença
do presidente João Goulart, foi a “gota d’água” para o desencadeamento da
Revolução de 31 de Março de 1964:
“A quebra de disciplina nas Forças
Armadas foi proposta pelo Comandante-em-Chefe, João Goulart, no Automóvel Clube
do Brasil, na reunião com os marinheiros, um espetáculo terrível de
indisciplina. Foi assistido pela televisão, praças e sargentos jogando gorros
para o ar, abraços, e ele, o Presidente, se inflama, sai do roteiro – estava
lendo o discurso que defendia aquelas reformas que pretendia – e conclamava à
indisciplina: ‘que os graduados se unam ao povo e vamos, todos, impor ao
Congresso a nossa vontade’. Isso foi sugerido pelo Comandante-em-Chefe das
Forças Armadas, pelo Presidente da República” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 103-104).
“No
dia 30 [de março de 1964], no Automóvel Clube do Brasil, no Rio de Janeiro,
sargentos, cabos e soldados ofereceram um almoço ao Presidente da República e a
seus ministros, ocasião em que se repetiram as mesmas exigências do dia 13, com
o apoio e reforço do Chefe do Governo. Era a agressão frontal à ordem vigente,
comandada pelo próprio Presidente da República, com desrespeito à Constituição
e ao Congresso Nacional, com a intenção de desestabilizar as Forças Armadas,
quebrando-lhes a disciplina e afrontando-a. Era, sobretudo, uma agressão ao
povo e à Nação, cuja tranquilidade deu lugar a uma inquietação indefinida e
constrangedora” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto,
Tomo 4, pg. 97).
“É provável
que este terceiro fato [reunião no Automóvel Clube do Brasil] tenha feito o
General Mourão Filho precipitar os acontecimentos, pois a eclosão do Movimento
estava prevista para 2 de abril de 1964, por razões táticas, como já disse. De
qualquer forma, essa eclosão tinha que ocorrer antes de 1º. de maio de 1964,
Dia do Trabalho, data que vários documentos da cúpula comunista indicavam para
a implantação final do comunismo no Brasil” (Coronel Genivaldo Catão Torquato,
Tomo 4, pg. 142).
JANGO, VOCAÇÃO PARA CAUDILHO
“Estancieiro
milionário, dono de grandes fazendas no Rio Grande do Sul e no Uruguai, Jango
não tinha nenhuma vocação para comunista; podia ter vocação para caudilho, como
mostrava o seu pensamento populista ou por herança, talvez; ele foi uma cria do
Vargas. Como João Goulart não tinha uma base sólida, ficou isolado dos
governantes dos principais Estados e pelo Congresso, que era dominado pela UDN
e pelo PSD, forças tradicionalmente conservadoras que não aceitavam aquelas
teses. Então, buscou amparo nos sindicatos, no meio estudantil, nos
intelectuais, e fez aquela agitação de rua, levantando aquelas bandeiras.
Apesar disso, não via nele um homem a serviço de Moscou – linguagem que se
usava na época – como não estava, também, a serviço de Washington. Jango era um
homem que queria fazer o seu traçado próprio, dentro da realidade do continente
sul-americano, política que Jânio Quadros, de certo modo, tinha iniciado, mas
equidistante das grandes potências” (Jornalista José Blanchard Girão Ribeiro, Tomo
4, pg. 299).
Jango, filho bastardo de Getúlio?
“As
raízes mais profundas do Movimento Revolucionário de 31 de Março de 1964
encontram-se na revolução de 1930, a revolução dos Tenentes.
Naquele
movimento revolucionário, Getúlio Vargas usurpou o Poder e os que o apoiaram
acabaram frustrados; muitos dos que tomaram parte, naquela ocasião,
participaram da Revolução de 1964, a exemplo do General Ernesto Geisel, seru
irmão Orlando Geisel e muitos outros.
Getúlio,
com o Poder absoluto, criou dois partidos para dar sustentação ao seu governo:
o PSD, Partido Social Democrático, para as elites ricas e corruptas, e o PTB,
Partido Trabalhista Brasileiro, para mobilizar o operariado.
Assim
foi até a Segunda Guerra, após a qual foi deposto, sendo, mais tarde, eleito o
Marechal Eurico Gaspar Dutra.
Depois
de Dutra, Getúlio voltou ao Poder, desta vez pelo voto direto. Esse governo
terminou com a sua morte, uma dramático suicídio, num mar de corrupção e crises
políticas e militares, principalmente envolvendo a Aeronáutica.
Nesse
contexto, Getúlio protegia um afilhado, João Goulart que, dizem, era seu filho
bastardo. Na gíria popular, era ‘cria política’ de Getúlio Vargas.
O
partido de oposição que existia era a UDN, União Democrática Nacional, que
nunca conseguiu vencer o esquema dos dois grandes partidos do Governo,
eficiente sustentação de Getúlio durante muito tempo, baseado nos currais
eleitorais.
Juscelino
Kubitschek foi eleito apoiado por esses dois partidos, PTB e PSD, e derrotou o
Marechal Juarez Távora, que era o candidato da UDN.
Depois
de Juscelino veio Jânio, eleito com o apoio da UDN, embora não pertencesse aos
quadros do partido, visto ser um candidato independente.
Foi
eleito juntamente com João Goulart, que era de outra chapa [PTB]; a legislação
eleitoral daquela época permitia isso.
Goulart
era vetado pelos militares para a Presidência da República. Jânio, sabendo
disso (assumiu em 1961), armou aquela renúncia-golpe para assumir poderes
totais; mandou Goulart fazer uma viagem diplomática à China e renunciou, esperando
ser reconduzido com poderes totais. Mas a sua estratégia falhou e ele realmente
foi afastado do Governo, em meio a uma crise institucional muito grande: o País
esteve à beira da guerra civil.
João
Goulart assumiu a Presidência no regime parlamentarista.
Logo
em seguida, articulou uma campanha objetivando a realização de um plebiscito
para que voltasse a ser Presidente sob o regime presidencialista. Obtida essa
nova condição, iniciou o ataque às instituições brasileiras, visando à criação
de uma república sindicalista, o que era o seu objetivo, porque com essa
república, baseada nas esquerdas, se perpetuaria no Poder, tal como o seu
mestre Getúlio Vargas.
Dentro
desse quadro, iniciou o seu plano: armou um esquema militar baseado em
nomeações de generais e, também, no aliciamento de oficiais de baixa patente e
muito principalmente de graduados: subtenentes, sargentos e cabos.
Utilizava
a Caixa Econômica Federal, concedendo empréstimos para a compra de automóveis,
financiamento de casas, e assim achava que tinha, por exemplo, a Brigada
Pára-Quedista na mão. Buscou controlar os comandos dos Exércitos, como a
nomeação para o IV Exército do General Joaquim Justino Alves Bastos, ainda
General-de-Divisão, para depois, dando-lhe a quarta estrela, mantê-lo conivente
com suas ações” (Coronel Petrônio Araújo Gonçalves Ferreira, Tomo 6, pg.
170-171
AFINAL, FOI GOLPE, CONTRAGOLPE,
REVOLUÇÃO OU CONTRA-REVOLUÇÃO?
Neste
ano de 2020, comemoramos 56 anos do Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de
1964.
Alguns
dos analistas entrevistados na História Oral tratam o episódio como Revolução,
pelos avanços sócio-econômicos alcançados, tirando o Brasil da vergonhosa 46a.
posição entre as nações e colocando nosso País entre as 8 maiores economias do
Planeta.
Outros
tratam o fato histórico como Contra-Revolução, por ter brecado a Revolução
Sindicalista em curso, por obra da dupla Jango-Brizola. que dilapidou a
hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas, e prometia fechar o Congresso
Nacional e implantar reformas de base, "na lei ou na marra".
Outros,
ainda, tratam o fato como Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de 1964.
A
esquerda toda afirma que se trata de Golpe pura e simplesmente, fingindo não
saber que a intervenção dos militares só ocorreu devido à forte pressão da
população nas ruas, para acabar com a baderna estabelecida, com greves em cima
de greves, desabastecimento geral, inflação em alta, desrespeito às
instituições e às Forças Armadas, e a ameaça comunista.
“O fato é que uma revolução exige
medidas duras, extremamente enérgicas, a revolução lembra sangue e a nossa foi
muito branda, muito complacente. Por isso estamos sofrendo as consequências
agora. Nós devíamos ‘ter cortado algumas cabeças’ e alijado algumas figuras que
até hoje não deixam o País progredir”
(Coronel Italo Mandarino, Tomo 3, pg. 193).
Revolução ou golpe?
“O
nome tem que ser Revolução mesmo. É diferente de um golpe, de uma quartelada,
fruto de um grupinho que se reúne e vai tomar o Poder. O que houve foi a
vontade nacional, o povo brasileiro mobilizado a fim de transformar, para
melhor, a vida do País. E uma quartelada, um golpe, não se mantém por muito
tempo, porque lhe falta a base de sustentação. E a Revolução se manteve por
tanto tempo, exatamente porque tinha o apoio popular” (General-de-Exército
Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 48).
“Isto está claro na doutrina de
Direito. Ainda ontem, tive uma discussão doutrinária com uma funcionária da
‘Defesa Nacional’, aqui no pátio (do Palácio Duque de Caxias). Ela chamou de
‘golpe’ e eu retruquei.
- O Senhor não acha!?
- Não, não é golpe – e expliquei.
Dá-se o nome de golpe a toda ação política, cujo objetivo é estruir o que está
estabelecido e vem de cima para baixo.
Por exemplo: a criação do Estado Novo
foi um golpe perpetrado por Getúlio, pois o povo não participou. Cito um outro
caso: quando Napoleão se coroou imperador da França, foi um golpe, porque o
povo não pediu que ele se tornasse imperador.
Revolução dá-se de baixo para cima,
com a participação da maioria do povo que decide apear do Poder as autoridades
constituídas. Assim foi a Revolução Francesa, onde o povo terminou com a
monarquia, e a própria Revolução Bolchevista russa, que expulsou do Poder a
família imperial.
A nossa Revolução foi o povo que a
quis, como nós já comentamos aqui. Agora, a mídia, esquerdista, querendo
menosprezar o Movimento, chama-o de golpe. Mas eu não aceito esse epíteto” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II, pg. 337).
O que
eu acho, em minha singela análise, na condição de um simples pica-fumo? Creio
que começou como Movimento Cívico-Militar, progrediu com Castello Branco para
uma Revolução do tipo “Ditadura Envergonhada” (by Elio Gaspari), virou “Ditadura Escancarada” (by Elio Gaspari) com o AI-5, em 1968,
durante os governos de Costa e Silva, Médici e do "déspota
esclarecido" Ernesto Geisel, e retornou à normalidade democrática com a
promulgação da Lei da Anistia, Geral e Irrestrita, durante o governo
Figueiredo.
Nestes
tempos de fake history, em que o
professor (marxista) de História distorce aquele episódio nas escolas e nas
universidades, assim como os atos dos governos dos generais-presidentes, mister
se faz resgatar a verdade histórica das duas décadas em que militares e civis -
não só militares - comandaram este País. Não aquela "visão histórica"
transmitida pelo enredo da Mangueira no carnaval, em 2019, em que tentou
demonizar vultos históricos como Caxias e exultar figuras inexpressivas como
Marielle Franco. Interessante foi ver uma Escola comandada por bicheiros e
traficantes dando aula de moral e cívica a toda uma nação, assim como
reescrever à sua cara a "história" do Brasil.
GENERAIS, ALMIRANTES E BRIGADEIROS DO
POVO
“A política partidária e a oferta
desabrida de empregos e outras benesses constituíram uma tentativa de criar
cisão nos quadros das Forças Armadas, mas, em maior intensidade, na Marinha e
na Aeronáutica.
Militares como o General Henrique
Baptista Duffles Teixeira Lott, Almirante Pedro Paulo de Albuquerque Suzano e o
Brigadeiro Francisco Teixeira, em fase inicial, para citar apenas os de mais
alta patente e mais responsáveis, por suas ambições políticas e por simples
escravidão ideológica, fugindo aos seus juramentos profissionais e ao respeito
ao Estatuto dos Militares, tentaram subverter a ordem e a disciplina
castrenses, lançando oficiais contra oficiais, sargentos contra oficiais,
desrespeitando as Instituições, praticando ações político-partidárias dentro
dos quartéis, protegendo graduados e oficiais ligados ao esquema governamental
da época. De outro lado, líderes civis e altas patentes das Forças Armadas –
Ademar de Queiroz, Sylvio Heck, Grum Moss – buscaram preservar a disciplina nas
Forças Armadas.
Posteriormente, Almirante Aragão,
Generais Osvino Ferreira Alves, Assis Brasil e o Brigadeiro Teixeira foram os
que mais atuaram para fomentar a discórdia nas Forças Armadas, com a quebra da
disciplina, o estímulo à desobediência, esteios da ações subversivas que
caracterizaram o Governo Goulart.
São exemplos as inúmeras
transferências de oficiais do Exército para as Circunscrições de Recrutamento,
Nordeste e Amazônia, a discriminação de oficiais para missões no exterior etc.
Outros, foram a revolta dos sargentos em Brasília, a baderna dos marinheiros e
fuzileiros navais, as tentativas de organização de clubes de cabos e soldados
nos moldes das organizações trotsquistas de 1916 e 1917” (General-de-Brigada Hélio Ipiapina Lima, Tomo 2, pg. 170-171).
CÉLULA
COMUNISTA NA AMAN
O general-de-Exército
Antonio Jorge Corrêa destaca que, quando assumiu as funções de Comandante do
Corpo de Cadetes, na AMAN, deparou-se “com
uma situação que, em síntese, era a clara descaracterização do ambiente e da
sistemática de formação e de ensino de uma Academia Militar. Destaco que o
Regulamento de 58 contemplava o ensino, então chamado universitário, com carga
horária maior que o dobro da que se destinava ao ensino militar, numa
manifestação específica da Academia, pretendendo fazer daquele Centro uma
universidade leiga e indiferente às suas origens e finalidades. Os reflexos
destes dispositivos regulamentares foram desastrosos do ponto de vista da
formação dos oficiais: impediam a disciplina que se espera de uma Academia
Militar.(...) Por outro lado, o aspecto ideológico que se difundia na Academia
se tornara comprometedor a ponto de criar-se uma célula comunista, que operava,
abertamente, sobretudo na Cadeira de Português; destaquem-se aqui as ligações
francas desta célula com a UNE, do Rio de Janeiro. Tão logo se comprovou este
triste e inédito quadro, foram tomadas necessárias providências que abortassem
sua continuação: substituiu-se o Cel Prof Manoel Cavalcante Proença,
identificando-se e afastando os participantes, do que resultou o desmantelamento
do sistema” (Tomo 1, pg. 31-32).
Em 1960, após inspecionar a
AMAN, o general Castello Branco mandou que se instalasse uma Comissão, para
elaboração de novo Regulamento para a Academia: “Revogado o nefasto Regulamento de 58 e com a aplicação de novas diretrizes,
foi possível, nos decênios de 1961 e 1962, restabelecer-se o primado da
profissão militar, da hierarquia, da disciplina, do culto dos nossos heróis e
do civismo genuíno. Nos meados de 1962, equipes selecionadas de todos os
Estabelecimentos de Ensino do Exército participaram de estágios realizados na
DGE [Diretoria Geral do Ensino],
destinados à preparação e à padronização de procedimentos na execução de planos
e programas de Guerra Revolucionária, previstos na Nota de Instrução baixada
pelo Estado-Maior do Exército” (idem, pg. 32).
A partir de então, passou-se
a ministrar G Revo em todas as Unidades do Exército, com ênfase para as escolas
militares.
INÍCIO
DA INSTRUÇÃO DE GUERRA REVOLUCIONÁRIA (G REVO)
“O Chefe do Estado-Maior do
Exército Brasileiro, onde estava presente o General Castello, que não era o
titular nessa ocasião, organizou um curso de Guerra Revolucionária: Ação
Educativa Contra a Guerra Revolucionária, que recebi quando Chefe do
Estado-Maior da 8ª. Região Militar, no Pará. Um trabalho do próprio
Estado-Maior do Exército, quase clandestino e todos eram informados de que
deveria ser reservado. No Pará, recebíamos os fascículos (o Senador Passarinho
exibiu um exemplar do documento), nos quais estavam incluídos todos os
ensinamentos sobre a guerra revolucionária e a forma pela qual progrediam e
conquistavam seus objetivos; inclusive sobre a guerra psicológica preparatória
da guerra revolucionária” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg.
52).
“Particularmente
interessante, naquela época [1963], o fato de a carga horária da instrução
estar dividida quase meio a meio: uma parte era a regular de Artilharia [I/7º.
RO 105, no Recife], e a outra, por influência da guerra do Vietnam e da
conjuntura internacional, era absorvida pela instrução de guerra revolucionária
– guerrilha, controle de tumultos etc.
A instrução foi muito
intensificada, no início de 1964, coincidentemente com a chegada à Unidade de
um oficial superior que passou a desempenhar as funções de S/3, o Major Hugo
Caetano Coelho de Almeida, especialmente se comparada com a do ano anterior.
(...)
Em um exercício realizado no
Forte de Pau Amarelo, local onde havia muito mato, foi feita a limpeza a fim de
balizar no terreno um arruado para a prática de instrução de controle de tumulto
em área urbana. Um repórter do Diário de
Pernambuco assistiu ao exercício e, no final – quem estava no comando era o
Major João José Cavalcanti de Albuquerque, pois o Coronel Ivan Ruy Andrade de
Oliveira estava de férias – o Major Hugo disse ao repórter:
- Com esse tipo de
treinamento somos capazes de controlar cerca de seis mil pessoa na rua, sem que
seja necessário disparar um único tiro (Coronel Osman Godoy, Tomo 6, pg.
192-193).
O
EMPASTELAMENTO DO JORNALECO BINÔMIO
“Aqui, em Minas, há um fato,
um episódio muito importante, do qual pouco se fala. Foi a quebra do jornaleco
chamado Binômio. O Binômio era um jornal panfletário que
explorava as pessoas, exigindo dinheiro para não divulgar notícias que lhes
fossem adversas. Esse jornal, certo dia, publicou uma matéria que era
degradante para o Comandante da Infantaria Divisionária da 4ª. Divisão (ID/4) –
na época, General Punaro Bley. Ele teve a coragem de ir à redação do Binômio e tirar satisfação. Foi
acompanhado do motorista. Este ficou na rua, no carro, esperando, e o general
subiu e foi enfrentar a direção do jornal. Destratado e agredido, saiu de lá
ferido, machucado. Voltou para o QG (Quartel-General). Um companheiro, um
oficial que estava de serviço, viu o estado do General e comunicaou aos
comandantes de Unidades que, basicamente, naquela época, eram o 12º. RI, o
Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) e mais a Base Aérea, que
ficava, exatamente, junto ao aeroporto da Pampulha.
Os comandantes de Unidades do
Exército resolveram ir ao jornal impedir que a próxima edição saísse, porque,
fatalmente, publicaria coisas desagradáveis contra o General, inclusive fotos.
Reuniram oficiais, somente oficiais e sargentos, pegaram um ônibus da
Aeronáutica que ficava sempre no pátio do 12º. RI e foram ao jornal Binômio. Era o final de 1961.
Quando lá chegaram, foram
recebidos de forma muito agressiva. Os militares, então, resolveram o seguinte:
‘Vamos impedir a saída da edição de amanhã e de qualquer outra edição; vamos empastelar
o jornal.’ A ordem era não deixar nada inteiro que tivesse mais do que 20 cm.
Tudo que tivesse mais de 20 cm deveria ser quebrado. E assim foi feito.
Oficiais e sargentos dessa gloriosa guarnição assim agiram e destruíram o
jornaleco Binômio, que nunca mais circulou em Belo Horizonte ou em lugar
nenhum, graças a Deus.
(...)
A única punição que sobrou
foi a transferência dos Comandantes do 12º. e do CPOR para outra guarnição, e,
também, do Comandante da Base Aérea. Ninguém mais foi punido. Mas esse fato
gerou uma coesão muito grande no meio militar de Minas Gerais; somado a uma
série de outros, fez com que as tropas de Minas tivessem fortalecido o espírito
revolucionário, levando-as à eclosão da Revolução de 1964” (Tenente-Coronel Pedro Cândido Ferreira
Filho, Tomo 3, pg 349).
CRUZADA
DEMOCRÁTICA
“Em 1950, os comunistas conseguiram
infiltrar-se no Clube Militar, utilizando a revista para fazer proselitismo da
sua doutrina. Nasceu, então, a reação dos verdadeiros patriotas e democratas
para retomar a direção do Clube, através de um movimento que se denominou
Cruzada Democrática.
Não podendo utilizar as
dependências do Clube, as reuniões da Cruzada foram realizadas, inicialmente,
na Federação de Escoteiros do Brasil e, posteriormente, na sede do Clube dos
Oficiais Reformados e da Reserva das Forças Armadas, na Praça da República,
197, no Rio de Janeiro: a Casa de Deodoro.
(...)
Em meados de 1962, nos
reuníamos rotineiramente às quartas-feiras à noite, na Casa de Deodoro,
participando das reuniões da Cruzada Democrática, as quais compareciam muitos
oficiais da reserva e da ativa (General Bina Machado, Coronel Sebastião Chaves,
Tenente-Coronel João Baptista de Oliveira Figueiredo etc.).
(...)
Fazíamos reuniões com outros
companheiros, no porão do edifício residencial da Praia Vermelha e na Vila
Militar, em Marechal Hermes, numa academia de judô.
Conseguimos, enfim, realizar
a tão esperada assembleia no Clube Militar, em 3 de julho de 1963, na presença
de quase dois mil sócios. Os comunistas, cerca de sessenta pessoas, em sua
maioria oficiais, audaciosamente, tentaram tumultuar a reunião inscrevendo-se
para falar e abordando assuntos contrários aos nossos objetivos. Foi preciso
que um companheiro, o Tenente-Coronel Aviador Coqueiro, mais tarde Brigadeiro,
tomasse o microfone das mãos de um esquerdista para que toda a assembleia, aos
gritos, os expulsassem do recinto.
Nessa assembleia, os irmãos
Torres de Melo (Artur de Freitas Torres de Melo e José Ramos Torres de Melo
Filho) falaram de forma incisiva em defesa dos postulados democráticos e da
dignidade da classe militar. No dia seguinte, esses companheiros foram presos:
Artur, no Forte de São João, e o José, no Forte Rio Branco” ( Coronel Edgar
Maranhão Ferreira, Tomo 6, pg. 107-108).
“Inicialmente muito tímido,
o Clube Militar, com o tempo, foi-se encorajando, graças, em grande parte, à
presença de oficiais-alunos da EsAO, do IME e da ECEME e, juntamente com o
Clube Naval e o Clube da Aeronáutica, teve um papel de grande relevância na
preparação do Movimento de 1964. Havia uma ala conhecida como ‘Cruzada
Democrática’, que reunia muitos oficiais que pensavam igualmente sobre aquele
momento nacional. Entre esses oficiais, incluíamo-nos eu e meu irmão Artur
Torres de Melo, então major, e outros bem conhecidos, como os então coronéis
Arnizaut de Matos, Sebastião Chaves e João Baptista Figueiredo. Aí
confabulávamos sobre a situação do País, sobre o que deveria ser feito e como.
Motivado pela ‘Cruzada Democrática’, no dia 3 de julho de 1963, o Clube Militar
promoveu uma grande reunião, com mais de três mil oficiais, presidida pelo
General Magessi da Cunha Pereira, seu presidente. Capitão e aluno do 3º. ano do
IME, compareci a essa reunião juntamente com o Artur, e fizemos, cada qual, um
pronunciamento contra o estado de coisas reinante, imputando as
responsabilidades ao Ministro da Guerra e ao Presidente da República. Os dois
discursos, por sua veemência, valeram-nos trinta dias de prisão para cada um,
dados pelo Ministro da Guerra, General Jair Dantas Ribeiro. Mas nós, os
oficiais mais jovens, não arrefecemos e continuamos nessa batalha, sem sabermos
qual o pensamento dos nossos chefes” (Major José Ramos Torres de Melo Filho,
Tomo 4, pg. 236-237).
EMPREGO
DOS CADETES DA AMAN NA REVOLUÇÃO
Todos os militares
entrevistados afirmam que foi correta a decisão do General Médici, Comandante
da AMAN, de empregar os cadetes enquanto a Revolução não estava definida.
“Eu
era aspirante-a-Oficial do Exército – que não deixa de ser um cadete do quarto
ano – quando fui, com a Força Expedicionária Brasileira, combater na Itália,
portanto estou certo de que foi acertada a decisão do General Médici, quando
empregou os cadetes da Academia. A nossa formação profissional visa ao combate,
à luta; não somos formados para professor de escola pública, mas para ser
militar. Assim, a tropa constituída por cadetes é da melhor qualidade e bem
adestrada. Tenho que empregar a tropa de que disponho.
Principalmente,
em se tratando da soberania do País [entrevistador].
O
grande objetivo, afinal.
Os
cadetes também foram empregados na Intentona Comunista, contra os Afonsos (Base
Aérea dos Afonsos). E foi acertado o seu emprego. É a melhor tropa combatente
de que se dispõe. Ninguém deixou os cadetes trancados em Realengo.
Apreciando
a nossa Revolução de 1964, o General Médici agiu muito bem, evitando,
inclusive, o possível confronto entre as tropas do I e do II Exércitos” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 106-107).
O
QUASE CONFRONTO ENTRE TROPAS DO EXÉRCITO
Como em 1961 – quando alguns
chefes militares não admitiam que João Goulart assumisse a Presidência da
República depois da renúncia de Jânio Quadros -, em 1964 houve também o
deslocamento de tropas, a favor e contra a Revolução, abrangendo os Estados de
MG, MT, DF, RJ, SP, PR, SC e RS.
No III Exército (atual
Comando Militar do Sul), a situação foi mais tensa, até que o General Poppe de
Figueiredo assumiu o Comando Revolucionário do III Exército, em Santa Maria, no
dia 2 de abril de 1964. A respeito desses fatos, há um relato pormenorizado
feito pelo entrevistado da História Oral, General-de-Brigada Gabriel D’Annunzio
Agostini, Tomo 2, pg. 125-142).
Sobre os acontecimentos do
dia 1º. de abril de 1964, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, há um relato
sucinto do General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg. 63-65. Envolve
as ações do General Orlando Geisel e de auxiliares, como o coronel Ariel Pacca
da Fonseca, o tenente-coronel Darcy Lázaro, o major Leônidas Pires Gonçalves, o
major Ivan de Souza Mendes – além do então tenente-coronel Campello).
O
POVO, A IGREJA CATÓLICA E A MÍDIA APOIARAM O MOVIMENTO DE 31 DE MARÇO DE 1964
Tanto o povo, quanto a
Igreja Católica e a mídia, em peso, apoiaram o Movimento. Basta ver as
manchetes dos jornais e das revistas da época. Uma Edição Especial da revista
Manchete ilustra o ocorrido (google), assim como uma edição do Reader’s Digest,
Uma Nação que se salvou por sim mesma (google)
“O mais interessante foi
presenciar, sentir a vibração do povo do Rio. Por onde passasse alguém fardado,
o pessoal aplaudia, chamava para entrar em casa, almoçar, era uma vibração
geral! Não foram o Exército, a Marinha e a Força Aérea que fizeram a Revolução.
Foi o povo brasileiro quem a fez. Decorridos alguns meses, já estávamos sob o
entusiasmo da ‘campanha do ouro para o bem do Brasil’ ” (General-de-Exército
Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 37).
“Na mídia, vou destacar, antes de tudo, uma
figura que ficou no esquecimento do Brasil: o radialista, o homem de televisão,
Flávio Cavalcante. Flávio Cavalcante, antes da Revolução, fez um programa – que
me marcou bastante – onde ele levou vários pracinhas e enalteceu o valor do
militar. Mostrou a importância do militar brasileiro e o espírito de liberdade
que os pracinhas defenderam. O anticomunismo que ele pregou, diretamente, no
seu programa e a coragem que teve me marcaram muito. Foi um profissional que
caiu no esquecimento, porque ele não era da linha esquerdista” (Coronel
Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3, pg. 325).
“A essência da Igreja
Católica, a perseguição e o martírio de padres católicos nos países comunistas
e a negação marxista da religião jamais levariam a Igreja a apoiar a comunização
do Brasil. Na verdade, a grande maioria dos padres e bispos católicos não só
apoiaram, mas estimularam as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, o que
significava antecipar aprovação a qualquer movimento que anulasse o esquema
comuno-janguista. Da mesma maneira se vinha comportando a Imprensa. Os grandes
jornais da época – O Globo, O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo, o Jornal
do Brasil e outros – investiam frequentemente contra a desordem criada e até
estimulavam o surgimento de algo que pusesse fim àquela situação. Era a
manifestação do apoio antecipado à Revolução. Não incluo aqui os jornais
governistas, como a Última Hora, que alimentavam lá os seus interesses”
(Tenente-Coronel Elias Lima Barros, Tomo 4, pg. 196).
“Naquela oportunidade, a
Igreja, no Nordeste, tinha o pessoal conservador, sob a orientação de Dom
Eugênio Sales, que não aceitava interferência política. Ainda hoje há muito
padre que não aceita isso. Do outro lado, tínhamos a Igreja progressista, que
optava pela política, servindo somente às esquerdas, a exemplo das reuniões de
Dom Evaristo Arns, num estádio de futebol em São Paulo. Aqui mesmo no Ceará,
naquela época, tínhamos dificuldades de conseguir sequer que Dom José Delgado,
arcebispo local, celebrasse uma missa por nós” (Tenente-Coronel Murilo Walderk
Menezes de Serpa, Tomo 4, pg. 206).
“Naquele tempo, o clero, com
poucas exceções, deu todo o apoio a esses movimentos [Marchas da Família],
embora, depois, se tenham ampliado as divergências contra a Revolução. Aqui no
Ceará podemos citar, entre outros, dois exemplos de opositores: Dom José
Delgado, arcebispo de Fortaleza, e Dom Antônio Fragoso, bispo de Crateús, mais
por pendor ideológico surgido de interpretação do Vaticano II do que por
doutrina religiosa. Mas tudo indica que essa parcela divergentes do clero, ou
ignorava as perversidades e as violências cometidas pelas esquerdas ou era
adepta dela” (Empresário Francisco Martins de Lima, Tomo 4, pg. 265).
FAKE
NEWS? TAMBÉM TINHA, COM A RÁDIO MAYRINK VEIGA, PORTA-VOZ DE BRIZOLA
“Dia 31 começamos a ouvir,
tarde da noite, notícias sobre a movimentação conduzida pelo Mourão que, como
se sabe, saiu intempestivamente. O próprio Castello ainda tentou fazer com que
ele voltasse – já não dava – quando, então, o Magalhães Pinto decidiu o início
do processo revolucionário. Não tínhamos informação segura, era tudo precário
demais. Comunicação quase nenhuma, ouvir o rádio, uma dificuldade enorme.
Escutava-se a rádio Mayrink Veiga, noticiando que o Castello estava preso e
outras coisas mais, um monte de inverdades. Mas eu tinha uma ligação com São
Paulo com São Paulo, através de radioamador. Eu era radioamador. Tínhamos um
grupo clandestino com o Coronel Sebastião.
Dia 31, à noite, passamos em
prontidão rigorosa [26º. BC, Belém]. Os oficiais – todos os oficiais menos dois
– eram partidários de um movimento, que nós chamávamos de ‘vamos almoça-los,
antes que nos jantem’. Essa era a expressão. Os adversários estavam prontos
para dar um golpe e nós queríamos nos antecipar. Esse era o ambiente que
dominava: somente dois oficiais do Estado-maior faziam restrições, não chegando
a serem contra” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 65-66).
LÍDERES
MILITARES E CIVIS DO MOVIMENTO DE 1964
“Indiscutivelmente,
o grande articulador do Movimento de 1964 foi o Marechal Odylio Denys. Iniciou
sua ativa atuação como conspirador contra Goulart, logo após ter o mesmo
voltado a desfrutar de todos os poderes presidencialistas, em seguida ao
plebiscito que deu fim ao parlamentarismo. Diretamente ligado ao Marechal,
nessa atividade, estiveram os Generais Nelson de Mello, Cordeiro de Faria,
Poppe de Figueiredo, Olympio Mourão Filho, Carlos Luís Guedes e vários outros
chefes militares. Realizou um trabalho árduo e eficaz, no sentido de criar um
dispositivo revolucionário forte, com ramificações por todo o País, mantendo o
sigilo para obter a surpresa. Articulou-se com a Marinha e a Aeronáutica, por
intermédio de contatos com o Almirante Sylvio Heck e Brigadeiro Grum Moss. Seu
trabalho de aliciamento de militares que serviam em comandos importantes foi
decisivo para o êxito do Movimento” (General-de-Exército
Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).
A liderança do Marechal
Denys foi decisiva para o avanço do Destacamento Tiradentes, comandado pelo
general Muricy, de Minas até o Rio de Janeiro, ao convencer por telefone o
coronel Raimundo Ferreira de Souza – que havia sido seu Assistente-Secretário,
comandante do Regimento Sampaio, vanguarda da coluna do General Cunha Mello, um
dos “generais do povo”, enviada para combater as tropas da 4ª. Região Militar:
“-
Mas é o senhor que está aí, Marechal? – disse surpreso o Coronel Raimundo.
-
Estou aqui do lado do Brasil e da democracia, e gostaria de contar com você –
respondeu o Marechal e deu-lhe outras informações.
-
O Senhor conta comigo, estou do seu lado – assim se expressou o Coronel.
-
Então você espera aí que que vou ao seu encontro – isso era quase meia-noite –
para acertar a passagem de linha do seu Regimento, com o Muricy, Comandante do
nosso Destacamento – concluiu o Marechal” (General-de-Exército Rubens Bayma
Denys, Tomo 1, pg. 171).
Castello Branco foi outro líder do Movimento de 31 de Março de
1964, porém não concordou com o levante de Minas, tentando convencer os líderes
revoltosos a abortar a Revolução.
“Indiscutivelmente, Castello
nunca foi um revolucionário. Ele era um legalista por excelência. Cabe aqui
recordar que no dia 25 de Março de 1964, quando começou o motim dos
marinheiros, Castello Branco já estava convencido de que devia tornar-se um
revolucionário.
Lembro-me de que o meu irmão
pediu-me que o levasse à casa do Castello Branco, em Ipanema, se não me falha a
memória, na Rua Redentor, e eu o fiz. Lá chegando, apresentei meu irmão, que
falou: ‘General, queremos ver a sua liderança. A Marinha, respondo por ela,
pois os almirantes não mandam mais, ficará totalmente do seu lado. Assuma a
revolução’.
Talvez esse momento tenha sido a
gota d’água que fez quebrar a legalidade. Considero Castello um monumental
estadista. Esse homem deu ao Brasil três coisas que bastariam para caracterizar
um governo: o fundo de garantia, a queda da inflação e, principalmente, um
decreto que considero um primor: o Decreto-Lei 200. No dia em que o Brasil
cumpri-lo à risca, seremos uma grande nação” (Coronel Mário Dias, Tomo 2, pg. 303).
“Às horas tantas, explodiu no
apartamento um telefonema de Costa e Silva a Portella [Coronel Jayme Portella
de Mello, depois general e chefe do Gabinete Militar de Costa e Silva]. O
General anunciava que iria para o QG (o então Quartel-General do Exército, na
Praça Duque de Caxias – Campo de Santana).
- Mas, General, o senhor vai para
o QG?! A Revolução ‘estourou’ em Minas e o senhor vai para lá?! – perguntou
admirado Portella. – Costa e Silva
explicou que não queria ir. Mas acrescentou:
- O Castello está lá. Não sei o
que deu na cabeça dele. Disse-lhe que não fosse e ele foi. Não vou deixá-lo
sozinho (5).
Nenhum de nós aceitou a
explicação, e passamos a conjecturar sobre ela.
Eram típicos do Costa e Silva
esses rompantes, esses lances gauchescos, no caso, um tanto sem sentido. E lá
se foi Costa e Silva para o QG. Não terem prendido os dois dá uma idéia do que
chamavam de ‘dispositivo militar’ do Governo. Chegaram a mandar fechar os
portões e não deixar ninguém sair. Mas Castello, Costa e Silva e os seus
oficiais saíram” (Coronel
Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 222).
“ (5) O General Carlos Luís
Guedes, em Tinha que ser Minas –
Editora Nova Fronteira, 1979, escreveu que Castello, depois de tentar
convencê-lo a mandar a tropas de Minas de volta aos quartéis, foi para seu
gabinete no Estado-Maior do Exército, pois estava certo do fracasso do
Movimento. Até hoje, não encontrei outra explicação para a ida de Castello para
o QG” (citado
pelo” Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 222, Nota de rodapé).
“Castello Branco acreditava – e
nisso, no meu entender, demonstrou extrema falta de capacidade de julgamento –
que a crise de Jango se resolveria, como todas as crises brasileiras, através
de um jogo político. Como acontecera com a renúncia de Jânio, sem haver o
comprometimento do Exército, o apelo à força. Não queria a Revolução. Quando
ela triunfou, fez o que lhe pareceu adequado para que fosse de curta duração. O
resultado foi o contrário.
O General Guedes, Comandante da
Infantaria Divisionária da 4ª. Região Militar (Belo Horizonte), conta haver
Castello lhe telefonado e, depois, telefonado ao Governador Magalhães Pinto,
instando que fizessem suas tropas voltar a quartéis, porque seriam massacradas.
Seguindo o conselho, teria sido o desastre total. Alertado, o Governo de Jango
tomaria medidas que fariam extremamente difícil nova eclosão do Movimento.
Castello, com todas as suas inegáveis qualidades de chefe militar, no episódio,
foi de uma falta de visão surpreendente.
Ele cismou que aquilo era uma ‘quartelada’? [Entrevistador]
Castello cismou que o Movimento
eclodido em Minas era uma quartelada, e ele não queria uma quartelada, até
porque a julgava fadada ao fracasso” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 229).
Não se pode esquecer da liderança feminina, em prol do sucesso
da Revolução de 1964, como a CAMDE:
“Sobre visitas, e a propósito da adesão do povo à Revolução, há
um episódio interessante. Portella, certa
feita, chamou-me e ordenou:
- Araripe, estou muito ocupado, e
há umas mulheres da CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia) que pediram uma
entrevista. Você as recebe.
Ingenuamente, preparei-me para
uma amena conversa com circunspetas damas da sociedade. A CAMDE era uma
associação de senhoras, militantes, muito aguerridas, e que representaram papel
relevante na mobilização do povo em favor do Movimento. Elas chegaram, bem
vestidas, falantes, seguras. Nos sentamos, foi servido cafezinho de estilo, e
em dois minutos a cerimônia havia sido posta de lado. Subitamente, uma das
senhoras virou-se para mim e disparou:
- Os senhores estão pensando que
fizeram a Revolução? Quem fez a Revolução fomos nós, os senhores aderiram.
Não estava longe da verdade.
Cordeiro de Faria dá grande crédito à participação civil, em particular das
mulheres, no desencadear da Revolução. Esse fato contrapõe-se à qualificação de
golpe militar do Movimento de 1964. Não há dúvida de que as mulheres foram
atuantes, saíram para as ruas, fizeram discursos e reuniram gente. A Revolução
andou mal em não lhes cultivar o apoio.
As senhoras, em coro, continuaram:
- Os senhores estão sendo muito
moles com essa gente. Eles vão enterrar os senhores. A nossa Revolução vai para
o ‘buraco’ pela fraqueza dos senhores. Os senhores não sabem com quem estão
lidando” (Coronel
Luís de Calencar Araripe, Tomo 2, pg. 227).
“No Congresso Nacional, como
hoje, existiam vários partidos, partidos demais e, como sempre, as agremiações
giravam em torno de homens e não de idéias, o que, para mim, é um defeito, um
pecado mortal da nossa política. Entretanto, muitos apontavam os erros do
Governo. Recordo-me de alguns nomes notáveis, como Bilac Pinto, que, por
intermédio de belíssimos discursos, mostrava que o País caminhava para a guerra
revolucionária, objetivo claro da esquerda.
Lembro-me, também, do Padre José
Godinho, Deputado por São Paulo, orador de grande cultura humanística que,
decididamente, alertava sobre a situação deletéria que estávamos vivendo. O
Deputado João Calmon, do Espírito Santo, foi outro corajoso combatente no campo
político, que procurava alertar o Congresso.
(...)
No Rio de Janeiro, Dom Jaime de
Barros Câmara, Cardeal na ocasião, tinha um programa de rádio chamado A Voz do
Pastor, onde chamava a atenção dos ouvintes sobre os fatos que estavam
acontecendo. Dizia que o povo estava sendo conduzido para uma realidade
diferente e alertava para os perigos do comunismo.
No Rio Grande do Sul, Dom Vicente
Scherer, o célebre Arcebispo de Porto Alegre, mostrava que a situação era
catastrófica para o País.
Na Câmara dos Deputados, as vozes
do Padre Godinho, já citado, e do Monsenhor Arruda Câmara juntavam-se ao coro
daqueles que alertavam sobre o perigo dos rumos seguidos pelo governo” (Coronel José Tancredo Ramos
Jubé, Tomo II, pg. 327-328).
[Convém acrescentar a importante obra do Arcebispo Sigaud, Catecismo Antiocomunista, disponível da
internet.]
“Dentre os militares, é
importante, ainda, destacar, no caso de Minas Gerais, o Comandante da Polícia
Militar do Estado, o Coronel PM José Geraldo de Oliveira, que foi extremamente
valioso para o êxito da Revolução.
A única Polícia Militar em
que o General Castello Branco não precisou intervir para melhorar a disciplina
foi a de Minas, cujo efetivo, na sua maioria, era oriundo do Exército. O
Comandante da Polícia Militar – Coronel José Geraldo – exerceu um decisivo
papel à frente de sua Polícia e junto à população de Minas Gerais, o que
repercutiu nos demais Estados da Federação. O Coronel José Geraldo foi um
admirável e convicto colaborador. Na instrução do pessoal, no trato do
material, na apresentação de seus policiais, na participação austera, em tudo,
estava bem viva a sua ação de comando” (Coronel Waldir Abbês, Tomo 3, pg. 293).
“Tem uma coisa interessante,
e isso eu gostaria de enfatizar. É um ponto de vista pessoal: diria que a
Revolução de 1964 foi um Movimento de capitães e tenentes.
O ardor era dos tenentes e
capitães. Os oficiais superiores estavam querendo sair com a gente, mas eles já
tinham passado por outros ‘morros’, em outras épocas, e já não tinham aquele
entusiasmo que tínhamos.
(...)
Nós, lá no quartel, combinamos
que: ‘se, por acaso, nossos comandantes superiores falharem, sairemos,
comandados por capitães e tenentes. Vamos levar esse Quartel [ID/4, Infantaria
Divisionária da 4ª. Divisão de Infantaria] para o Rio de Janeiro’. Havia essa
determinação.
E lá, na ponte do Paraibuna,
conversando com os 2º. Tenentes Bini e Moraes, atualmente generais, combinamos
o seguinte: se por acaso falhasse o movimento, nós iríamos partir para a
guerrilha, não voltaríamos aos quartéis, seríamos guerrilheiros dali para frente.
Eu queria complementar: meu
pai comandava o 13º. BC, de Joinvile, eu tinha um irmão no 1º. BIB em Barra
Mansa – Tenente Remo Rocha Filho – e o meu cunhado também servia no 13º. BC. A
nossa convicção era tanta que eu, com toda pureza de coração, pensava naquela
época: ‘quem vier do lado de lá eu atiro. Que não venha meu pai ou parente,
porque eu vou atirar” (Coronel Reynaldo de Biasi Silva Rocha, Tomo 3, pg.
312-313).
“Quando estávamos no Rio, no
Maracanã, comandava a CCS (Companhia de Comando e Serviços) do 10º. RI o
Capitão Kleber Caldas Camerino, filho do General Camerino. E, ali, havia alguns
sargentos que não tinham sido detidos em Juiz de Fora, antes de sair, e que
começaram a fazer umas anotações.
E pegou-se uma pasta de um
deles, com anotações de ‘gorilas’ etc. Percebemos o perigo e ficamos atentos,
tanto que começamos a patrulhar as arquibancadas; mas foram dois ou três
elementos, uma coisa muito pequena.
O Camerino, na época, se
ofereceu ao Coronel Bretas, que havia retomado o comando de sua tropa, no Rio,
e dele ouviu palavras que até hoje me arrepio em dizer: ‘Coronel, ofereço-me
para fuzilar esses sargentos. Eu sou responsável pela Companhia e cabe-me
fuzilá-los’. O Coronel falou: ‘Não faça isso, Camerino, o nosso quartel tem um
moral muito elevado e não podemos perder isso. De maneira que vocês vão ter que
continuar policiando, convivendo com esse pessoal’ “ (Coronel Reynaldo de Biasi
Silva Rocha, Tomo 3, pg. 318-319).
“Os generais que a iniciaram
foram, praticamente, preteridos no Governo da Revolução. Nenhum deles
desempenhou cargos importantes. Nenhum deles recebeu do governo revolucionário
a atenção que merecia, muito menos qualquer privilégio. Os generais mineiros
quando leram aquele documento ‘Lealdade ao Exército’ achavam, vamos dizer na nossa
linguagem, fraco. Eles queriam uma ordem de partida e não um toque de reunir. E
foi, então, que a Revolução eclodiu, e se não eclodisse, naquele dia, com a
forte motivação da reunião do Automóvel Clube do Brasil, no Rio de Janeiro,
talvez a história fosse outra, porque os generais, apesar do forte clamor do
povo, custam a quebrar a inércia, pesam demais as consequências de seus atos. O
próprio Ministro do Exército, General Jair Dantas Ribeiro, estava do outro
lado.
Todos os fatos geradores da
Revolução – a rebelião dos sargentos da Marinha e da Aeronáutica em Brasília,
em setembro de 1963; o comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964; a
rebelião dos marinheiros e fuzileiros, liderada pelo Cabo Anselmo, contando com
o apoio do Almirante Aragão – provocaram a difusão desse documento ‘Lealdade ao
Exército’. Ele precisa ser lido e interpretado. Provocou o ‘pontapé inicial’ ”
(Tenente-Coronel Pedro Cândido Ferreira Filho, Tomo 3, pg. 351).
“O General Amauri Kruel, que
era compadre de João Goulart, foi procura-lo para tentar convencê-lo a
dissolver o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), o Pacto de Unidade e Ação
(PUA), o Fórum Sindical de Debates e outras entidades que estavam
intranquilizando a Nação, promovendo greve por cima de greve, reivindicação por
cima de reivindicação. Ainda me lembro, através de um registro que os jornais
fizeram, de que o Porto de Santos, o maior da América Latina, parou trezentas
embarcações carregadas – as mercadorias apodreceram – em solidariedade a seis
enfermeiras da Santa Casa, que entraram em greve.
Mas eu me referia ao
encontro do General Kruel com o Presidente João Goulart. Depois da exposição do
general, o presidente virou-se e disse: ‘E não posso dissolver essas entidades,
porque elas são o meu V Exército.’ Na época, só havia os I, II, III e IV
Exércitos. Então, o general despediu-se e foi embora e todo mundo sabe o que
houve em 31 de março: o V Exército não apareceu” (Jornalista Themístocles de
Castro e Silva, Tomo 4, pg. 279).
“Em 1963, na revolta da
Polícia Militar do Piauí, sendo eu oficial de operações, recebi, como
comandante da Guarda de Honra, o Presidente João Goulart. Do meu conhecimento,
foi a primeira vez, na minha vida militar, que um homenageado chamou o
comandante da tropa para ficar ao seu lado. Conversamos e, do princípio ao
último momento, ele tentava dar razão à revolta da Polícia Militar, para
finalmente indagar: ‘O senhor não acha que essa revolta é justa, já que o
pessoal da Polícia Militar tem passado fome?’ A minha resposta: ‘Não,
presidente. O pessoal da Polícia Militar tem uma cadeia de comando; eles têm
que observar os degraus dessa cadeia para ponderar os seus direitos. A
indisciplina é um dos fatores que mais destroem as Forças Armadas”
(Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa, Tomo 4, pg. 205-206).
“O noticiário dos jornais
apontava, como uma reserva moral e cultural, o General Castello Branco, o
Comandante do IV Exército, no Recife, de onde teria sido transferido por
interferência de Miguel Arraes” (Jornalista Themístocles de Castro e Silva,
Tomo 4, pg. 282).
“No 11º. RI de São João Del
Rei, soube mais tarde, a maioria dos sargentos fora presa. Também muitas
prisões de civis, comunistas e simpatizantes, foram feitas em Belo Horizonte e
Juiz de Fora. O mais ativo deles, de quem não recordo o nome, tinha planos de
atacar quartéis e até colocar veneno na caixa d’água da Cidade de Belo
Horizonte.
(...)
Meu destacamento, chamado de
Caicó – homenagem à terra do Coronel Vale – deixou o quartel sob aplausos e
choros de civis. Havia certa euforia e temor pelo que nos esperava no caminho
de Brasília. Poderia haver reações dos grupos de esquerda, emboscadas e
sabotagens, o que nos deixava de sobreaviso. Até mesmo quando a coluna foi
sobrevoada por um ‘teco-teco’ tivemos que sair às pressas dos transportes e nos
proteger de um ataque aéreo. Era simplesmente um civil, acompanhado de um
oficial de ligação que vistoriava a coluna e atirava mensagens.
Chegamos à Brasília no final
da tarde, sem problemas, e guiados pela Polícia do Exército e Polícia Rodoviária
fomos estacionar no quartel do 1º. Regimento de Cavalaria Mecanizado (1º.
RCMec), ainda em construção. Foram tomadas as medidas de praxe e realizamos,
durante a noite, patrulhas para evitar surpresas. Tive a infelicidade de, nos
primeiros dias, perder um soldado. Ele simplesmente desapareceu e nunca mais
foi encontrado” (Coronel Luiz Marques Tavares, Tomo 6, pg. 230).
O
DITO “ESQUEMA MILITAR” DE JANGO
“O
General Osvino, à frente da Petrobras, pagou todas as despesas com os comícios
da Central do Brasil e do Automóvel Clube. Era o dinheiro da Nação a serviço
dos comunistas e corruptos” (Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de Serpa,
Tomo 4, pg. 205).
“Os
militares viviam ansiando por um lar onde pudessem viver condignamente com a
família. Aí, João Goulart entrou, prometendo financiamento pleno para a
aquisição da casa própria a quem levasse um requerimento em sua presença. Ele
despachava: ‘Aprovo’, e a Caixa Econômica atendia. Conheci vários militares que
tiveram os seus requerimentos aprovados e adquiriram sua casa própria
financiada pela Caixa Econômica a perder de vista. Desta forma, o Governo
considerava que estava preparando um dispositivo militar que lhe daria total
cobertura para seus planos de implantação da república sindicalista-comunista
dos seus sonhos. Muitos subtenentes e sargentos do Exército foram ao Automóvel
Clube do Brasil naquela noite com o requerimento dentro de uma pasta para conseguir
o ‘aprovo’, que lhes daria o financiamento da casa própria até um determinado
valor, como acontecera com alguns conhecidos meus” (Coronel Italo Mandarino,
Tomo 3, pg. 189).
“O
esquema militar foi montado com base em favores e não em adesão espiritual, de
consciência. O General Assis Brasil, através da Presidência da República,
prometia às pessoas, de vários níveis, que se comprometessem com ele, uma série
de favores. Vários coronéis foram promovidos a generais, nessas condições. Ele
influía nas promoções, concedia benefícios financeiros pessoais através de
organizações, como, por exemplo, a ‘Casa dos Sargentos’, ‘Casa dos Cabos’,
‘Casa dos Tenentes’ etc. Ele criou um esquema, mas não era um esquema de
consciência. Quem tinha essa consciência éramos nós.
A
prova disso é que os comandos da Vila Militar quando quiseram deslocar tropas
para nos confrontar, não conseguiram. Era consenso entre eles que, como
deslocavam a tropa na época dos comícios a título de segurança, para dar apoio
e proteção à cidade, a deslocariam em
outras ocasiões. Enganaram-se redondamente. Aqueles deslocamentos envolviam
dois aspectos. Oficialmente, por exemplo, o Batalhão de Polícia do Exército
vinha para o comício da Central do Brasil proteger o povo contra a desordem
etc., mas, para eles, a tropa lá estava porque os apoiava. Imaginavam que era
uma adesão à causa deles. Houve, pois, da parte deles, muita mistificação, e um
erro crasso, confundiram as coisas, e acabaram literalmente derrotados”
(General-de-Exército Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 230-231).
Esse “esquema militar”,
alardeado pelo Chefe da Casa Militar de Jango, general Assis Brasil, de colocar
praças das Forças Armadas contra oficiais, trouxe funestas consequências. A
desconfiança era total. O oficial-de-dia da Unidade não dormia, ficava a noite
toda fazendo ronda, com a arma engatilhada, com medo de ser assassinado
enquanto dormia no seu quarto (Lembrai-vos de 1935!). Os “laranjeiras” também
não tinham sossego. Era um clima de terror, não se sabia em quem confiar.
“ ‘Lisbôa, tome cuidado.
Ainda existem aqui no quartel algumas alamedas sem nome’. Novo na Unidade,
procurei informar-me e fiquei ciente de que as alamedas tinham o nome de
militares mortos em serviço... A partir daí, recordando-me dos ensinamentos de
1935, tirava serviço a cada três dias, mas não me recolhia durante a noite para
o quarto destinado ao oficial-de-dia, localizado no corpo da guarda. Agindo com
mais cautela, passei a andar pelo quartel atento a tudo e, quando exausto,
entrava na boléia de qualquer viatura para dar uma breve ‘cochilada’.
O ambiente era tenso. Os
tenentes passaram a concorrer a outra escala de serviço, a de Comandante de
Pelotão de Choque, devendo estar preparados para serem empregados,
particularmente nas estações da Estrada de Ferro. Algumas vezes desloquei-me
para Deodoro, ocupei a estação com os meus soldados e, pelo menos em duas
ocasiões, deparei-me com a difícil situação de ter que me confrontar com
badernistas que tentavam quebrar os trens. Na missão, quase sempre indefinida
que recebia de meus superiores, apesar de inquirir a respeito, nunca me foi
dada explicitamente a ordem de ‘quando atirar’. A idéia que tinha era de que
estava ali como uma espécie de ‘bucha de canhão’, com a finalidade de permitir
criar uma situação difícil e incômoda, envolvendo o pessoal militar que, na
realidade, atendesse a outros objetivos não claramente explícitos.
(...)
Certa vez fui à 3ª. Bateria
(os mais perigosos estavam reunidos nas 1ª. E 3ª. Baterias) procurar o Tenente
Amorim. Ele era o Diretor do Curso de Formação de Cabos (CFC) e,
intencionalmente, não coordenava a instrução com os tenentes das Baterias.
Certamente, agia assim na tentativa de desestabilizar a Unidade e estava
conseguindo o seu objetivo, pois a instrução de cabo era um verdadeiro caos...
Encontrei-o na reserva dos sargentos recebendo, de um deles, detalhada
orientação sobre ‘ordens’ que deveriam ser seguidas. Perplexo, observei que o
referido tenente estava sendo enquadrado pelo sargento, em flagrante inversão
de todos os valores hierárquicos que conhecia. Compreendi, naquele momento, que
alguma coisa de grave estava para acontecer...” (Coronel José Carlos Lisbôa da
Cunha, Tomo 3, pg. 340).
“Vivíamos, em nossos
apartamentos [da EsAO], em clima de tensão, porque corria muita história, muito
boato e o que ocupávamos dava a frente para a Brigada Pára-quedista. Dizia-se
que os sargentos para-quedistas iriam tomar aqueles apartamentos e nos prender
ou qualquer coisa assim. Dávamos guarda à noite, armados, era uma escala de
serviço que durou os 15 dias que antecederam a Revolução. No dia do Movimento
estávamos escalados de serviço” (General-de-Exército Domingos Miguel Antonio
Gazzineo, Tomo 4, pg. 35).
“Os militares partidários do
Governo criaram um canal paralelo – pouca gente sabe disso – de informações.
Foi inventado através do, então Quadro Auxiliar de Oficiais. Esses oficiais
tinham acesso ao Gabinete do Ministro. Tinham força para derrubar comandantes.
Lembro-me de um sargento que por razões óbvias eu o puni várias vezes, que foi
promovido ao Quadro de Oficiais Auxiliares – e, quando promovido, pegou a farda
de sargento, arrancou as divisas e, nela, colocou as estrelas de tenente. Ao
encontrar-me, falou, com um ar de superioridade: ‘Tenente, agora estou no
Gabinete do Ministro. Qualquer coisa, me procure.’ Falou isso comigo: ‘Qualquer
coisa me procure.’
Havia, naquela época, o
famoso Batalhão Suez, Para nele ingressar, tinha que ser ligado a um desses
caras e foi inclusive o caso o Lamarca. Ele integrou o Batalhão Suez, pela
ligação que tinha com oficiais que influíam na composição daquele Batalhão. E
quando ele voltou, aconteceu um fato, também, que pouca gente fala. Cobraram
dele: ‘Você foi para Suez, graças a nossa interferência. Agora, você vai fazer
alguma coisa para nós.’ E deram a missão de roubar as armas do 4º. RI.
Havia, portanto, esse canal
de inteligência. O Comandante que punisse um sargento, que fosse mais rigoroso
com os sargentos, podia perder o Comando. Ele era destituído” (Tenente-Coronel
Pedro Cândido Ferreira Filho, Tomo 3, pg. 354).
“Desconfiávamos
da unidade que partilhava o antigo aquartelamento ‘40” [1º. Grupo de Canhões
Automáticos Antiaéreos 40mm]. Havia o que chamávamos de ‘paralelo 38’, evocando
o que se passara na divisão da Coréia, pois o quartel era dividido com o 24º.
BIB (Batalhão de Infantaria Blindado, que atualmente se encontra aquartelado em
Bonsucesso). Dizia-se que o pessoal do 24º. Estava sendo influenciado pelos
líderes favoráveis a João Goulart. Então, nós não atravessávamos o ‘paralelo
38’, chegando-se ao absurdo de deixar armas automáticas, e até cachões,
apontados, dentro dos parques, contra o vizinho do lado. Esse era o clima. Além
disso, desconfiava-se de alguns chefes militares, nitidamente contrários ao
pensamento dominante no Exército, e que não escondiam o fato de esposarem
idéias marxistas-leninistas desde 1935.
Havia,
pois, uma divisão no interior dos quartéis em facções pró e contra, sendo que, evidentemente,
a maioria era contrária àquele estado de coisas que o Governo alimentava.
Grande maioria” (Coronel Luiz Paulo Macedo Carvalho, Tomo 1,
pg. 286).
“Na verdade, não havia
esquema militar. O General Assis Brasil, Chefe da Casa Militar, pensava que
possuía um esquema militar que, simplesmente, nada tinha de concreto. Ele e
seus assessores se empenharam para criar o tal esquema em determinadas
guarnições e em algumas Grandes Unidades, como na Brigada Pára-Quedista, onde
muitos sargentos receberam, naquela oportunidade, um financiamento para comprar
casa pela Caixa Econômica. Isso influiu no desempenho da Brigada, que ficou
dividida e acabou não saindo, deixando de manifestar-se, não optou por lado
nenhum, porque as coisas, lá, não estavam bem. Enquanto o General Muniz Aragão
não chegou, a Brigada mostrou-se indecisa.
O grupamento de tropas que
se voltou contra Minas, partindo do Rio, foi comandado pelo General Cunha Melo.
Ele, por exemplo, achava que a guerra estava ganha. Perdeu, porque não sabia que
o Comandante do Regimento Sampaio – Coronel Raimundo – na verdade, um
revolucionário, contribuiria, decisivamente, para a sua derrota.
Nesse ponto surgiu um dos
líderes da Revolução, que esqueci de citar anteriormente, cometi um lapso – o
Marechal Odylio Denys. Ele foi para Juis de Fora, antes da eclosão da
Revolução, conseguiu ligar-se com o Coronel Raimundo, seu ex-Assistente,
solicitando que ajudasse as tropas mineiras a tirar o Brasil das mãos
despreparadas de Jango e do fanfarrão Brizola, que faziam o jogo dos comunistas
infiltrados no Governo, nos sindicatos e nas Forças Armadas.
Com a adesão do Coronel
Raimundo, as coisas ficaram feias para o lado dos janguistas” (Coronel Henrique
Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 261).
“É
coisa natural, infelizmente existe uma banda podre e outra boa. Todos os
elementos que integravam a banda boa não aceitavam os desmandos e as
manifestações de indisciplina, correntes no Governo Goulart, que, por sua vez,
valeu-se da banda que convivia bem com a anarquia generalizada.
O
Comandante do Primeiro Batalhão de Caçadores (1º. BC) de Petrópolis, por
exemplo, deslocou sua tropa e, no corte do rio Paraibuna, cerca das 18h de 31
de março, estabeleceu contato com o Destacamento Tiradentes que descia de
Minas. As duas tropas se enfrentaram; as tentativas de entendimento não
lograram sucesso; um tenente do BC passou para o nosso lado, convencido da
pureza dos ideais que defendíamos. Criada a situação de fato, foi notificado,
ao Comandante do BC, de Petrópolis, que o Destacamento atacaria logo que as
circunstâncias o permitissem. Nesse instante, desfez-se a resistência e o
Comandante do Batalhão desapareceu, proporcionando um triste exemplo. No avanço
para o Rio de Janeiro, recolhemos, na estrada, soldados do Batalhão de
Petrópolis abandonados por seu comando.
Qual
o nome do Comandante do Batalhão de Petrópolis [entrevistador]?
Coronel
Kerensky (Coronel Kerensky Túlio Motta” (General-de-Brigada José
Antônio Barbosa de Moraes, Tomo 2, pg. 205).
“Quando
no Escav [Escalão Avançado do Conselho de Segurança Nacional], em Brasília, ouvi – não é anedota – que
Jango no Aeroporto de São Borja, ao embarcar de avião que o levaria para o
Uruguai, voltou-se para o General Assis Brasil, seu Chefe de Gabinete Militar e
disse-lhe, no melhor sotaque de gaúcho fronteiriço:
-
General, muito obrigado por tudo. Agora, queria lhe dizer uma coisa: aquele seu
dispositivo militar... Mas que dispositivo de m... E soltou o palavrão
adequado.
Não
havia dispositivo algum, a não ser que se dê esse nome a uns poucos oficiais e
generais que estavam do lado de Jango, uns por ideologia, outros por puro
aventureirismo. Excetue-se a figura por todos os títulos respeitável do General
Ladário Pereira Telles, Comandante da 1a. Região Militar e que aceitou assumir
o comando do III Exército em Porto Alegre. Pelos motivos que já expus.
Aventureirismo
semelhante ocorreu na Marinha, onde de destacaou o inefável Almirante de
Fuzileiros Cândido Aragão. Assinale-se ter sido na Marinha que ocorreu o maior
número de cassações” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg.
242-243).
O Rio Grande do Sul, por ser
a terra de Jango e Brizola, mereceu um cuidado especial dos revolucionários de
1964, pois havia sério risco de ocorrer uma guerra civil, com Unidades do
Exército comandadas por chefes pró e anti-Jango.
“O
General Poppe foi convencido a assumir o Comando do III Exército, por ser o
mais antigo. Assim sendo, o problema se resolveu da periferia [Santa
Maria] para o centro [Porto Alegre].
Paralelamente
a tudo isso, o Governador Leonel Brizola, ensandecido, histérico, aos gritos
desesperados, mandava insistentes mensagens para os sargentos de Uruguaiana,
principalmente do 4º. Grupo de Artilharia, durante a jornada de 1º. de abril.
Exortava-os a pendurar, nos postes da Praça Central, em frente ao QG, e nas
ruas principais, o Comandante e os oficiais. Dizia que, enquanto não
conseguissem fazer isso, que pegassem suas mulheres e filhos. Mandava pendurar
no poste com as solas dos pés cortadas – como faziam os farroupilhas, que
penduravam o inimigo em um poste, ou numa árvore qualquer, com as solas dos pés
cortadas. Em minutos, a pessoa morria, porque a sola do pé é extremamente
irrigada por capilares. Tanto que os orientais usam muito os pés na acupuntura.
Permitam-me estar reproduzindo, mas são expressões textuais do Brizola.
A
mensagem era repetida o dia inteiro, por horas, A certa altura, dizia: ‘Aos
heroicos e bravos sargentos do 4º. Grupo. Reproduzam o feito dos irmãos de
Bagé. (...)
O
problema mais sério ocorreu no 5º. RC de Quaraí, onde 49 sargentos, dos 53
existentes, se recusaram a cumprir ordens de se deslocarem, na manhã de 2 de
abril, junto com o Regimento, para a região de Harmonia. Apenas quatro
sargentos haviam permanecido fiéis ao Movimento. Um sargento disse: ‘Eu não sei
o que está ocorrendo. Nós estamos com o Presidente’, e 48 o acompanharam. O
Comandante os substituiu por cabos que foram comissionados para as funções
desses sargentos e o Regimento deslocou-se para cumprir sua missão. Os 49
sargentos foram recolhidos ao meu Grupo, onde ficaram presos, tendo o quartel
por ménage. Houve, além desses, o recolhimento de um capitão, do Grupo de
Artilharia de Alegrete, que estimulara a reação dos sargentos, sobre quem,
aliás, já pairava uma dúvida, agora confirmada. Excelente oficial, por sinal.
No
dia 2 de abril, os sargentos e o oficial ocupavam todas as instalações da
Unidade. Assim, os líderes comunistas civis foram trancafiados em
compartimentos adaptados para prisão. Entre eles, um arquimilionário que jogava
todas as noites na Associação Comercial e era tido como líder comunista, no Rio
Grande do Sul. Na verdade, era um grande burguês. Foi o primeiro a ser preso”
(Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 272).
“No trajeto para o Rio,
fomos panfletados por um avião, incitando que deixássemos de cumprir o nosso
intento e retornássemos. Depois, fiquei sabendo que íamos ser bombardeados por
aeronave da Força Aérea, que viria do Rio de Janeiro. Por alguma razão que eu
desconheço, acabou não acontecendo.
O deslocamento prosseguiu
pela noite. Ao alvorecer do dia 2, adentrávamos a área urbana do Rio de
Janeiro. Uma parcela do 10º. RI se dirigiu para ocupar a Refinaria Duque de
Caxias e a Fábrica Nacional de Motores, e a parcela da qual eu participava
encaminhou-se para o estádio do Maracanã, onde ficamos acantonados.
Fomos alertados de que a
nossa tropa iria permanecer no Rio de Janeiro, por desejo do Escalão Superior,
pelo fato de ser uma tropa altamente leal, enquanto a situação no Rio se
definia, naquele momento de mudanças nos comandos” (Coronel Reynaldo de Biasi
Silva Rocha, Tomo 3, pg. 311).
“Ainda nesse dia 2 de abril,
em seguida, fui destacado, juntamente com meu Pelotão – eu era da 4ª. Companhia
[do BGP] – para apresentar-me ao Comandante do 3º. Esquadrão C Mec, que estava
na sede do Comando Militar de Brasília, na Esplanada. Os carros de combate
estavam todos lá. Cheguei e apresentei-me ao Comandante do Esquadrão. Era o
Capitão Casales (Luciano Phaelante Casales). Apresentei-me e fiquei aguardando
ordens. Por volta de uma hora da manhã, fui chamado pelo Chefe do Estado-Maior,
dizendo que eu deveria cumprir a seguinte missão: deslocar-me, com meu pelotão,
pela BR 040, até a altura onde se encontravam as antenas da Rádio Nacional. Lá,
teria que lacrar os transmissores. A Polícia Militar estava tomando conta da
instalação da Rádio Nacional. Com meu pelotão deveria cercar a área e prender
todos os elementos da Polícia Militar e lacrar os transmissores. Recebi a ordem
e levei comigo um Major de Comunicações. Esse oficial iria lacrar os
transmissores, mas estava com receio de ser preso pelas tropas de Minas Gerais.
Permanecia o tempo todo com a pistola na mão, e eu alertava:
- Major, guarda essa
pistola, o senhor está nervoso, daqui a pouco o senhor dá um tiro e se acidente
com essa arma. Aí, o Major acalmou-se.
Chegamos no local, ele ficou
na estrada e eu avancei com o pelotão; posicionei o sargento mais antigo para
cobrir o meu flanco. Os PMs que estavam lá dentro não notaram a nossa chegada.
Já eram duas e pouco da manhã, a maioria estava dormindo. Abri a porta, entrei
e rendi todos que estavam lá. Uns dois ou três tentaram fugir, mas fechamos a
porta e não conseguiram sair. Desarmamos todos eles e, a partir desse momento,
avisei o Major:
- Pode chegar que há
segurança para o senhor lacrar os transmissores.
Então, lacrou todos os
transmissores, botou a data, assinou. A partir daí, a rede da legalidade foi
neutralizada, porque o que estava ocorrendo em Brasília, era a rede da
legalidade, por intermédio da qual agitadores insuflavam os candangos a quebrar
lojas comerciais, a entrar nas residências etc. Silenciamos a rádio da
legalidade” (Coronel Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 290-291).
MISTER
X E MISTER Y
Nos anos que antecederam o
Movimento de 1964, os militares tinham vencimentos aviltantes. Assim, muitos
aumentavam seus orçamentos domésticos fora do expediente, trabalhando como
professor, escrevendo para jornais, ou fazendo serviços diversos, como
motorista de táxi. O próprio general Castello Branco escrevia artigos com o
pseudônimo de “Mister X” e “Mister Y”.
Devido a essa penúria financeira,
quando eram transferidos para regiões distantes de suas famílias, muitos
militares viajavam sozinhos, deixando a mulher e filhos com algum familiar,
como pai ou sogro, só voltando de tempos em tempos.
“Naquela ocasião, a bem da
verdade, todos os integrantes do Exército viviam uma quadra bastante
estressante; muitos companheiros tinham dificuldade para sustentar a própria
família, por isso se dedicavam, além dos estudos da Escola [ECEME], ao
exercício do magistério em vários estabelecimentos de ensino. Outros
trabalhavam como redatores em jornal. Fui convidado para empregar-me como
redator auxiliar no Jornal do Brasil; não aceitei porque, com família muito
grande – tinha cinco filhos – o pouco tempo de que dispunha seria mais bem
aproveitado para cuidar da prole” (Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo
6, pg. 78).
JANGO
FAZIA CAÇADAS EM MATO GROSSO
“De vez em quando, o
Presidente Jango fazia caçadas lá em Mato Grosso.
O próprio Comandante da 9ª.
Região Militar determinava aos comandantes de Regimento que dessem apoio ao
Presidente, cuja chegada se dava no aeroporto de Ponta Porã: enviar uma
viatura, proporcionar segurança. Essa programação era comum, quase todo final
de semana, enquanto Goulart caçava. Este fato não o vi escrito em canto nenhum,
participei dele, porque fiquei como Subcomandante e, depois, como Comandante.
Tínhamos que arrumar aqueles
meios, mas pensava: ‘Para o Presidente caçar precisávamos dar esse apoio:
viatura, segurança?’ Considerava um absurdo”
O Jango tinha amigos entre
os fazendeiros da região, na faixa de fronteira, em Mato Grosso, que poderiam
dar apoio a ele. De fato, os amigos iam recebe-lo, mas João Goulart fazia
questão da presença do Exército, para mostrar que a tropa estava com ele.
Percebi isso: queria demonstrar que contava com o Exército para dar-lhe apoio
em qualquer situação, até num simples passeio a Mato Grosso, para caçar. Aquele
Presidente, que a gente esperava que melhorasse a situação do povo, estava
mostrando-se, apenas, um playboy; assim a gente via o Presidente, o Jango”
(Coronel Dynaldo Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 40-41).
RUSGAS
ENTRE OS GENERAIS CASTELLO E MOURÃO?
“Quando
acabou a reunião [de Jango com cabos e soldados, no Automóvel Clube do Brasil],
acordei a minha mulher e meus filhos, peguei o carro e voltei rapidamente para
Juiz de Fora, porque, depois daquilo, ninguém mais podia esperar outra coisa, a
não ser a nossa revolta contra a tal sucessão de ignomínias.
Cheguei
à casa por volta das seis ou sete horas da manhã, uniformizei-me, fui para o
quartel, e já tínhamos começado a Revolução. O General Mourão explicou-me o que
estava havendo, e me mandou para a 3ª. Seção do Estado-Maior, onde fiquei
poucas horas, porque, logo depois, o próprio General Mourão disse-me: ‘Cid,
você vai para o Destacamento Tiradentes, com destino ao Rio de Janeiro, vai
integrar o Estado-Maior do Destacamento.
Lá
pelas quatro horas da tarde, mais ou menos, há nos encontrávamos com todo o
dispositivo pronto, o Esquadrão na estrada, deslocando-se em direção ao Rio de
Janeiro, fazendo a vanguarda, quando dirigi-me ao gabinete do General Mourão, a
chamado dele. Nesse momento, o telefone tocou e o Major Antônio Cúrcio Neto,
que era o assistente do General, atendeu e disse: ‘É o General Castello.’ O
General Mourão atendeu, e pelo que pude deduzir, do que ouvi, informava ao
General Castello que não podia mais retornar, que já estava com a tropa toda na
rua, e não havia mais nenhuma possibilidade de voltar atrás”
(General-de-Brigada Cid de Gofredo Fonseca, Tomo 3, pg. 83).
“O
encontro que presenciei foi com um batalhão do Regimento Sampaio, comandado, na
época, pelo Coronel Raimundo.
Ele
vinha formando um grupo tático, com um Grupo 105 do Regimento Floriano, da Vila
Militar.
Nesta
oportunidade – vivi esse problema – conseguimos colocar o Marechal Denys, que
já se encontrava em Juiz de Fora, no QG, sabendo da presença do Regimento
Sampaio, diante de nós, em comunicação com o Coronel Raimundo, Comandante da
Unidade, pelo Seletivo da Central do Brasil. O Marechal Denys manteve um contato
importantíssimo com o Coronel Raimundo: ‘Raimundinho, venha para o nosso lado!’
E o Coronel passou para cá, integrando-se ao grupamento. O Coronel Raimundo
havia sido Assistente-Secretário do Marechal, pelo qual tinha um especial
apreço e admiração.
O
Grupo do Regimento Floriano quis voltar, não quis incorporar-se à tropa, mas,
nesse momento, o General Muricy agiu com muita rapidez, colocou um caminhão
interceptadno a estrada, e o Grupo permaneceu conosco”
(General-de-Brigada Cid de Gofredo Fonseca, Tomo 3, pg. 84-85).
Por pressão de políticos de
Minas Gerais, o Congresso Nacional promoveu Mourão ao posto de
General-de-Exército.
“Embora
existam pessoas com pensamento diferente, para mim, o General Mourão foi um
grande líder da Revolução de 31 de Março de 1964.
É
verdade, inclusive designaram alguém para o exterior – o Magalhães Pinto
intercedeu nesse sentido – para abrir a tal vaga que não existia
[entrevistador].
Sim,
mas quem o promoveu a General-de-Exército foi o Congresso e não o Governo.
Entre o Castello Branco e o Mourão, não sei o motivo real, havia certa
inimizade ou algum tipo de desacerto.
Talvez
tenha ficado uma mágoa pelo fato do Mourão ter concluído o curso da Escola
Militar em quarto lugar, na frente de Castello, que foi o décimo, e ter sido
ultrapassado por ele, nas promoções. Sei disso porque o Mourão me mostrou o
boletim de classificação, ao serem declarados aspirantes. Registre-se, contudo,
que em nenhum momento o Castello, uma pessoa excepcional, fez algo contra seu
companheiro de turma” (General-de-Brigada José Antônio Barbosa de
Moraes, Tomo 2, pg. 209).
[A título de informação,
registre-se que o General Costa e Silva, da mesma turma de Castello e Mourão,
ficou em 1º. lugar na Escola Militar. Registre-se, ainda, que uma possível rusga
entre Castello e Mourão deve ter existido ao longo do tempo, devido ao fato de
Mourão ter saído de Minas, com as tropas, em direção ao Rio de Janeiro, no dia
31 de Março de 1964, contrariando ordem de Castello.]
“Registre-se que houve os
revolucionários de primeira e os de última hora.
Meu pai [General Carlos Luis
Guedes] nunca foi perdoado pelo General Costa e Silva porque, perguntado sobre
ele, por um jornalista, perguntou: ‘Olha, só tive conhecimento de que o General
Costa e Silva era revolucionário, no dia 2 de abril, antes não sabia.’ Diante
de nova pergunta: ‘E o General Castello?’ ele disse: ‘O General Castello tomou
algumas providências mas, na hora em que a Revolução eclodiu, telefonou-me para
que eu voltasse com as minhas tropas, e deu expediente no QG, no Rio, em 31 de
março, como se nada houvesse acontecido, para que, se alguma coisa desse
errado, poderia dizer que nada tinha a ver com o movimento iniciado’ “ (Coronel
Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 259).
A PRISÃO DE GREGÓRIO BEZERRA
“Ainda
perguntei ao Coronel Bandeira:
-
Tenho que ir fardado? Vou levar alguma tropa comigo?
–
Você vai numa viatura com dois auxiliares, dois agentes nossos: o motorista e
outro para dar cobertura. (...) Os panfletos, os informes, dão notícias de que
haverá um ataque em massa, na madrugada do dia 1º. de abril [de 1964], a todas
as usinas [em Ribeirão, Palmares, Cortês...]. Pretendem queimar os canaviais,
ocupa-las e paralisá-las.
Na
hora de sair, o Bandeira ainda me pegou pelo braço e disse:
-
Olha, Dynaldo, consta que o Gregório Bezerra é quem está ‘levantando’ essa
massa toda contra os usineiros, foi visto na região e fez um comício nesses
dias; é provável que tenha permanecido na área. Se você conseguir encontra-lo,
pode efetuar a prisão, em nome do Comandante do IV Exército. Traga-o para cá.
Saí
com essa missão: fazer contato com a tropa do 20º. BC e, se possível, prender o
Gregório.
Fui
fardado, botei um macacão que usava no tempo do Parque de Motomecanização e
além da minha pistola levei uma metralhadora Thompson, que a própria 2ª. Seção
me cedeu.
Saí
com o José Lopes de Siqueira [dono da Usina Estrelinha] e os dois agentes numa
Rural, viatura civil, placa fria, naturalmente, rumo Sul do Estado; à noite, de
um lado e de outro da estrada, encontrávamos camponeses caminhando em direção
às usinas, alguns com enxadas, facões, espingardas, rifles...
O
José Lopes de Siqueira comentou:
-
Está vendo, Major? A coisa vai acontecer mesmo e é esse pessoal que iremos
enfrentar. Vamos ver se localizamos a tropa do Exército.
Ainda
perguntei ao Coronel Bandeira:
-
Tenho que ir fardado? Vou levar alguma tropa comigo?
–
Você vai numa viatura com dois auxiliares, dois atentes nossos: o motorista e
outro para dar cobertura ... (...) Os panfletos, os informes, dão notícias de
que haverá um ataque em massa, na madrugada do dia 1º. de abril [de 1964], a
todas as usinas [em Ribeirão, Palmares, Cortês...]. Pretendem queimar os
canaviais, ocupa-las e paralisá-las.
Na
hora de sair, o Bandeira ainda me pegou pelo braço e disse:
-
Olha, Dynaldo, consta que o Gregório Bezerra é quem está ‘levantando’ essa
massa toda contra os usineiros, foi visto na região e fez um comício nesses
dias; é provável que tenha permanecido na área. Se você conseguir encontra-lo,
pode efetuar a prisão, em nome do Comandante do IV Exército. Traga-o para cá.
Saí
com essa missão: fazer contato com a tropa do 20º. BC e, se possível, prender o
Gregório.
Fui
fardado, botei um macacão que usava no tempo do Parque de Motomecanização e
além da minha pistola levei uma metralhadora Thompson, que a própria 2ª. Seção
me cedeu.
Saí
com o José Lopes de Siqueira e os dois agentes numa Rural, viatura civil, placa
fria, encontrávamos camponeses caminhando em direção às usinas, alguns com
enxadas, facões, espingardas, rifles...
- Está
vendo, Major? A coisa vai acontecer mesmo e é esse o pessoal que iremos
enfrentar. Vamos ver se localizamos a tropa do Exército.
(...)
Depois
que atravessamos Ribeirão, na direção de Palmares, encontramos o comboio do
20º. BC.
(...)
Em
Ribeirão, parei; encontramos um destacamento da Polícia Militar (PM). (...)
Acontece que estávamos com o espírito prevenido, ‘um pé na frente outro atrás’:
a Polícia era de Miguel Arraes, o próprio Comandante da Polícia, apesar de ser
um major do Exército comissionado no posto de Coronel da PM, era um homem da
confiança de Arraes. A polícia, na verdade, estava dividida.
O
sargento apresentou-se:
- O
senhor deseja alguma coisa? Pode contar com a minha colaboração.
-
Como está o movimento de camponeses?
-Houve
aqui, ontem mesmo, um comício à tarde e há gente dormindo no sobrado da sede do
Sindicato das Ligas Camponesas de Ribeirão; uma turma ficou dormindo porque
vão, de manhã cedo, fazer os ataques às usinas – disse o sargento.
- Há
algum líder deles?
-
Não senhor. O Gregório esteve aqui; mas vi que ele saiu da cidade- - E Julião?
-
Também não, mas permaneceram alguns líderes dos sindicatos que podem prestar
informações. Devem estar todos dormindo.
-
Como é que faço para entrar lá?
- Eu
abro. Bato na porta e eles vão abrir.
Batemos
na porta, estava fechada, ninguém queria abrir; então o sargento da Polícia
Militar meteu o pé na porta, empurrou e entramos.
Era
um salão grande e encontramos muitas pessoas, todas deitadas no chão, homem,
mulher, criança, umas ferramentas ao lado; quando ele apertou o interruptor da
luz foi aquele pânico, todo mundo queria pegar as ‘armas’.
O
sargento estava conosco e disse:
-
Quietinhos aí! Deixem as ferramentas.
Chamamos
os soldados para recolher logo as ferramentas e coloca-las numa sala ao lado;
fizemos uma triagem ali, separando mulheres, homens e crianças; as mulheres e
as crianças foram para um outro cômodo e deixamos lá um sargento e um oficial
conversando com elas. Podiam ter alguma informação.
Eram
cerca de trinta e tantas, quase quarenta, pessoas; no final foram presas 35
pessoas e até as mulheres estavam comprometidas.
Passamos
a fazer interrogatório com os homens.
Ninguém
dizia onde se encontrava o Gregório Bezerra – a informação que se queria – ou
se, além das ferramentas, tinham algum lugar com armamento escondido, além de
munições.
Constava,
naquela época, que o Arraes tinha prometido ao Gregório Bezerra armamento para
‘levantar’ o campo; a invasão seria para valer mesmo, porque utilizariam
armamento e munição suficientes para invadir as usinas todas.
Em
certo momento, o sargento me trouxe um cidadão, um rapaz barbudo, via-se que
era um camponês rude, falando mal e quase não entendíamos nada. O sargento
informou:
-
Major, encontrei a pista que o senhor queira. ‘Isso’ aqui é o lugar-tenente, o
braço direito do Gregório. É cubano, veio para cá depois de fazer um curso de
guerrilha em Havana, trazido por Gregório Bezerra, e é homem de confiança dele.
Sabe tudo e vai contar ao senhor.
Comecei
a interroga-lo num ‘portunhol’ para ver se ele entendia a mistura de português
com espanhol. Resolvi deixa-lo com o sargento, enquanto interrogava os outros
para ver se alguém mais poderia dar essa informação.
Pouco
depois o sargento veio:
-
Ele já disse, o senhor tem a pista do Gregório: está na cidade de Cortês; não
quis ficar aqui no salão, porque preferiu dormir na casa da amante, perto da
Fazenda Pedrosa.
(...)
Retomando
a narrativa, partiram então as patrulhas e os policiais que se diziam do
Serviço Secreto da PM.
No
momento da prisão do Gregório, duas patrulhas – uma do Exército e a da PM –
chegaram simultaneamente à fazenda, por estradas ou caminhos diferentes.
A
essa altura, amanhecia e o José Lopes convidou-me para fazer o desjejum na
usina, na casa dele; também convidou o capitão do 20º. BC.
Tomamos
o café e rapidamente voltamos para Ribeirão, porque a usina Estrelinha fica ali
pertinho; quando estávamos chegando, o nosso pessoal, do Exército, trazia o
Gregório preso. O sargento queixava-se de que tinha tido um atrito com um
capitão da Polícia que se arvorava ao direito de levá-lo, porque, na condição
de policial, podia efetuar prisão e estava ali para prender o Gregório”
(Coronel Dynaldo Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 44-49).
A
IMAGEM DO EXÉRCITO APÓS A REVOLUÇÃO
“A
imagem do Exército nos primeiros anos da Revolução foi exaltada.
Posteriormente, desgastou-se um pouco, como é natural.
Quando
Castello Branco assumiu o Governo, a ideia geral era de que o Brasil estava
falido. Na Praça da Independência (no Recife) existia uma farmácia chamada
Simões Barbosa; dentro dessa farmácia instalou-se uma comissão para receber
donativos da população para salvar o Brasil da bancarrota.
Formaram-se
filas para as doações, a fim de salvar o Brasil. Eram doados relógios, anéis,
jóias e outros objetos. Isso vi, porque naqueles primeiros dias sempre fazíamos
ronda pela Pracinha para ver se existia alguma aglomeração ou presença de
agitadores. Testemunhei a fila de populares fazendo entrega, à comissão de
recepção que estava instalada dentro da Farmácia Simões Barbosa, de donativos
para salvar o Brasil.
O
senhor crê que exista uma mobilização política contra os militares, nos dias de
hoje?
Existe,
de um modo geral, esse inconsciente, certo preconceito contra os militares;
como existe um inconsciente anticomunismo, existe no Brasill, atualmente, um
inconsciente antimilitarismo.
A
criação do Ministério da Defesa afastou, de saída, quatro militares do primeiro
escalão do Governo: Ministros da Marinha, do Exército, da Aeronáutica e o
Ministro-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Os
militares das Forças Armadas estão proibidos, por leis estaduais, de comandar
as polícias militares dos Estados (Coronel Petrônio Araújo Gonçalves Ferreira,
Tomo 6, pg. 189).
A FARRA MILIONÁRIA DAS INDENIZAÇÕES PARA
TERRORISTAS E SUBVERSIVOS
“Havia
gente que foi expulsa do Exército por ter cometido crime previsto em lei, crime
grafe e veio a ser readmitida no Exército por força de sentença e ganhando uma
pensão do posto acima. Tínhamos que fazer cálculos de páginas e páginas de
exercícios anteriores para pagar a esse pessoal. Havia muita gente nessas
condições. Muitos companheiros ficavam aborrecidos e comentavam: ‘Eu sempre fiz
as coisas corretamente e ganho tanto; acaba um sujeito desses, que foi expulso
do Exército como 3º. Sargento, já está ganhando como oficial!
Há
um caso notório, um sargento da Aeronáutica (parece ser Presidente da
Associação dos Militares) que recebe como coronel, tenente-coronel, uma coisa
assim.
Nós
estamos pagando pensão, aqui na SIP/7, a descendentes de Gregório Bezerra”
(Coronel Júlio Roberto Cerdá Mendes, Tomo 6, pg. 164).
MORTE DE CASTELLO BRANCO: ACIDENTE OU
ATENTADO?
“Em
novembro de 1964, quero frisar bem, oito meses depois da Revolução já
implantada e articulada, os comunistas encolhidos, surge um movimento subversivo
chamado PORT – Partido Operário Revolucionário Trotskista.
O
General Lyra Tavares esclareceu:
-
Temos aqui uma semente já lançada, podemos colher frutos e você vai apurar.
O
problema era o seguinte. A Polícia havia descoberto um ‘aparelho’ desse Partido
Trotskista, em Recife. Estavam envolvidos jovens, universitários, tanto moças
como rapazes e alguns jornalistas, também. Nesse meio, apareceu um ex-sargento
da Aeronáutica chamado Jair Borin, o único militar nesse grupo. Mas a própria
Polícia que estava fazendo o inquérito suspeitava de que estivessem envolvidos
outros militares, do Exército e da Marinha. Coube-me a responsabilidade de
apurar se algum militar do Exército estava envolvido nisso.
(...)
Ninguém
melhor do que o comandante da Base para nos dar informação; o ex-sargento
esteve fazendo propaganda subversiva lá dentro, em pleno Governo de João
Goulart e, antes da Revolução, havia sido expulso, tanto que estava fazendo um
curso de Jornalismo.
(...)
Fui
com o Bismarck [Capitão Bismarck Amâncio Ramalho, escrivão do Inquérito] às
casas dos sargentos, na Vila Militar, demos uma batida e encontramos vários
documentos que comprometiam a maior parte deles; eram sargentos antigos, alguns
até poliglotas.
Encontrei
um papelzinho, onde havia um desenho grosseiro de dois aviões se chocando e, em
um deles, escrito assim: Presidente.
O
detalhe que quero ressaltar: isso aconteceu em novembro de 1964, no desenho o
avião do Presidente se chocando com o outro que era da FAB.
Era
um n muito grosseiro: dois aviões em voo se chocando, mas um tinha uma
inscrição ao lado: avião do Presidente! O outro era da FAB.
Voltei
para ouvir o Jair Borin, que continuava preso na Companhia de Guardas. O
general mandou deixá-lo lá. Ele estava preso à disposição da Polícia. E o Borin
disse:
- De
fato, essa turma há muito tempo está fazendo vários planos de simular um choque
aéreo de aviões, inclusive com autoridades que sobrevoam o aeroporto...
E, a
certa altura, declarou:
-
Esse Presidente aí é o Castello Branco! É o voo do Presidente, chegando aqui e
se chocando com outro avião!
Fui
logo ao General Lyra Tavares:
-
Aqui aparece uma coisa muito importante. De todas as diligências que estamos
fazendo, há quase trinta dias, surge esta revelação: o desenho pode ser uma
brincadeira, mas pode ser uma coisa séria também!
Logo
em seguida, o Marechal Castello Branco veio em visita ao Recife, quando estava
circulando aquele noticiário de torturas as presos políticos, espancamentos...
O
Marechal Castello Branco veio acompanhado do General Ernesto Geisel para, in loco, certificar-se da existência
desse fato. Todos os encarregados de inquéritos foram reunidos pelo Comandante
do IV Exército na Escola Aprendizes de Marinheiros, no salão nobre; eu estava
lá, fui logo convocado.
Havia
coronéis, tenente-coronéis para se apresentarem ao Presidente, mas o General
Lyra Tavares disse:
-
Presidente, aqui estão todos os encarregados de inquérito. Vou chamar logo o
Major Dynalmo, porque o senhor vai ter uma surpresa desagradável, é uma notícia
um pouco ruim.
Era
justamente o nome dele como sendo vítima, possivelmente um vítima.
Eu
me apresentei, disse qual o inquérito que estava fazendo, que já estava no
final, mas não havia envolvimento de militar do Exército, felizmente para nós;
mas havia, infelizmente, sargentos da Aeronáutica, até homens de confiança do
Comandante da Base, trabalhando na sessão de controle de voo e aquele desenho
deixara-me apreensivo.
Mostrei
para o Presidente; ele virou-se para o Geisel e disse:
-
Isso deve ser uma brincadeirqa!
A
seguir, voltando-se para mim:
-
Não é, Senhor Dynalmo?
-
Presidente, pode ser uma brincadeira, mas brincadeira de mau gosto, porque há
depoimentos de outros; um está preso, um ex-sargento expulso por subversão, que
confirmou existir um plano antigo provocando um acidente com um Presidente e no
momento... é o senhor!
(...)
Que
é que aconteceu depois?
Todos
sabem qual foi o motivo da morte do Marechal Castello Branco: um acidente
aéreo!
Foi
um impacto entre o avião da FAB e um avião civil, se não me engano um ‘teco-teco’
que vinha do Ceará. Na época do acidente (ano de 1967), realizou-se um inquérito para saber se o acidente não teria
sido – sem citar o que eu havia apurado – uma coisa preparada, programada,
planejada ainda por alguns criminosos brasileiros, traidores da Pátria, que
nunca se dão por vencidos.
Para
mim foi mera coincidência ou algo sem ligação anterior (porque houve
inquérito).
Acharam
que foi um avião a jato que passou muito rápido e abalroou o outro avião; mas
foi um fato que chamou a atenção e está aí nos arquivos do IV Exército, hoje
Comando Militar do Nordeste.
É um
assunto sigiloso, não se deu muita notícia nos jornais” (Coronel Dynalmo
Domingos de Souza, Tomo 6, pg. 53-58).
CARLOS
LACERDA – UM CAPÍTULO À PARTE
“Há um livro de memórias,
muito interessante, do Roberto Campos, ‘A Lanterna na Popa’ – um livraço, com
mil e trezentas páginas, por aí – que é uma pedrada nos imbecis! Ele conta a
viagem do Lacerda à Europa, logo depois da Revolução, onde o Governador da Guanabara
foi recebido com honras etc. e tal. E o francês, que é um cara chato, é chato
que é danado, numa entrevista, no aeroporto de Orly, o jornalista perguntou:
- Governador, estão dizendo
que foram os americanos que ajudaram esse Movimento.
O Lacerda tinha uma língua
terrível. Respondeu:
- Como? Acho que você está
enganado. O que foi feito com o apoio dos americanos foi a libertação da
França.
Deu um pontapé no orgulho
francês. O Lacerda era terrível! Era um gênio. E a entrevista continuou:
- Como é que o senhor pode
explicar uma Revoluçãoo em que não correu sangue?
- Isso é muito simples. É
porque as revoluções no Brasil são como os casamentos na França – respondeu o
Lacerda.
De Gaulle não quis mais
recebê-lo” (Coronel José Maria Covas Pereira, Tomo 3, pg. 164)
Operação
mata Lacerda
“Em mais uma noitada, também
numa boate em Copacabana, se não me engano, no Copacabana Palace, foi intentada
uma ação que, se tivesse logrado êxito, teria sido fundamental para o
fortalecimento do esquema militar do Governo João Goulart. As informações que
tivemos indicam que, naquela madrugada, reuniram-se na boate, o Presidente da
República, o Chefe da Casa Civil, General Assis Brasil, que acreditava no
esquema militar, o General Pinheiro, Comandante da Brigada Pára-Quedista, e o
Coronel Mafra, Chefe do Estado-Maior. O Presidente da República, que utilizava
como guarda pessoal, em Brasília, os oficiais para-quedistas, estava se ligando
à Brigada Pára-Quedista. Nessa noitada dos quatro, então, a decisão tomada foi
a de que deveria ser ordenada a uma unidade para-quedista, a prisão do
Governador Carlos Lacerda, quando de sua visita, na manhã seguinte, ao Hospital
Miguel Couto, na Lagoa. O Lacerda deveria fazer a inauguração de uma ala
destinada ao atendimento de emergência, no hospital. Tudo fazendo parecer que
teria sido uma atitude de iniciativa própria dos para-quedistas, em desagravo a
possíveis palavras ofensivas do Governador às Forças Armadas.
Mais uma vez não apareceu o
planejamento, foi só coisa de boca. O ordem era verbal. Sabia-se que o
Governador dispunha de forte esquema de segurança, lógico supor que tal ato
desencadearia ações e reações bem além do controle, as quais poderiam levar a
uma situação de grande intranquilidade, até mesmo em nível nacional. Ao
amanhecer, o Presidente da República retornou a Brasília, e deu entrada no
Congresso com o pedido de estado de sítio. Tal pedido seria retirado, sem
qualquer explicação, após o almoço no mesmo dia.
(...)
Na GU Pára-Quedista o normal
era o seguinte: sempre havia uma subunidade de prontidão, fosse ela do Grupo
Pára-Quedista, do Batalhão Santos Dumont, do Batalhão Logístico, ou mesmo da
Companhia de Engenharia. Naquela noite, estava de prontidão uma Bateria, do
Grupo de Artilharia Pára-Quedista, comandada por um dos oficiais esquerdistas
bastante comprometido. Então, a essa Bateria caberia a missão de prender o
Governador Lacerda, mas tudo de forma a parecer uma reação intempestiva dos
para-quedistas e não uma ação desencadeada mediante ordem.
Nada por escrito. Pessoas presentes
na mesma boate, na qual houve a inusitada reunião e a não menos inusitada
decisão, ouviram o que estava sendo decidido e um desses ouvintes comunicou,
ainda na madrugada, ao Coronel Aragão, o oficial que estava de superior de dia
na Brigada Pára-Quedista. Alguém na boate ouviu e denunciou:
- Olha, vai sair daqui uma
ordem para prender e matar o Lacerda, prepara que a confusão...
O que fez o Aragão? Pegou o
telefone, ligou para o Coronel Boaventura, Comandante do Grupo Pára-Quedista, e
disse:
- Olha, vão utilizar uma
Bateria do Grupo para prender o Lacerda. Vem para o quartel rápido.
O Coronel Aragão, ao mesmo
tempo, pegou o telefone e ligou para o Coronel Gustavo Borges, o Secretário de
Segurança do Lacerda.
- Olha, vão matar o Lacerda
amanhã!
O Gustavo Borges me disse
pessoalmente – conversando comigo dias atrás – que alertou o Lacerda, só que o
Lacerda tomou uma atitude inesperada. Perguntando se iria cancelar a visita ao
hospital, respondeu:
- Cancelar? Não, vou bem
mais cedo, vou antecipar o horário.
O Coronel Boaventura
dirigiu-se ao quartel e, ao chegar, reuniu os oficiais sabidamente não
comprometidos com tal esquema, para evitar que, em último caso, houvesse a
possibilidade de sair qualquer viatura do quartel. O que ele fez? Conversou
comigo, que era subordinado de confiança dele, Oficial de Munições, e ordenou:
‘Pegue a chave do paiol, reúna a munição e não deixe ninguém entrar’; a seguir,
mandou chamar os outros oficiais, o Abreu Morais, e determinou: ‘Olha, vocês
neutralizem as viaturas, tirem a bateria, tirem o cabo da bateria’.
(...)
O Coronel Boaventura,
imediatamente, dirigiu-se ao Quartel-General para tentar esclarecer a ordem,
junto ao General Comandante, Alfredo Pinheiro Soares Filho. O Coronel
Boaventura regressou ao Grupo e determinou uma reunião de oficiais, subtenentes
e sargentos dentro do Cassino dos Oficiais. A reunião, faço questão de dizer,
foi muito fiel ao estilo, ou seja: o Subcomandante da Unidade, os Comandantes
de Bateria à testa e os sargentos e subtenentes à retaguarda. O Comandante
chegou ao recinto, recebeu a apresentação, determinou que fosse comandado
‘descansar’ e proferiu as seguintes palavras:
‘Hoje pela manhã, recebi
ordem do Comandante do Núcleo da Divisão Aeroterrestre, por intermédio do seu
Chefe de Estado-Maior, para deslocar a Bateria de prontidão para a região do
Hospital Miguel Couto, a fim de prender o Governador Carlos Lacerda. Pedi ao
Chefe de Estado-Maior para falar com o General Comandante, no que fui atendido.
Recebido em seu gabinete, solicitei que tal ordem, por conter características
especiais e inusitadas, fosse a mim transmitida por escrito, conforme prevê o
regulamento. O general disse que não pedira, de quem a recebera, por escrito e,
portanto, não a daria por escrito. Respondi que enquanto não recebesse a ordem
por escrito, não a cumpriria e me retirei do gabinete’.
Encerrando a reunião, disse
o Coronel Boaventura aos seus oficiais e sargentos
‘Enquanto for Comandante,
ordens como essas não serão cumpridas.’
Obviamente, o Coronel Boaventura
foi exonerado.
Agora, para completar a
história, a Subunidade que entraria no dia seguinte de prontidão seria a
Companhia de Engenharia. A Subunidade começava o expediente às 7h30min. Até
reunir a Companhia, iniciaram o deslocamento do quartel quase às nove horas, e
o Lacerda já tinha se retirado há muito tempo” (Coronel Renato Brilhante Ustra,
Tomo 5, pg. 246-248).
AFINAL,
FOI UM GOVERNO MILITAR OU UM GOVERNO CUJOS PRESIDENTES ERAM MILITARES?
“Quem foi militar nos
governos da Revolução, além do Presidente? Os ministros militares, é claro. Nos
vinte anos de Revolução, podemos apontar o Coronel da reserva Jarbas
Passarinho, o Capitão-de-Mar-e-Guerra da reserva Euclides Quandt de Oliveira, o
General da reserva Rubens Ludwig, especialista em Educação e ex-comandante da
AMAN, o General Dirceu, engenheiro de construção, que foi chamado a prestar
serviços como Ministro dos Transportes, o Coronel engenheiro Corsetti, que
modificou radicalmente a situação das comunicações no País, e o brilhantíssimo
Ministro Andreazza.
Os demais eram civis, como
os Ministros Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Delfim
Netto, Hélio Beltrão, Gama e Silva, Langoni – homens de reconhecida competência
e de largos conhecimentos profissionais” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo
3, pg. 266).
PROFESSOR
OLAVO LUIZ PIMENTEL DE CARVALHO, DE JORNALISTA COMUNISTA A DEFENSOR DO
MOVIMENTO DE 1964
“Minha satisfação de estar
presente, neste momento, deve-se
sobretudo à natureza deste projeto, a de uma memória da História do
Brasil que está sendo apagada; a memória do que se passou nos últimos quarenta
anos está sendo totalmente apagada
, caricaturada, recortada,
reescrita, safenada, já fizerma ‘o diabo’ com essa história. E é importante
lembrar que, ao eclodir a Revolução, eu me encontrava exatamente do lado
contrário. Quer dizer, não posso de maneira alguma ser acusado de ter algum
preconceito a favor do Movimento de 31 de Março de 1964. Muito aos poucos,
revendo o que se passou, de maneira muito gradativa e cuidadosa, fui mudando de
opinião” (Tomo 3, pg. 102).
“Nos meses que antecederam o
Movimento de 1964, havia, no colégio em que estudava – era estudante
secundarista na época, aluno do Colégio Estadual de São Paulo – facções
políticas bem definidas, com uma maioria esquerdista e uma minoria (mas não tão
minoria assim) à direita, que depois apoiou o Movimento de 1964.
Mas a parte esquerdista era,
naturalmente, a mais ativa, e fui diretamente envolvido por ela, sem ter tido
muito contato com a outra facção. Tão logo perceberam que eu existia, já me
cercaram, curiosamente, com o pretexto católico. Era a esquerda dita católica,
liderada, ali na escola, por uma moça muito simpática, muito bonita, muito
sedutora. Era mais velha do que nós, e exercia uma liderança fantástica sobre
aquela meninada toda. Creio que estavam todos de algum modo apaixonados por
ela, e ela usava isto muito bem. Pouca coisa sei da vida da personagem, mas via
a atuação dela.
Então, a pretexto de
catolicismo, de catequese e até de Primeira Comunhão, se colocavam idéias
flagrantemente marxistas na cabaça de cada menino. Muitos anos depois, por uma
coincidência da vida, voltei a encontrar essa pessoa num ambiente de trabalho –
mas quase dez anos depois – e aí fiquei sabendo que nunca tinha sido católica
coisíssima nenhuma, que aquilo era exclusivamente uma atividade política. Isso
é para se ter idéia do ponto em que as coisas já se encontravam no ambiente
secundarista.
Não vejo por que citar o
nome da criatura. Ela era importante no movimento secundarista da época: era
ligada à AP (Ação Popular), o mesmo movimento em que militava o Presidente da
República atual e o seu candidato, o ‘vice-rei’ José Serra, presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE), na época” (Tomo 3, pg. 103).
“Tão logo me convidaram para
entrar no Partido [PCB], comecei a frequentar as reuniões de base – as unidades
mínimas do Partido chamam-se bases -; tinha uma base na Folha de S. Paulo, uma
base no Estadão etc. Na base da Folha de S. Paulo, onde se reuniam os
jornalistas que trabalhavam nos vários jornais da organização Folha, comecei a
minha atividade.
Mas, poucas reuniões depois,
apareceu um sujeito do comitê estadual, que na ausência do chefe da base, nos
reuniu e disse o seguinte: ‘Companheiros, o companheiro fulano de tal – que era
o chefe da base – criou uma situação extremamente delicada. Arrumou uma amante
que, temos sérias razões para acreditar, é uma agente do DOPS (Departamento da
Ordem Política e Social). Então decidimos isolá-lo durante algum tempo, para
podermos investigar e tirar a limpo esta coisa. Precisamos arrumar um lugar
para depositar esse camarada, deixa-lo meio sem contato com o pessoal da
profissão durante algum tempo, até que possamos esclarecer tudo.’
Em suma, o que ele queria
dizer era cárcere privado, em última instância. E nomeou quatro idiotas para
achar um lugar para colocar o camarada.
E um dos quatro era eu. Não
me recordo exatamente quem eram os outros. Um dos quatro, salvo engano, era o
jornalista Rocco Bonfiglio, irmão da Mônica Bonfiglio, que aliás faz programas
de TV sobre anjos, essa coisa toda. Muito boa pessoa, eram muito meu amigo
também, naquela época.
(...) ... no fim, colocamos
o sujeito lá e, de três em três dias,
alguém ia levar comida e cigarros para ele. E o sujeito ficou depositado
lá um tempão. Levei comida para ele três ou quatro vezes. Depois designaram
outras pessoas para fazer isso, e eu não soube de mais nada. Um dia escuto,
entre dois militantes, na redação a seguinte conversa:
- Sabe quem estava aí, na
portaria? Aquele f. d. p. do fulano de tal – que era aquele antigo chefe da
base. Não deixamos nem entrar.
Isso queria dizer que o
sujeito estava virtualmente excluído. Junto da exclusão do Partido, estava
excluído da profissão, pelo menos em São Paulo. Achei aquilo tudo normal,
porque pareciam medidas de segurança, e passados outros meses, certo dia, estou
num bar na frente da Folha de S. Paulo, tomando um cafezinho, e aparece o tal
do sujeito, magro, chupado, barbudo, com um ar de mendigo. E vem falar comigo.
E eu, como militante devotado, virei-lhe as costas e não falei com ele.
Também levei anos para
compreender a significação moral – ou imoral – daquilo que fiz, porque na
verdade ocorreu o seguinte: houve um cárcere privado, exclusão da profissão,
descriminação odiosa, a destruição total de uma vida, de uma carreira, no fim
das contas, por causa de um desconfiança. E todo mundo considerou isso normal,
porque o Partido tinha todo o direito de agir assim. Nem se questionava.
Não tive o menor problema
moral na época por ter procedido assim. O bem estava conosco; do outro lado não
eram nem gente. Portanto, ninguém iria perder tempo tendo bons sentimentos para
com um sujeito que pensa de outra forma e tem outra orientação política.
Na época, estive insensível
a esta coisa. Entretanto, mais tarde, analisando o que se passou, eu vejo...
Por exemplo,hoje, esses que pedem indenização porque dizem que ‘foram excluídos
da profissão’ e não sei o que mais. Ao contrário, no Partido era normal excluir
uma pessoa, fechar uma boda, jogar um cidadão na miséria, na exclusão, no
silêncio e no isolamento total. Então, esse negócio de que ‘fomos
discriminados’, são ‘lágrimas de crocodilo’. Isso é a coisa mais falsa e torpe
a que se pode assistir. É uma coisa medonha, que não considero moralmente
justificável” (Tomo 3, pg. 108-109).
“Uma prova inequívoca dessa
desproporção no julgamento, de si e dos outros, foi justamente o que aconteceu
nos anos seguintes, à medida que a esquerda – e sobretudo a ala mais radical do
Partido Comunista – reagindo contra um regime autoritário mas muito brando e
que havia se imposto sem a menor violência, foram buscar ajuda logo de quem? Da
ditadura mais sangrenta que havia na América Latina, a de Fidel Castro. Até
aquela altura, Fidel Castro já havia fuzilado 17 mil cubanos e logo depois,
para a intervenção em Angola, matou 100 mil angolanos no prazo de poucas
semanas.
(...)
Eu poderia até ser contra o
novo regime, mas o novo regime não era um regime assassino, não era um regime
violento, não era um regime cruento. E eles foram pedir ajuda e se aliar ao que
havia de mais violento, de mais cruel na América Latina. Qual a justificativa
moral que se pode apresentar para isso? Moralmente, qual é o sentido que faz
uma coisa dessas? Com um único ato deste, o indivíduo já desmascara o seu
intuito na mesma hora.
Porque, se o sujeito, para
reagir contra o Governo do Marechal Castello Branco, vai pedir ajuda a Fidel
Castro, isto significa claramente que o indivíduo nada tem contra o uso da
violência, nada tem contra o derramamento de sangue, nada tem contra o
genocídio. Tem apenas contra o Marechal Castello Branco, é o que se entende”
(Tomo 3, pg. 109-110).
“Então, esses dois capítulos
– a covardia inicial, seguida dessa escolha errada do Partido – são capítulos
da novela psicótica da esquerda nacional. Eu não tenho a menor dúvida de que toda a esquerda nacional, desde então,
está possuída por uma fantasia psicótica.
É por isso que hoje em dia
eu não aceito mais quando a pessoa diz: ‘Temos que discutir as divergências
ideológicas, respeitosamente.’ Respondo: ‘Está bem, uma divergência ideológica
pode-se discutir respeitosamente, mas uma psicose não.’ Uma psicose não se
respeita, e aliás nem se desrespeita: uma psicose se diagnostica e se cura.
Agora, como é que se cura
uma psicose? Pelo velho método psicanalítico do desmascaramento. Tenho um
amigo, um grande gênio da psicologia clínica, que dava a seguinte definição
para neurose: ‘Neurose é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita.’
Até hoje, toda a história da esquerda brasileira é exatamente a história dessas
duas mentiras esquecidas: a covardia de 1964 e a aliança macabra com um governo
genocida para combater um autoritarismo brando” (Tomo 3, pg. 111).
“Com base no livro do Caio
Prado [A Revolução Brasileira], vai se formando uma ala radical disposta a
romper com a estratégia clássica do PCB, que era a aliança com a burguesia, e
partir para uma solução violenta. Essa é a origem das guerrilhas.
É evidente que toda a
argumentação usada para levar a decisão à guerrilha era falsa. Toda ela era uma
racionalização neurótica – como se diz em psicanálise – para ocultar o fato
básico. O fato básico é que a esquerda já vivia na mentira e na covardia muitos
anos antes. Por quê? Porque a guerrilha já tinha começado em 1961 e, em 1961,
Cuba já estava dando ajuda às ‘Ligas Camponesas’ do Francisco Julião para fazer
uma guerrilha no Brasil.
Portanto, veja que coisa
absurda: se já havia a guerrilha, já havia a ala radical, e a guerrilha já
estava em ação desde 1961, como é que o fracasso poderia ser explicado por
culpa da estratégia pacifista do Prestes? Não tinha estratégia pacifista
nenhuma, eles já estavam fazendo guerrilhas antes! E no entanto, toda aquela
argumentação pomposa e pseudo-intelectual do Caio Prado (aqui para mim e cá entre
nós, acho ele um palhaço) que vem desde a história colonial, baseada em dados
econômicos, mas ocultando o básico. Se ele estava argumentando que não existe
burguesia nacional e, portanto, a estratégia pacífica foi a culpada do nosso
fracasso, ele está simplesmente omitindo o fato de que não havia estratégia
pacíifica nenhuma, de vez que já havia guerrilha, aqui, desde 1961” (Tomo 3,
pg. 113).
“O Caio Prado era o ídolo
filosófico dos comunistas, na época, e os anarquistas também tinham o seu ídolo
filosófico, quer era o falecido Mário Ferreira dos Santos, este sim de uma
capacidade fantástica.
Certo dia realizaram um
debate para analisar uma questão do ponto de vista marxista e do ponto de vista
do Proudhon, do anarquismo. Chamaram então o Caio Prado para apresentar o pondo
de vista marxista e o Mário Ferreira para apresentar o ponto de vista
anarquista. Falou primeiro o Caio Prado, aquela coisa toda elegante; quando
terminou, o Mario Ferreira se levantou e disse: ‘Olha, o pondo de vista
marxista não é esse que você disse, não. De modo que eu vou refazer a sua
conferência, antes de começar a minha’. E refez toda a conferência do Caio
Prado. Quando foi dito que iriam publicar a transcrição, o pessoal comunista
ameaçou jogar uma bomba na gráfica anarquista para evitar que o seu filósofo
fosse exposto àquela vergonha. Isso é só para dar uma ideia do que um filósofo
de maior envergadura pode fazer com um Caio Prado da vida.
Note bem, destes
intelectuais do Partido Comunista, o único que respeito, pelo trabalho intelectual,
é o Jacob Gorender. Seu livro, O
Escravismo Colonial, é um trabalho realmente de muito peso para a gente”
(Tomo 3, pg. 114).
“Na história do Partido
Comunista, sempre houve dois discursos, uma para dentro e um para fora. Tem o
discurso em petit comité, o discurso
dos congressos dos partidos, e tem a propaganda para fora, que é totalmente
diferente. No Partido dos Trabalhadores (PT), ocorre exatamente a mesma coisa.
Se você acompanha as discussões nos congressos do PT, verá que não têm
absolutamente nada a ver com o discurso que é feito, depois, para o público.
Essa duplicidade é uma coisa
crônica na história do comunismo. Mentir, representar outro papel, para o
comunista é uma coisa natural, principalmente aqueles que tiveram a experiência
da clandestinidade. A clandestinidade é uma mentira, é ter uma vida de mentira.
Você representa um papel fictício para fora e outro para dentro. Só que,
durante o tempo em que você está na clandestinidade, é obrigado a fazer isso,
porque, teoricamente, está correndo um risco. Mas acontece que, ao passar o
risco, você continua a praticar aquilo que se incorporou à sua personalidade.
Significa dizer que a
hipocrisia, a mentira, a farsa, fazem parte da estrutura de caráter do
comunista; são treinados para isso, e acabam incorporando estes hábitos
nefandos. No fim, aquilo se torna inteiramente natural, a duplicidade de
consciência. E observei muitos e muitos casos disso aí.
São exemplos que não acabam
mais. Quer dizer: para o comunista, encarar a sua atuação política num certo
plano e a sua vida pessoal num outro plano inteiramente diferente, sem ser
capaz de julgar uma pela outra, é a coisa mais normal do mundo.
Por exemplo, Karl Marx tem
páginas muito ácidas sobre os burqueses que exploram sexualmente as suas
empregadas. Entretanto, Karl Marx teve um filho com a sua própria empregada, e
jamais deixou que esse filho se sentasse à mesa junto com a família. E ele não
percebia nada de incoerente nisso, porque já estava na mentalidade dupla.
E este mesmo tipo de conduta
observa-se, também, no total desprezo para com as mulheres do povo que você usa
sexualmente. Notei isto em todos os militantes comunistas que conheci, com
exceção daqueles que eram casados com mulheres muito ciumentas e não podiam se
dar ao luxo dessa brincadeira. Usavam a mulher, assim, como se fosse um lixo.
(...)
Eram discípulos [de Karl
Marx] no sentido psicológico, não doutrinário. Você não precisa conhecer o
pensamento do sujeito para imitar uma conduta psicológica que já se tornou
tradicional dentro daquele meio. Essa duplicidade de caráter, duplicidade de
língua – o famoso bilinguis maledictus,
de que fala a Bíblia, ‘maldito homem de duas línguas1 – isto aí é a coisa mais
comum, e era considerado normal.
Creio que não existe obra
mais significativa da mentalidade comunista do que a de Bertolt Brecht. Brecht
dizia assim, cinicamente: ‘A verdade ou a mentira são igualmente úteis, desde
que sirvam ao comunismo1. Quer dizer, o comunismo está acima da verdade e da
mentira. O sujeito educado assim está autorizado a mentir o quanto queira,
inclusive para si próprio. Isso eu observei muito (Tomo 3, pg. 114-115).
“Marcuse usava uma expressão
absolutamente fantástica: dizia que a estratégia deveria ser não a de atacar
diretamente o sistema, mas a de fazer a sua decomposição difusa. Isto é, você
espalharia, por tudo quanto é lado, militantes e intelectuais – sem ligação
aparente uns com os outros – que iriam corroendo, aos poucos, todos os valores,
instituições etc., e destruindo sua estrutura de dentro para fora.
Essa estratégia, aplicada
nos Estados Unidos, deu certo, e, hoje, os Estados Unidos não são mais, de
maneira alguma, a a mesma nação que fora até a década de 1960. A cultura
americana tornou-se uma cultura francamente antiamericana. Nunca, houve, em
país nenhum do mundo, uma classe letrada que estivesse maciçamente contra o
próprio país, como nos EUA.
Os Estados Unidos são o
maior exportador de propaganda antiamericana que existe; a propaganda
antiamericana que circula no mundo é 80% produzida em Hollywood e Nova York, e
isso tudo foi um estado de coisas criado pela tal da ‘revolução cultural’ que,
nos Estados Unidos, foi mais marcuseana, na verdade, do que gramsciana. Mesmo
nos Estados Unidos, a difusão de Gramsci é bem posterior.
(...)
Assim, a primeira faixa que
Marcuse via como revolucionária – como substituta do proletariado – seria a de
estudantes. A segunda faixa reuniria as pessoas que estão marginalizadas por um
motivo moral: as prostitutas, os gays, os delinquentes.
A segunda seria o
lumpemproletariado. Marcuse foi o primeiro a dizer claramente que o
lumpemproletariado era sempre ideologicamente ambiíguo – adquiria uma força
revolucionária na nova situação – no capitalismo já mundializado, bem-sucedido
economicamente).
A terceira seriam as
chamadas minorias insatisfeitas, entre as quais as nações mais pobres do
Terceiro Mundo. Com isso você pode ver que Marcuse formulou toda a atmosfera e
toda a simbologia da esquerda de hoje. A esquerda essencialmente marcuseana é
uma esquerda que já não arregimenta proletários, mas arregimenta prostitutas,
gays, minorias raciais etc.
As obras de Marcuse
começaram a ser editadas no Brasil mais ou menos por essa época, 1965-1966,
enquanto desenrolava aquela discussão dentro do Partido. Ao mesmo tempo, a
Editora Civilização Brasileira do falecido Enio Silveira, a maior editora do
Partido, começava a publicar as obras de Antônio Gramsci. Antônio Gramsci
praticamente organiza e articula a estratégia da revolução cultural, cujo
conteúdo ideológico e publicitário, por outro lado, o pessoal tinha absorvido
de Marcuse.
Não houve nenhum contato
entre os dois, evidentemente. Gramsci nunca soube da existência de um sujeito
chamado Marcuse, mas, antes mesmo da difusão das ideias de Marcuse, Gramsci já
criara um aparato para operacionalizar – e, portanto, viabilizar – aquilo tudo.
Marcuse dava o pretexto
ideológico e Gramsci a modalidade de organização partidária. Tudo estava sendo
estudado pelos ‘velhos’ do Partido, pelo pessoal do Prestes. Então, enquanto
uma meia dúzia de malucos se dedicava à guerrilha, ia para a guerrilha para
morrer, o que fazia o Partidão? Fazia, por exemplo, o treinamento de pessoas
para ocuparem as cátedras de Educação Moral e Cívica abertas pelo Governo.
(...)
Como é que eu sei disso? É
muito simples: minha própria mulher trabalhou nessa empreitada, na época,
fazendo exatamente isso. Era muito comum. Ela estudava Ciências Sociais na
Pontifícia Universidade Católica (PUC). E havia um grande número de estudantes
de Ciências /sociais, militantes de esquerda, que foram ocupar as cátedras de
Educação Moral e Cívica e as transformaram em instrumentos de pregação
comunista subsidiados pelo Governo militar.
Uma outra iniciativa que
começou, então, foi a ocupação sistemática das chamadas ‘Sociedades Amigos de
Bairros’, que, dentre as suas atividades, faziam reivindicações à Prefeitura,
como tapar buraco, fazer um encanamento de esgoto, coisas assim. Enquanto a ala
do Marighella se dedicava àquela coisa estéril da guerrilha, o pessoal do
Partidão ia se infiltrando em todas essas organizações. Outro detalhe
importante foi a organização da classe jornalística. Nisto, como no caso da Educação
Moral e Cívica, quem criou inadvertidamente o instrumento para a ação comunista
foi o próprio Governo, regulamentando a profissão de jornalista e tornando
obrigatória a sindicalização.
(...)
Então, nós nos dedicávamos a
sindicalizar as pessoas e coloca-las automaticamente em nossa órbita
ideológica. Isso começa em 1965-1966. Ao chegar à metade da década de 1970,
podemos dizer que o Partidão já tinha o controle praticamente total da bolsa de
empregos na profissão jornalística no Estado de São Paulo” (Tomo 3, pg. 118-121).
Como afirma Olavo, “o
Partidão usou a turma da guerrilha, como diz o caipira, como ‘boi-de-piranha’”,
concentrando o Governo seus esforços no combate à guerrilha, deixando as
universidades inteiramente à disposição da “esquerda pacífica”. Deu no que deu,
a balbúrdia denunciada pelo ministro da Educação Abraham Weintraub.
“Enquanto eles estavam
fazendo guerrilha, o lado dos ‘velhos’ estava montando o aparato cultural
inteiro. Estava tomando todas as universidades, os meios de comunicação, as
instituições de cultura – que, hoje, dominam totalmente, da maneira mais cínica
que se possa imaginar. E o Governo militar estava totalmente alheio, totalmente
voltado para a luta armada e, propositadamente, deixava a esquerda pacífica
atuar como quisesse, primeiro, porque o Governo não tinha nada contra a
esquerda pacífica. Ele só não queria dois tipos de coisa: a luta armada e a
corrupção. Se não ocorresse nenhum dessas, os esquerdistas podiam fazer
propaganda ideológica à vontade.
Era a teoria do Golbery, a
teoria da panela de pressão. Ele dizia: ‘Não pode fechar a panela de pressão
por todos os lados que ela explode. É preciso deixar uma válvula de escape’.
Ora, a válvula que foi
deixada foram as instituições de cultura, os meios de comunicação, as
universidades... (Tomo 3, pg. 125).
“O MST não é uma organização
sindical, não é um partido político, não é uma guerrilha: é uma mistura de tudo
isso. O que era exatamente uma mistura de tudo isso era o soviete na Rússia. A
organização do MST – quem estudar um pouquinho o assunto verá – é rigorosamente
a cópia do soviete, e o soviete serve para quê? Para desmantelar a estrutura
agrária e preparar a futura administração socialista do campo. É exatamente
isso que o MST está fazendo.
Na Rússia, a criação dos
sovietes levou décadas. Aqui, tudo foi feito em oito anos, com o dinheiro do
Governo. Portanto, o MST deveria erguer uma estátua para o Fernando Henrique,
porque ele é seu verdadeiro criador. Mas sempre, para o esquerdista, é normal
entrar dentro do aparato do adversário, e consentir ser publicamente
identificado como adversário, enquanto trabalha para a esquerda. É exatamente o
que fez o Fernando Henrique” (Tomo 3, pg. 128).
Fabian
Society
“Esta questão da Nova Ordem
Mundial está sendo discutida e planejada pelo menos desde a década de 1920.
Houve um projeto inteiro – em 1928 já estava totalmente formulado – que saiu
num livro de Herbert George Wells, intitulado The Open Conspiracy. Toda a Nova
Ordem Mundial está delineada ali.
A ideia da nova ordem mundial
é essencialmente uma criação da chamada Fabian Society, Sociedade Fabiana. Os
socialistas fabianos são socialistas moderados, inventores da chamada ‘terceira
via’ que também já estava formulada na década de 1920.
Onde surge a ‘terceira via’?
Surge de um fator muito simples: o capitalismo é um regime que produz uma tal
riqueza, uma tal prosperidade que acaba criando, junto com a prosperidade
geral, certas fortunas que transcendem a própria mecânica do capitalismo. Por
exemplo, um sujeito que cresceu e que enriqueceu num regime de livre
concorrência, quando chega ao topo do capitalismo, isto é, se tornou uma das
grandes fortunas, percebe que, embora a sua fortuna tenha sido criada pelo
regime de livre concorrência, ele já não pode estar submetido à mesma. Nesse
momento, surge o problema dinástico, porque ele aspira passar aquela fortuna
para seus descendentes e perpetuá-la. Então ele já não quer mais livre
concorrência, porque deseja garantir a continuidade.
Isso quer dizer que a classe
capitalista se forma na livre concorrência, mas se consolida como um poder
dinástico, e, portanto, já não mais de tipo capitalista, e sim de tipo
aristocrátic9.
(...)
Então, é isto que explica o
seguinte: se você pegar as duzentas maiores fortunas dos Estados Unidos – a começar
por Rockefeller, Morgan etc. -, você verá que, nas eleições americanas,
desde o começo do século, eles jamais
apoiaram o candidato pró-capitalista, mas sempre o candidato estatista,
intervencionista, controlador da economia, semi-socialista. Isso acontece
porque essas grandes fortunas, esses grandes bancos internacionais, vivem de
emprestar dinheiro para o governo, que é o grande cliente deles. Precisando do
endividamento público, precisam do governo intervencionista.
(...)
Teoricamente, Reagan seria
um homem do capitalismo liberal, uma espécie de Margareth Thatcher –
ex-Primeira-Ministra britânica – de terno e gravata, mas, quando você vai ver,
o que é que o Reagan fez? Ele fez o maior endividamento público de toda a
história americana.
Quer dizer, durante a
administração Reagan, o Estado cresce mais ainda. Eles sempre apoiaram mais uma
política intervencionista. Ao mesmo tempo, essa mesma elite sempre usou a União
Soviética – e o movimento comunista de modo geral – como instrumento de pressão
em cima do governo americano. Se você for ver a própria história da União
Soviética, sua história inteirinha, você vai ver que a União Soviética só
existiu graças à ajuda americana.
(...)
Quando vemos que esses
grandes bancos vivem do endividamento público, eles têm que ser contra o
capitalismo liberal, e têm que ser a favor de um regime intervencionista. Mas o
comunismo total, por outro lado, também não serve para eles. Então o que
fizeram? A ‘terceira via’ foi a solução que encontraram, pois já tinham pensado
nisso. Tudo está escrito, publicado, desde a década de 1920.
Então, esse pessoal vai
empurrando o mundo cada vez mais para uma espécie de socialismo mezzo a mezzo,
um socialismo que, no fundo, seria idêntico à economia fascista, à economia
nazista – porque é um regime estatista -, mas conservando-se o Poder das
grandes empresas, como você tem na China hoje, também.
(...)
Quando identificamos a Nova
Ordem Mundial com a ideia de interesse nacional americano, estamos cometendo um
erro, porque a Nova Ordem Mundial nada tem a ver com o interesse americano, mas
tem vínculos com duzentos banqueiros. Se, para formar a Nova Ordem Mundial, for
necessário destruir os Estados Unidos, como de fato vem sendo feito – a cultura
americana já foi destruída -, eles o farão” (Tomo 3, pg. 132-135).
Terrorismo
cultural – a falsa caça às bruxas
“Quando dizem que o
pensamento brasileiro foi sufocado, isto é autolisonja. Pensamento brasileiro à
época? Que eu saiba... Que grandes pensadores existiam aqui? Havia o Mário
Ferreira dos Santos, que a esquerda toda ignorava e que continua ignorando;
havia o Miguel Reale; havia o Vilém Flusser, um emigrado tcheco que chegou aqui
e, em três anos, aprendeu a escrever em português – escrevia um português
maravilhoso. Flusser era um grande filósofo, e nunca lhe deram a menor atenção.
Flusser acabou indo embora, na década de 1970, por não suportar mais a
mesquinhez do meio. Não foi perseguido por ninguém, não foi posto para fora por
ninguém. Os caras que foram demitidos da USP e de outras universidades, eram
para ser demitidos mesmo, mas não por motivo político: eram para ser demitidos
por inépcia.
A visão que esse pessoal tem
da coisa é tão falsedada que existe um livro sobre a época, intitulado A Fúria
de Calibã, escrito por Nelson Werneck Sodré – general e historiador comunista –
que tenta traçar o panorama do que define como caça às bruxas da época – o tal
‘terrorismo cultural’, essa coisa toda. E conta que um foi demitido, o outro
exilado etc. Ninguém de verdadeiro relevo intelectual. No meio da narrativa,
Sodré adianta que, naquele ano (refere-se a 1965, creio) publicou oito livros
que foram comentados e aplaudidos por toda a imprensa. Quer dizer, o homem
publicou livremente as suas obras naquele ano, foi aplaudido na imprensa, e
ainda tomou posse no Instituto Brasileiro de História e Geografia Militar, numa
cerimônia à qual estava presente o Presidente da República. Agora você imagina
se, em Cuba, é possível uma situação dessas: Fidel Castro comparecer a uma
cerimônia na qual vai tomar posse, na Academia, um homem da oposição. O próprio
Nelson Werneck se desmascara no livro” (Tomo 3, pg. 136-137).
Recanchismo
& neurose = compensação financeira
“É mais do que um
‘revanchismo’, é uma vontade de dissipar aquele sentimento confuso que você tem
dentro de si (a culpa mal conscientizada, a culpa não declarada). Isso cria uma
configuração neurótica, da qual o sujeito tenta escapar mediante a busca de
compensações morais. Então eles têm que estar continuamente fazendo homenagens
a sim mesmos, dizendo: ‘Éramos mártires, éramos patriotas, éramos
maravilhosos’. Um puxa o saco do outro, joga confete no próximo etc.; mas isto
também não basta; é preciso poder; mas poder também não basta: é preciso
dinheiro. Em suma, são satisfações neuróticas buscadas para compensar o próprio
quadro neurótico que eles mesmos criaram com suas mentiras existenciais. Estão
todos mentindo para si mesmos há trinta anos. É aquela coisa: ‘Neurose é uma
mentira esquecida na qual você ainda acredita’. Isto é a vida deles. Eles mentiram
em 1964 e já esqueceram a mentira, mas continuam vivendo com base nela.
Quando você vai procurar
apoio de Cuba e diz que é para instaurar a democracia, você está mentindo,
evidentemente. Mas esse fato é melhor esquecer. Você não é capaz de contar mais
a sua história com sinceridade, não é capaz de dizer: ‘Éramos comunistas,
queríamos aqui uma ditadura como a de Fidel Castro mesmo, queríamos fuzilar
todo mundo e não nos deixaram, e ficamos loucos da vida porque não nos
deixaram’.
Não podendo confessar isso
em público0 – e talvez não confessem nem para si mesmos -, vivem na base da
mentira, e é justamente isso que os induz a buscar compensações morais,
psicológicas, financeiras etc. Quer dizer, o destino do País está sendo
decidido pela neurose de um grupo – pela neurose, pela mentira existencial de
um grupo de idiotas pretensiosos” (Tomo 3, pg. 139-140).
MARCO
MACIEL, CURSO DE EXPLOSIVOS EM CUBA
“A
infiltração era tão grande que o pessoal já não tinha mais cuidado. Veja, por
exemplo, o atual Vice-Presidente da República, Dr. Marco Antonio Maciel. Era
advogado e tinha um escritório em atividade; ganhava muito dinheiro. Nessa
época, o Coronel Antonio Bandeira era o E2 do IV Exército. Pois bem, o Dr.
Marco Maciel foi fazer um curso de capacitação política em Cuba, inclusive,
aprender a trabalhar com explosivos. Certo dia, o Bandeira, que já comandava o
14º. R, e eu assumira a função de E2, me disse:
-
Ibiapina, o Marco Antonio Maciel está querendo uma carteirinha de agente.
Eram
cartões de agente do IV Exército, semelhantes àquelas de anotação dos cadetes
que usávamos para os ‘olheiros e informantes’. Respondi:
-
Não dou! Você conhece a ficha dele no IV Exército, afinal, você era o E2! Por
que você não dá como Comandante do 14º. RI?
Não
deu.
Depois
o Marco Antonio Maciel se arrependeu muito de ter ido fazer aquele curso. Na
época do Geisel, já era Deputado, quis ser líder do MDB – naquele tempo era só
MDB. Chegou, apresentou-se no Congresso, como candidato a candidato a líder. O
Golbery mandou chama-lo:
-
Venha cá, você vai ser líder?
-
Eu tenho direito! Sou Deputado! – interrompeu o Marco Maciel.
-
Olha, mas com essa ficha aqui... – o Golbery mostrou a ficha para ele.
-
Bem, então, até logo... Felicidade...
-
Mas, vai embora? Não vai mais fazer força? – perguntou surpreso, o Golbery,
acerca de sua intenção de ser líder do MDB.
-
Como o senhor, naturalmente, vai publicar tudo isso...
-
Lógico que vou. Mas, você não conhece ninguém que possa dizer que você foi lá
por um outro motivo? – atalhou Golbery.
Hoje, aquela ficha o
ajudaria muito, mas, naquela época, não ajudou [entrevistador].
O
Marco Maciel escreveu ao General Antonio Bandeira, Comandante do III Exército,
à época. Bandeira, então, preparou uma carta, declarando que o Marco Maciel
tinha ido, como Representante do IV Exército etc. Mas sei que não foi. Essa
carta parou diretamente nas mãos do Golbery. Daí em diante, ele foi... líder e
mais outras coisas.
Mas,
quando afirmo sobre a grande infiltração que havia, você pode constatar como um
rapaz, com profissão liberal assentada, organizada, se manda para fazer um
curso de capacitação política, em Cuba. Por isso, anos depois, no Governo
Geisel, ele teve problemas para ser líder do MDB, pois o Golbery era ‘seguro na
virada’ ” (General-de-Brigada Hélio Ipiapina Lima, Tomo 2, pg.
1790180).
A
ESQUERDA SÓ FALA SOBRE A OPERAÇÃO CONDOR...
“Quando
me encontrava na Escola de Comando e Estado-Maior, na fase pós-revolucionária,
começamos a agir em vários setores. Tive a sorte de flagrar um comunista
chamado Marco Jacobovist que dava ordens por telefone para diferentes
elementos, instalados no Nordeste, no Sul e em outras regiões. Localizado o
‘aparelho’, mandávamos uma turma lá, mas o apartamento foi encontrado vazio, só
com o telefone. Pensava: tenho que pegar esse camarada, acredito que Deus ajuda
quem trabalha e atrapalha o vagabundo. Por isso, pedia a Deus que me ajudasse,
se estivesse fazendo uma guerra justa, e Ele me auxiliou. Num dos telefonemas,
o sujeito disse o seguinte:
-
É a última vez que eu falo com vocês – e desligou.
Isso
foi gravado pelo nosso pessoal. Logo imaginei que ele estivesse para fugir, mas
não sabíamos o seu nome, porque, para cada lugar, era usado um codinome
diferente. Então, comecei a acionar a Aeronáutica. Precisava saber os horários
dos vôos. Não sei explicar o porquê, mas achei que iria para o Uruguai. Dito e
feito. Um Coronado da Varig havia sido fretado para uma viagem particular para
o Uruguai. Acionei a FAB e pedi que mandassem uma patrulha e prendessem quem
estivesse no avião. Um tenente da FAB chegou lá e encontrou o sujeito,
acompanhado de um advogado, já embarcado. O advogado abriu a pasta e mostrou o
habeas corpus. O tenente me telefonou perguntando o que fazer. Respondi:
-
Rasgue o habeas corpus e traga o advogado também para o quartel.
Pegaram
os dois. Então, é revolução ou não é? Pois bem, descobrimos que ele morava em
Ipanema e, se não me engano, quem chefiou a busca no apartamento foi o Attila
Viana, de Cavalaria, depois General. Atuou muito bem; trouxe do apartamento,
sem exagero, um pacote de depósitos bancários referentes a remessas de dólares
do estrangeiro para o Brasil, em nome dele. O dinheiro vinha da Bulgária,
Iugoslávia, Checoslováquia, ou seja, de países da Cortina de Ferro, para
fomentar a revolução no Brasil. O volume de dinheiro era impressionante; eram
depósitos de 60 mil, 80 mil dólares” (Coronel Mário Dias, Tomo
2, pg. 304-305).
O
CONGRESSO NACIONAL E A REVOLUÇÃO
“Considero
que os políticos não têm inimigos, como eles próprios se definem. São uma massa
que toma a forma do vaso que a contém. Estão com quem está no Poder, de maneira
que se conformam com o que acontece, ou seja, vivem se acomodando e esquecendo
o que aconteceu, se não lhes serviu. O inimigo de ontem é o amigo de hoje, o
amigo de ontem é o inimigo de hoje. Enfim, eles se acomodam”
(Tenente-Coronel Moacir Véras, Tomo II, pg. 358).
CONTROLE
DEMOGRÁFICO
Alguns generais
entrevistados consideram um erro, o Governo Militar não ter se empenhado
diretamente num programa de controle de natalidade. Diz o General Leonidas: “Enquanto nós não tivermos, em nosso País,
uma política demográfica estabelecida – mas diga-se de passagem, nada
compulsório, nada obrigatório, mas sim de caráter educacional – ficaremos numa
situação difícil para resolver problemas sociais. Haja vista um dado que gosto
de repetir: a cada ano, nasce no Brasil uma população igual à do Uruguai”
(Tomo 1, pg. 89).
HOUVE
INFLUÊNCIA DIRETA DOS EUA NO MOVIMENTO DE 1964?
Os terroristas, que foram
derrotados pelo Movimento de 1964, falam que os revolucionários (militares e
civis) obtiveram apoio direto dos EUA. Mesmo que isso fosse verdade, qual o
problema, se eles faziam cursos de guerrilha no exterior e recebiam vultosas
somas de dinheiro para comunizar o Brasil desde a Intentona Comunista, em 1935,
desencadeada por Moscou com a ajuda de mercenários alemães e Luis Carlos
Prestes?
“As
esquerdas tiveram auxílio externo de toda ordem – auxílio financeiro, formação
de ativistas e outros – de países comunistas, principalmente de Cuba. Essa é
uma verdade que está, intencionalmente, esquecida. Havia setores de esquerda
que até possuíam listas de líderes e de administradores cubanos que viriam para
o Brasil, logo que a subversão fosse vitoriosa, para aqui assumirem postos na
administração pública. Vi tais listas em mãos de ativistas de esquerda”
(Coronel Helio Mendes, Tomo 1, pg. 261).
“Sabe-se
que os detratores da Revolução gostam de explorar essa tese, dizendo que houve
ajuda dos Estados Unidos e apresentam, como comprovação, uma ordem recebida
pela esquadra americana para aproximar-se do Brasil. Isso é de uma ignorância muito grande. Uma país, cuja
estratégia é mundial, como os Estados Unidos, normalmente desloca uma de suas
esquadras para os lugares de crise.
É
comum lermos que tal Esquadra deslocou-se para o Mediterrâneo, próximo do
Oriente Médio, outra Esquadra deslocou-se para o Mar Vermelho ou para as proximidades
de Formosa. Toda vez que há uma crise, por medida de precaução, uma Esquadra é
deslocada para as proximidades do local. É um procedimento de rotina. As
pessoas que lêem os jornais diariamente sabem que isso acontece toda vez que se
esboça uma crise, seja em que região for. Agora, o deslocamento de uma esquadra
americana para a costa brasileira, na época do Movimento de 31 de março, tem
sido considerado comprometimento dos revolucionários com o governo de
Washington, o que nunca houve. Embora, sem dúvida nenhuma, os americanos tenham
acompanhado tudo.
Fala-se
muito no General Wernon Walters, adido militar americano na época. Ele sabia de
tudo o que estava acontecendo, porque conhecia a todos, pois esteve conosco na
FEB. Tornou-se amigo do General Mascarenhas de Moraes, do General Castello
Branco e de todos os oficiais da FEB. Qualquer um que acompanhasse os jornais
com atenção observaria, de maneira clara e objetiva, o que estava acontecendo.
De
modo que, rejeito completamente essa hipótese, essa acusação de que a
conspiração foi feita em entendimento com os militares ou governo
norte-americanos. Deslocar a Esquadra para áreas de conflito é rotina
estratégica dos Estados Unidos” (General-de-Exército Carlos
de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 229-230).
“Existe
um número da revista Reader’s Digest, dessa época, que publica um artigo muito
bonito, intitulado: ‘A Nação que se salvou a si mesma’, onde estão estampadas
fotos do espetáculo proporcionado pela Marcha da Família com Deus pela
Liberdade.
Há
um outro documento, que possuo, este publicado pela Editora Civita, de São
Paulo, não sei se hoje ainda existe, estudo muito bonito, com o título: ‘Do
comunismo de Karl Marx ao Muro de Berlim.’ No final, aborda os antecedentes do
Movimento de 1964 e a assunção da Presidência da República do Marechal Castello
Branco” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo III, pg.
62).
“Tivemos
conhecimento de que o ex-embaixador soviético no Rio de Janeiro, em conversa
com o nosso embaixador em Moscou, lhe confidenciara ter recebido uma visita de
Luís Carlos Prestes, depois de muita insistência. Prestes afirmara que a
revolução no Brasil já estava ‘madura’ e que bastava mais ajuda financeira e
material da União Soviética para que eles dominassem o País, porque já estariam
no governo. Esse ex-embaixador soviético contara também ao nosso embaixador – o
falecido Celso Souza e Silva – que, na oportunidade, dissera a Prestes o
seguinte:
-
Não, que o Prestes ficasse onde estava, agitasse, mas não pretendesse tomar o
Governo, porque Cuba já custava para a União Soviética alguns milhões de
dólares, diariamente; que o Brasil, em relação ao tamanho de Cuba,
evidentemente, para ser mantido como um país comunista, ia estourar o tesouro
soviético; que esquecesse essa idéia” (Coronal Luiz Paulo Macedo
Carvalho, Tomo 1, pg. 288).
“Comenta-se
muito a esse respeito, mas não tenho conhecimento de algum apoio externo,
embora no plano inicial do Estado-Maior revolucionário, que já comentei
anteriormente, admitíssimos a possibilidade de enfrentar muitas dificuldades,
inclusive não conseguir descer das Alterosas, constasse, além da defesa de
Minas, a conquista do Porto de Vitória, com o objetivo claro de receber apoio
estrangeiro.
No
caso de uma guerra interna, não há dúvida de que os Estados Unidos iriam apoiar
os anticomunistas. Daí a nossa previsão de dominar um porto para poder receber
o necessário reforço em armamento, munição etc.
Aliás,
como imprevidência dos integrantes do Governo Goulart, mesmo depois de iniciada
a Revolução, os caminhões transportadores de combustível continuaram trafegando
normalmente, do Rio para Juiz de Fora, quando a primeira providência sensata,
em termos de operações militares, seria cortar de Minas esse suprimento vital”
(General-de-Bvrigada José Antônio Barbosa
de Moraes, Tomo 2, pg. 204-2015).
“É
evidente que as embaixadas e os adidos militares, sobretudo dos Estados Unidos,
estavam acompanhando aquele desacerto crescente, de crise sobre crise,
aguardando um desfecho, como efetivamente ocorreu. Eles não poderiam deixar de
acompanhar a evolução daquela conjuntura. O que se pode discutir, dessa
questão, é se eles estariam interferindo. Até onde sei, também havia
preocupação de outras representações diplomáticas, como as da União Soviética e
da China.
Eu
mesmo posso dar um testemunho. Quando o avião, que me conduzia de Uruguaiana ao
Rio de Janeiro, fez escala em Porto Alegre, em 25 de abril de 1964, ao descer
no Aeroporto Salgado Filho, com minha família, encontrei o Adido Militar dos
Estados Unidos, Coronel Vernon Walters. Conheci-o da FEB, quando ele ainda era
capitão e intérprete junto ao V Exército. Aproximou-se de mim e falou,
demonstrando surpresa:
-
Puxa! Você está aqui?
-
O que você está fazendo aqui? – perguntei-lhe do mesmo modo, também surpreso,
por encontra-lo em Porto Alegre.
-
Estou indo para a 3ª. DC, em Bagé. Ouvi dizer que houve problemas naquela
região e quero observar os acontecimentos.
-
Você está bem informado! – eu gostava de brincar e, também, dizer o que queria.
-
Olha, já sei de tudo o que aconteceu, em Uruguaiana, com a 2ª. DC – completou
o, então, Coronel Walters.
Vejo
isso de uma maneira quase natural, porque eles deviam estar acompanhando a
evolução do movimento” (Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 280).
“A
bipolaridade existente no mundo de então, entre a Rússia e os Estados Unidos,
fez com que surgissem movimentos, em todos os países, com o objetivo de
sustentar a democracia, pois aqueles que não a mantiveram, como Cuba, cederam
ao comunismo.
Quanto
à influência externa, gostaria de fazer um relato. Vernon Walters, general
americano que foi Adido Militar dos Estados Unidos no Brasil, em seu livro
Missões Silenciosas, diz que não houve movimentação alguma por parte dos
americanos. Ele diz que, com base em informações que vinham do Brasil, havia
uma ‘contingência’. Esse é o termo usado por ele. Segundo Walters, os Estados
Unidos tomaram uma posição de resguardo, preparação e planejamento. Mas não
sabia da existência de movimento de tropas para isso. No entanto, em 1965,
levei provas do exame de habilitação à Escola de Comando e Estado-Maior, para
Juiz de Fora. Lá, o General D’Ávila Mello, que comandava a 4ª. RM, convidou-me
para almoçar. Nesse almoço, apareceu, de repente, o General Vernon Walters. Foi
uma surpresa agradável, porque ele era querido por nós dois. Começamos a
conversar e ele disse que havia uma força-tarefa ao longo da costa brasileira
pronta para atuar em defesa da Revolução. Se ele me desmentir, está desmentido”
(Coronel Mário Dias, Tomo 2, pg. 300).
“Não
houve qualquer ação externa, nem mesmo americana. O Embaixador Lincoln Gordon
manteve o seu governo informado de tudo acerca da Revolução, como era de sua
obrigação, mas, ao eclodir o Movimento, foi tão surpreendido como o foram os
comunistas.
O
Embaixador Lincoln Gordon pediu, através do General Vernon Walters, adido
militar, que era coronel à época, muito amigo de todos nós – tinha sido oficial
de ligação da FEB com o V Exército americano, na Itália, durante a Segunda
Guerra Mundial – uma audiência com o Ministro Costa e Silva, que era o
Comandante Supremo da Revolução. Marcada a data, o Embaixador, que falava
português, chegou e disse o seguinte:
-
Vim aqui pedir para os senhores assegurarem a liberdade de imprensa e os
direitos humanos, e saber o motivo da invasão da Associated Press.
-
Olha, Embaixador – falou o Ministro Costa e Silva, surpreso, olhando para ele –
pensei que o senhor não tivesse dúvidas sobre isso. Claro que vamos cumprir a
lei. Quanto à Associated Press, não é uma empresa do governo americano, nem
ligado à sua embaixada. É uma empresa particular.
E
prosseguiu:
-
Pensei que o senhor viesse aqui cumprimentar-nos pelo êxito da Revolução, que
evitou a comunização do Brasil, o que acarretaria real prejuízo para os Estados
Unidos.
Essa
foi a resposta do General Costa e Silva. O Sr. Lincoln ficou meio ‘sem graça’ e
saiu.
Além
disso, convenhamos, o General Mourão surpreendeu a todo mundo, inclusive o
próprio General Castello Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército, que só
soube do movimento de Minas Gerais depois que ele já estava na rua, que dirá o
Sr. Lincoln Gordon” (Coronel José Tancredo Ramos Jubé, Tomo II,
pg. 333-334).
“A única coisa que ocorreu e
isso está no livro do meu pai [Carlos Luis Guedes] – cujo exemplar, que tenho
aqui, é do meu irmão – foi uma conversa sigilosa de meu pai com o Vice-Cônsul
dos Estados Unidos, o Sr. Lawrence Laser, que o procurou, oferecendo apoio em
pessoa. Meu pai recusou, dizendo que, se fosse o caso, pediria ajuda material –
blindados, armamento leve e pesado, munição, combustível e material de
comunicações. Foi-lhe imposta a condição de que não seria desembarcado em solo
brasileiro nenhum só homem, para que não fosse desvirtuado o caráter da
Revolução. Também, nada lhe foi oferecido em troca, bastando-lhe a consideração
dos riscos para a segurança norte-americana que um Brasil comunista
representaria.
Em seu livro, diz meu pai:
‘Meu interlocutor (Lawrence Laser), por sua vez, mostrava-se impressionado com
a receptividade do Movimento revolucionário no dia 31 de março e o entusiasmo
da população em Belo Horizonte. As filas extensas nos postos de apresentação de
reservistas e voluntários; a mobilização incalculável dos meios de transportes
– caminhões de todos os tipos, jamantas, carros de passeio; a ordem, a
organização, tudo concorrendo para que, no seu espírito, se firmasse a ideia da
sanidade e do vulto do Movimento, finalmente desencadeado por uma nação que não
queria perecer’.
Entretanto, a incrível
derrocada do famoso e ameaçador dispositivo militar de Jango e de sua pretensa popularidade,
que, afinal, se revelara um mito, tornou desnecessária qualquer ajuda material’.
(...)
No dia 31 de março, pela
manhã, um avião leou o Dr. Oswaldo Pieruccetti para Vitória como emissário do
Governo de Minas. Naquela capital, ajustaram-se todos os pontos de vista,
integrando-se, no Movimento, todo o Estado do Espírito Santo – Governo, força
policial, bem como a guarnição federal, por seu comandante Coronel Newton
Fontoura de Oliveira Reis. Assim, ficou assegurado o porto para entrada de
suprimentos a serem transportados pela E. F. Vale do Rio Doce, cujo tráfego
seria garantido pelo 6º. Batalhão de Infantaria de Governador Valadares. O
auxílio material americano deveria entrar pelo Porto Vitória, o que, também,
foi dito pelo meu pai ao Sr. Laser. Mas, felizmente, como disse, as tratativas
não precisaram prosseguir, com a queda do Governo, sem luta, o que foi, para o
País, a melhor solução“ (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 260).
Afinal,
qual foi posição dos EUA?
Achei estranho que nenhum dos entrevistados tenha falado sobre a
famigerada “Operação Thomas Mann”. Então, vamos a ela.
É mentirosa a versão da participação dos norte-americanos na
Contrarrevolução brasileira de 1964. Os documentos da inexistente
"Operação Thomas Mann" foram forjados pela espionagem tcheca que, em
1964, atuava no Brasil via KGB. Essa mentira foi montada por Ladislav Bittman,
que chefiava o serviço de desinformação da Tchecoslováquia. Em seu livro The KGB And Soviet Disinformation,
publicado em Washington, Bittman declara: "Queríamos
criar a impressão que os Estados Unidos estavam forçando a Organização dos Estados
Americanos (OEA) a tomar uma posição mais anticomunista, enquanto a CIA
planejava golpes contra os regimes do Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba
(...) A Operação foi projetada para criar no público latino-americano uma
prevenção contra a política linha dura americana, incitar demonstrações mais
intensas de sentimentos antiamericanos e rotular a CIA como notória
perpetradora de intrigas antidemocráticas" (cfr. site Ternuma). O
livro 1964: O Papel dos Estados
Unidos no Golpe de Estado de 31 de Março (Civilização Brasileira, Rio,
1977), da historiadora norte-americana Phyllis R. Parker, com tradução de
Carlos Nayfeld, diz textualmente, nas "Conclusões", à pg. 128: "Não há provas de que os Estados Unidos
instigaram, planejaram, dirigiram ou participaram da execução do golpe de 1964.
Cada uma dessas funções parece ter competido a Castelo Branco e seus
companheiros de farda. Ao mesmo tempo, há sugestivas evidências de que os
Estados Unidos aprovaram e apoiaram a deposição militar de Goulart quase que desde
o princípio. Os Estados Unidos reforçaram o seu apoio ao elaborar planos
militares preventivos que poderiam ter sido úteis para os conspiradores, se
houvesse surgido a necessidade". Leia, de minha autoria, Operação Brother Sam, uma operação fantasma,
disponível na Internet - http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_4429/artigo_sobre_operacao-brother-sam--uma-operacao-fantasma.
LEI
DA ANISTIA
“Para mim, foi um desastre,
porque só veio para beneficiar bandidos, terroristas, assassinos, que hoje
estão aí, donos do Brasil.
O inimigo se apropriou da
anistia que, em vez de representar esquecimento, aproximação entre contendores,
vem servindo como lei de vingança dos bandidos derrotados, contra nós que
lutamos para salvar a Nação.
Fidel Castro está até hoje
no Poder, porque matou cerca de 17 mil cubanos que se opuseram a ele. Comunista
não dá anistia! Stálin se manteve no Poder até morrer, porque matou todo mundo
que lhe era contrário. Mao Tsé-Tung, muito querido dos estudantes brasileiros
comunistas, se manteve no Poder o tempo
todo, porque matou mais de trinta milhões de chineses. Agora, a nossa
Revolução, que não matou ninguém, a não ser alguns poucos guerrilheiros durante
o longo período de vinte anos, é chamada de ‘ditadura’ e referenciada a ‘anos
de chumbo’.
Aí fica a pergunta: Não
seria melhor de tivéssemos agido como Fidel Castro, Stálin ou Mao Tsé-Tung, tão
amados pela esquerda brasileira?” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg.
275-276).
“Os políticos brasileiros
não gostam de cumprir a lei, muito menos os comuno-marxistas, que querem apenas
usufruir os benefícios da Lei da Anistia. Não aceitam que os mesmos benefícios favoreçam
outros brasileiros, igualmente nela enquadrados. Eles não conhecem o sentido da
imparcialidade. A Lei da Anistia só saiu porque o Presidente João Figueiredo
teve o próprio pai perseguido por Getúlio, e não admitia que houvesse
discriminação. Os ‘democratas’ não queriam a volta de Miguel Arraes, nem de
Brizola. Queriam uma lei de anistia restritiva, só para eles, porque tinham
medo de que, quando aqueles voltassem, assumissem o Poder. Eles, os comunistas,
estavam querendo a anistia e o Poder para eles, mas o General Figueiredo bateu
o pé e disse: ‘Não, vai ser para todo mundo’ ” (General-de-Divisão Francisco
Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 69).
“A Lei da Anistia,
esquecimento dos crimes cometidos por todos os envolvidos na ‘Lula Armada’,
permitiu o retorno e o convívio harmônico das diversas tendências. Mas nunca
foi respeitada pelos esquerdistas. Enquanto assaltantes de trens pagadores e
terroristas de ontem encastelam-se em ministérios do Governo atual, os que
cumpriram com o dever são perseguidos tenazmente. Inclusive quem não participou
de nenhuma ação, como o filho do Presidente Médici. Apesar de ser um excelente
engenheiro, até hoje não conseguiu emprego, por trazer o nome Médici. Portanto,
a Lei da Anistia, em termos de produção de efeitos – apesar da universalidade
do seu espírito – só tem beneficiado os apátridas” (General-de-Brigada Manoel
Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 93).
“Quando a Lei da Anistia
tramitava no Congresso, alguns políticos da oposição, um deles – eu não queria
citar, já morreu – foi o Ulysses Guimarães, optaram por vetar a volta de vários
políticos exilados; por exemplo, Miguel Arraes não voltaria, Leonel Brizola não
voltaria, numa clara tentativa de eliminar concorrentes para as eleições que se
aproximavam, porque esses elementos que regressava tinham peso nas urnas, eram
bons de urna, como se diz.
Próprios militantes de
esquerda, que estavam no Brasil, tentaram fazer com que a Lei da Anistia fosse
restrita.
O que aconteceu? A grande
esquerda reagiu e disse: ‘Queremos a anistia ampla, geral e irrestrita’. Era o
que se ouvia dizer e até hoje soa nos ouvidos: anistia ampla, geral e
irrestrita.
Exatamente isso era o que os
governos militares queriam. Só que os políticos não imaginavam que a anistia
ampla, geral e irrestrita também servia para os militares que participaram de
todos os movimentos, de todos os ‘entreveros’. Quando descobriram que ela
anistiava, também, os militares, ficaram decepcionados e viram que haviam caído
numa armadilha criada por eles mesmos” (Coronel Petrônio Araújo Gonçalves
Ferreira, Tomo 6, pg. 188-189).
MÉTODO
PAULO FREIRE
“Pretendia-se coletar
informações e saber qual era a profundidade da infiltração, porque constava que
o Ministério da Educação seria um dos focos da esquerda. (...) No Ministério
começamos a examinar o que havia. O Ministério estava vazio e precisávamos de
assessoramento de alguém que indicasse os donos das mesas, para que
verificássemos o que existia, mas diante deles. Não se abriu nada, não se mexeu
em nada sem a presença do responsável. Verificar as publicações, os livros, os
planos, tudo isso.
Fui destinado ao setor de
alfabetização, eis por que tomei contato com o célebre método Paulo Freire, uma
coisa simples, mas, na realidade, uma ferramenta que estava sendo usada com o
propósito de subverter. Constatamos isso por intermédio de slides e planos. O encarregado era o professor Darcy Ribeiro; um
outro professor, Oliveira Lima, escrevia observações com linguagem de esquerda,
incitamento à luta armada, material bastante esclarecedor. Identificamos,
ainda, militares, normalmente QAO, Subtenentes e Sargentos que estavam
relacionados para aplicação desse plano de alfabetização. Muitos deles nem
sabiam do que se tratava, isso depois de confirmado. O objetivo era ganhar um dinheirinho
extra. Raros eram aqueles que tinham noção da ideologia implantada dentro
daquele sistema de alfabetização. Para isso, dispunham de muitos meios: grande
quantidade de caminhonetes Rural Willys, além de projetores, tudo bem
acondicionado em caixas, para atingir os mais remotos locais.
O método Paulo Freire
selecionava as palavras, palavras simples, do vocabulário próprio do universo
da pessoa. Então, se o sujeito vivia de pesca, é natural que as palavras se
referissem àquela atividade; se ele morava na favela, referiam-se a esse
ambiente; se era do porto, referiam-se ao cenário do porto. Era uma
alfabetização, mas uma alfabetização tendenciosa e a gente via, até pelos
slides, que mostravam o trabalhador tendo que lutar contra o patrão, porque o patrão
era um miserável. Na realidade, uma doutrinação subliminar bastante eficaz,
principalmente no planejamento voltado para as crianças.
Naquela busca foram
retirados muitos dados valiosos. Em algumas mesas abertas os donos se
encabulavam porque havia lá dentro papel de jogo do bicho, essas coisas bem do
brasileiro. Alguns tinham baralho, noutras gavetas revistas de mulheres sem
muita roupa, alguns objetos familiares e até dinheiro guardado. Estes que
possuíam dinheiro, receberam com alívio as convocações.
Bem, terminado o episódio do
Ministério da Educação, uns 15 ou 20 dias depois do desencadeamento da
Revolução de 1964, foram retomadas as aulas na ECEME. Alguns colegas estavam
faltando, foram desligados da Escola, porque muitos eram ligados ao Ministro Jair.
O fato é que retomamos as aulas e terminado o curso, fui classificado em Juiz
de Fora” (General-de-Divisão Orlando Morgado, Tomo 5, pg. 76-77).
REVANCHISMO
“A cúpula federal está
constituída da fina flor do esquerdismo nacional: Fayads, Barreiros, Ustras,
Alves e Avólios estão aí para testemunhar.
Ano passado, no Sete de
Setembro, participei como comandante dos expedicionários do Batalhão Suez,
portando a mesma farda indiana que usei no Oriente Médio enquanto tenente das
forças de emergência das Nações Unidas. Estava junto com meus companheiros:
soldados, cabos, sargentos, tenentes, todos com mais de cinquenta anos. O filho
de um soldado fez uma farda indiana e desfilou na frente da tropa, conduzindo
uma pomba, simbolizando que éramos uma tropa ‘de paz’.
Quando chegou à frente do
palanque, aquele jovem que estava conduzindo a pomba a lançou para o ar e a
pombinha não voou, ficou no chão. Os jornais de Recife noticiaram: ‘O menino
que conduzia a pombinha a lançou e ela caiu, sendo quase pisoteada pelos
soldados.’
Os jornalistas que
escreveram com relação àquele fato não tiveram sensibilidade alguma para
interpretar a mensagem que a tropa lançou, porque em nenhum momento falou-se na
palavra ‘paz’ ” (Coronel Manoel da Penha Alves, Tomo 6, pg. 223).
NOVA
ORDEM MUNDIAL
“O Brasil é o único país,
dito democrático, no qual a imprensa é 100% esquerdista, e só fala a linguagem
ditada pelo partido único de todos os países comunistas.
Agora, a ameaça do outro lado também existe, e não é coisa de
agora. Os norte-americanos e seus aliados ingleses nos vêem como verdadeira
colônia, exportadora de bens primários, a preço de banana, e importadores de
tudo o mais.
(...)
Para demonstrar que esta
ameaça não é coisa de agora, volto à década de 1970. Naquela década – pouca gente
sabe disso – o Brasil encomendou, num estaleiro da Inglaterra, uma plataforma
de extração de petróleo em alto-mar. Pagou ‘uma nota’ para exploração em águas
profundas, onde está o grosso do nosso óleo. Vocês sabem em que dia os ingleses
puseram essa plataforma para navegar em direção ao Brasil? No dia da maior
tempestade no Mar do Norte. Aí, a plataforma naufragou e a Companhia de Seguros
indenizou a Petrobras, mas o naufrágio atrasou a nossa nova prospecção em mais
de três anos, com prejuízos incalculáveis para o Brasil e os brasileiros que
dependem de mais óleo diesel, de mais gasolina, de gás etc.
Um outro fato, ligado,
ainda, aos ingleses: Vamos falar da conferência do Almirante Aquino,
responsável pelo programa do submarino nuclear de nossa Marinha de Guerra,
realizada no auditório do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Contou o
almirante que uma das turbinas do submarino construídas no Brasil deveria ser
testada na Inglaterra, por falta de condições de fazê-lo no País. A turbina,
enviada para a Inglaterra, ficou lá por mais de um ano e não voltava. Foram
feitas todas as gestões possíveis para tê-la de volta, mas tudo foi em vão,
inclusive a participação, para esse fim, do Ministério das Relações Exteriores.
Após quase dois anos sem que a peça retornasse, concluiu-se que ela deveria ser
de muito boa qualidade, motivo por que os ingleses resolveram retê-la. O
referido fato fez com que a Marinha decidisse investir no processo e no
material para testar a turbina semelhante. Após um ano de trabalho e dias antes
daquela palestra, o teste da turbina, agora realizado por brasileiros, mostrou
a excelência do equipamento, exatamente como se desconfiava, pela retenção, na
Inglaterra, de turbina semelhante” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg.
277).
“A Amazônia vem-se
constituindo numa enorme preocupação. Acho que o Governo já deveria ter feito
um alerta internacional para enfatizar um basta nas intenções manifestas das
potências mundiais. Sobre essas intenções manifestas, separei algumas
declarações transcritas de um impresso distribuído pelo Clube Militar:
Margareth Thatcher, ex-Primeira-Ministra inglesa: ‘Se os países
subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas, que vendam suas riquezas,
seus territórios e suas fábricas’; Al Gore, candidato a Presidente dos EUA,
pelo Partido Democrata: ‘Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia
não é deles, mas de todos nós.’ Parece que a diferença que há entre Al Gore e
Bush, é que Bush admite que a Amazônia seja dada como pagamento da dívida externa,
e Al Gore acha que a Amazônia deve ser internacionalizada. François Mitterrand,
ex-Presidente da Frnça: ‘O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre
a Amazônia’. Pode-se, como militar, aceitar essa expressão ‘soberania
relativa’? John Major, Primeiro-Ministro da Inglaterra: ‘As nações
desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum a todo o mundo. As
campanhas ecológicas das ONGs internacionais, sobre a região da Amazônia, estão
deixando a fase propagandista para dar início à fase operacional, que pode,
definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região”
(Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 129-130).
BRASÍLIA
VIROU, DE FATO, A CAPITAL DO BRASIL GRAÇAS AOS MILITARES
Em 1964, Brasília já era a
capital do Brasil (desde 1960), porém muitos ministérios permaneciam no Rio de
Janeiro, incluindo o próprio staff do Governo Goulart.
“Embora
houvesse um escalão avançado, o próprio Jânio Quadros, quando renunciou,
segundo dizem, se sentia muito isolado lá em Brasília. Pressentiu que, de
Brasília, não governava coisa alguma. Brasília era completamente isolada. Quem
levou o Governo para Brasília foi Castello Branco. Assim, em 1964, o principal
objetivo estratégico, ainda, era a Cidade do Rio de Janeiro” (Tenente-Coronel
Moacir Véras, Tomo II, comentando por que a força revolucionária principal
partiu de Minas para o Rio, e não Brasília – assim como São Paulo, que também
se deslocou para o Rio).
“Não
podia ir a Brasília, onde se dizia serem Varig e Vasp os nomes dos bons médicos
da cidade” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 233).
O
JK VERDADEIRO
“Outros fatores se
conjugaram para a eclosão do Movimento de 1964: a inflação deixada pelo Governo
Juscelino e agravada no Governo Jango, a frustração pela renúncia de Jânio, o
panorama político-social, em crescente degenerescência etc. Costumo dizer que o
Presidente Juscelino, com a construção de Brasília – um sumidouro de dinheiro –
fundou uma cidade e afundou o País. Quando fui oficial de gabinete, espécie de
secretário do Ministro do Trabalho, algumas vezes levava despacho do ministro
para o Palácio do Catete. Vinha telefonema de lá, avisando que o presidente ia
viajar, saindo do aeroporto militar, no centro da cidade. Então, corria o
ministro para lá com o despacho, eu segurando a pasta do ministro, o avião com
as hélices rodando, já partindo, o ministro entregando os processos, e o presidente
autorizando-os, sem os ler e sem nada. Dentro daqueles processos estavam
milhões e milhões da Previdência Social, retirados dos Institutos para a
construção de Brasília. Portanto, quando se fala em crise, em rombo da
Previdência Social, em inflação, temos que voltar ao período de 1956 a 1961, no
Governo Juscelino, quando a situação se agravou. Foi o rombo antecipado da
Previdência, com o dinheiro desviado e a inflação crescente com a construção de
Brasília“Outra face visível na desordem do Governo de Jango era o descalabro da
economia do País: inflação galopante, desvios de recursos, corrupção. Se
olharmos bem a história deste País, veremos que a sua desorganização econômica
começou com o Governo JK. O Juscelino, na ânsia de tornar-se eterno no Poder,
eterno na história pátria, quis marcar a sua presença com a construção de
Brasília e utilizou criminosamente todo o dinheiro da Previdência Social, entre
outros desacertos. Quando JK deixou o Governo, Jânio quis consertar a economia,
mas, irresponsável, renunciou ao cargo de presidente e deixou para Jango a
desorganização herdada, sem força para segurar o barco. E os ‘pelegos’ tomaram
conta do Governo. Já Luís Carlos Prestes vinha dizendo que os comunistas
estavam no Governo, só lhes faltava o Poder. Aí, deu no que deu. No período
compreendido entre o final de 1963 e começo de 1964, a situação se agravava:
inflação, infiltração comunista, corrupção e , sobretudo, a deletéria ação da
esquerda, ameaçando a hierarquia e a disciplina nas Forças Armadas” (General-de-Divisão
Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 63).
“Para se ter uma idéia da
falta de patriotismo e de espírito público da maioria de nossos políticos, vou
contar um fato ocorrido em 1961, por ocasião da queda de Jânio. Estava sentado
numa cadeira, na Companhia Telefônica; no andar de baixo estava o Coronel
Montagna. A telefonista disse: ‘O Juscelino vai falar com o Jango, em Paris.’
Liguei para o Montagna e perguntei: ‘Pode autorizar?’ Autorizou. Na conversa,
ouvi o Juscelino pedir, implorar, a vinda do Jango e este dizer: ‘Eu não, vou
nada, vou nada; aquele pessoal da FAB é um bando de doidos’ – alegava medo de
ter o avião derrubado. Aí o Juscelino respondeu: ‘Rapaz, venha; o que interessa
é o PSD, PTB, o resto que se lasque.’ Quer dizer, o País à beira de uma guerra
civil e um político da estatura do Juscelino pensando em PSD e PTB. Fui
conversar com o Montagna e disse: ‘Meu Deus do céu, e o País, e a Nação?’ Isto
me marcou profundamente: a falta de caráter do homem público brasileiro” (General-de-Divisão
Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 72).
“Juscelino, já Presidente da
República, preocupado com o desenvolvimento do País e com a construção de
Brasília, entregou a área fundamental do Ministério do Trabalho e da
Previdência Social a João Goulart, que a transformou em verdadeira sinecura
político-partidária com a participação de comunistas, aproveitadores e
‘pelegos’ ” (Professor Luiz Queiroz Campos, Tomo 4, pg. 361-362).
“Muita gente pensa que as
cassações foram arbitrárias, como pegar uma lista e ir cortando nomes. Não.
Todas passaram pelo crivo dessa investigação. Tínhamos aviões da Força Aérea
Brasileira (FAB) à nossa disposição e íamos ao lugar onde o sujeito estivesse.
Sentávamos com ele e dizíamos francamente: ‘Sr. Fulano, acontece isso, isso e
isso. Queremos que o Sr. Esclareça.
Fomos buscar documentos nos
cartórios, abrimos as suas dependências para fazê-lo. Fomos buscá-la onde
existisse e, realmente, fizemos um dossiê com tempo suficiente; algumas
daquelas pessoas foram levadas à própria Escola de Comando e Estado-Maior para
um depoimento. Lembro-me muito bem dos depoimentos de pessoas ligadas ao
Presidente Juscelino, que estiveram lá. A equipe que investigava o Juscelino
organizou 17 pastas de problemas ligados ao ex-Presidente. Sabedor que as
pessoas eram chamadas para serem ouvidas, antes que o pessoal fosse ao encontro
dele para conversar, Juscelino pediu autorização e foi embora do País. Esse foi
o problema do Presidente Kubistchek” (Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5, pg.
189).
OBJETIVO
DA LUTA ARMADA
“Não
há como concordar com os críticos da Revolução, quando alegam que a
inexistência de canais para a manifestação dos opositores ao Regime provocou a
luta armada. (...)
Acima
de qualquer outra razão, o objetivo da luta armada, no campo e na cidade, era
desestabilizar o Governo, anulá-lo. A orientação vinha de Cuba, da Rússia, da
França, da Itália e do Chile. O apoio vinha da China, da Bélgica, da Itália e
da Albânia. Isso, sem dúvida nenhuma, ficou comprovado, não só na fase inicial
da Revolução, como mais tarde. Recebiam auxílio expressivo”
(General-de-Brigada Hélio Ibiapina Lima, Tomo 2, pg. 191).
“Houve
censura. Se ocorreu um movimento revolucionário armado é porque o status
anterior não era bom, nem mesmo aceitável. A Revolução estabelece e impõe um
novo Poder e ela mesmo se legaliza. Quem está contra terá que ser cerceado”
(Tenente-Coronel Moacir Véras), Tomo II, pg. 364).
ACERTOS
DA REVOLUÇÃO
“Se
reduzirmos ou eliminarmos a miséria, a ignorância, a corrupção, a exploração
política e os desníveis sociais, o comunismo morre de inanição”
(Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 188).
“Quem conheceu o País, como
conhecemos, antes de 1964, sabe que para viajar de Fortaleza para Teresina,
levava-se 24h com pernoite em Serra Grande. O Brasil transformou-se, o Brasil
mudou, com as hidrelétricas, com os portos, com as estradas, com a indústria
naval, com a indústria de ponta de fibra ótica, com os aeroportos. O Brasil era
considerado como um conjunto de ilhas populacionais isoladas. Tudo mudou neste
País: as universidades foram ampliadas, o Brasil cresceu e se transformou na
oitava economia do mundo. O brasileiro passou a confiar mais em si mesmo e a
fortalecer a vontade nacional. O novo Brasil, o Brasil do Maracanã, com o povo,
de pé, aplaudindo o Presidente Médici. O que se fez por este País não tem
preço. Agora, o pior de tudo isso é que aqueles que foram derrotados e, hoje,
encontram-se no Poder, nada fizeram. Até a Petrobras vê-se ameaçada de perder
seus avanços e conquistas tecnológicas e a sua própria nacionalidade. Se não
fosse 1964, o que seríamos hoje?” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres
de Melo, Tomo 4, pg. 65).
“Na área de infra-estrutura,
foram remodelados, para atenderem a exigências futuras, todos os portos
fluviais e marítimos, e os aeroportos; foram construídas a Ponte Rio-Niterói, a
Estrada do Aço, rodovias e ferrovias. Itaipu, que é a maior hidrelétrica do
mundo, interligada a outras usinas energéticas, como Boa Esperança e Tucuruí,
deus as condições de desenvolvimento que nos permitiram dizer, com orgulho, que
temos o maior parque industrial da América Latina. Isto se deveu a Itaipu e às
que foram citadas, construídas nos governos militares.
No campo das
telecomunicações, criou-se tudo o que ainda existe hoje. De fato, em 1964,
praticamente nada tínhamos neste setor, mas em 1974, dez anos depois, em menos
de um minuto ligávamos, por telefone da melhor qualidade, com qualquer ponto do
território nacional. Ainda no Governo do Presidente Médici, foi inaugurada a
televisão a cores, que não deixava nada a desejar em relação às melhores do
mundo. Os sistema de telecomunicações do Brasil, implantado durante os governos
militares, foi considerado empreendimento tecnológico de país desenvolvido, que
se deveu à alta qualidade dos técnicos formados pelo nosso Instituto Militar de
Engenharia (IME), entre os quais os Ministros das Comunicações, o Coronel
Higino Corsetti e o Comandante Euclides Quandt de Oliveira. Assim, o IME
tornou-se uma entidade de primeira grandeza na preparação de excelentes
profissionais técnicos, como estes que atuaram na área das comunicações.
(...) Na educação, foram
adotadas as seguintes medidas, entre várias outras: aumentar a escolarização,
da faixa dos sete aos 14 anos, que passou, entre 1970 e 1980, de 67% para
83,7%; incrementar a matrícula nas universidades, que subiu, entre 1964 e 1981,
de 100 mil para 1,3 milhão; estímulo substancial ao ensino dos 1º. e 2º. graus;
reestruturação da educação básica (1º. grau), que passou de quatro para oito
anos; estímulo e subsídios ao ensino do 3º. grau (superior), através do
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq); do Fundo de Financiamento para Estudos e
Projetos (FINEP) e da Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), de modo que, no início dos anos de 1980, já havia enorme rede de
mestrado e doutorado e a institucionalização da pesquisa.
Nos meios urbano e rural,
para atender às populações mais carentes, foram criados os Programas Nacionais
de Ações Sócio-Educativas e Culturais (PRODASEC, meio urbano; e PRONASEC, meio
rural; Programa de Expansão e Melhoria da Educação Básica do Meio Rural
(EDURAL) e Programa de Apoio às Populações Carentes da Zona Canavieira do
Nordeste (PROCANOR).
Quanto à saúde, tem-se que
atentar para a complexidade crônica do problema. Sempre houve duas estruturas:
a de saúde pública, que cuidava da medicina preventiva, e a previdenciária (dos
Institutos de Aposentadoria e Pensões), à qual cabia a medicina curativa. Já se
pode visualizar que a grande maioria do povo era excluída das condições de
tratamento de saúde. Os governos revolucionários tentaram de várias formas
unificar essas estruturas, pouco conseguindo. Criaram-se várias entidades de
saúde, com vistas a essa unificação: o Sistema nacional de Saúde, o Programa de
Interiorização das Ações de Saúde (PIASS), o Prev-Saúde, o Conselho Consultivo
de Administração Previdenciária (CONASP) e as Ações Integradas de Saúde (AIS).
Estas últimas conseguiram transferir mais recursos federais para Estados e
Municípios, aumentando os níveis de equidade e universalização dos atendimentos
e estimulando a produtividade dos órgãos de saúde em todos os níveis, criando
programações conjuntas, evitando a duplicidade de esforços.
Com relação à Assistência
Social, várias foram as iniciativas tomadas: a criação do Banco Nacional de
Habitação (BNH); o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL); o
Estatuto da Terra; implantação da Lei Orgânica da Previdência Social (aprovada
desde 1960), unificando-se a Previdência com a criação do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), que passou a atender a outras classes de
trabalhadores – empregados domésticos, jogadores de futebol, garimpeiros,
estudantes, ministros religiosos e outros; o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS), ligado à política habitacional; o Programa de Integração Social
(PIS), financiado pelas empresas privadas. O Programa de Formação do Patrimônio
do Servidor Público (PASEP), financiado pelos órgãos governamentais.
Para se ter uma noção mais
ampla de todas as realizações da Revolução de 1964, sugiro a leitura do livro
do Coronel Ivany Henrique da Silva – Heróis a Lutar – em particular o seu
Capítulo 12, que apresenta um relato completo dessas realizações (Blue Chip
Gráfica e Comunicação Ltda – Rua Cardoso Marinho, no. 18ª – 20220-370 – Santo
Cristo – Rio de Janeiro – RJ)” (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg.
125-127).
“O que aconteceu nos últimos
vinte anos, vamos dizer entre 1964 e 1984 e o que aconteceu entre 1985 e 2005
que é o mesmo período? Então, vai ser um desastre. Não fizeram nenhum porto, a
Revolução fez vinte. Não construíram nenhuma estrada, a Revolução 56 mil
quilômetros. Ergueram 2 milhões de casas, a Revolução 4 milhões. Como podem
competir? Quais são as siderúrgicas que os atuais governos instalaram? Nenhuma,
todas que existem herdaram dos governos revolucionários. Onde há um projeto
igual ao Carajás? Ah! Desenvolveram o cerrado? Negativo! O cerrado é obra
realmente do Governo autoritário. Foi ele que investiu em pesquisa para usar o
cerrado; foi ele que fez um programa com os japoneses para construir estrada
para chegar ao porto e nós estamos hoje tirando proveito disso.
(...)
A única mensagem que vou
deixar é esta: entendo ser preciso que esse período seja estudado com relativa
isenção. Diria que serão identificados alguns defeitos, alguns pecados, como
também, muitas virtudes importantes, quer na forma de administrar, de comportar-se
diante do patrimônio público, quer no processo ético completamente diferente: a
idéia de que terminou o meu mandato, tenho que ir embora. É uma diferença
fundamental, porque o civil acha isso abominável, só um idiota que, podendo
continuar no Poder, vai embora. Esse processo ético é totalmente diferente.
Então, penso que o fundamental é darmos instrumentos e estimular essa gente que
está chegando agora, que já tem apreciável distância dessa época, a qual ele
tem acesso somente pela literatura – do que aconteceu – mas que tem disposição
para aprofundar estudos e pesquisas. Então acho que teremos uma avaliação mais
positiva desse Movimento. Embora, como disse, vamos carregar alguns dos pecados
cometidos, eternamente” (Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg.
166-167).
“Nos anos da Revolução, até
Médici, o Brasil estourou todas as metas e previsões e ombreou-se com as
grandes nações; tornou-se um País em pleno desenvolvimento. A infraestrutura de
comunicações, transportes e energia subiu de patamar, resultado de uma
administração eficaz e proba, que aplicou os recursos com correção e de maneira
competente. O Brasil mudou de feição.
Vou citar só um fato:
fretes, a terceira bandeira.
Mário Andreazza, Ministro
dos Transportes, foi oportuno com a denúncia que fez sobre o Acordo dos Fretes,
pois exportávamos no navio dos outros.
Pagávamos a totalidade dos
fretes e seguros gerados por nosso comércio exterior a armadores estrangeiros.
Era uma vergonha! O Ministro deu um murro na mesa, denunciou o Acordo,
provocando, para tratar do assunto, corrida ao Brasil – foi no início da década
de 1970 – da Rainha da Inglaterra, de representantes noruegueses e outros.
Acabou a terceira bandeira,
para nós, e deslanchou a indústria naval, que não existia no País” (Coronel
Francisco Valdir Gomes, Tomo 6, pg. 138).
“No período da Revolução,
ninguém tinha medo de bandido. Andava-se pelas ruas, a pé, filhos, esposas,
para fazer visitas a qualquer hora do dia ou da noite. Não tinham carro.
Havia o quê? Algum milagre?
Não, é que naquela época havia autoridade e hoje não existe autoridade. Hoje o
bandido faz o que quer porque sabe que é impune. Ninguém o pune porque não tem
moral para punir.
E por que não tem moral?
Porque as autoridades de hoje foram os bandidos de ontem. Como punir? Que moral
elas têm? Nenhuma! (Coronel Stanley Fortes Baptista, Tomo 6, pg. 101).
ERROS
DA REVOLUÇÃO
O
AI-5 deveria ser o primeiro Ato
“Um movimento como este,
quando explode e se torna vitorioso, gera as suas próprias leis. Se foi
vitorioso e respaldado pelo povo, foi porque a ordem jurídica anterior estava
fendida e não teve forças para detê-lo, claro. Então, o Movimento de 31 de
Março tinha que gerar as suas próprias leis e seguir em frente. Mas não:
primeiro, dividiu logo a vitória com o outro lado, admitindo para
Vice-Presidente da República o Sr. José Maria Alkmin, representante da situação
deposta, Juscelino e Jango. Depois, com o Presidente Costa e Silva, a Revolução
cometeu o mesmo equívoco, indicando para vice-presidente um cidadão muito ilustre,
um cultor do Direito, o Dr. Pedro Aleixo, politicamente, entretanto, contrário
ao Movimento vitorioso. Tanto assim que se recusou a assinar o AI-5, que
deveria ter sido editado no começo da Revolução.
Exatamente porque a
Revolução não quis, ela própria, gerar as suas leis, surgiram as crises
posteriores, impondo corretivos graduais através dos primeiros Atos
Institucionais. Primeira crise, ato 1. Segunda crise, ato 2. Terceira crise,
ato 3. Na primeira eleição que se fez, deu-se a vitória do outro lado, para os
governadores do Rio de Janeiro, da Guanabara e de Minas Gerais” (Jornalista
Themístocles de Castro e Silva, Tomo 4, pg. 280).
“Pago até hoje por ter
assinado o AI-5. Quando me perguntam: ‘O senhor assinaria?’ Respondo: ‘Nas
mesmas circunstâncias, assinaria.’ Sabe, era ainda um coronel, por isso mesmo,
quando o Médici indicou meu nome para ser candidato, conta-se que, no Alto
Comando, o General Orlando Geisel disse: ‘Gosto muito do Passarinho, mas não
faço continências para coronel.’ Então a minha possível candidatura morreu ali.
(...)
Então, naquele momento em
plena reunião, assisto o quê? O Ministro do Exército, General Lira Tavares,
depois que Pedro Aleixo sugerira, apenas, o estado de sítio, toma a palavra e
diz: ‘Não é possível, o Exército não tem condições de manter a ordem no país
diante das guerrilhas que estão aí, das violências que são praticadas.’ E
exemplificava: ‘Marighela, um comunista notório, tradicional a vida inteira,
foi preso num determinado momento, antes do AI-5. Em seguida – os bacharéis em
Direito sabem melhor do que eu – entrou o habeas
corpus. Foi preso, mas três dias depois estava fora. Não havia como manter
as liberdades fundamentais para lutar contra um grupo que queria acabar com
nossa liberdade, se chegasse ao Poder.’ Por isso o AI-5 foi uma medida correta:
primeiro, porque foi uma resposta, ao contrário do que propalam – lê-se neste
mesmo livro ‘A Esquerda Armada...’ – eles adotam uma cronologia onde mostram
que isso começou em 1965, ainda no Governo Castello, com o Coronel Cardim, nome
parnasiano, Jefferson Cardim de Alencar Osório. Repetem sempre que a guerrilha
foi uma resposta ao AI-5. Não, a resposta é que foi o AI-5. (...) Quando chegou
a minha vez de falar, fui o primeiro, exceto o Vice-Presidente, a usar a expressão ‘para não chegarmos à ditadura.’ Inicialmente,
fiz o elogio da posição do Vice-Presidente, Pedro Aleixo, tentando fazê-lo
caminhar conosco, porque ele não estava numa luta contra nós, mostrava apenas
que podia haver um estágio intermediário. E, a minha frase está lá,
reproduzida, agora, pelos jornais: ‘A mim me repugna, senhor Presidente, como a
Vossa Excelência, enveredar pelo caminho da ditadura, mas se eu não tenho
alternativas, às favas os meus escrúpulos de consciência.’ Pago por isso,
repito, até hoje” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 63).
Eleição
de Castello Branco
“O que observei, lá do
Nordeste, acerca da atitude do Congresso, ao ser deflagrada a Revolução, foi o propósito de, imediatamente,
apossar-se do Governo, como acontecera, anteriormente, com a saída do Jânio e
em outras ocasiões. Não conseguindo, seguiu-se a linha da omissão. Por ocasião
da eleição do General Castello Branco à Presidência da República, tentaram até
ausentar-se, obrigando-nos, no IV Exército, a buscar cada um dos deputados e
senadores e indicar-lhes local e hora para o embarque. Eles não queriam nem
votar.
E, depois de terem votado,
começaram a abraçar o Castello [Entrevistador].
Para
o desempenho do General Castello, foi altamente negativo sua eleição ter sido
realizada pelo voto dos senadores e deputados. Eles não mereciam ter esse
privilégio. Foi o primeiro e, talvez, o maior erro da Revolução que se
iniciava” (General-de-Brigada Hélio Ibiapina Lima, Tomo 2, pg. 180-181).
“No dia 15 de abril de 1964,
o General Castello Branco assume a Presidência da República. A meu ver, por ser
um militar muito competente, mas extremamente legalista, talvez não fosse o
mais indicado para ser o primeiro presidente revolucionário. O General Castello
Branco, por seu temperamento, e fiel à legalidade, procurou dar à Revolução o
aspecto mais democrático possível, limitando-se a corrigir os fatos mais
graves, preocupado em fazer tudo de um modo pacífico, conciliando com o
Judiciário, com o Congresso” (Coronel José Antônio Bayma Kerth, Tomo 4, pg.
107).
“O Castello era um
democrata. Foi meu comandante na Escola de Estado-Maior e mantinha pressão
permanente, afirmando: ‘O Exército não pode, ao mesmo tempo, servir a dois
senhores. Ou se é militar, ou se é político, porque até juramentos podem
conflitar numa hora dessas. O Exército, se fizer política, não é mais força
armada, é milícia” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 56).
Atritos
entre castellistas e costistas
“Na
Secretaria Geral do Conselho [de Segurança Nacional], assisti ao delinear de um
conflito virulento e de consequências lamentáveis para a Revolução e para o
Exército. Foi a guerra de atrito entre o ‘grupo Costa e Silva’ e o ‘grupo
Castello Branco’. Sem economizar palavras, seus líderes odiavam-se. Portella
não tolerava os Geisel, e não tolerava o que ele chamava 'o pessoal da
Sorbonne’, que era o pessoal dos Geisel, Golbery à frente. Desse último tinha
ódio; em certa medida correspondido” (Coronel Luís de Alencar
Araripe, Tomo 2, pg. 228).
“Fizemos com que entre nós a
cizânia crescesse. A mesma que vai aparecer mais tarde, na luta entre os
chamados radicais, que vão se opor, inclusive, ao fim do chamado regime
militar, permitindo aquelas coisas que nos levaram até a uma participação em
terrorismo, como as bombas atiradas em certos lugares – a questão do Riocentro.
Aqueles fatos ocorreram, porque um grupo ainda não tinha se disposto a aceitar
a passagem do governo para a área civil” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho,
Tomo 5, pg. 59).
Prolongamento
dos governos militares
Os entrevistadores são quase
unânimes em afirmar que a Revolução durou mais do que o necessário, provocando
um grande desgaste nas Forças Armadas, principalmente no Exército. Afirmam que
o Governo Federal deveria ter sido devolvido aos civis ao final do Governo
Médici, ocasião em que os grupos terroristas estavam todos derrotados. Alguns
afirmam que isso não foi feito devido à Guerrilha do Araguaia, que ainda não
estava derrotada.
O general Leonidas afirma
que “O General Castello Branco sempre
teve como objetivo transformar o Brasil, o quanto antes, numa democracia.
Acontece que, fustigado pelos antagonistas, essa transformação demorou mais do
que devia. (...) Acho que nó cometemos dois erros, no que tange à permanência
da Revolução:
-
O primeiro, limitar o governo de Castello Branco. A Revolução estava legitimada
por si mesma, não tinha que ‘concluir outro mandato’ – hós devíamos ter
começado ‘o mandato de Castello Branco’, de seis anos, por hipótese, findos os
quais nós voltaríamos à democracia. Foi um erro que, na época, eu, um jovem
Tenente-Coronel, já dizia e comentávamos. Não se trata de um erro que eu
analiso agora – mas, repito, não nos deixaram outro caminho. O General Castello
Branco tinha verdadeira obsessão de ser considerado um ditador, não gostava
dessa situação.
-
O segundo erro foi o de prolongarmos demais a Revolução, o que nos trouxe uma
carga negativa muito grande, que é essa que nos persegue até hoje, que nos
desgastou, inclusive, na opinião pública, trabalhada pela mídia quase toda
esquerdista, que hoje nos antagoniza. Insistem em dizer que somos torturadores,
matadores etc. Esqueceram-se de que nós salvamos o Brasil”
(Tomo 1, pg. 91-92).
“A
intenção do Presidente Castello Branco era de que os Atos Institucionais
terminassem no seu governo. Queria que seu sucessor saísse de eleições normais
e passasse o governo para um civil. Inclusive, já tinha alguns nomes. Mas, na
época da transferência do governo de Castello Branco, as guerrilhas começaram,
gerando um clima difícil para a liberalização. Foram as guerrilhas, as
agressões, que, do meu ponto de vista, provocaram o prolongamento dos governos
revolucionários” (General-de-Exército Carlos de Meira Mattos,
Tomo 1, pg. 234).
“Até
o final do Governo Médici, o panorama político foi francamente favorável aos
Governos da Revolução de 1964, tanto no que diz respeito ao Congresso Nacional,
como à opinião pública.
Tal
era a maioria política no Congresso, obtida nas eleições anteriores pela ARENA,
partido governista, que muitos políticos previam, ao início do Governo Geisel,
a iminência de virmos a ficar com um partido político único nas eleições
daquele ano, à semelhança da situação do PRI no México. Adotando tais
previsões, o Governo Geisel resolveu, para as eleições do primeiro ano de seu
mandato, incentivar e ajudar politicamente o MDB, para que este partido
melhorasse numericamente sua representação no Congresso. O resultado dessas
eleições constituiu enorme surpresa para todos, pois o MDB conseguiu maioria no
Congresso. Este grave erro de apreciação política prejudicou e condicionou a
ação do Governo Geisel até o final do seu mandato” (Coronel
Helio Mendes, Tomo 1, pg. 266).
Para o jornalista
Temistocles, o erro principal foi o Movimento Revolucionário não ter editado
logo no início o AI-5.
Ditadura
ou ditabranda?
“Gostaria, agora, embora
sucintamente, de tecer um comentário sobre a relação entre o Movimento de 1964
e o Poder Judiciário. A Revolução preservou muito a Justiça, praticamente não
tocou na Justiça. Ainda hoje eu digo: na época da Revolução de 64 – nesse
período eu já era juiz – nunca um militar se dirigiu a mim dizendo que eu
julgasse desse ou daquele jeito ou dizendo a alguém que não cumprisse um
mandado de um juiz” (Desembargador Edgar Carlos de Amorim, Tomo 4, pg. 259).
“Não reformaram a Justiça,
não fizeram uma limpeza mais profunda, como deveria ter sido feita. Lembro-me,
certa ocasião, de um dos meus companheiros de turma que possuía um calhamaço de
provas sobre elementos que deveriam ser cassados, afirmava ele, com tudo
comprovado e que não o foram, porque decidiram não prosseguir.
Se a decisão foi sábia ou
não, temos que analisar, porque realmente deixou-se de fazer ‘uma limpa’ em
certos locais. Num desses locais em que estive, um dos chefes da agência do
Serviço Nacional de Informações (SNI) estava fazendo um apanhado sobre um
determinado indivíduo e me mostrou: ‘estou reunindo estas informações e é um
negócio que assusta’, porque, naquela época, o cidadão já estava metido com
drogas, lenocínio, terras, tudo que podia, ações próprias do crime organizado.
Qual não foi minha surpresa, quando ao voltar, uns poucos anos depois, uns dois
ou três anos, o tal indivíduo era o Governador do Estado. E foi indicado para a
função. Aí você vê como as coisas não conjugam, porque sempre ocorre o problema
da perseguição política. Torna-se difícil, realmente, porque o adversário
político utiliza todas as armas” (General-de-Divisão Orlando Morgado, Tomo 5,
pg. 88).
A
batalha da comunicação social foi perdida, assim como a Educação
“Nós
não só perdemos a ‘guerra da comunicação social’, como também a da educação.
Não soubemos, após ocuparmos o governo por vinte e um anos, orientar o Sistema
Educacional Brasileiro e perdemos completamente a guerra da comunicação. Se
você analisar, em quase todos os institutos de estudos superiores do Brasil,
universidades, faculdades, as facções que dominam são as da esquerda, mesmo, em
pequeno número. Esses elementos dominantes continuam praticando o
‘revanchismo’, não dando chances para quem não for do grupo deles, de esquerda”
(General-de-Exército Carlos de Meira Mattos, Tomo 1, pg. 236).
“Entendo
que não perdemos a ‘batalha da comunicação social’, simplesmente porque nunca
nos engajamos nela. Tive um colega – não citarei o nome – que disse assim: ‘A
galinha põe o ovo e canta’, mas não aprendemos isso na Escola Militar. Nós
realizamos, porque temos que realizar, porque é parte do nosso trabalho, porque
é parte da nossa profissão, porque é o nosso idela, nosso amor ao Exército,
porque faz parte do nosso amor à Pátria.
Nós
não estamos habituados a trabalhar em troca de recompensas. Acredito que a
gente pense o seguinte: ‘O meu trabalho, os outros hão de reconhecer.’ Assim
pensava o Presidente Castello Branco” (General-de-Divisão Geraldo
de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 111).
“A
batalha da comunicação social, perdida pela Revolução, começou logo nos
primeiros dias do Movimento. Castello tinha profunda aversão a qualquer idéia
de DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, da ditadura de Getúlio Vargas,
ícone de muitos libertários anti-Revolução. Os outros governos da Revolução
participavam dessa idéia, embora, com certo acanhamento, tenham divulgado suas
realizações. Mas, não cuidaram da conquista da opinião pública. No Governo
Médici, a Assessoria de Relações Públicas da Presidência da República, sob a
orientação extraordinariamente capaz do então Coronel Octávio Costa, realizou
um trabalho que lembra, mas não é igual, aos dos marqueteiros dos nossos dias.
Trabalho facilitado pelo alto desempenho da economia e pela imagem de Médici.
Os outros presidentes, por excesso de escrúpulo, não atuaram sobre a opinião
pública, deixando livre o espaço para as esquerdas, extremamente ativas, dentro
e fora do Brasil. Foi um erro fatal para a imagem da Revolução” (Coronel
Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 246).
“O Presidente Geisel iniciou
a abertura política, uma das metas do seu Governo, mesmo lutando contra algumas
resistências, e o fez muito bem. Creio que houve um erro de estratégia, porque
a abertura política começou pela imprensa, a primeira coisa foi a distensão da
imprensa, realmente o setor mais controlado. (...) Mas a liberação da imprensa,
talvez tenha sido um erro estratégico, porque todos os esquerdistas que estavam
sem poder atuar, tolhidos pela ação enérgica de repressão, correram para lá, e
lá estão até hoje. Assim, a grande mídia atual, que sempre contou com pessoal
competente, absorveu muitos desses elementos de esquerda, que continuam a fazer
jorrar sangue daquela época. Sofremos, ainda, as consequências disso”
(General-de-Exército Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 39).
“Não podemos deixar de
reconhecer que houve algumas falhas. Erro mesmo só reconheço um: perdemos a
‘guerra da comunicação social’. Os adversários da Revolução foram muito
inteligentes: infiltraram-se na Igreja, nos cursos de comunicação social e na
mídia” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg.
65-66).
Envolvimento
das Forças Armadas na repressão
“Comete-se
grandes erros ao condenar o Movimento de 1964. A posteriori, é muito fácil.
Errou o Movimento de 1964 ao entregar a repressão aos militares. Vargas não fez
isso. Entregou a repressão total à polícia, polícia civil e aos ‘cabeças
vermelhas’ ali do Morro de Santo Antônio, a famosa Polícia Especial. Fizeram
barbaridades, fizeram horrores, mas o Exército de então foi preservado. Cometemos
esse erro, envolvendo o Exército na repressão. Criamos os CODI e os DOI.
Entregamos a centralização das ações ‘na mão’ do comando unificado, construímos
essa unidade de comando. É possível que tivesse de ser feito, mas foi uma
lástima que tivesse acontecido. Pagamos até hoje por isso” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 89-90).
“Durante o período de
implantação dos DOI, era reduzido o número dos militares qualificados para
trabalhar nesse tipo de organização. E o que aconteceu? Tivemos que pedir a
contribuição da Polícia Civil, da Polícia Federal e da Polícia Militar, e isso
foi o calcanhar-de-aquiles, porque o pessoal que vinha trabalhar conosco trouxe
o mau hábito policial, isto é, bater para conseguir informação. Cabia ao condutor
do trabalho não deixar que isso acontecesse, mas nem todos estavam presentes na
hora do interrogatório de um preso. Não porque não quisessem e sim porque
estavam em outra operação, e aí, nesse caso, ocorria excesso e quando o
responsável chegava de volta, o erro já tinha sido cometido. Por isso repito,
não posso afirmar que não tenha ocorrido. Deve ter existido. Mas foi episódico,
esporádico, talvez até por força da quantidade de pessoas que atuavam dentro de
um organismo dessa natureza, para fazer interrogatórios” (Coronel Hahenderson
Vieira, Tomo 5, pg. 282).
Desprestígio
de alguns chefes militares revolucionários autênticos
“Depois da Revolução
consumada, no meu ponto de vista,
cometeu-se um engano, ao prestigiar os oficiais considerados mais prudentes,
mais moderados, em detrimento dos revolucionários autênticos. Vou citar dois
exemplos recaídos sobre oficiais cearenses: na Brigada Pára-quedista, o
Comandante de um Grupo de Artilharia, o Coronel Boaventura, oficial muito
competente – foi até secretário na ONU -, militar de grande valor intelectual e
revolucionário atuante; no Regimento Santos Dumont, o Coronel José Aragão
Cavalcante, também de grande valor profissional, revolucionário autêntico,
desde os idos de 1954. Pois bem, esses oficiais, que teriam mais tarde, papel
destacado na Revolução, ainda antes do 31 de março, haviam recebido ordem para
sequestrar o Sr. Carlos Lacerda, Governador do Rio de Janeiro [na realidade, do
Estado da Guanabara]. Ambos se recusaram a cumpri-la. Se o Lacerda tivesse sido
sequestrado, será que a Revolução ganharia a força que ganhou? Lacerda foi o
maior líder civil da Revolução, o único que tinha um discurso, uma capacidade
oratória muito convincente. Por sua brilhante inteligência, foi um político terrível, um aliado
poderosíssimo da Revolução. Aqueles dois oficiais com participação decisiva na
Revolução, logo em seguida, foram promovidos ao posto de Coronel, por
merecimento. Quando entraram no quadro de acesso para General, entretanto,
começaram a ser ultrapassados, sem qualquer justificativa mais plausível”
(Coronel José Antônio Bayma Kerth, Tomo 4, pg. 108-109).
Tortura,
a palavra mágica
“Quando o Presidente
Castello tomou conhecimento de denúncias, de que estaria havendo tortura no
Nordeste, mandou o General Geisel, imediatamente, ir até o local. De lá, foi a
Fernando de Noronha. Hoje, tenho o testemunho de uma pessoa que foi presa na
ocasião, um líder sindical petroleiro que mais tarde elegeu-se Deputado
Federal, o Mário Lima, da Bahia. Era engenheiro da Petrobras, quando eu ocupava
o cargo de superintendente da Empresa e me contou como o General Geisel foi de
absoluta correção. Encontrava-se preso lá o Arraes. Penso que posso dizer isso,
Mário Lima não vai me desmentir aqui: o Arraes chorava. Deu testemunho em
relação a um Costa e Silva, coronel, que era o comandante de Fernando de
Noronha, e que os tratou com absoluta correção e dignidade. Mário, por ter dado
esse depoimento, foi criticado pelos comunistas, porque não deveria tê-lo
feito. O ator Mário Lago, certa vez escreveu assim: ‘o comunista nunca diz que
foi bem tratado, diz que foi torturado’, para criar de pronto um problema”
(Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 67-68).
Obs.:
Hoje, a Rede Globo oferece o Troféu Mário Lago a personalidades escolhidas a
dedo. Nem é preciso dizer a que ideologia pertencem os laureados.
“A tortura veio aparecer
mais tarde. Veja que o Frota era um general de posição definida, um home de
direita; o pensamento dele era nitidamente de direita. Dizia-se sobre o Frota,
jocosamente, que, se o camarada chegasse com uma camisa ou com a gravata
vermelha, ele já o colocava no Partido Comunista, direto, tal sua rigidez; mas
não aceitava tortura, também. Não somente isso. Inclusive dava incertas nas
prisões do I Exército. O que ‘eles’ fizeram? Uma casa em Petrópolis. Nessa
casa, em Petrópolis, havia violências físicas. E um tal de Jarbas Passarinho
foi citado numa das sessões de tortura feitas com uma presa chamada Inês Etiene
Romeu, que agora deu testemunho, inclusive por escrito. Ela ouvia um camarada
dizer: ‘Olha, primeiro vocês todos que pegaram em arma serão mortos; segundo,
todos os quadros do Partido Comunista, porque são comunistas e devem ser
mortos; terceiro, esses liberais que estão infiltrados entre nós, como esse
Ministro da Educação, o Jarbas Passarinho, que é uma melancia, verde por fora
mas é vermelho por dentro.’ Eu seria o próximo. E ainda me perguntam sobre
coesão” (Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo 5, pg. 69-70).
“No DOI de São Paulo, passaram 2.541 subversivos
presos. Todos eles prestaram as suas declarações preliminares no DOI. Era um
interrogatório comum. Quando já estava pronto para ir embora do DOI, a fim de
ser conduzido ao presídio, colocávamos o preso numa sala, dávamos para ele uma
folha de papel almaço, uma caneta e dizíamos: ‘Bem, agora você vai escrever
tudo sobre a sua vida de subversão. Estão aqui o papel e o lápis’.
Fechávamos a porta, ele ficava lá, sozinho e, de
próprio punho, fazia o depoimento. Onde estão esses depoimentos originais?
Estão todos no Superior Tribunal Militar, no processo de cada um desses presos.
Qualquer pessoa bem intencionada que leia os depoimentos, facilmente vai chegar
à conclusão de que aqueles documentos nunca foram redigidos enquanto o
autor estivesse sendo torturado, ou sob pressão. A maneira como a pessoa
descreve, como escreve; a letra, a letra firme, a maneira como aborda as
questões. Qualquer um, mesmo que não seja especialista, tenho certeza, chegará
a essa conclusão.
Depois, ele ia para o inquérito policial, no
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), e confirmava o que havia dito
no DOI. Posteriormente, era levado para a Auditoria. Na Auditoria, negava tudo.
Negava e, se lembrado do que declarara antes, no DOI, alegava que falava sob
tortura.
E por que faziam isso? Bom, primeiro, porque na
Auditoria procuravam negar, é claro, para ver se a pena que iriam receber não
seria tão grande. Segundo, tinham que justificar perante a esquerda, perante
seus companheiros por que, no interrogatório do DOI, haviam entregado a
organização, denunciado seus companheiros, confessado a localização dos seus
aparelhos. E, terceiro, porque tinham certeza de que jamais seriam
reconhecidos.
Não conseguimos nunca testemunhas oculares.
Assaltavam bancos, os bancários viam, sabiam quem eram, mas, quando chamados,
não os reconheciam, não sabiam de nada, por quê? Porque os primeiros bancários
que fizeram o reconhecimento foram assassinados; ameaçados, sabiam que todos
aqueles que reconhecessem os assaltantes teriam o mesmo destino. Nunca mais
ninguém neste País quis depor contra os terroristas.
Temos também o caso da atriz e ex-Deputada Bete
Mendes, que falou tudo no DOI, prestou depoimento na Polícia, também o fez na
Auditoria e, 14 anos depois, veio a público dizer que tinha sido torturada.
(...)
Bom, como conclusão a respeito da tortura, posso
dizer que a mídia explora a tortura com estardalhado e sensacionalismo. Os
ex-terroristas procuram justificar o que confessaram, dizendo que falavam sob
tortura. Hoje o curriculum vitae
de uma pessoa é bastante valorizado quando afirma que foi torturada na época da
ditadura, como dizem. Excessos condenáveis devem ter sido cometidos pela
repressão, mas foram muito poucos, uma exceção” (Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 228-232).
Desengajamento:
hora de “desmontar do tigre”
“Já
se dava uma desmobilização grande, quando aconteceu a primeira ocorrência, em
julho de 1966, o atentado no aeroporto de Guararapes, em Recife, tentando
vitimar o candidato Costa e Silva. Morreram um almirante e um jornalista, além
da existência de vários feridos graves, entre eles, o Coronel Sylvio, mais
tarde General, que ficou com o corpo cheio de estilhaços.
Por
que eles nunca se preocuparam com a atentado de Guararapes como fazem em
relação ao Riocentro? Isso não demonstra ‘revanchismo’ [entrevistador]?
Pois
sabe o porquê? Não houve punição. O inquérito conduzido pela Aeronáutica – o
atentado ocorreu dentro do aeroporto – foi muito malfeito. Apesar disso, na
prática, soube-se quem foi o responsável. O terrorista errou ao confiar demais
no operário bombeiro que fez o dispositivo: um cano de duas polegadas, para
encher de explosivo. Visitou-o três vezes. Quando aconteceu a explosão, e os
jornais começaram a noticiar, o bombeiro apresentou-se na Aeronáutica para
confessar o que sabia, e apontou o engenheiro Ricardo Zaratinni.
Hoje,
o pessoal de esquerda tenta inocentar o Zaratinni, mas foi ele”
(General-de-Brigada Hélio Ibiapina Lima, Tomo 2, pg. 182).
“As
manchetes dos jornais de 15 de dezembro de 1970 reproduziam frases do discurso
do Chefe do Estado-Maior do Exército, General Alfredo Souto Malan, preconizando
o que chamou de ‘o desengajamento controlado das Forças Armadas de outras
atividades que não fossem as de soldado, e o advento de um Brasil democrático,
forte e livre’. Estávamos no segundo ano do Governo Médici, nos, agora,
cognominados, por importação do francês, ‘anos de chumbo’.
(...)
A
idéia do ‘desengajamento controlado foi mais tarde reproduzida por Golbery, com
o nome de ‘distensão, lenta e segura’. É a mesma coisa. Tratava-se de desmontar
do tigre, sem ser por ele devorado.
Ullysses
Guimarães, em 1964, fora co-autor de um projeto de Ato Institucional que previa
cassações por 15, em lugar de 10 anos. Em 1970, na oposição, líder do MDB,
exasperava-se: ‘Enquanto houver cachaça, samba, carnaval, mulata e campeonato
de futebol, não haverá rebelião no Brasil. O Corinthians segura mais o povo do
que a Lei de Segurança Nacional’. Existe mesmo um desabafo do ex-Capitão
Lamarca, terrorista em fuga para a Bahia: ‘Há três anos o Brasil está crescendo
a 10%, ao ano, e a esquerda foi a última a saber’. Tudo isso está registrado em
livro do brasilianista Thomas Skidmore [BRASIL – De Castello a
Tancredo, Editora Paz e Terra, 1988 – Traduzido do original em inglês The
Politics of Military Rule in Brazil – 1964-1985].
Quanto
ao cidadão comum, perguntava ele: ‘Se está dando certo, para que mudar?’; e não
se aceitava a resposta de ser quando tudo está dando certo é que é a hora de
mudar. Quando a situação está ruim, não se pode. Naquele momento, era hora de
‘desmontar do tigre’. Se deixar o tigre com fome, ele nos devora. Aliás, a
demora em desmontar vai-nos fazer perder bons nacos de carne abocanhados pelas
jaguatiricas revanchistas.
(...)
Médici,
em depoimento prestado a um jornalista, pouco antes de falecer, disse que não
teria sido viável ser sucedido por um civil, porque ainda havia a subversão.
Realmente, a guerrilha de Xambioá não havia sido debelada. Embora em História
seja difícil falar-se em hipóteses, é possível que a luta contra as esquerdas
armadas pudesse ter sido ultimada sob um presidente civil, com forças
policiais, desonerando o Exército desse ônus. Afinal, a subversão nunca
conseguiu o apoio da população, que via, na ordem, a garantia do bom estado da
economia.
O
Presidente tinha um prestígio imenso. Sua figura inspirava respeito, parecia um
grande patriarca. Que presidente arrisca-se a ir ao Estádio do Maracanã?
Nenhum, só o Médici. Pediram-lhe um palpite sobre o resultado do jogo contra a
Itália, pela decisão da Copa do Mundo de futebol de 1970, e ele acertou a
vitória do Brasil por 4 a 1. Tinha o dom que Napoleão dizia ser indispensável
aos generais: sorte.
É
preciso restaurar essas verdades, contrapondo-as ao constante fustigamento à
memória do Presidente Médici. Quanto ao desengajamento, perdeu-se a
oportunidade, e nada mais há que fazer, senão melancolicamente, registrar essa
perda” (Coronel Luís de Alencar Araripe, Tomo 2, pg. 236-237).
“O Presidente Médici durante
todo o seu mandato foi amado pelo povo, o que até adversários da Revolução
reconhecem. Só não foi amado pelos terroristas, guerrilheiros e elementos que
os apoiavam – uma minoria sem nenhuma expressão no contexto nacional. Pelo povo
trabalhador, diligente, que dá duro e ganha pouco na luta pela sobrevivência, o
Presidente Médici era muito querido.
No entanto, depois de tantos
e tão expressivos acertos, não posso deixar de consignar o seu grande e único
erro: deveria ter passado o Governo para um civil, entregaria o Governo com a
casa arruada, com o PIB crescendo a mais de 10% ao ano, com a inflação de 15%
ao ano, inflação que viera dos 400% ao ano, no tempo do incompetente Jango
Goulart; passaria a um civil, um País que se transformou totalmente naqueles
dez anos – 1964 a 1974.
Ernesto Geisel recebeu a
casa arrumada mas, como dizia o meu amigo Ministro Frota, sendo ele um
socialista disfarçado, criou 254 empresas estatais. Além disso, fez-se
acompanhar daquele que fora o ‘anjo mau’ do Castello Branco – Golbery do Couto
e Silva. O retorno do Golbery ao Governo, aquele homem que conheci coronel no
QG da ID 4 – Infantaria Divisionária da 4ª. DI -, ‘exilado’ do Rio de Janeiro e
aceito pelo meu pai em Belo Horizonte. A sua ‘expulsão’ do Rio de Janeiro teve
como causa o episódio do discurso do Coronel Bizarria Mamede, discurso que teve
uma repercussão enorme, no enterro do General Canrobert Pereira da Costa,
Presidente do Clube Militar” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 267).
“Em vez de realizar um
trabalho de peso para que a democracia fosse reforçada nas universidades,
fortalecendo a cátedra democrática, procurando penetrar nos diretórios
estudantis – todos comandados por comunistas -, dificultando, de forma
inteligente, a ação livre do MCI no ensino superior, o ‘intelectual’ Golbery
fez ao contrário, tornou a universidade uma ‘área liberada’ de todas as
correntes comunistas – marxistas, trotskistas, maoístas. Médicos, engenheiros,
professores, advogados, jornalistas etc. nas universidades do Governo, foram
formados por professores quase todos marxistas. E, ainda, inventaram a
profissão de sociólogo. O que faz um sociólogo? Tudo é um artifício para
difundir o marxismo, abertamente, e com o aval de serem diplomados” (Coronel Henrique
Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 269-270).
“Alguns elementos,
principalmente da mídia, procuram caracterizá-lo [Presidente Médici] como um
ditador impiedoso, carrasco, torturador. Muito ao contrário, era um homem
afável, de boníssimo coração e que prestou inestimável serviço ao País. Sua
popularidade era tão grande que um fato ocorrido com ele jamais aconteceu com
outra autoridade no Brasil. Ao assistir a um jogo de futebol entre o Vasco e o
Flamengo, no Rio de Janeiro, por dificuldades de trânsito, chegou uns dez
minutos depois de iniciado o jogo. Quando entrou no estádio, na Tribuna de
Honra, ao anunciarem o seu nome, todo o estádio se levantou e, de pé, o
aplaudiu entusiasticamente” (General-de-Brigada Luciano Salgado Campos, Tomo 4,
pg. 76).
“Devíamos ter entregue [o
Poder] em 1974. Deram-se mais cinco anos e depois mais seis. Estou convencido
de que a conjuntura internacional, então, já era completamente diferente e,
digamos assim, o regime militar, o regime autoritário, caiu de moda. Caiu de
moda na verdade. Foi um instrumento importante, mas produziu um cansaço. Não
tinha mais condição daquilo funcionar, principalmente depois da crise mundial
de 1982. Essa crise, digo e repito, já disse aqui, foi de tal profundidade que
se permitiu dizer o seguinte: os ‘marqueteiros’, os manipuladores de opinião,
conseguiram convencer o Brasil de que a crise era brasileira, de que a crise
era do Governo brasileiro. Quer dizer, quem levou o mundo ao default foi o Brasil, falso
absolutamente. O Brasil foi arrastado no default,
mas a crise era mundial. Eu digo, os Estados Unidos tiveram uma recessão
poderosíssima porque, veja, a taxa de juros americana era de 21%. Se falar isso
para alguém hoje...
As pessoas pensam que foi o
Gorbatchov que acabou com a União Soviética. Nada. Quem acabou com ela foi a
recessão de 1982. Em 1982 ficou claro: quebrou a Polônia, quebrou a Romênia,
quebrou a Bulgária, quebrou a União Soviética. Quer dizer, depois daquilo, a
URSS era uma máquina faltando engrenagem. O Gorbatchov só veio para completar.
Quem acabou com o mundo chamado comunista foi a recessão capitalista de 1982,
que desintegrou tudo aquilo. Uma das coisas mais fantásticas é você ver a
esquerda – claro que há exceções – na média, é de uma ignorância monumental. O
susto com a esquerda não é o seu programa, é a ignorância com que eles pensam
que vão implementar o programa. Então o que acontecia? As pessoas criticavam o
Brasil: ‘vocês viram? Estão se endividando’.
O caso brasileiro era uma
coisa... Em 1974, o Brasil tinha 12 bilhões de dólares de dívida, tinha reserva
de 6 bilhões e exportava 6 bilhões, ou seja, a dívida era um ano de exportação.
Hoje, a dívida é quatro anos de exportação, cinco anos – já foi até mais. Mas,
os países da União Soviética, que usavam a Rússia como paradigma, estavam se
endividando ainda mais e eles não tinham conhecimento disso. É uma coisa
deliciosa ler, hoje, os documentos que escreveram naqueles anos, porque mostra
que eles não tinham o menor conhecimento do que estava se passando e, na
verdade, foram adquirindo esse conhecimento ao longo desses anos” (Deputado
Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 163).
Médici,
um exemplo de cidadão e de militar
“Sempre cito um fato, para
comparar o que hoje existe por aí: certa vez, necessitávamos de aumentar o
preço da carne, que estava congelado. (...) Pois bem, havíamos congelado o
preço da carne, devido a uma dificuldade de suprimento, ‘bateu no teto’ e
tivemos que pedir para mexer no preço da carne. O Presidente ficou um pouco
triste, mas disse: ‘vou decidir isso daqui a uns dias, não quero tomar decisão
agora’. Dois dias depois me telefonou o Dr. Leitão e falou: ‘o Presidente
autorizou você a liberar o preço da carne’. Aí, fiquei curioso para saber o que
tinha havido e o Leitão me disse que ele mandara vender os bois que tinha para
não se aproveitar do aumento do preço da carne. Isso devia servir de exemplo”
(Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 158-159).
AS
OSSADAS DE PERUS
“Quando Luiza Erundina foi
prefeita de São Paulo, criou a campanha das ‘ossadas de Perus’. Todos devem
estar lembrados de que os jornais noticiavam, naquela época, nas manchetes em
primeira página e as tevês nos seus noticiários de horário nobre, o escândalo o
que chamavam de descoberta do cemitério clandestino de Perus, organizado, segundo
eles, pela ditadura em São Paulo. Fotos e vídeos mostravam corpos e mais corpos
sendo desenterrados. As manchetes estampavam que lá estavam enterrados milhares
de desaparecidos. Legistas da Universidade de Campinas (UNICAMP), liderados por
Badam Palhares, foram recrutados para auxiliar na identificação deste número
enorme de corpos de desaparecidos e que, afinal, haviam sido descobertos. A
comissão de mortos e desaparecidos elaborou uma lista e por mais que se
esforçasse, conseguiu listar 136 desaparecidos em todo o Brasil, um número
muito menor, portanto, que os milhares que dona Erundina apregoou ter
encontrado.
Em todos os cemitérios,
existe um local onde são enterrados os indigentes e também os corpos daqueles
que, após um certo período, as famílias não renovam o aluguel das covas ou dos
jazigos ou das sepulturas onde foram enterradas. Estes, na realidade, são
muitos e com o acúmulo dos anos devem chegar aos milhares. Lá nesse cemitério,
podem ser encontrados corpos de terroristas que morreram em combate e que
portavam documentos de identidade falsos/verdadeiros. Falsos, porque foram
conseguidos através de uma certidão de nascimento falsificada; verdadeiros,
porque foram fornecidos legalmente por um serviço de identificação a partir
dessa certidão falsificada. Assim, o terrorista morto em combate era enterrado
como indigente, com o nome da identidade que portava no momento do óbito, caso
a família não procurasse o corpo. Tudo feito às claras, devidamente registrado
no cemitério e, também, no inquérito policial que apurava o caso. Nunca tivemos
cemitério clandestino” (Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, Tomo 5, pg.
233-234).
A
IMPORTÂNCIA DO SNI, DOI E LEI DE SEGURANÇA NACIONAL
“O
SNI foi criado logo no início da Revolução. Foi uma iniciativa importante, pois
todos os países desenvolvidos possuíam órgãos semelhantes. O Governo não se
preparou para o combate à subversão armada, e foi perdendo terreno na luta
contra elementos treinados nas técnicas de terrorismo e de guerrilha, em Cuba,
na China e em países satélites da União Soviética. Criados no aceso da luta, a
OBAN – Operação Bandeirantes e os Destacamentos de Operações de Informações
(DOI), bem como os Centros de Operações de Defesa Interna (CODI), conseguiram
reverter a maré montante das ações armadas das esquerdas.
Ótimos
resultados foram obtidos na luta antiterrorista, com mínimo de sacrifício de
vidas, em tempo curto, algo de fazer inveja a países como a Colômbia, com
quarenta anos de guerrilha e 40% de seu território dominado pelas FARC (Fuerzas
Armadas Revolucionarias de Colômbia), para mencionar a mais importante das
forças subversivas colombianas” (Coronel Luís de Alencar
Araripe, Tomo 2, pg. 249).
“Outro
ponto em que elementos ditos revolucionários foram além das suas atribuições
diz respeito ao problema dos Centros de Operações de Defesa
Interna/Destacamento de Operações de Informações (CODI/DOI). Eles não foram
responsáveis; o erro foi colocar o Exército em missões de polícia, advindo com
isso uma deterioração dos princípios morais de nosso pessoal, porque eles foram
trabalhar com gente de outra formação. Foi um prejuízo para a oficialidade mais
jovem” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello, Tomo 3, pg. 74).
“No episódio de guerrilha e
na luta contra a subversão, acabou ocorrendo algo um pouco danoso para o
Exército. Fomos obrigados a reunir, por exemplo, nos DOI (Destacamento de
Operações de Informações), gente nossa, da Polícia Civil e da Polícia Militar.
Por isso, terminamos por adotar métodos de interrogatórios de presos, e outros,
que não nos eram comuns, mas sim à Polícia, principalmente a Polícia Civil, que
estava acostumada a lidar com esse esquema, O que, até hoje, pesa, porque é
nesta tecla que nossos adversários, sobretudo da mídia, mais batem, e
acusam-nos de tortura. Sou contra a tortura. Bater ou maltratar alguém que está
indefeso não faz parte da nossa índole, nem eu jamais faria isso. Mas reconheço
que, às vezes, foi necessária uma certa dureza, para prevenir atentados, para
descobrir, junto àqueles fanáticos que eram presos e se recusavam a falar, onde
seria o próximo ato terrorista. São exemplos, o assassínio do Soldado Mário
Kozel Filho, no II Exército, e as ações de Lamarca, entre muitos outros. Então,
era preciso executar uma busca de informações mais agressiva, sem querer
justificar a tortura, às vezes cometida, ou outro qualquer exagero”
(General-de-Exército Domingos Miguel Antonio Gazzineo, Tomo 4, pg. 39).
“O SNI é fundamental para
qualquer governo. Ninguém pode governar sem informações.
Agora, se o SNI, em algum
lugar, desviou-se de sua missão, isso não justifica ter-se acabado com ele. A
solução era adequá-lo, era o seu aprimoramento naquelas áreas, regiões ou
cidades onde o controle de suas ações houvesse detectado qualquer disfunção no
órgão.
É básico que qualquer
presidente de qualquer Estado tenha um serviço de informações que assessore.
Só para citar, a maior
democracia do mundo – os Estados Unidos – tem o FBI para assuntos internos, CIA
para assuntos externos, a NSA, que ninguém conhece e que faz qualquer negócio e
informa ao presidente. Além de tudo isso, têm um Serviço Secreto das Forças
Armadas. Aliás, as Forças Armadas de todos os países do Grupo dos Sete têm um
serviço secreto nos moldes dos norte-americanos. E todos são democracias –
Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Japão e Canadá.
Agora, aqui no Brasil,
ridicularizaram o Serviço de Informações, coisa da Rede Globo, que passou a
chamar os agentes de ‘arapongas’. Ela deu início a esse processo de
desmoralização, quando a Revolução deixou o Poder” (Coronel Henrique Carlos
Guedes, Tomo 3, pg. 273).
“A Escola Nacional de
Informações (EsNI) fazia uma seleção rigorosa do pessoal, tanto do ponto de
vista intelectual, como cultural, e mantinha intercâmbio com órgãos de
informação de vários países, como os Estados Unidos, Alemanha, França e Israel.
Os civis, que constituíam a grande maioria dos alunos, recebiam formação de
alto nível para análise de problemas internos e externos e para assessoramento
da Presidência da República” (Coronel Genivaldo Catão Torquato, Tomo 4, pg.
144).
POLÍCIA
FEDERAL – CONSIDERADO MODELO PELO CHEFE DO FBI
“Quando procuro traçar um paralelo entre o atual desempenho da Polícia
Federal, em nossos dias, e o de sua época de criação, estabelece-se uma questão
que remete à própria reorganização da Polícia Federal. Foi com absoluta
prioridade que o Presidente Castello nos deu a missão de reestruturá-la,
tornando-a, efetivamente, capaz de atuar no âmbito nacional. Até então, estava
restrita ao Distrito Federal, em nível de polícia estadual. Percebia-se a
necessidade de um instrumento operacional, em nível federal, vale dizer, de
nível mais alto. É essa a colocação piramidal dos serviços de segurança pública
num Estado nacional, como o Brasil.
O
Governo deveria dispor de uma autoridade com liberdade de ação no nível
operacional, processante, isto é, responsável por seus atos, enquanto que um
Serviço de Inteligência, como o SNI, fizesse avaliações, estimativas. (...)
A
missão ficou a nosso cargo, com plena liberdade para a realização desse
propósito, que se traduziu no Projeto de Lei da Polícia Federal e pela segunda
vez – a primeira foi o Projeto do SNI, de julho a agosto de 1964 – foi invocado
o Parágrafo Único do Artigo 4º. do Ato Institucional no. 1, que previa o prazo
de 30 dias para a apreciação pelo Congresso de projetos de relevância do
Governo. Vejam a importância atribuída a esses dois institutos. Solicitou-se ao
relator, Deputado Peracchi Barcelos, que o projeto não sofresse emendas, o que
aconteceu. Logo no segundo dia de tramitação foram apresentadas 109 emendas,
107 das quais de uma só origem, dos advogados da H. Stern. Por quê? Porque um
dos propósitos da Polícia Federal, previstos na sua reorganização, era reprimir
os ilícitos penais contra os interesses da União e, no caso dessa Firma, o
contrabando e o descaminho de pedras preciosas e ouro.
Criamos
duas Divisões, uma de repressão ao contrabando e descaminho e outra de polícia
fazendária. Em uma exposição que fiz sobre a nova Polícia Federal, o projeto
foi considerado modelar pelo FBI, na expressão do próprio Diretor, Sr. J. Edgar
Hoover, no seu Gabinete, em julho de 1965, quando fui convidado para conhecer a
estrutura do FBI e da CIA. Ele teve a humildade de dizer que esta era a
organização dos seus sonhos. Perguntei-lhe, por que, estando há 40 anos na
direção, não realizara algo semelhante, e ele respondeu que, ao contrário do
que se possa imaginar, os americanos são muito conservadores. Muitas ações que constitucionalmente
são da alçada da Polícia Federal estão sendo executadas por outras entidades,
que as assumiram, à medida que as necessidades foram exigindo.
Conto
esse fato para valorizar o Governo de 1964, na medida em que deu prioridade e
garantiu a realização da nova estrutura. A característica dessa Polícia Federal
foi a descentralização em superintendências que cobrem todas as áreas do
território nacional. Como lembrei há pouco, não tínhamos nem como falar com a
Amazônia Ocidental, a não ser através de contrabandistas. A Direção Central, em
Brasília, coordenaria todas as atividades, através das superintendências, cujo
número seria variável, consoante a evolução da conjuntura nacional ou regional.
A
minha inspiração foram as mesmas idéias que depois geraram o Decreto-Lei 200.
Conheci-as no trabalho com o Hélio Beltrão, no Governo da Guanabara, em 1961.
Basicamente, centraliza a direção e o controle, mas descentraliza a execução,
proporcionando, assim, uma dinâmica operacional extremamente flexível e eficaz.
Essa
organização, depois de implantada, produziu excepcionais resultados durante
décadas. Lamentavelmente, com profunda tristeza de minha parte, esta pirâmide
tão bem concebida, fundada, inclusive, na Constituição de 1967, vem sendo
dilapidada. As 14 atribuições foram retiradas da Constituição de 1988.
(...)
Acho
totalmente inconcebível e incompreensível que esse patrimônio de 1964,
incluindo o próprio SNI, venha sendo desmontado, enquanto o próprio FBI, com o
consentimento do Governo Federal, instalou uma agência em Brasília. Faço
questão de deixar registrado que é com profunda mágoa que vejo o FBI
imiscuir-se em nossas atividades, por solicitação do nosso próprio Governo”
(Coronel Amerino Raposo Filho, Tomo 2, pg. 289-290).
ÁREA
LIBERADA PARA O MCI
“O Sr. João Amazonas, do PC
do B, iludiu vários jovens, sobretudo universitários, e os jogou dentro dessa
área, com o objetivo primordial e deliberado de formar uma ‘área liberada’ para
o movimento comunista internacional, que fosse reconhecida pelos países da
cortina de ferro, os países comunistas da Europa Centro-Oriental. Essa região
de selva, de mata densa, de fácil transporte fluvial, rica de alimentos,
permitindo adequada sobrevivência, foi criteriosamente selecionada para ações
de guerrilha, com a finalidade já indicada. E quem eram esses guerrilheiros? Jovens
enganados, explorados pelos arroubos de sua juventude, orientados na ilusão de
que iriam salvar o Brasil, e, assim, foram mandados para lá. Envidaram todos os
esforços e adotaram todos os métodos e processos para que a área não fosse
descoberta, nem conhecidas suas intenções pelas autoridades constituídas. As
Forças Armadas, que eles tachavam de repressivas, por um acaso e por uma sorte,
descobriram a área e o que lá se passava, antes que fosse tarde demais, antes
que eles dominassem o lugar e o ocupassem à maneira militar” (Coronel Genivaldo
Catão Torquato, Tomo 4, pg. 149).
“ANOS
DE CHUMBO”
“Apraz-me
recordar uma figura pela qual tenho muito apreço, um intelectual de primeira
grandeza, de raras qualidades intelectuais, que é o Roberto de Oliveira Campos.
Ao receber o ‘fardão’ da Academia Brasileira de Letras, alude exatamente isso:
‘Dizem
que fui ministro do governo dos ‘anos de chumbo’, que sempre apoiei o governo
dos ‘anos de chumbo’. Quero testemunhar, afirmar – e ele, com aquela eloquência
peculiar, que estou procurando mais ou menos reproduzir, mas saiu em todos os
jornais – o seguinte: hoje põem na conta dos ‘anos de chumbo’ uma ou duas
centenas de cadáveres, vamos dizer mais do que uma centena de cadáveres. Eu os
prefiro aos ‘anos de aço’ dos regimes comunistas, que têm, para exibir, milhões
de defuntos, milhões de mortos, não porque tivessem protestado com arma na mão,
mas porque, simplesmente, tivessem tentado escrever contra o regime’ ” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 117-118).
“Os próprios tribunais
militares absolviam réus políticos. Não estou nem criticando os tribunais,
porque os processos, muitas vezes, não continham provas cabais, provas
contundentes, por falta de empenho em ir até as últimas consequências contra os
criminosos. Mas é uma demonstração de que não tínhamos uma ditadura e nem
vivemos ‘anos de chumbo’ “ (Coronel Everton da Paixão Curado Fleury, Tomo 3,
pg. 237).
A
IGREJA CATÓLICA E OS PADRES DE PASSEATA
“Aproveito
para lembrar que no dia 7 de setembro, em Pelotas, Dom Chemello – religioso de
alta hierarquia da Igreja – não quis rezar a missa da Independência, que
normalmente é celebrada, dizendo que ‘o Brasil não era um País independente’. E
ele está aí, Dom Chemello.
Essa
é a parte da Igreja de passeata, os ‘progressistas’; esses homens são
deletérios, mas estão aí” (General-de-Brigada Ruy Leal Campello –
Tomo 3, pg. 75-76).
“A Igreja, em 1964, estava
do nosso lado, sem nenhuma dúvida, com raras exceções, como a de um padre que
foi preso pela Polícia do Exército, por estar à frente de um ‘grupo dos onze’,
organização criada pelo Brizola, para atuar em prol da revolução que pretendiam
realizar. Mas a Igreja, em peso, estava do nosso lado. Mudou depois, quando
para cá vieram padres estrangeiros, a maioria proveniente de um seminário na
Bélgica. Essa gente chegou mostrando claramente que se posicionava contra nós
militares.
Com eles, aparece Leonardo
Boff, com a tal Teologia da Libertação, já conhecida na Bélgica, que se volta
contra tudo que a Igreja tradicional – a Igreja Católica Apostólica Romana –
ensinara até então” (Coronel Henrique Carlos Guedes, Tomo 3, pg. 255).
“Até que um dia recebemos
ordens para construir – eu não, o Erasmo Dias, que era o Secretário de
Segurança – uma prisão especial para eles, em São Paulo. Fui procurado até por
um bispo, a mando de Dom Evaristo Arns, para examinar as condições da prisão.
Juntos, eu e o Erasmo mostramos-lhe a prisão, percorremos todas as
dependências, muito boa prisão, de muito respeito à pessoa humana, até que fiz
uma pergunta:
- Senhor bispo, nunca vi o
senhor ou qualquer outro padre rezando no túmulo do Capitão Mendes, que teve a
sua cabeça esmagada pelo Lamarca e seu bando. Por que o senhor não reza pela
alma do Capitão Mendes?
- Não, os senhor me entenda,
as nossas missas são comunitárias – respondeu.
- E quando é missa ara
comunista, é individual? – perguntei.
Ele calou-se. Então, é
preciso que a Igreja se posicione em busca de Deus e não das coisas terrenas”
(General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 61-62).
“Verificamos que na própria
Igreja, Dom Eugênio Sales, que considero um santo, queria afastar todos os padres
da política; mas, do outro lado, havia um Dom Evaristo Arns, que só celebrava
missa quando morria um subversivo. Aqui mesmo, em Fortaleza, tivemos um
arcebispo que nunca celebrou missa na páscoa dos militares; por fim, havia um
padre, em Minas Gerais, cujo carro portava o adesivo OPTEI (o ‘O’ azul e o ‘PT’
vermelho), quer dizer, petista” (Tenente-Coronel Murilo Walderk Menezes de
Serpa, Tomo 4, pg. 204).
O
padre Alípio de Freitas
“O Comandante do 15º. RI,
assim que soube da eclosão do Movimento, em Minas Gerais, comandado pelo
General Olympio Mourão Filho, reuniu os oficiais e disse que, a partir daquele
momento, o Regimento estava em estado revolucionário e, ainda, perguntou quais
os oficiais que aderiam ao Movimento.
Somente dois oficiais
ficaram a favor do governo: um capitão comandante de Companhia e o veterinário.
O comandante, de imediato, deu ordem de prisão a eles.
Passado o impacto inicial,
começaram a aparecer os comícios dirigidos por organizações esquerdistas; para
um deles veio o conhecido subversivo Padre Alípio de Freitas, que seria um dos
oradores do comício na Praça 1817, em João Pessoa.
Ele era padre mesmo e era
português, se não me engano.
O coronel convocou a equipe
de segurança para prendê-lo.
Terminado o comício, o Padre
Alípio e alguns dirigentes da esquerda foram para um restaurante próximo da
praça; o Coronel D’Ávila Mello entrou comigo, com o Tenente R/2 Protásio e dois
sargentos da 2ª. Seção e, dirigindo-se à mesa onde estavam os dirigentes
esquerdistas, deu voz de prisão ao Padre Alípio.
Os esquerdistas tentaram
levantar-se, mas o padre pediu que eles permanecessem quietos.
Ele foi recolhido ao quartel
e posteriormente seguiu para o Sul.
Obs.: O
Padre Alípio é considerado o autor intelectual do atentado terrorista no
Aeroporto de Guararapes, em 1966, quando foram assassinados um almirante e um
jornalista, e 15 pessoas ficaram gravemente feridas. Pela sua ação anticristã,
foi indenizado em mais de R$ 1 milhão pela comissão dos desaparecidos e
aparecidos, criada no governo FHC. Sobre
o assunto, leia, de minha autoria, Ação Plpular – A ala terrorista da Igreja
Católica - http://wikiterrorismobrasil.blogspot.com/2012/09/acao-popular-ala-terrorista-oriunda-da.html
O
padre e a menina
“Da parte do clero,
observava-se o começo da ideologização, intensificada mais tarde.
Lembro-me até de um fato.
Havia um padre, professor da Escola de Filosofia [em Caxias do Sul, RS], que
causava grandes problemas por suas tendências esquerdistas. Conseguimos nos
livrar dele, simplesmente porque, depois de 1964, se estabeleceu barreiras nas
estradas para o Rio de Janeiro. Ali passava a BR-116 e, certo dia, um cabo, com
uma metralhadora, mandou parar um fusca que não obedeceu. Felizmente, o cabo
não feriu ninguém, mas fez o Fusca parar. Esse padre estava dentro do carro.
Desceu do mesmo uma menina, estudante, semidespida. Aí, o cabo, muito vivo,
fotografou. Depois, não tomei mais conhecimento, por ser problema do Comando.
Parece que essa fotografia foi mostrada para o Bispo, que disse: ‘Tira esse
cara daqui’. E acabou o problema (Tenente-Coronel Ivan Pontes Laydner, Tomo 5,
pg. 304).
Capucho
vermelho
“Movimento sindical não
havia [em Ijuí, RS], mas existia uma universidade dos padres capuchinhos que,
naquela ocasião – comentávamos muito no quartel – atuava como se fosse um
sindicato. Defendiam tremendamente a esquerda e o golpe de esquerda. Depois,
prestei vestibular para essa Universidade, fiz um período de filosofia,
confirmando que era mesmo de esquerda e conduzida pelos padres capuchinhos”
(Coronel Antônio Oswaldo de Mello Carneiro Lacerda, Tomo 6, pg. 203).
A
CARNE É FRACA...
“Nos locais onde servi não
me lembro de mulher presa, mas existia na Fortaleza de São João, no Rio, onde
fiz bastante contato, pela necessidade de deslocamentos para lá. Não sei o
número.
E esse era um outro problema
que se criava, seriíssimo. Companheiros, tenentes como eu, comentavam: as
presas se despiam na frente dos oficiais, como provocação. O camarada tinha de
fazer uma revista, em determinada hora, e quando chegava lá ela estava
totalmente nua, justamente para provocar.
Na Fortaleza de São João era
proibido um oficial ir sozinho visitar o local onde estavam as mulheres, tinha
que ser em dupla, ou três, porque a carne é fraca e ficava a mulher se atirando
para cima dele, podia acontecer algo...” (Coronel Antônio Oswaldo de Mello Carneiro
Lacerda, Tomo 6, pg. 209).
FRENTE BRASILEIRA DE INFORMAÇÕES (FBI)
“Fidel Castro não aceitava
desempenhar um papel secundário no desenvolvimento da revolução comunista
mundial e voltou-se para a Argélia. Os dois países programaram para 20 de julho
de 1965, na abertura da Conferência Afro-Asiática, o anúncio do projeto
revolucionário cubano-argelino. Na véspera, porém, desse evento, Bem Bella foi
deposto. Em 17 de junho, quem chega à Argéilia? O embaixador argelino no
Brasil, acompanhado do ex-Governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Na Argélia,
Arraes queria obter recursos que permitiriam, em ligação com Márcio Moreira
Alves – esse jovem que se declara nosso amigo, mas que era um subversivo e fez
uma propaganda tremenda contra o Brasil – criar e sustentar uma Frente
Brasileira de Informações, uma organização criada para denegrir, aos olhos do
mundo, o nosso País, em especial as nossas Forças Armadas, por intermédio de um
plano que, em sua concepção, visava, numa segunda fase, a tomada do Poder
através da luta armada, tarefa do Movimento Popular de Libertação, por eles
mesmos criado” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg.
113-114).
Obs.:
Sobre o assunto, leia, de
minha autoria, Frente Brasileira de Informações - http://resistenciamilitar.blogspot.com/2015/04/frente-brasileira-de-informacoes-front.html
A
TRICONTINENTAL E A ORGANIZAÇÃO LATINO-AMERICANA DE SOLIDARIEDADE (OLAS)
“É preciso considerar também
que, entre 3 e 15 de janeiro de 1966, realizou-se em Havana a primeira
conferência de solidariedade dos povos da África, Ásia e América Latina, mais
conhecida como Tricontinental. Nessa conferência, a tônica foi a defesa da luta
armada, desde o discurso inicial do Presidente de Cuba até o discurso de
encerramento de Fidel Castro. Ao término da Tricontinental e por proposta do
Allende, que já tinha sido eleito Presidente do Chile, foi criada, pelos países
latino-americanos que haviam participado, a Organização Latino-Americana de
Solidariedade (OLAS), cujo propósito era unir, coordenar e estimular a luta
contra o imperialismo norte-americano. Essa sigla, como é sabido, em espanhol
significa ondas. O que se pretendia com essa organização era inundar a América
Latina com imensos vagalhões de luta armada” (General-de-Divisão Agnaldo Del
Nero Augusto, Tomo 5, pg. 115).
GRUPOS
TERRORISTAS ATUANTES NO BRASIL
“Na
hora de dar chocolate, não se dá tiro; na hora de dar tiro, não se dá chocolate”
(dito popular, citado pelo general Leonidas)
A esquerda repete, ad nauseam, que lutou contra o Governo
Militar, contra a ditadura, para a volta da democracia. Essa é uma deslavada
mentira que não se sustenta, pois a ideologia que todos eles professavam era a
ideologia comunista, que nada tem de democrático, e buscavam apoio em países
totalitários, como União Soviética, Tchecoslováquia, Cuba, China, Albânia.
Outra mentira cantada em
prosa e verso pela esquerda é afirmar que as ações dos grupos terroristas de
esquerda foi uma reação à edição do AI-5, em 13 de dezembro de 1968. Basta
tomar conhecimento das dezenas de ações terroristas desencadeadas durante todo
o ano de 1968 para ver que isso é mentira. Além da reverberação do movimento
estudantil, principalmente em maio de 1968, tanto em Paris, nos EUA, como no
Brasil, o aumento substancial do número de grupos terroristas se deveu ao
objetivo da OLAS, ocorrido em Cuba em 1967, de criar vários “Vietnãs” em toda a
América Latina. Com a morte de Che Guevara, na Bolívia, em 1967, muito
estudante também queria ser um novo Guevara.
Esses grupos terroristas
tinham sido formados na China, na URSS, em Cuba, na Albânia e outros países
comunistas da Europa Oriental. No entanto, satanizam a Operação Condor, que foi
apenas uma resposta à agressão comunista, como lembra o general Leonidas: “Nos dias de hoje ficam aí falando da
célebre ‘Operação Condor’. Sempre digo, é uma lei antiga, de física, que ‘a
toda ação corresponde uma reação igual em sentido contrário’ e, dessa forma,
respondo a essa pergunta. Se a orientação e o apoio dessas operações vinham de
fora – vinham da Rússia e da China, via Cuba ou Uruguai – enfim, era um
movimento internacional integrado, o que há de estranho no fato de o Cone Sul
se reunir para colocar um ‘basta’ a isso, com troca de informações, já que
todos eram atingidos? Então, isso é um verdadeiro absurdo, é um desses outros
clichês que a mídia cria para nos ofender, até hoje, sem nenhuma razão” (Tomo
1, pg. 92).
“A
luta armada foi uma opção da esquerda, que rompeu com a linha do Partido
Comunista Brasileiro (PCB) – a linha adotada pelos velhos comunistas, como Luís
Carlos Prestes -, que queriam tomar o Poder através de ações subversivas. Já,
os apóstolos da luta armada buscaram a destruição do Estado e do Exército, por
meio do emprego da violência como único caminho para a tomada do Poder,
contando com considerável apoio externo, principalmente de Cuba e da China
comunista.
Na
página 96, do livro A Esquerda Armada no Brasil, o ex-Sargento José Ronaldo
Tavares de Lira diz textualmente:
‘Nós,
os sargentos, que nos organizamos depois do golpe, juntamente com os operários
e estudantes, optamos imediatamente pela luta armada, pois estávamos
convencidos de que aquele regime não poderia ser derrubado de outra forma.
Com
esse propósito, o grupo organizado iniciou reuniões de estudos políticos e
aprofundou a questão da luta armada, tratando de conhecer melhor os processos
revolucionários armados de outros povos.
Simultaneamente
ao estudo político, o grupo iniciou também a sua preparação militar,
naturalmente mais intensa para os elementos civis incorporados, isto é, os
operários e estudantes’.
No
mesmo livro, na página 109, Carlos Marighella diz que: ‘O Objetivo dos
revolucionários brasileiros é a subversão do atual regime militar e, por
conseguinte, a derrubada da ditadura instalada no Brasil.’
Mesmo
antes da Revolução, em Minas Gerais, por exemplo, a Polícia apreendeu o Plano
Revolucionário do Partido Comunista para o movimento que ele faria eclodir, em
curto prazo, mas que foi totalmente aniquilado pela Revolução de Março. Desse
documento, constam as seguintes recomendações sobre o processo de neutralizar a
ação das Forças Armadas, nos quartéis ou nos navios:
‘É
necessário, no plano de ação, regular todos os pormenores. Cada oficial
suspeito à revolução deverá ter um agentes responsável pela sua eliminação.
Essa eliminação terá que ser executada, na hora prescrita, sob pena de morte do
responsável por ela.
Quanto aos sargentos, é
preciso fazer a ficha de todos os que puderem prejudicar o movimento, pelo seu
prestígio na tropa, pela sua inteligência e coragem, para que sejam incluídos
no plano de eliminação’ ” (General-de-Exército Heitor Furtado Arnizaut de
Mattos, Tomo III, pg. 35-36).
“No dia 7 de setembro de
1967, em frente à Igreja do Carmo [em Fortaleza, CE], por onde transcorria o
desfile militar do Dia da Pátria, um grupo de estudantes, liderados por
conhecidos comunistas locais, surgiu em passeata agressiva e desrespeitosa à
data, invadiu a igreja e enrolou a imagem de Nossa Senhora com um pano preto,
em sinal de protesto. Era um ato grotesco que intentava provocar a reação da
tropa e a criação de vítimas, a serem, em seguida, exploradas. Mas a tropa,
orientada e bem comandada, não aceitou a provocação, não reagiu, e o desfile
prosseguiu. Este fato mostra o início da escalada da violência ideológica que
evoluiu para o terrorismo generalizado, para as guerrilhas, e no todo, para a luta
armada, provocando o endurecimento da Lei de Segurança Nacional, com a
promulgação do AI-5” (General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira
Neto, Tomo 4, pg. 91-92).
Fazenda Nova Aurora
“A agitação ficou por conta
da descoberta, nessa época, de uma fazenda no Norte do Paraná, Fazenda Nova
Aurora, onde o pessoal que já estava muito conhecido no Rio e em São Paulo, que
estava sendo procurado por assalto a banco e outras ações terroristas, se
refugiava.
Veio a informação do Centro
de Informações do Exército (CIE).
[A fazenda ficava na área de
segurança do 1º. Batalhão de Fronteira, em Foz do Iguaçu, PR].
Veio a ordem – não sei de
quem, naturalmente do Comandante da 5ª. Região Militar (5ª. RM), que deve tê-la
recebido do Ministro – para cercarmos a fazenda e prendermos quem estivesse lá.
A missão foi cumprida, com uma Companhia.
Houve entrevero, troca de
tiros, mas ninguém se feriu. Eles não se entregaram assim muito fácil, mas
também não foi complicado.
Foram presas cerca de 12 a
15 pessoas e conduzidas para o 1º. B Fron.
Apreendemos armas, munição,
panfletos, tudo o mais; depois, no inquérito, as armas foram todas filmadas,
fotografadas, com munição etc.
Acabaram condenados pela
Auditoria, alguns com penas maiores do que outros” (Coronel Júlio Roberto Cerdá
Mendes, Tomo 6, pg. 163).
Operação
Pintassilgo
“Já em maio de 1964, o PCB
iniciou a sua rearticulação e, nas reuniões, discutiam as causas do fracasso da
linha política, acirrando a luta interna entre os radicais e os moderados do
partido. Em junho, foi a vez do PC do B reunir-se e decidir partir para a luta
armada. Mais rapidamente do que as esquerdas marxista-leninistas, haveriam de
se articular os subversivos e inconformados políticos, que tinham fugido, a sua
maioria, para o Uruguai. Sob a liderança de Brizola, montam uma ação que ficou
conhecida como ‘operação pintassilgo’. Ele previa o ataque a diversos quartéis,
a tomada da Base Aérea de Canoas, no Rio Grande do Sul, e o bombardeio do
Palácio Piratini. Com a prisão, em novembro de 1964, do Capitão Aviador Alfredo
Ribeiro Daudt, todos os planos dessa operação caíram nas mãos da polícia e ela
foi abortada.
(...)
Ainda sobre Ribeiro Daudt,
ele estava preso no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e foi levado
para a 6ª. Companhia de PE (Polícia do Exército) em Porto Alegre, porque
achavam que teria maior segurança. Muito bem, ele fugiu de lá. O oficial de
serviço (Oficial de Dia) do dia em que fugiu era o Sr. Carlos Lamarca”
(General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 111).
POLOP
e a “Guerrilha de Copacabana”
“Lembramos que, antes de
1964, tínhamos atuando no País, cinco organizações subversivas: o PCB; o PC do
B; a Organização Revolucionária Marxista – POLOP; o Partido Revolucionário
Trotskista (PORT) e a Ação Popular (AP). Cinco organizações antes da Revolução
de 1964. Com exceção as prisões efetuadas logo após a Revolução, atingindo os
líderes e os agitadores mais conhecidos, as novas organizações quase não foram
afetadas. A polícia não possuía um serviço de informações bem estruturado,
tanto que já em abril de 1964, a POLOP iniciava a organização de um núcleo
guerrilheiro. Pouco afeito a ações clandestinas, seus militantes foram presos,
e a pretensa guerrilha da POLOP desarticulada no nascedouro. Como seus
militantes eram, na quase totalidade, residentes na Zona Sul no Rio, essa ação
ficou conhecida como Guerrilha de Copacabana. As notícias dessa pretensa
guerrilha, contudo, serviram para atrair para a POLOP setores radicais da
esquerda” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 110).
Frente
Popular de Libertação
“Em janeiro de 1965, e sob a
liderança de Brizola, foi criada no Uruguai uma Frente Popular de Libertação.
Recebeu adesão de militantes do PCB, do PORT, do PC do B e da AP. Em março,
decidiram desencadear um plano revolucionário. O comando das operações a ser
desenvolvido no Sul foi dado ao ex-Coronel do Exército, comunista Jefferson
Cardim de Alencar Osório. Os ditos revolucionários haviam adentrado o Estado do
Paraná, na ocasião em que os presidentes do Brasil e do Paraguai inaugurariam a
Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu. É interessante o comentário, porque os
caras vinham fazer uma revolução e esqueceram de arrumar a viatura e foram de
táxi. Invadiram o Brasil de táxi! Depois, um tal de Zebinho arrumou um
‘ford-de-bigode’ e foram até não sei onde. Muito interessantes essas
trapalhadas do Brizola. Como os presidentes do Brasil e do Paraguai iam
inaugurar a Ponte da Amizade em Foz do Iguaçu, foi dada ordem para que esses
elementos fossem obstados de chegar lá, fossem detidos. E nessas escaramuças, o
Jefferson Cardim, fardado de coronel, fez um sinal para a viatura com tropas
que se aproximava – tinha colocado seus homens na beirada da estrada – e armou
uma emboscada. Lamentavelmente, aconteceu a primeira vítima fatal, o 3º. Sargento
Carlos Argemiro Camargo, da Companhia de Infantaria de Francisco Beltrão.
Infelizmente, quando comandei a Região, sofri um acidente, não pude ir a
Francisco Beltrão para prestar a minha homenagem ao Camargo”
(General-de-Divisão Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 112).
Atentado terrorista no
Aeroporto de Guararapes
“Em 31 de março de 1966,
tiveram início os atos terroristas, com a violenta explosão no prédio dos
Correios, no Recife, próximo ao Parque 13 de Maio, onde havia uma aglomeração
de estudantes, particularmente, para comemoração do segundo aniversário da
Revolução – naquela época ainda se comemorava o aniversário da Revolução.
Deu-se, ainda, uma segunda explosão na residência do Comandante do IV Exército
(sem maior gravidade0 e foi encontrada um bomba falhada na Câmara Municipal,
onde ocorrera uma sessão solene – também se fazia sessão solene – comemorativa
do aniversário da Revolução. Cinquenta dias depois, foram lançados coquetéis
molotov contra a Assembléia Legislativa. No dia 25 de julho, uma série de três
bombas voltou a sacudir Recife, uma das quais no aeroporto de Guararapes. Esta
última provocou a morte de duas pessoas, um jornalista de um almirante
reformado, e ferimento em outras 15 pessoas, três das quais gravemente,
inclusive um guarda-civil que teve uma das pernas amputada. Apenas o acaso,
representado pela pane do avião que transportaria o Marechal Costa e Silva –
candidato a presidente – até o Recife, evitou uma tragédia de maiores
proporções com aquele atentado. No aeroporto, informaram que o General não
viria de avião, e sim de carro, deslocando-se direto para a sede da SUDENE
(Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que era seu destino final,
em Recife. A aglomeração já estava se desfazendo e por isso o atentado não provocou
uma tragédia de maiores proporções” (General-de-Divisão Agnaldo Del Nero
Augusto, Tomo 5, pg. 113).
Ação
Popular
“A Igreja estava envolvida
por esse grupo – Ação Popular (AP) – que, mais tarde, veio pontificar na
Teologia da Libertação, que chamo de Sociologia da Libertação, condenada pelo
Papa atual, mas seguida ainda por eles. Através de um documento – conto no meu
livro ‘Na Planície’ – mostro a reação de bispos brasileiros que viram como Dom
Padim, o principal encarregado da Juventude Universitária Católica (JUC),
estava possivelmente sendo iludido. Aparecem nesse protesto Dom Scherer, Porto
Alegre; Dom Agnelo Rossi, Ribeirão Preto; o Cardeal do Rio de Janeiro Dom
Eugênio Sales. E aparece, também, um do Pará, Dom Alberto, o qual era arcebispo
de Belém. Esses foram os primeiros que reagiram, mostrando inclusive como já
estava ocorrendo a cooptação do grupo de universitários católicos para aquela
Ação Popular.
Na Ação Popular (AP),
famosa, são reconhecidos como seus membros, notáveis homens do Governo atual.
Paulo Renato, o Ministro da Educação, José Serra, outros mais etc. Todos
pertenciam à AP. A AP era um movimento da esquerda católica não comunista.
Depois, no decorrer das guerrilhas, transformou-se na APML – Ação Popular
Marxista-Leninista. Pegaram o Padre Henrique Vaz, que era o cérebro, e o
chutaram; despediram esse camarada logo. Isso tudo aconteceu antes de 1964,
quando discutiam em Belo Horizonte o quer seria o manifesto da Ação Popular,
infiltrando-se, portanto, na Igreja” (Senador Jarbas Gonçalves Passarinho, Tomo
5, pg. 52-53).
Guerrilha
do Triângulo Mineiro
“Nós não vivíamos a
plenitude democrática, mas também não seria lícito afirmar-se que o País vivia
em uma ditadura. No máximo, um regime autoritário. Tanto é assim que o
jornalista Flávio Tavares foi preso por sua ação na chamada ‘Guerrilha do
Triângulo Mineiro’, que ele foi organizar, após aprovação do Brizola.
Apresentando-se como ‘Dr. Falcão’, Flávio Tavares reuniu-se com meia dúzia de
pessoas no consultório de um dentista que desejava fazer a revolução na região.
Preso Flávio Tavares,
Hermano Alves apressou-se a denunciar ‘uma escalada contra a imprensa’. Para
ele, a imprensa, pela sua livre operação no noticiário e no comentário, estaria
a acelerar a perda de substância do Poder Militar. O jornalista Castello Branco
assim comentou esse período: ‘... é interessante notar que Hermano Alves, ao
não reconhecer as atividades subversivas de Flávio Tavares, admitia a livre
operação da imprensa no regime que taxava de ditatorial” (Genera-de-Divisão
Agnaldo Del Nero Augusto, Tomo 5, pg. 118).
[ENUMERAR OS GRUPOS TERRORISTAS MAIS IMPORTANTES]
LIGAS
CAMPONESAS DE FRANCISCO JULIÃO
“As
Ligas Camponesas foram criadas em 1958 por Francisco Julião. Até 1961, a
proposta ressaltada por Julião era decididamente correta, pois recomendava a
utilização de instrumentos legais para reivindicar, organizar e atribuía papel
privilegiado aos advogados. Em 1961, já existiam federações das Ligas em dez
Estados e foi fundado o Conselho Nacional das Ligas Camponesas, com
representação em 13 estados. Mas, nesse ano, Julião visita Cuba e de lá retorna
com o pensamento impregando pelas ideias locais. Abandona a orientação seguida
até então e passa a pregar uma concepção socialista coletivizante de reforma
agrária, passando as Ligas a representarem os focos de atração do movimento
camponês. Julião se manifesta, nacionalmente, através das Ligas e, em 1963,
procura ampliar a ação das mesmas criando o Movimento Unificado da Revolução
Brasileira (MURB), que englobaria, numa frente única, os setores radicais da
subversão. Embora Julião mantivesse estreitas ligações com o PCB, o seu
movimento inspirava-se nas ideias da China Popular e de Cuba. Já em 1962, no
dia 21 de abril, lançava, em Ouro Preto, o Movimento Revolucionário Tiradentes
(MRT) e pregava a reforma agrária, ‘na lei ou na marra’. Comprou fazendas e
nelas instalou campos de treinamento de guerrilhas. Essa maneira de agir veio
enfraquecer o movimento das Ligas. O MURB contava com o apoio de elementos
treinados em Cuba, na União Soviética e na República Popular da China e poderia
ter-se transformado em executor de uma ação armada de guerrilha rural de vulto,
não fora o Movimento de 1964.
Em
outubro de 1961, foi lançada, em Goiânia, a Frente de Libertação Nacional, sob
a liderança dos governadores estaduais Leonel Brizola, Mauro Borges e Miguel
Arraes, e de Francisco Julião; Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves e várias
outras pessoas, escolhidas para mascarar a nítida orientação comunista, estavam
presentes. A Frente era uma tentativa de
formação de uma frente única, de caráter amplo, inspirada no nacionalismo e
fundamentada nos motivos de emancipação econômica do País. Ressurgia, assim,
até com semelhança no nome, a Frente Democrática de Libertação Nacional,
lançada por Prestes em 1950, por intermédio do Manifesto de Agosto, coo é
conhecido. A Frente não era inteiramente ligada ao PCB, porque nela
predominavam as tendências chinesa e cubana” (General-de-Exército
Sebastião José Ramos de Castro, Tomo 1, pg. 120-121).
“Francisco Julião esteve em
Cuba, fez curso de guerrilha rural, e todos nós sabíamos disso. Peguei essa
fase em 1961, 1962, aqui em Pernambuco, quando aconteceu aquela greve geral dos
estudantes secundaristas, em 1961, e o Governo Federal mobilizou tropas do
Exército.
Do Rio de Janeiro veio a
tropa para-quedista, veio tropa da Marinha, e tropa da Paraíba...
A greve geram foi estimulada
por quem? Pelos ativistas comunistas e teve todo o apoio do Governo do Estado,
que não mobilizou a Polícia para reprimi-la. O Exército é que foi para a rua
acabar com a greve” (Coronel Clidenor de Moura Lima, Tomo 6, pg. 116).
“As ligas camponesas, aqui
no Nordeste, particularmente na Paraíba e em Pernambuco, faziam, talvez, pior
do que o MST de hoje, porque ameaçavam diretamente com invasões armadas e
apregoavam o apoio que recebiam de Cuba.
Sabíamos que era real, não era sonho, porque tínhamos informações e conhecíamos
perfeitamente o mecanismo que usavam. Isso nos preocupava profundamente, a tal
ponto de o comandante da Base Aérea – o Coronel Hipólito, que também
participava dessas reuniões – querer derrubar o avião do Jango, aproveitando-se
de uma viagem dele para apoiar as ‘Ligas Camponesas’, na Paraíba. Mais calmos,
o comandante do 23º. BC, eu e o Dr. Armando Falcão convencemo-l0 de que aquilo
era inoportuno, já que o Sr. João Goulart, depois, seria endeusado”
(Tenente-Coronel Idalécio Nogueira Diógenes, Tomo 4, pg. 179).
“Posso dizer que as ‘Ligas
Camponesas’ e os ‘grupos dos onze’, na verdade, foram blefes. Eram usados pela
imprensa, faziam estardalhaço, mas sentir a existência... e a ação... Não houve
nenhuma, absolutamente. Apenas no interior de Goiás foram apreendidos uns
caixotes com armas que eram destinadas ao ‘grupo dos onze’, mas o pessoal fugiu
e nunca mais apareceu. Havia um oficial amigo do Jango, Coronel Seixas,
responsável pela repressão, e que, ao invés de mandar aquelas armas para o
Exército, enviou para a Presidência da República. As armas tinham vindo de
Cuba” Coronel Renato Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 256).
“A partir desses quatro ou
cinco dias após o 31 de março, começaram a ocorrer aqui alguns inquéritos.
Prenderam muitas pessoas envolvidas com terrorismo, outras com guerrilhas e corrupção.
Trabalhei num inquérito do Banco do Brasil. Também participei, nesse período,
até o final do ano, da prisão do Francisco Julião. Muito inteligente, nunca
tentou esconder nada, sempre se confessou esquerdista, comunista convicto, e
que não iria mudar a posição dele. Era uma conversa muito interessante. Durante
um serviço que tirei no Batalhão, Como oficial de dia, solicitou a Bíblia,
porque não tivera tido oportunidade, na vida, de ler o Livro Sagrado” (Coronel
Carlos Fernando Freitas Almeida, Tomo 5, pg. 293).
“Existia um médico comunista
em Goiânia que reuniu um pessoal das ‘Ligas Camponesas’ e começou a marcar as
portas e janelas das casas daqueles que concordavam com a Revolução e não eram
a favor do comunismo. Isso aconteceu antes e nos primeiros momentos após o 31
de Março; esse pessoal, dizia-se na cidade de Goiânia, seria fuzilado!”
(Coronel Gabriel Antônio Duarte Ribeiro, Tomo 6, pg. 82).
“Na Paraíba, o Governador
Pedro Gondim não era de confiança dos militares, em virtude de suas atitudes
populistas; os integrantes das Ligas Camponesas faziam passeatas armados de
foices, principalmente nas cidades próximas das usinas (de açúcar); os
portuários, também, em Cabedelo, faziam comícios agressivos, procuravam o apoio
das Ligas do Francisco Julião.
Se um militar chegasse
fardado na região portuária de Cabedelo, eles mostravam seu desapreço, eram
acintosos.
(...)
Antes da Revolução de Março
de 1964, houve casos de invasão de usinas. Em Goiana, PE, redundou na morte de
empregados e policiais, assassinados pelos camponeses revoltados.
A cidade de Cabedelo, PB,
foi invadida por camponeses armados que ocuparam até prédios públicos, como a
prefeitura; o povo se escondeu daquela massa, isso a cerca de 18 km de João
Pessoa” (Coronel Expedito Bandeira de Araújo, Tomo 6, pg. 154-155).
“O senhor tem conhecimento
de alguma atividade que estaria prevista par o dia 1º. de maio de 1964?
Aqui em Recife, um desfile
das célebres ‘Ligas Camponesas’ e de trabalhadores rurais. Já existia até
uniforme: um macacão, faltando apenas um bordado que seria colocado na lapela,
estampando a foice e o martelo. Estive com esse uniforme em minhas mãos.
Como chegou às suas mãos?
Por ser intendente, conhecia
o pessoal que fabricou o macacão. Não me lembro do nome da firma, da confecção
que os fez, mas localizava-se na Rua da Matriz; não sei se apenas ela” (Coronel
Clycio D’Azevedo, Tomo 6, pg. 145).
PÁRA-QUEDISTA
É INDISCIPLINADO. PALAVRA DE GENERAL.
“Aproveito esta ocasião para
prestar uma outra homenagem, ao General de Exército Ednardo D’Ávila Mello. Como
capitão e major, servindo na Vila Militar, no 26º. Pqdt, em nossa guerreira
Brigada de Infantaria Pára-Quedista, visitava comumente o General D’Ávila em
sua residência no Rio de Janeiro. Unia-me ao general por laços fraternos. O
estimado Chefe tinha sido praticamente punido – episódio do suicídio do
Wladimir Herzog, em São Paulo -, manchado o seu nome para o resto da vida como
‘torturador’.
Indisciplinado, major
para-quedista, como todos aqueles malucos que comigo serviam, visitando o
general, disse:
- General, o senhor não quer
que a gente faça alguma coisa? Levante o dedo que iremos fazer algo pelo
senhor.
- Penha Alves, você é meu
amigo, mas tem um péssimo defeito: é para-quedista e para-quedista é
indisciplinado – respondeu ele. – Volte para o seu quartel e diga aos seus
colegas para tratarem da sua vida militar, adestrando nossos soldados,
executando saltos de para-quedas. Tenho todos os motivos do mundo para estar
ressentido com a minha Força, mas não vou mexer um dedo para acabar com a
coesão. Assisti à divisão dos comandantes, aqui na Vila Militar, no período
pré-revolucionário, e o João Goulart teve um mérito imenso para a Revolução:
permitiu que a Força, que estava com algumas dissidências, se unisse. Foi o
catalisador, embora contrário o nós.
E, o general concluiu:
- Não seria eu que destruiria
essa coesão” (Coronel Manoel da Penha Alves, Tomo 6, pg. 220).
O
PROJETO RONDON NASCEU NA ECEME
“Depois
que o Movimento eclodiu, o Mamede [General Bizarria Mamede] afastou-se da
Escola de Estado-Maior e foi substituído pelo [General] João Bina Machado, que
foi muito carinhoso comigo. Era um grande homem, um grande General, muito
preocupado com as áreas estudantis, com as áreas universitárias. Fez-me ‘peça
de manobra’ do plano dele, de aproximar-se dos estudantes. Por isso, fui seu
conferencista, por todo o território nacional, divulgando os propósitos do
Movimento militar de 1964. Dessa forma, atuei como propagandista na compreensão
das razões do Movimento militar de 1964. Andei pelo Rio Grande do Sul, por Mato
Grosso, pelo Nordeste, por toda parte.
No
Rio de Janeiro, o Bina Machado teve a coragem de encontrar-se com os estudantes
do famoso CACO Livre (Diretório da Faculdade Nacional de Direito) na Escola de
Estado-Maior, e nos colocou a debater com os estudantes de Direito, no
auditório da Escola, no antigo auditório, aquele maior, que até hoje está lá.
Eu debatia com os estudantes, mas era uma tarefa extremamente ingrata.
Estávamos lá, basicamente, o Sérgio Pasquali, o Ney Eichler e eu, que era
aquele a quem ele mais acionava. Discuti, debati muito e é quase inacreditável
que o Bina Machado tenha conseguido, realmente, algum sucesso. No fim, ele
falava. Os estudantes reconheciam alguma coisa. Saíam irredutíveis, mas reconhecendo ser uma boa
aproximação. Havia um ponto de contato.
Depois,
o Bina ‘inventou’ um simpósio para aproximar os meios estudantis militares e os
meios estudantis civis. Imaginou um Simpósio de Educação e Segurança Nacional.
O Bina fazia isso com muita coragem, em plena Revolução, nos seus primeiros
tempos, tempos de enormes incompreensões.
Quando
o Simpósio aconteceu, no princípio do Governo Castello, o Comandante já era o
General Reynaldo Mello de Almeida, grande companheiro, que se fez solidário com
o seu antecessor, embora não estivesse muito de acordo com aquele arrojo. Estávamos
reunidos na Escola de Estado-Maior, professores civis e militares, de vários
níveis, do Colégio Militar, da Academia Militar e das várias universidades.
Nesse Simpósio nasceu a idéia do Projeto Rondon.
(...)
O
Seminário prosseguiu e nele nasceu o Projeto Rondon, que foi uma idéia do
Professor Wilson Choeri – hoje diretor do Colégio Pedro II – mais tarde apoiado
por um oficial de Cavalaria, e, depois, pelo Coronel Pasquale. Graças ao apoio
do Ministro Affonso de Albuquerque Lima, conseguiram viabilizar o Projeto, que
se tornou um grande êxito. Hoje, ainda existe com um outro nome” (General-de-Divisão
Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 69-71).
“Depois de terem estudado o
trabalho elaborado pelos grupos [da ECEME], fizemos uma reunião antes que
fossem apresentados a cada grupo e passassem a discutir, a debater as idéias
levantadas a respeito do Exército e da sociedade brasileira. O professor
Schoeri, mais ou menos refletindo a idéia de todos, disse o seguinte:
- Vocês têm uma oportunidade
extraordinária de conhecer o Brasil e a sociedade brasileira. Vocês perdem as
características regionais. Vocês não são mais gaúchos, cariocas, paraibanos.
Vocês passam a ser brasileiros, porque são constantemente transferidos, têm
filhos em diferentes lugares do Brasil, casam com uma mulher de outra região e
passam a ser brasileiros. Vocês têm uma visão de Brasil diferente da nossa.
Precisávamos fazer com que os civis corressem o Brasil e buscassem as outras
realidades de nossa terra.
- É uma idéia muito
interessante, vou levar esse problema ao General Bina – respondi ao Schoeri.
Comentei a idéia com o
General Bina, que me disse:
- Olha, Pasquali, vamos
fazer uma experiência, começar a levar estudantes universitários para conhecer
os outros brasis.
Sentamo-nos com o Schoeri e
elaboramos um projeto que foi chamado de Projeto Rondon, em homenagem ao
Marechal Rondon, um dos desbravadores do País, homem que percorreu todos os
brasis e procurou inserir, particularmente, o índio na sociedade brasileira.
Criado esses novo Projeto, nós, junto com a Universidade do Estado da Guanabara
– mudara o Comando para o General Reynaldo Mello de Almeida, que o apoiou
totalmente, e ainda autorizou alguns oficiais a se juntarem à Universidade – preparamos
um grupo de alunos para mandar para a Amazônia.
Foi o nascimento. Conheci o
Weber (Coronel Carlos Aloysio Weber) que estava comandando o 5º. Batalhão de
Construção (5º. BEC) – primeiro comandante do 5º. BEC – recém instalado em
Porto Velho. Liguei-me com ele, autorizado pelo General. Perguntei se podia
receber uns trinta estudantes de várias universidades do Rio, para um trabalho
junto àquela população pobre da região onde ele estava construindo a estrada de
rodagem para substituir a Madeira-Mamoré (era a Guajará-Mirim/Porto Velho). O
Weber, um sujeito extraordinário, topou. (...)
Houve um episódio
interessante que deve ser registrado. Precisávamos de um avião para transportar
o pessoal. Solicitamos ao Coronel Mauro Costa Rodrigues, do Gabinete do Ministro,
para ver se conseguia um avião. O Chefe do Gabinete do Ministro era o General
Frota (Sylvio Couto Coelho da Frota). Quando ele soube do pedido, pelo Mauro,
proibiu, Não queria o envolvimento com estudantes. Estudante fazia greve, fazia
muita confusão. Não queria que o Exército se misturasse com isso e, assim,
perdemos o apoio governamental, veja que coisa absurda.
Fomos, então, nesse dia, bem
tarde da noite, à casa do General Albuquerque Lima (Affonso Augusto de
Albuquerque Lima), que era Ministro do Interior, e expusemos a ele – que nos
recebeu até de robe – a idéia. Resposta: ‘Negativo, eu assumo isso. Vocês levem
essa turma amanhã ao meu Ministério’.
Telefonou, mandou vir um
avião do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) para o Rio de
Janeiro e disse para o diretor do Departamento: ‘Esse avião vai ficar à minha
disposição durante bastante tempo, fará duas viagens a Rondônia para levar
estudantes’.
No outro dia, recebeu a
garotada toda e os professores lá no Ministério, que era localizado onde hoje é
o Museu do Índio, e fez uma exposição belíssima. A garotada se entusiasmou
sobre a Amazônia e essa foi a origem do Projeto Rondon. Foi a ‘operação zero’ ”
(Coronel Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5, pg. 191-192).
“Com o Hélio Beltrão, redigimos
um decreto cirando o órgão de administração direta dentro do Ministério do
Interior: Projeto Rondon. O Mauro veio a Brasília com a garotada que já o
estava ajudando voluntariamente. Assistiram ao Presidente assinar o Decreto,
criando o Rondon, e o Rondon deslanchou. Isso é uma paralela que enfeita muito
essa narrativa, pelo valor que entendo ele teve no sentido de proporcionar a
350 mil estudantes brasileiros a oportunidade de conhecer os outros brasis,
diferentes daqueles onde estudavam, onde tinham nascido.
(...)
E conseguimos fazer tudo
isso praticamente sem recursos. Por exemplo, a Viação Aérea de São Paulo (VASP)
nos doou quatro aviões. Um cidadão de Santa Catarina – não me lembro, agora, o
nome – doou um avião, um DC3. A Transbrasil doou um DC3. Eu tinha uma frota de
aviões, mas era uma frota de aviões que não havia custado nada, porque fora
doada.
Para a doação da VASP, fui
com o Costa Cavalcante a São Paulo. A VASP fez uma cerimônia, entregou os
últimos DC3 e todas as peças, desse avião, que mantinha em estoque. Deixamos os
DC3 no Campo dos Afonsos, no Rio, para serem pilotados pelos oficiais da FAB.
Havia um oficial da FAB no Conselho e ele fazia a escala de pilotos para os
DC3, distribuindo horas de voo para o pessoal – o aviador precisa voar. Contratamos
apenas três mecânicos aposentados da PANAIR e da própria FAB para cuidarem da
parte mecânica dos aviões. Pergunta óbvia: ‘E o combustível para as aeronaves?’
A Petrobras fornecia. Tínhamos um cartãozinho. Parava num posto da Petrobras,
num aeroporto qualquer, e abastecia de graça” (Coronel Sérgio Mário Pasquali,
Tomo 5, pg. 199-201).
SERVIÇO
NACIONAL DE INFORMAÇÕES – SNI
O General Octávio Pereira da
Costa faz afirmações categóricas sobre o comunismo, com ares de um pensador, de
um filósofo. Defende que se debata com um marxista, desde que ele não passe a
usar meios violentos para obter os fins desejados. Ora, não há possibilidade de
um democrata discutir com marxistas, nazistas ou fascistas, face aos bárbaros
crimes contra a humanidade que essas ideologias cometeram. Achar que possa
haver um comunista com “cara humana” é o mesmo que procurar virgens em casa de
prostituição.
“Penso que é um ponto de
vista perfeitamente razoável ser antimarxista, mas, também penso, ser
compreensível que alguém seja marxista. Se existe alguém que seja marxista,
querendo expor suas idéias, e não desejando usar meios violentos, devo,
democraticamente, aceitar.
A intoxicação foi de tal
ordem que, entre nós, entre nossos companheiros, uma quantidade imensa de
pessoas admitiu que ser democrata era ser exclusivamente anticomunista. Até
hoje isso existe. Companheiros extraordinários que tive, peças importantíssimas
ao longo do regime militar, acreditavam que ser democrata é ser anticomunista.
Não é bem assim, praticar a democracia é também admitir que alguém possa pensar
em termos marxistas-leninistas.
Além disso, não podemos
deixar de aceitar que, se o marxismo gerou um regime monstruoso como o
stalinismo soviético, a pior das ditaduras, o marxismo também contribuiu para a
evolução social da humanidade. As democracias sociais europeias, o próprio
trabalhismo, tudo isso foi, um pouco, resultante das idéias marxistas, apenas
levadas como idéias, dessa forma contribuindo para a evolução do trabalhismo,
das relações entre patrão e empregado, e dos regimes democráticos. Pensar que
ser democrata é ser, exclusivamente, anticomunista, não passa de verdadeiro
barbarismo” (General-de-Divisão Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 68).
Pelo visto, os estudantes do
CACO foram bastante convincentes, ao expor suas idéias marxistas ao General
Octávio...
O General Octávio também faz
severas críticas ao SNI. Apesar de reconhecer a importância de um órgão de
informações, necessário em qualquer tipo de governo, tece críticas ao Órgão,
principalmente a partir do Governo Médici:
“Nenhuma
instituição vive sem um órgão de informações, seja ela militar, política ou
empresarial. Tem que haver órgão de informações; mas a exacerbação da
informação e a intensa utilização política desses órgão geram distorções. A
malha de informações foi de grande extensão. O País foi ocupado pelo Exército,
no tempo de Médici, sendo Ministro o Orlando Geisel. Depois, foi ocupado pelo
SNI. Tudo era SNI. Os melhores cargos dentro das Forças Armadas destinavam-se
aos egressos do Serviço Nacional de Informações. Criaram-se agências por todo o
País.
Todos
os governantes eram escolhidos com o, que ‘sinal verde’ do SNI. Isso não é
regime militar, é muito mais do que regime militar. Diria, numa expressão que
tenho a coragem de citar aqui: ‘foi um criptogoverno, ou seja, o governo
invisível, o governo da informação, governo no qual ninguém fazia nada sem o
aval do órgão de informação’. Essa situação começou ainda no Governo Médici,
com o General Fontoura; aumentou com o Figueiredo, que era o homem da total
confiança do Geisel, e que ampliou o SNI, cedendo-lhe meios poderosíssimos.
Havia até fábrica dentro do SNI (a ‘Prólogo’, que fabricava criptógrafos).
Possuía serviço de saúde próprio. Desfrutava de muitos privilégios.
Chegou-se
ao paroxismo, no próprio Governo Figueiredo. O Medeiros, Chefe do SNI, era como
se fosse irmão do Figueiredo, ambos egressos do próprio Serviço Nacional de
Informações, que, já tendo produzido dois presidentes, por que não fazer o
terceiro? Seria seguir a ordem natural das coisas, e o SNI chegaria a fazer o
terceiro.
Digo
e reafirmo, e repetirei à exaustão: fomos além do militarismo, chegamos ao
absurdo de 21 anos de militarismo, e, afinal, à exacerbação de um
criptogoverno, ou seja, o governo do primado dos órgãos de informações, o
governo do poder invisível. Não havia qualquer transparência no Governo, de
fora não se sabia nada do que poderia acontecer”
(General-de-Divisão Octávio Pereira da Costa, Tomo 2, pg. 86-87).
Divisão
de Segurança de Informações (DSI)
“Essas DSI e, também, as
Agências de Segurança de Informações, no interior dos ministérios, eram órgãos
lotados por pessoal do SNI. Trabalhei no SNI de 1979, quando fui para a
reserva, até 1988. Inicialmente, em Salvador e, a partir de 1984, na agência central,
em Brasília. Esse pessoal era de uma valia extraordinária, porque pertenciam
aos quadros do SNI. A gente tinha conhecimento real de tudo que se passava no
País através dos ministérios; algumas agências de autarquias, da Petrobras, por
exemplo, eram muito importantes. Isso, naturalmente, permitiu que o Governo
identificasse e prevenisse problemas. Mas o Collor acabou com tudo. Depois,
houve até uma tentativa, que não foi iniciativa do SNI, mas de alguns
ministros, de tentar reativá-las, porque os próprios titulares passaram a se
sentir mal-informados, sem saberem do que acontecia nos próprios ministérios.
(...)
Vou tomar a Petrobras como
exemplo. Até a existência da DSI, não se tem notícia de falcatrua na empresa.
Depois que foi extinta a DSI, volta e meia a Petrobras está no noticiário”
(Tenente-Coronel Ivan Pontes Laydner, Tomo 5, pg. 308-309).
“Naquela época, estavam em
moda os congressos. Fizeram um congresso estudantil em Ibiúna, São Paulo, em
1968.
É um marco muito importante:
1968.
A polícia localizou e
prendeu setecentos e tantos estudantes de nível universitário.
Lá ocorreu de tudo. Era uma
depravação. Valeu tudo. Choveu. Um descalabro. Eu estava em Brasília, chefiando
a Seção de Operações da Agência, quando fomos avisados dessas prisões pela
Agência de São Paulo.
No dia seguinte, cedo, fui
com um tenente, que era um excelente fotógrafo, para São Paulo. Fizemos contato
com o DOPS. Era o Romeu Tuma, depois
Senador, no começo de carreira. Encontrei-me com ele e falei:
- Quero fotografar todos os
participantes do congresso em Ibiúna.
- Não precisa – disse ele –
um sargento da Marinha está fazendo tudo isso.
- Que tipo de fotografia
você está fazendo? – perguntei ao sargento.
- 3 x 4 – respondeu.
Voltei a fazer contato com o
Doutor Tuma e falei:
- Doutro Tuma, não quero
fotografia para identidade. Quero fotografia para identificação do pessoal,
porque são eles que vamos enfrentar daqui a um ou dois anos. Eu quero
fotografia de corpo inteiro, de frente e de perfil. Quero fazer essas
fotografias lá no Presídio Tiradentes.
Fui para lá com o tenente e
fotografei todos eles, cerca de setecentos e cinquenta; e dos líderes fizemos slides.
Lembro-me de que, naquela
época, estavam lá o atual Ministro Serra, o Dirceu, Presidente do PT, tem um do
PC do B (Partido Comunista do Brasil), de Goiás, Aldo Arantes; por sinal, este
quis bancar o valente, não queria tirar a fotografia.
Fizemos umas medidas na
parede, onde o cidadão se encostava para que tivéssemos uma ideia de altura e
tipo físico – detalha importante para a área de informações.
Montamos um álbum para cada
Secretaria de Segurança, como todos eles – 21 Estados da Federação e
Territórios” (Coronel Clidenor de Moura Lima, Tomo 6, pg. 127-128).
O
MILAGRE BRASILEIRO E O AI-5
“Lembro-me muito bem do
Delfim dizer, com a idéia do: ‘agora ponho a economia do País para crescer’,
porque baixou os Atos que antes não poderia baixar, dependia de lei. Então,
utilizando o Decreto-Lei, começamos a viver o ‘milagre brasileiro’ ” (Coronel
Sérgio Mário Pasquali, Tomo 5, pg. 199).
A
MÍDIA, UNIVESIDADES, REDE GLOBO ETC.
“Os
objetivos dos meios de comunicação social são políticos, ideológicos e
comerciais, enquanto o objetivo dos militares se restringe à defesa da Pátria e
à vivência dos valores espirituais, morais e éticos da nacionalidade, que
jamais poderão morrer” (Coronel Luciano Moreira de Souza, Tomo 4, pg. 120).
“A
mídia é um capítulo à parte. Está sempre voltada para o detentor das grandes
promoções, das grandes propagandas, dos grandes recursos.
A
Rede Globo de Televisão foi muito apoiada pela Revolução. Os laços de amizade
do Roberto Marinho com o Figueiredo vêm desde a época em que este era tenente,
quando o Roberto ia cavalgar na Escola Militar do Realengo.
(...)
A
Rede Globo era o Roberto Marinho, razão por que digo Rede Globo. Ela se
beneficiou de um acordo feito com uma empresa americana – não me recordo agora
o nome – para trazer material de televisão. Recebeu, era necessário, o aval do
ministro das Comunicações. Então, a Rede Globo foi beneficiária da Revolução e
o Roberto Marinho retribuía com elogios à mesma” (General-de-Divisão
Geraldo de Araújo Ferreira Braga, Tomo 2, pg. 107).
A empresa americana a que se
refere o General Braga é a Time-Life – cfr. http://memoriaglobo.globo.com/acusacoes-falsas/caso-time-life.htm
“Quando (cursava a Escola de
Estado-Maior), perguntei a um amigo instrutor de Comunicação Social, na época,
Tenente-Coronel Alceste Guanabarino, da minha turma, já falecido, por que
Roberto Marinho deixava que os esquerdistas se infiltrassem em seu jornal. Ele
me respondeu que conversando com o empresário que visitava o Comando do I
Exército, ele afirmara que quem sabe fazer jornalismo era o pessoal de
esquerda, o que não podia deixar de ser considerado pela direção de um jornal.
O senhor Roberto Marinho é
um dos grandes males deste País, na minha opinião” (Coronel Henrique Carlos
Guedes, Tomo 3, pg. 258).
“Uma nação que não honra
seus vultos históricos, que não respeita as suas tradições e não reverencia seu
passado de lutas, pode desaparecer. É o que está acontecendo hoje: um caderno,
feito pela TV Globo, com a pretensão de livro de História, diz o seguinte:
‘Vários movimentos de liberdade foram abafados por homem chamado Luís Alves de
Lima e Silva, a quem deram, de favor, o título de Duque de Caxias’. Querem
desfigurar a imagem de Caxias, que lutou pela unidade nacional e, como
extensão, aviltar as Forças Armadas” (General-de-Divisão Francisco Batista
Torres de Melo, Tomo 4, pg. 71).
“Minha filha – dou meu
testemunho – que era estudante do Curso de Serviço Social na Universidade
Estadual do Ceará – onde, durante vários anos, fui professor da cadeira de
História do Ceará – numa ocasião, disse-me: ‘Paizinho, muitas pessoas pensam
que o senhor é um algoz, que o senhor maltrata as pessoas’. Quer dizer, esses
meninos, esses jovens têm uma visão totalmente distorcida da realidade”
(Tenente-Coronel José Carneiro da Cunha, Tomo 4, pg. 215).
“Quando Lula foi candidato,
a federação de jornalistas, pela primeira vez, fez uma pesquisa: quase 80% da
classe votavam no Lula. Depois que criaram essas tais escolas de comunicação,
quase todas dominadas pelo PT, as redações se encheram de críticos que antes
não havia. Então, começaram as difamações, as calúnias que não havia antes:
‘ditadura militar’, ‘golpe’, agora com maior insistência. Como estão observando
o fracasso do poder civil e não querem a volta dos militares, procuram jogar a
opinião pública contra as Forças Armadas, com todos os depreciativos que o
ranço ideológico e a ignorância da História lhes inspiram” (Jornalista
Themístocles de Castro e Silva, Tomo 4, pg. 283-284).
“Cometemos alguns erros, por
exemplo, na Universidade de São Paulo. Na verdade, era uma ‘pinimba’ entre o
Ministro da Justiça e aquela gente, pois nunca fomos um centro ativo. Era um
esquerdismo romântico, alguns nunca foram da esquerda e, depois se apresentaram
como tal, porque parecia que era elegante ser esquerda. Na USP se cometeram
muitos erros, exageros. Como em todo movimento dessa natureza, alguns
interesses espúrios interferem e, então, realmente geraram uma intervenção na
USP, que foi, afinal, um equívoco. Não havia nenhuma necessidade de
perpetra-la. São os acidentes do processo que se estava vivendo. Não se trata
de justificativa, apenas uma constatação.
Mas, como disse antes, isso
tudo um dia será trazido à tona. A história já está começando a ser resolvida,
e as pessoas ficam muito tristes, principalmente os orientadores, começam a
ficar furiosos com os orientados, porque a verdade que emerge da pesquisa
histórica, feita com uma relativa isenção, é de que os defeitos são um pouco
menores e as virtudes um pouco maiores. Estou absolutamente convencido, pois a
história, até agora, tem sido feita pelos que foram vencidos. Aos poucos ela
vai ser relativizada – não existe verdade histórica – e, então, os exageros
serão identificados” (Deputado Federal Antônio Delfim Neto, Tomo 5, pg. 160).
“Essa batalha [no campo da
comunicação social] foi perdida, isso é inquestionável, é uma verdade. Agora,
perdemos porque houve uma estratégia inteligente, eficaz, por parte das
esquerdas. Tudo começou em 1975, 1976 quando as esquerdas deliberaram que
deveriam infiltrar seus simpatizantes nos cursos de comunicação social. Aí
começaram a formar os jornalistas que passaram, logo em seguida, a ocupar
cargos em funções de destaque nos diversos periódicos com a obrigação, o
compromisso de trazer para o corpo desses órgãos, jornais e revistas, os
simpatizantes que estavam saindo das faculdades.
Além desse fluxo de apoio
entre eles, desse acordo entre os jornalistas de esquerda, existia o
patrulhamento ideológico. Esse patrulhamento funcionou na imprensa, na cultura
e no meio artístico. O jornalista que não fosse favorável, era marginalizado; o
artista que não se pronunciasse também favorável, perdia os contatos” (Coronel
Renato Brilhante Ustra, Tomo 5, pg. 258-259).
OS
MILITARES NÃO AUFERIRAM VANTAGENS
“Insinuam, maldosamente, que
os militares auferiram vantagens do Poder. Eu asseguro o contrário. Lembro-me
de que o Presidente Castello Branco assumiu o governo tirando vantagens dos
militares. E todos eles saíram do governo pobres, inclusive o Presidente
Figueiredo, que tinha um sítio em Petrópolis e está vendendo; não sei se já o
vendeu. Não conheço nenhum militar rico, não porque não haja possibilidade, mas
pela formação que o militar recebe, desde a escola. Se comete um ato
desabonador de sua conduta, não fica no Exército, porque lá não há lugar para
ele. É o grande contraste entre as atitudes do civil e as do militar. Por
exemplo, essas explosões do Deputado Bolsonaro: ele vive um conflito, porque
saiu de uma Casa onde tudo é sério, tudo é na hora, onde se presta conta de
tudo, não se desvia um centavo. Aí, vai para a atividade política, que é o
contrário: é um querendo passar o outro para trás, um dá rasteira no outro,
apropria-se de uma verba etc. É por isso que ele explode e tem lá suas razões”
(Jornalista Themístocles de Castro e Silva, Tomo 4, pg. 287-288).
“Que eu saiba, as Forças Armadas não tiraram
vantagens da Revolução. Talvez até o contrário.
A
primeira atitude do Castello Branco foi acabar com as promoções ao posto de
general, no ato de passagem para a reserva, dos coronéis. General, só se fosse
promovido na ativa. Acabou com o general de pijama”
(Tenente-Coronel Moacir Véras, Tomo II, pg. 365).
“Por exemplo, há que insinue
que nos vinte anos de governo, os militares e as Forças Armadas se aproveitaram
da situação para auferir vantagens. Ainda hoje os militares se queixam de que
são muito mal remunerados. Não houve, nem mesmo, o cuidado de legislar em causa
própria. Houve, inclusive, na época, muitas críticas a certas figuras do
Governo Costa e Silva. Depois, ficou evidenciado que nada daquilo era verdade,
e o cidadão quer era acusado, morreu numa pobreza extrema: o Coronel Mário
Andreazza, que foi Ministro dos Transportes, cujas contas de hospital foram
pagas pelos amigos. Portanto, é essa a minha opinião sobre o assunto, mesmo
tendo sido atingido pela Revolução e depois de seis anos de processo, absolvido
por unanimidade pela Auditoria Militar” (Jornalista José Blanchard Girão
Ribeiro, Tomo 4, pg. 313-314).
Adendo:
A partir de 2013, houve
movimentos populares, que foram às ruas inicialmente para contestar o aumento
de passagem de ônibus em São Paulo. Depois, em 2015, esses movimentos se
agigantaram e tomaram as principais das cidades, em defesa da ética pública e
contra a corrupção, especialmente do PT, cujo desfecho foi o impeachment da presidente da República Dilma Rousseff.
O episódio lembra o ocorrido
no Norte da África, na chamada “Primavera Árabe”, que tirou o presidente
Mubarak do poder no Egito – mas que também implodiu nações, como a Líbia, ou
acabou em terrível guerra civil, como na Síria.
Para tirar o PT do governo,
tiveram importante papel nessas manifestações grupos diversos, como Movimento
Brasil Livre (MBL), Patriotas, #NasRuas etc., que convocavam as pessoas por
meio das redes sociais.
Desde 1961, por ocasião da
renúncia de Jânio Quadros, até o Movimento Cívico-Militar de 31 de Março de
1964, houve também movimentos diversos que se uniam para combater a subversão
político-social instalada no Brasil pela dupla baderneira Jango-Brizola, como
IPES, IBADE, CAMDE, Cruzada Democrática, Arca de Noé, entre outros, que
ajudaram a derrubar o governo de João Goulart.
Vamos a eles:
IPES - Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais: fundado em 1961 no Rio de Janeiro pelo coronel
Golbery do Couto e Silva e um grupo de empresários anticomunistas, dispostos a
readequar e a reformular o Estado brasileiro. Tinha por objetivo criar
barreiras intelectuais contra a propagação das ideias marxistas durante o
governo João Goulart. Promovia Estudos de Problemas Brasileiros para os
governos militares pós-1964. “No setor privado, destaca-se o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), fundado em 1961. O Ipes é geralmente
associado à conspiração para depor o presidente João Goulart, mas a sua
contribuição foi relevante para as reformas. Na verdade, o Ipes apoiou uma
série de estudos sobre problemas estruturais da economia de que participaram
muitos especialistas, entre os quais Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e
Delfim Netto” (Maílson da Nóbrega, in “Há esperança”, Veja no. 2459, 6/1/2016).
O IPES, o IBAD, a CAMDE e as Forças Armadas formaram a base quadrangular
decisiva para o desencadeamento da Contrarrevolução de 31 de março de 1964,
contra Jango e sua política de implantar a “República Sindicalista” no Brasil.
O IPES passou a existir oficialmente no dia 29/11/1961 (Jânio Quadros havia
renunciado em agosto do mesmo ano). O lançamento do IPES foi recebido
favoravelmente por diversos órgãos da imprensa, como o Jornal do Brasil, O Globo,
O Correio da Manhã e Última Hora. Contou com a aprovação do
Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros Câmara. Além do Rio e de São
Paulo, o IPES rapidamente se expandiu até Porto Alegre, Santos, Belo Horizonte,
Curitiba, Manaus e outros centos menores. O IPES foi formado pelo trabalho do
empresário de origem americana, Gilbert Huber Jr., do empresário multinacional
Antônio Gallotti, dos empresários Glycon de Paiva, José Garrido Torres, Augusto
Trajano Azevedo Antunes, além de serviços especiais de oficiais da reserva,
como o general Golbery do Couto e Silva. Sandra Cavalcanti era uma das mais
famosas conferencistas do IPES. As sementes do IPES (assim como do IBAD e do
CONCLAP) foram lançadas no final do governo JK, cujos excessos inflacionários
geraram descontentamento entre os membros das classes produtoras do país, e
durante a Presidência de Jânio Quadros, em cujo zelo moralista eles depositaram
grandes esperanças. O IPES produziu em torno de oito filmes, para alertar os
desmandos do Governo Goulart, como a ameaça comunista; os cineastas eram Jean
Mazon e Carlos Niemeyer. Escritores de peso do IPES foram Nélida Piñon, Rachel
de Queiroz e José Rubem Fonseca, autor de Feliz
Ano Novo; segundo Fonseca, o “IPES
buscava mobilizar a opinião pública no sentido do fortalecimento dos valores
democráticos” (AUGUSTO, op. cit.). “Somente
nas ações contra o regime, despendeu o equivalente a 100 milhões de dólares,
fortuna bancada com doações de centenas de grandes e megaempresários
brasileiros e estrangeiros. O número de corporações americanas que apoiaram
financeiramente a entidade chegou a 297” (FIGUEIREDO, 2005: 107-8). Futuros
ministros dos governos militares também foram membros do IPES: Antonio Delfim
Netto, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Otávio Gouveia de Bulhões,
Hélio Beltrão. O IPES teve o apoio também de Paulo Malta (Diário de
Pernambuco), Pedro Dantas (pseudônimo de Prudente de Morais Neto), embaixador
José Sette Câmara, embaixador e poeta Augusto Frederico Schmidt. Com apoio do
IPEA foi lançado o livro UNE - instrumento de subversão, em que “a estudante Sônia Seganfredo expunha a
infiltração comunista no meio universitário” (ORVIL, pg. 158). O IPES
participou também de operações internacionais, que ajudaram a derrubada de
Salvador Allende, no Chile, e do general Juan Torres, na Bolívia (em agosto de
1971, o general Hugo Banzer tomou o poder). Entidades congêneres do “Complexo
IPES/IBAD”: 1) México: Centro de Estudios Monetarios Latinoamericanos - CEMLA;
Centro Nacional de Estudios Sociales - CNES; Instituto de Investigaciones
Sociales y Económicas - IISE; 2) Guatemala: Centro de Estudios
Económico-Sociales - CEES; 3) Colômbia: Centro de Estudios y Acción Social -
CEAS; 4) Equador: Centro de Estudios y Reformas Económico-Sociales - CERES; 5)
Chile: Instituto Privado de Investigaciones Económico-Sociales - IPIES; 6)
Brasil: Sociedade de Estudos Interamericanos - SEI; Fundação Aliança para o
Progresso; 7) Argentina: Foro de la Libre Empresa; Acción Coordinadora de las
Instituciones Empresariales Libres. “Em
64, quando Castelo Branco organizou o Governo, a maioria dos cargos foi
entregue a quem tinha ensinado ou feito cursinho no IPES. A começar por Golbery
e Roberto Campos” (Sebastião Nery, in
“Os filhos de 64” ,
Jornal Popular, Belém, PA,
6/10/1995).
IBAD - Instituto
Brasileiro de Ação Democrática, o IBAD era uma organização anticomunista
fundada em maio de 1959 por Ivan Hasslocher. Ao lado dele, jovens empresários
fariam parte desta organização e da sua entidade-irmã, o Instituto de Pesquisas
e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Entre eles, Gilbert Huber
Jr. (Grupo Gilberto Huber - Páginas Amarelas), de ascendência norte-americana,
Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O financiamento para a criação do
Instituto se deu a partir de contribuições de empresários brasileiros e
norte-americanos. A finalidade inicial era combater o estilo populista de JK e
possíveis vestígios da influência do comunismo no Brasil. A ação do IBAD era
baseada na manipulação dos rumos do debate econômico, político e social do país
através da ação publicitária e política. Para dar apoio publicitário ao IBAD,
foi criada por Hasslocher a agência de propaganda Incrementadora de Vendas
Promotion. Esta era subsidiária daquele Instituto, financiada por capital
norte-americano, para a criação de modismos favoráveis para a implantação do american way of life. Os métodos
utilizados pela agência foram herdados do Office
of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA). O IBAD criou e
incentivou a Ação Democrática Popular, ADEP, cuja função era direcionar capital
e financiar os candidatos contrários a Goulart que concorreriam às eleições
legislativas e para o governo de 11 estados. O IBAD e o IPES financiaram,
produziram e difundiram uma grande quantidade de programas radiofônicos, de
televisão e matérias nos jornais com conteúdo anticomunista. As duas entidades
contribuíram decisivamente no doutrinamento ideológico que acentuou a oposição
ao governo João Goulart e seu programa de reformas, fator crucial para o êxito
do contragolpe militar de 1964. Muitas das radionovelas, filmes de cinema e
programas de televisão da época tinham mensagens explícitas e implícitas a
favor da absorção pelos brasileiros das modas, usos, costumes e consumo de
produtos norte-americanos. Foi nessa época que surgiu entre a classe média
brasileira a expressão “anos dourados”. Em Minas, articularem-se com o IBAD o
Pe. jesuíta João Cândido de Castro e o deputado Bonifácio de Andrada, líder do
governo Magalhães Pinto na Assembleia Legislativa, onde organizou a ADEP. O
IBAD foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava a
participação de capital estrangeiro na entidade, fato considerado ilegal. O
deputado Rubens Paiva (PTB) era um dos integrantes dessa CPI e teve seu mandato
cassado no dia 10/4/1964. Membros do IBAD queimaram alguns documentos
comprometedores visando dificultar as investigações, porém foram comprovados
investimentos estrangeiros na entidade. No dia 20/12/1963, o IBAD foi
dissolvido pelo Poder Judiciário. No dia 20/1/1971, Rubens Paiva foi
sequestrado em sua residência do Rio e, desde então, foi dado como
desaparecido. Documentos em posse do antigo comandante do DOI-CODI/Rio, coronel
Júlio Miguel Molinas Dias, executado no dia 4/11/2012 com 15 tiros em Porto
Alegre em situação não esclarecida pela polícia, comprovam que Rubens Paiva
ficou preso no DOI-CODI. A documentação, que inclui uma relação de itens
particulares do preso, foi entregue por Tarso Genro, governador do RS, à
Comissão Nacional da Verdade em 27/11/2012.
CAMDE - Campanha da Mulher pela Democracia: criada pouco
antes das eleições de 1962, sob orientação de Leovigildo Balestieri (vigário
franciscano de Ipanema, Rio de Janeiro), Glycon de Paiva e o general Golbery do
Couto e Silva. “Eles convincentemente
argumentavam que o Exército fora minado pelo ‘vício do legalismo’, que só
mudaria se ‘legitimado’ por alguma força civil, e que as mulheres da classe
média e alta representavam o mais facilmente mobilizado e interessado grupo de
civis” (P. Schmitter, in Interest,
Conflict and Political Change in Brazil, Stanford, California University
Press, 1971, pg. 447). A CAMDE era uma organização feminina anticomunista,
promoveu a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, no dia 19/3/1964, em
São Paulo (19 de março, Dia de São José, Padroeiro da Família), reunindo
500.000 pessoas, protesto que exigia o fim da balbúrdia e da carestia durante o
Governo Goulart, e que antecedeu à revolução de 31/3/1964. No dia 2 de abril, a
CAMDE reuniu 1 milhão de manifestantes no Rio de Janeiro para agradecer a
interferência dos militares nos destinos do país, ocasião em que Aurélia Molina
Bastos encerrou seu discurso dizendo: “Nós
louvamos, nós bendizemos, nós glorificamos a Deus e o soldado do Brasil”.
As mulheres do CAMDE de Minas Gerais ofereceram a Castello Branco, ainda antes
de sua eleição, uma nova faixa presidencial, para que não usasse a tradicional,
“já conspurcada pelos maus presidentes
que o precederam” (O Estado de S.
Paulo, 12/4/1964). Outras organizações femininas e grupos católicos
atuantes em 1964, além da CAMDE: Liga de Mulheres Democráticas (LIMDE), (MG);
União Cívica Feminina (UCF), organizada em 1962 (SP); Campanha para Educação
Cívica (CEC); Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), teve início em 1954,
foi liderado por Antonieta Pellegrini, irmã de Júlio de Mesquita Filho,
proprietário de “O Estado de S. Paulo”; Liga Independente para a Liberdade,
dirigida por Maria Pacheco Chaves; Movimento Familiar Cristão (MFC);
Confederação das Famílias Cristãs (CFC); Liga Cristã contra o Comunismo;
Cruzada do Rosário em Família (CRF); Legião de Defesa Social; Cruzada
Democrática Feminina do Recife (CDFR); Ação Democrática Feminina (ADF), Porto
Alegre, RS.
ARCA
DE NOÉ – “Idealizada pelo
então capitão dos Portos [do Ceará], o Comandante Fernando Cavalcante, que aos
sábados reunia-se com pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A
‘Arca de Noé’ tinha como objetivo a união de todas as categorias, exatamente o
contrário do movimento comunista, que preconizava a luta de classes para a
tomada do poder. Tínhamos representantes de todas as classes sociais:
estivadores, militares, advogados, juízes, industriais, todos em harmonia,
inclusive os representantes de sindicatos patronais e de empregados. As
reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’
passou à condição de pessoa jurídica. Seu objetivo era o de promover a união
entre todas as classes sociais e o combate ao comunismo internacional”
(Tenente-Coronel Silvio de Magalhães Sampaio - Tomo 4, pg. 226).
“Por
intermédio da Associação ‘Arca de Noé’, colaboramos com importante trabalho de
conscientização anticomunista em instituições locais.
No
mês de fevereiro de 1964, fui preso pelo Cmt da 10ª. RM (amigo do Presidente
João Goulart) por vinte dias, no quartel do 23º. BC, e transferido, a bem da
disciplina, por ter determinado a distribuição de folheto, divulgando
informações de trabalho anticomunista em algumas instituições. O fato teve
grande repercussão na cidade e em várias guarnições do Exército. Antes de seguir
destino, recebi várias homenagens de militares e civis, voltando mais tarde
para receber os títulos de cidadão cearense e fortalezenense, qua guardo até
hoje” (General-de-Brigada Helio Duarte Pereira de Lemos, Tomo
1, pg. 240). Como Chefe de Gabinete do SNI, o general Lemos participou da
apuração dos fatos realizados pela PF contra o governador de Goiás, Mauro
Borges, que foi deposto depois de o STF dar habeas
corpus ao político, por unanimidade.
“No Ceará, participamos de
algo muito interessante: um grupo, constituído por Antônio Guimarães, que já
morreu – quase todos já morreram – Hélio Lemos, o Comandante do 23º. BC, o
Coronel Diegues, eu e outros, fundou um clube, chamado ‘Arca de Noé’. Todos os
sábados nos reuníamos com o pessoal dos sindicatos e a gente conversava, tomava
uns aperitivos e almoçava. Dessa forma, fomos nos preparando e trocando idéias.
O resultado é que, em 1964, quando eclodiu a Revolução, o único Estado
brasileiro em que não houve greve foi o Ceará. Os sindicalistas compreenderam que
o Brasil não podia continuar com a anarquia existente, consequência daquela
ação psicológica desenvolvida com o objetivo de conscientizar a opinião
pública” (General-de-Divisão Francisco Batista Torres de Melo, Tomo 4, pg. 57).
“Destaco, também, a Arca de
Noé, cujo significado pré-revolucionário pouca gente conhece. Não era a Arca de
Noé bíblica, que reuniu todos os bichos da Terra, mas uma Arca de Noé que
acolhia, harmonicamente, os sindicalistas, os patrões e os empregados, pessoas
de diversas procedências, mas com um só pensamento: a defesa da Pátria! A ela
se deve, por exemplo, a imunização dos portuários cearenses às idéias
anarquistas vindas de fora. Estas, portanto, são reminiscências de um período
vivido, pouco antes da eclosão do Movimento Revolucionário de 1964”
(General-de-Brigada Manoel Theóphilo Gaspar de Oliveira Neto, Tomo 4, pg. 90).
“Quando o Sr. João Goulart
assumiu a Presidência da República, os oficiais que aqui serviam, por não
concordarem com o procedimento adotado pelo Poder Executivo, de seguir
fielmente o movimento comunista, chegaram a lançar um Manifesto, que lhes
custou prisão e transferência. No 10º. Grupo de Obuses 105 mm (10º. GO 105), a
totalidade dos seus componentes não se intimidou diante das ameaças. Eu estava
servindo lá, nessa época. O Grupo, sob o comando do Coronel Hélio Lemos,
antecipou-se aos acontecimentos, junto com a sociedade, preparando-se
materialmente e com pessoal para combater o governo central. Foi criada, nessa
época, uma entidade civil chamada ‘Arca de Noé’, idealizada pelo então Capitão
dos Portos, o Comandante Fernando Cavalcante, que, aos sábados, reunia-se com
pessoas de todas as classes sociais, na Capitania. A ‘Arca de Noé’ tinha como
objetivo a união de todas as categorias, exatamente o contrário do movimento
comunista, que preconizava a luta de classes para a tomada do poder. Tínhamos
representantes de todas as classes sociais: estivadores, militares, advogados,
juízes, industriais, todos em harmonia, inclusive os representantes de
sindicatos patronais e de empregados. As reuniões da ‘Arca de Noé’ tiveram
início em 1961. Em 1963, a ‘Arca de Noé’ passou à condição de pessoa jurídica.
Seu objetivo era o de promover a união entre todas as classes sociais e o
combate ao comunismo internacional” (Tenente-Coronel Silvio de Magalhães
Sampaio, Tomo 4, pg. 226).
Sorbonne
-
Apelido maldoso dado à Escola Superior de Guerra (ESG). Criada em 20/8/1949,
subordinada ao EMFA (hoje, ao Ministério da Defesa), teve sua gênese a partir
da integração da FEB ao contingente norte-americano no teatro de operações da
Itália, quando foi constatada pelos militares brasileiros a abissal distância
entre aquele exército e o nosso, havendo necessidade urgente de atualização das
doutrinas, planejamento e padrões militares, logística e equipamento da tropa. "Muitos
dos civis importantes do IPES se diplomaram na ESG antes da fundação do IPES, e
mais tarde alguns dos mais importantes membros fundadores do quadro da ESG,
como o general Golbery do Couto e Silva e o general Heitor de Almeida Herrera,
se associaram ao IPES. (...) No Governo Castello Branco, foram utilizados
muitos projetos e pessoal do IPES. Isto é mais visível na lei de reforma
agrária do governo, na reforma bancária, no programa de habitação e na lei de
estabilidade de emprego dos trabalhadores" (STEPAN, 1975: 137). Além de militares
intelectuais, como Golbery, a ESG foi integrada por
generais-presidentes, como Castello Branco e Ernesto Geisel. Durante o governo
do PT, a ESG se tornou um antro esquerdista, chamou João Pedro Stédile para
realizar palestra. Deveria ter mudado sua denominação para Escuela Señor Guevara. Um amostra do que ocorreu lá pode ser
conhecido em A ESG como o diabo gosta,
de Christina Fontenelle - cfr. em
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